Volume 1 – Arco 1
Capítulo 20: Excursão e Águas passadas
Aquele “caso” que eu disse saber, era o estupro que Manabu havia cometido com Horikita.
Na época, Horikita o denunciou à polícia, mas logo depois “desmentiu” tudo. Ela disse que era uma falsa acusação e que só queria fuder com a vida dele.
Horikita fez isso pela pressão de Manabu.
Depois de conversar com a Karuizawa, irmã do Gyomen, pesquisei sobre a Horikita. Foi aí quando fiquei sabendo do estupro.
Segundo a acusação da Horikita, eles estavam sozinhos no momento do ocorrido.
Graças aos alunos do ano passado que já se graduaram, consegui essas informações. Mas havia dois lados: um que acreditava na Horikita e outro que defendia o Manabu.
Isso aconteceu pois eles estavam sozinhos e Horikita era ingênua e fraca. Diferente da Yukari que além de forte e esperta, havia colocado câmeras pela sala e estava com uma escuta no uniforme.
Então criei uma situação de coincidência, pegando Manabu no flagra.
Depois apostei na chance da Horikita querer vingança, então propus um acordo: dei a ela a posse do Manabu, em troca, ela seria minha aliada.
Após Horikita sair, Yukari entrou em cena, mostrando ter provas da suposta tentativa de estupro de Manabu e o forçou a aceitar um “contrato”.
Os termos eram: Manabu daria total acesso a Yukari sobre o fluxo de informações da escola, passaria em segredo seu cargo de Presidente do Conselho e cumpriria as ordens da Yukari, sem hesitação.
Ou seja, com Manabu não tendo mais valor, ele seria uma peça inútil para a Horikita.
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Hoje é Terça.
Graças a Horikita, agora tenho que andar nas sombras. Já deixei bem claro que Makyu não pode me vencer, então como Horikita pediu ao povo, eles vão caguetar onde estou.
Que grande merda.
Bocejei: Ficar andando em corredores vazios me faz pegar no sono…
Parei de andar ao sentir meu celular vibrando. Olhei para o lado; havia uma sala.
Entrei na sala e puxei meu celular; era um número desconhecido. Atendi a ligação, mas ninguém falava nada.
Vai tomar no cu.
— Fala.
— Me encontre no telhado — disse uma voz feminina, que em seguida desligou.
Guardei meu celular no bolso, abri a porta e saí da sala.
Meu destino que antes era vagar livremente pela a escola tendo paz, agora é ter que ir ao telhado.
Fiz meu caminho pelos corredores mais vazios que tinham e ao abrir a porta do telhado, fui jogado para o chão.
Makyu estava na minha frente, com o punho fechado e uma expressão de ódio.
Isso é estranho.
Mesmo se eu estivesse distraído, ainda teria desviado do soco dele!
Olhei para o lado, Horikita estava com lágrimas nos olhos.
— A-Alger, por favor, confesse a ele! Diga que não precisamos mais lutar! — gritou Horikita.
Eu não estou entendo nada! Que merda ela queria dizer com isso?!
Makyu se virou para ela
— Então é isso mesmo? Vai acabar com o reinado que conquistamos juntos, por causa desse merda?! — Makyu apontou para mim.
Ah, entendi.
— M-Me desculpa, Makyu, é que eu não vejo mais sentido em continuar com isso — Horikita abaixou sua cabeça.
Makyu dava um passo para trás; ele mordia seus lábios com força, tentando os fazer parar de tremer; seus olhos estavam trêmulos.
— Quer saber?! Que se foda também! Mas saiba que eu ainda vou acabar com você, Alger Reder! — jurou Makyu.
— Faltou o “Pealiceder” no final — disse, em tom sarcástico, com um olhar de convencido.
— Que se foda você e o seu nome! — Makyu se virou e com passos pesados, saiu do telhado.
Eu ainda estava sem entender nada.
Horikita veio até mim e estendeu a mão: Me desculpe por isso.
Hã? O que é isso? Aquela garota amedrontadora de antes, estava sendo aberta comigo?!
Parando pra olhar, seus olhos eram dourados; seu longo cabelo era um rosa avermelhado. Assim como a Yukari, ela vestia meia-calças pretas, mas as dela iam somente até as coxas.
N-Nossa, acho que reparei demais.
Eu peguei em sua mão e ela me levantou com um puxão.
— Qual o motivo dessa briga entre vocês? — perguntei.
— É que eu disse pras pessoas pararem de me avisar quando vissem você — respondeu Horikita.
De repente, as lágrimas nos olhos de Horikita desceram pelo seu rosto.
— E-Ele ficou bravo, e-e-eu ten…
Agarrei a Horikita, a dando um abraço forte.
Idiota, pensou Horikita.
— Está tudo bem, passou, passou — disse, gentilmente.
— Algeeer! — gritou Horikita.
Ela me abraçava e afundava o seu rosto em lágrimas no meu peito.
— Eu acredito em você, Horikita e, sei que você estava dando seu melhor para manter o nosso acordo de pé — falei.
Ver uma mulher como ela, que se faz de forte depois de ter passado por tanta coisa, faz até o meu coração tremer…
Brincadeirinha!
Não precisa de meio neurônio para achar essa situação estranha. Depois que o Makyu começou a falar, eu já me liguei em uma coisa: tudo isso é uma encenação.
Makyu fingiu estar com raiva, Horikita fingiu estar aflita com a situação a ponto de chorar “lágrimas de crocodilo”.
Levando em consideração o que ela disse antes, essa atuação deve ser para me fazer acreditar fielmente no nosso acordo, mas eu sei que ela vai me trair.
Então, assim como a Yukari faz…
— Acho que ficamos nos abraçando demais, hahah — falou Horikita.
— A-Ah! Verdade! — Eu a soltei e ela deu um passo para trás, passando a mão nos olhos.
— Mas de verdade, obrigada pelo apoio, Alger — disse Horikita, com um sorriso no rosto.
— De nada — sorri de volta.
— Ah, já ia me esquecendo. — Horikita olha para mim — O motivo de eu ter te chamado aqui era pra me ajudar a acalmar o Makyu e, bem, não deu muito certo, hehe…
Ela aumentou o sorriso: Mas aproveitando, queria conversar com você sobre fazermos uma excursão!
— Excursão?
— Sim! O que acha de passarmos duas semanas fora da escola? — perguntou Horikita, com um brilho nos olhos.
— Eh… Não acha muito tempo? — falei.
Horikita pegou na minha mão.
Soltei um suspiro: Tudo bem. Mas porquê perguntou pra mim ao invés de simplesmente fazer?
— Somos aliados, não somos? — Ela piscou.
— Sim, somos — sorri.
Horikita andou até a porta do telhado e olhou por cima do ombro, com um sorriso simpático: Tchauzinho, Alger!
— Tchau!
Ela saiu do telhado.
Meu rosto simpático e carismático sumiu, se transformando para um de seriedade e de alguém despreocupado.
Tirei o celular do bolso; essa conversa consumiu 10 minutos do meu tempo.
— Ainda tenho muita coisa a fazer… — Me espreguicei e em seguida, saí do telhado, caminhando para a sala do diretor enquanto mexia no meu celular.
Novamente, fui pelos corredores vazios e parei na frente da sala do diretor, bati duas vezes na porta.
— Entre — disse uma voz de dentro.
Por mais que Horikita tenha dito para todos pararem de avisá-la quando me vissem, isso não exclui a chance de avisarem ao Makyu caso me vejam.
— Com licença. — Abri a porta e entrei na sala.
Vergher estava com seu rosto calmo e sério de sempre; ele estava olhando para um notebook a sua frente.
— Estou atrapalhando?
— Não, mas seja breve — falou Vergher.
— Beleza. — Andei até a sua mesa e sentei-me em uma poltrona — Então, eu tava afim de falar sobre o exame.
— Hm? — Vergher tirou os olhos do notebook.
— Fomos bem?
Vergher voltou a olhar para a tela de seu computador: Bom, vocês venceram das turmas C e B por alguns pontos a mais, mas sim, foram bem.
— Entendi… E quanto ao dinheiro que você recebeu do governo?
Vergher olhou para mim em choque: O que disse?
— A idade já está o deixando surdo? Eu disse: “E quanto ao dinheiro que você recebeu do governo?”
Pela primeira vez, eu vi o rosto sério do diretor mudar da água para o vinho.
— O quê? Você não aceitaria que nossa escola entrasse para esse ranking a menos que houvesse algo interessante, não é? — sorri — Vergher, o diretor dessa escola que não perde tempo com coisas fúteis, aceitando isso?
Vergher respirou fundo, mantendo sua postura de seriedade.
— Alger, o que quero com essa escola é chamar a atenção de mais jovens para fornecer a eles uma educação perfeita.
— E mesmo assim sequer usou seus vinte milhões, hein? Ah, inclusive, nossa escola ficou no top dez. Legal, né? — falei.
Por um momento, pude ver o olho direito do Vergher tendo um tique nervoso.
— Aonde quer chegar com isso, Alger? — perguntou Vergher.
— Ahhh, qualé, não fique bancando o bobo pra cima de mim! — Meu sorriso se fechou — Você sabe que o único motivo desta escola ter ficado no top dez foi por minha causa.
— Hã?! — Vergher perdeu novamente sua postura, ficando com um rosto de espanto.
— Todos realmente estavam cagando pra isso, mas eu não me esqueci disso. E pela sua cara, o governo tá cagando pra melhor e pior, dando atenção só para as escolas competitivas, certo?
Depois que a Horikita saiu do telhado, puxei meu celular e vim com ele até aqui, vendo a posição da escola. Inclusive, estou o segurando, gravando o áudio dessa conversa.
Muito antes do exame terminar e do Yoichi virar meu peão, eu e a Yukari já estávamos discutindo.
— Está em modo de gravação? — disse Vergher.
— Não — falei.
Ele não especificou qual tipo de gravação, então vou mentir até que se prove o contrário.
— Muito bem. — Vergher ajeitou sua postura — Você está certo sobre tudo isso. Eu estava semanalmente conferindo as gravações enquanto o via atuando, o daria uma salva de palmas.
— No entanto, pelo que eu vi, você não é alguém que faz algo sem nada em troca, então… o que você quer? — perguntou Vergher.
— Agora falou a minha língua. Bem, como você tem muito que agradecer a mim, quero que faça alguns favores para mim — respondi, com um sorriso no rosto.
— Você é mesmo mal, hein? — disse Vergher, com um sorriso no rosto.
— Heheh, eu sei, tanto que se você não fizer o que eu mando, você pode ter seu tão dinheirinho cortado.
— Olhe como fala comigo, moleque. Me falte com respeito e te mando de volta para o Corredor da Morte e a Yukari para as Portas Douradas — disse Vergher.
Nesse momento, senti uma raiva latente subindo dos pés à cabeça.
Me levantei; deixei o celular na poltrona e agarrei Vergher pela sua gravata.
Eu estava pronto para afundar meu punho na cara dele, mas o soltei.
Esse filho da puta continua sendo o diretor dessa escola de merda, e caso ele queira, pode me expulsar por puro capricho.
— Sábia escolha. — Ele ajeitou sua gravata — Mas como você está certo, ainda estou em dívida com você, então, o ajudarei somente três vezes. Isso é o suficiente?
— Serve. — Peguei o meu celular e o botei no bolso.
De repente, ouvi a porta abrir; olhei para trás, Manabu e Yukari estavam na porta.
Eles vieram até a mesa, me afastei.
— Vergher, venho aqui a pedido de uma excursão e, quero sua aprovação para isso — disse Manabu, em um tom sério.
— Hmm. E por que a Yukari está aqui? — perguntou Vergher.
— Quando eu estava voltando para a sala, vi a Horikita falando disso com o Manabu e concordei com a ideia, então estou aqui com ele — respondeu Yukari.
— Se foi a Horikita quem deu essa ideia, qual o motivo da ausência dela? — perguntou Vergher.
— Ela está com as matérias atrasadas — respondeu Manabu.
Yukari concordava com a cabeça.
— E por qual motivo deveríamos fazer essa excursão? — perguntou Vergher.
— Para aliviar a tensão da escola e, o dar um dia de folga — respondeu Manabu.
Vergher deu uma rápida olhada para mim, fechou os olhos e abriu a boca.
— Hahahahah! Hahahah! HAAA-haaa! Um dia de folga para quem está sempre trabalhando?! Essa é boa! — Vergher respirou fundo, contendo seus risos — Ai, Ai. Heheh. Tudo bem, eu aceito.
Vergher tirava seus óculos e limpava as lágrimas que tinham saído de seus olhos: Mas como essa excursão será feita?
Manabu olhou para mim, com seu olhar sério, ele acenou com a cabeça. Acenei de volta e saí da sala.
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Acho que se passaram duas horas. Não sei direito, mas se passou um bom tempo e finalmente, Manabu e Yukari saíram da sala do Vergher.
— E então?
— Vamos falar sobre isso na minha sala — disse Manabu.
— Vão indo na frente, vou dar uma mijada antes — falei.
— Beleza.
Os dois viraram o corredor e eu peguei o corredor oposto. Infelizmente, parece que estava no intervalo.
Os corredores estavam cheios de pessoas; havia vários grupos sociais perambulando e se trombando com outros, enquanto causavam uma distorção sonora com suas vozes.
E para piorar, a distância daqui até a sala deve ser 23 metros, que está sendo preenchido por esses arrombados.
Por que eles aparecem logo na hora errada?
— Tch. Parece que vai ser um “tudo ou nada” — sussurrei para mim mesmo, escondido em uma sala.
Respirei fundo; abri a porta da sala com tudo e disparei pelos corredores, jogando todos a minha frente pro chão enquanto sentia o vento batendo violentamente contra mim.
Parei de correr; eu estava na frente da porta do Conselho agora.
Entrei na sala e fechei a porta atrás de mim: Então, o que era?
Yukari e Manabu estavam sentados em dois sofás, de frente um para o outro, sendo separados por uma mesa pequena e baixa.
— O Vergher aceitou o pedido de excursão — falou Yukari.
— Entendi. — Puxei uma poltrona e me sentei nela — Antes da Horikita falar com vocês sobre isso, ela já tinha me contado sobre essa excursão, mas não detalhadamente.
— Hmm. Bom, a excursão será…
Yukari o interrompeu: Espera aí, Manabu.
Ela olhou para mim.
— Alger, por que não quis vir conosco? Você pouparia tempo — disse Yukari.
Merda, ela nota as coisas rápido.
— Ah, quase esqueci. — Cruzei as pernas em triângulo — Horikita havia feito um falso teatro na minha frente de brigar com o Makyu e falar que a luta entre eles e nós não tinha mais sentido.
— Ele ficou puto, Horikita chorou e entrei no teatro dela, a consolando. Quando perguntei a ela o motivo da “briga”, ela disse que tinha pedido pras pessoas pararem de avisá-la quando me vissem.
— Mas ei, não vamos esquecer de que tudo isso foi um teatro por eles, então não podemos excluir a possibilidade deles passarem a avisarem ao Makyu secretamente onde estou — expliquei.
— Hmm, entendi — disse Yukari.