Volume 1 – Arco 1
Capítulo 6: Ironia do Destino
O exame foi anunciado ontem.
Aquela historinha de merda do “cara brutal e uma Rainha” sumiu da boca do povo, como se nunca tivesse existido.
Agora, o foco é conseguir se preparar o máximo possível dentro de duas semanas para o exame.
Provavelmente você deve estar se perguntando: “O que aconteceu com aqueles três caras que tentaram o matar?”
Bom, eles foram expulsos da escola. Apreenderam as facas, fizeram uma investigação mais a fundo e descobriram que eles já haviam planejando isso. Motivo? Segundo eles:
“Ele se acha melhor do que nossa Rainha! Do que a nossa suprema Queen! Mas ele é só um pedaço de bosta sem cérebro que só sabe brigar, nada mais que isso!”
Eu, Yukari, Vergher e todos que presenciaram a cena foram chamados. Foram vistas filmagens, feitos interrogatórios.
No final, o conselho tutelar disse que assumiria o comando da situação a partir daquele momento, junto de algumas instituições que cuidam da saúde mental de jovens.
Claro, a polícia sempre estava acompanhando o caso.
Os olhares de desespero, implorando por piedade. Seus rostos de descrença e horror.
Foi lindo ver eles se fudendo.
Mas isso é o passado, vamos falar do presente:
O governo criou um ranking de melhores e piores escolas, com as vantagens e desvantagens. A suposta causa disso é ajudar os pais indecisos em qual escola irão matricular seus filhos.
Como o Vergher não quer ficar para trás, ele propôs a ideia de um exame escrito, dividindo a escola em duas duplas.
As duplas compartilharão informações e conhecimento das matérias.
O conteúdo será tudo visto anteriormente e o que está nos sendo apresentado agora.
Mas eu desconfio desse ranking e da causa dele.
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Mais um dia, porém sem aulas dessa vez.
Hoje as duplas ocuparão salas separadas, maiores que as comuns, para organizar os preparativos para os testes.
As duplas são:
Turma A e D
Turma B e C
Eu da turma D com o pessoal da Yukari, da turma A.
Grande ironia do destino, não é?
Enquanto ando pelo corredor, ao longe vejo uma linda garota de cabelos prateados, parada ao lado de uma sala; seu uniforme era impecável; ela estava de braços cruzados.
Deve ser aquela sala.
Passo após passo, parei na porta da sala.
— Que grande coincidência, não é mesmo?
— Infelizmente — disse.
— Aí, a gente já conversou numa boa. Vai ficar dando uma de babaca comigo até quando? — perguntou Yukari.
— Hã? Sequer somos amigos. Só porque temos algo raro em comum, não é motivo para eu te tratar como um tesouro — respondi.
Ela cruza os braços e me lança um olhar afiado.
— Cuzão — xingou Yukari.
Respiro fundo e solto o ar.
Foda se.
Quando abro a porta, Yukari fecha.
— Eu não terminei ainda — falou Yukari.
Olho por cima do ombro.
— O que foi, caralho?
— Você não acha meio estranho esse exame ser anunciado tão de repente e termos só duas semanas para nos prepararmos até lá? — perguntou Yukari.
— Diferente dos cérebros lisos lá dentro, eu achei sim — respondi.
— E você não tem nada a dizer sobre isso?
— Pra eles? Não. Mas é estranho o governo implantar esse ranking, contando as vantagens e desvantagens das escolas. Isso nunca aconteceu antes — disse.
— E o fato do Vergher ter aceitado isso tão facilmente também é muito estranho.
— Ele é um cara sábio, sabe as merdas que está fazendo, e talvez tenha um outro motivo pra isso — disse.
— Disso eu sei, porra. Mas será que o governo obrigou todas as escolas a realizarem atividades para se destacarem como as melhores, ou…
Corto a fala de Yukari: Ou o governo deu direito de escolha, colocando as escolas que aceitaram nas melhores posições e as que não aceitaram nas piores posições?
— Hmm. É uma boa teoria — disse Yukari.
Justo quando a conversa está interessante, o sinal toca.
Eu entrei na sala.
Todos viravam para mim.
— Brutal Gu… Queeeen! — gritaram todos.
Acho que é rotina da Yukari ser sufocada assim de atenção.
Como alguém invisível, me sentei na fileira da janela, último lugar.
Yukari ficou de costas para a lousa e de frente para a sala.
— Pessoal, lembrem-se que o motivo de estarmos reunidos aqui é para o exame.
Com essa simples fala, a sala ficou em silêncio.
— Uhum! Para facilitarmos as coisas, pensei em termos dois líderes, um de cada turma. — Ela coloca a mão em seu peito — Eu me voluntario como líder. Alguma objeção?
— Não, nossa Rainha! — responderam todos.
Fala sério, isso chega a ser ridículo. Não sabem agir como pessoas normais? Bando de acéfalos, pensei.
— Alguém da turma D, se voluntaria a se tornar líder ao meu lado?
Incrivelmente, dessa vez a sala não respondeu com animação. Todos ficaram calados.
Parecia que alguém tinha morrido.
— Uhh, pessoal? — Ela perguntou.
— Não, Queen — falaram todos juntos.
— Nesse caso, eu me voluntario a ser o líder — disse uma voz.
Um cara, que nunca vi na minha vida, se levantou e foi andando até a lousa.
— Eu sou da turma A, mas acredito que isso não fará muita diferença — disse o cara.
Seu cabelo era curto e castanho; seus olhos roxos, seu olhar que exalava confiança; seu semblante amigável, que mais parecia exalar simpatia.
Seu uniforme era como o da Yukari: Impecável.
— Meu nome é Yoichi Katake, e eu irei representar vocês, turma D. É um prazer conhecê-los. — Ele se apresentava.
— Ele é confiável? — falou um cara do fundo.
— Sim, ele é líder do clube de futebol, então sabe o peso e a responsabilidade de ser líder e representar alguém ou algo. — Yukari olha para Yoichi — Não é mesmo?
Ele a dá um sorriso amigável.
— Hmh — Ele concordou.
Acho incrível a tamanha influência da Yukari sob essa escola. Sem nem haver uma votação ou debate, todos apenas o aceitaram como nosso líder.
Que grande bosta.
Olhei pro lado. Aqueles 4 babacas que eu espanquei não estão aqui dentro.
Será que estão matando aula?
Yukari se vira para a lousa; pega o giz e começa a escrever.
— Como todos sabem, temos duas semanas até esse maldito exame. Então, seria melhor se decidíssemos o que estudar e em qual local — disse Yukari.
— Vocês têm alguma ideia, pessoal? — perguntou Yoichi.
— Um conteúdo fácil de gravar na mente e alguns já vistos que sejam importantes — falou alguém.
— Boa. Mais alguém? — disse Yoichi.
— O local pode ser uma sala de informática por fácil acesso a informação ou uma biblioteca pelo ambiente agradável e maior espaço — disse outra pessoa.
— Minha nossa, vocês têm ideias boas — falou Yukari enquanto anotava as ideias na lousa.
Papo vem, papo vai. Ideias aqui, ideias ali.
De onde surgiram os “gênios” que estavam escondidos na minha turma?
Yukari anotava as ideias, enquanto Yoichi escutava e analisava.
Mas esse filho da puta tem uma boa percepção espacial, e notou que eu não tinha dito um “A” até agora.
— E você, Brutal Guy? Alguma ideia? — Ele perguntou.
— Tanto faz o local ou método. O que importa é estarmos prontos até lá — respondi.
— Você está certo, mas o ambiente de estudo também é algo muito importante — disse Yukari.
Ela tentou me refutar?
Dei de ombros.
— Será que o Brutal Guy só tem músculos ao invés de cérebro? — sussurrou uma voz.
Respirei fundo.
Vou ignorar esse merda antes que eu quebre a cara dele.
— Então, o que vocês mais disseram foi: conteúdos já vistos e os novos, e ambos. O local: biblioteca e sala de informática. — Ela se vira — Que tal fazermos uma votação?
— Estamos de acordo! — disseram todos.
— Muito bem, você! — Ela aponta para uma garota — Diga o que devíamos estudar e o local.
— E-Eh?! U-Uhh… Conteúdo pode ser os dois e… biblioteca parece ser aconchegante — falou a garota.
Yukari foi apontando de um em um, perguntando o que cada um preferiria. E o resultado foi:
Conteúdo: Já visto e os atuais.
Método: Apresenta-los de uma forma fácil de gravar na mente.
Local: Biblioteca.
Motivo: Melhor ambientação para estudos.
— Agora eu gostaria que alguns da turma A se disponibilizassem para me ajudar a cumprir essa tarefa — falou Yukari.
Metade da turma A se levantava.
— Vocês também, turma D. Não fiquem para trás! — disse Yoichi — Gostaria de fazer o mesmo pedido que Yukari. Alguém está junto comigo nessa?
Parece que realmente haviam gênios escondidos na turma D.
A metade da turma D se levantou.
— Já temos o conteúdo e o método, local e pessoas para ajudar. Alguém tem mais alguma ideia a acrescentar? — perguntou Yukari.
— Não, Queen! — disseram todos.
— Então, estão dispensados. Faltam 10 segundos para o intervalo — disse Yukari.
As pessoas saiam da sala, em pequenos grupos.
— Essa tarefa não será fácil — disse Yoichi.
— A gente dá conta — falou um cara da minha turma que ajudaria os dois.
É estranho.
Não tinha notado isso antes, mas eu sinto algo de diferente nele. Algo diferente do que eu sinto com a Yukari.
Será que ele também tem um poder?
Mas qual, qual será que ele tem?
— Ei, Brutal Guy. Vai nos ajudar também? — perguntou Yoichi.
— Não, só estava tendo pensamentos intrusivos. — Me levanto da cadeira — Já estou de saída.
Saí pela porta.
— Hmph. Mal educado — disse Yukari.
Havia poucas pessoas zanzando pela escola.
Parece que todos, ou a maioria, estão concentrados na preparação de si mesmos para esse exame.
Sem falar que também tem que compartilhar informações dos conteúdos. Não duvido que vai ter um pau no cu que vai falar um monte de merdas sobre o conteúdo. Como:
Césio não é perigoso de ser consumido.
Não vai ser nesse nível, mas vai ser algo bem estúpido.
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— Pode parecer difícil, mas quero que vocês gravem tudo que vocês acham que é necessário saber sobre o conteúdo, e o resto vocês descartem — falou Yoichi — Acham que conseguem tentar?
— Bom, com essa equação simples, dá pra guardar os conceitos básicos — falou o cara ao meu lado.
— Hmnn! Vocês estão indo bem — disse Yukari, com um sorriso no rosto.
— E quanto a você, Alger? — perguntou Yoichi.
— Err. Estamos tendo progressos — respondi.
Ele sorriu: Você está preso em um ponto da equação, né?
— Yep.
Ele se aproxima; fica atrás de mim e olha para meu caderno.
Seu olhar apesar de amigável era super analítico.
Poderia ser esse o poder dele? Não, acho que não. Não é algo desse tipo que eu sinto vindo dele. Ele pode ter um poder com múltiplas funções, como minha percepção extrassensorial.
— Achei. — Ele aponta — Para eliminar o expoente 2, primeiro coloca a raiz quadrada nas frações e depois corta o expoente, junto das raízes. Depois basta achar o resultado da raíz e continuar indo.
— Oh. Valeu.
— De nada. Pode me chamar se precisar de mais alguma coisa — disse Yoichi.
— Yoichi! Vem aqui? — Uma garota da outra mesa o chamou.
— Já vou! — Ele foi atendê-la.
Acho que já deu pra ver que números não são meu forte, não é mesmo? Heheh.
Meu celular vibra. Eu coloco minha mão no bolso.
— Alger, depois — disse Yukari.
— Tch. Tá. — Retornei minha atenção ao meu caderno.
Bom, ontem foi feita a votação do local, conteúdo e método.
Yukari e Yoichi foram conversar com os coordenadores sobre isso, e como o diretor Vergher não estava presente, eles passaram essa mensagem para ele. E ele concordou com isso.
A outra dupla: B e C ficaram com a sala de informática.
Ninguém sabe o método que eles estão usando. Nenhuma dupla até agora se mostrou disposta a compartilhar as informações.
Será que eles também pensam que pode ter um pau no cu que vai falar que o conteúdo X é Y?
Talvez, e…
Espera. Que merda é essa?
Olhei para a outra mesa com um olhar curioso.
Cada mesa da Biblioteca tem 7 cadeiras de cada lado; 14 cadeiras sendo mais claro.
E só está a turma A e D aqui.
Tem mais alguém ali! Eu consigo sentir alguma coisa vindo da outra mesa!
É a mesma sensação que sinto com a Yukari e Yoichi, é como se houvesse algo que eles não quisessem mostrar a ninguém.
Tem alguém ali, mas está invisível.
Eu poderia só meter a porrada nele, mas isso chamaria muita atenção e causaria um enorme escândalo.
A pessoa silenciosamente se movia.
Merda. O que eu faço? Eu meto a porrada nele? devo barrá-lo? Eu não sei!
É como se agora mesmo, eu estivesse sendo acorrentado, incapaz de mover meu corpo ou botar minha mente para funcionar.
A porta minimamente se abre e fecha.
Seja lá quem era, havia fugido.
Ninguém além de mim notou isso, ninguém ouviu seus passos, e eu, a única pessoa que podia fazer algo, deixei essa chance escorregar pelos meus dedos.
Mas… que sentimento de estar acorrentado é esse?
Ghrr!
Tenho certeza que aquele rato deve ser um espião da turma B e C para pegar nossos métodos e tipos de conteúdos que estamos vendo, e eles vão aplicar da mesma forma e até mesmo melhorar.
Mandar alguém com o poder de invisibilidade aqui e coletar nossas informações bem debaixo de nossos narizes? É sério isso? Essa merda é injusta pra caralho!
Tá de palhaçada com a minha cara?!
Calma.
Tirei meu celular do bolso.
— Alger, sem celular — disse Yukari.
— Não enche. A minha mãe estava ligando e eu não consegui atender, só isso — falei.
— Se vai conversar com sua mãe, faça isso lá fora, por favor — disse Yukari.
— Tch. Tá bom.
Me levantei e saí pela porta enquanto desbloqueava meu celular.