Volume 1 – Arco 1

Capítulo 15: Honestidade e Falsidade

Depois que o Yoichi jurou ser meu peão absoluto, mesmo com o comando da Yukari dos demais não o perturbar, eles ainda agiam com hostilidade.

Olhares tortos; afastamento; rejeição.

Mas por terem medo da Queen deles, ninguém possui coragem suficiente para mexer com ele. Além de que, como Yoichi se tornou meu peão, ele tem a minha proteção também.

Mesmo com isso, ele ainda andava ao meu lado por medo. Medo de que alguém o quebrasse de novo.

Tanto mentalmente quanto fisicamente.
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Faz cinco dias que o Yoichi se tornou meu peão; nesse curto intervalo de tempo, ele não desgrudava de mim.

Como eu gosto de ficar em locais vazios, ele não hesitava em me seguir.

Ainda mais pelo seu medo.

Hoje é quarta, 10:38.

A temperatura era de 16° e a sensação térmica de 13°.

O clima está confuso ultimamente, mas essa é uma boa época para se usar casacos!

Deixando isso de lado, eu e Yoichi estávamos sentados no banco do pátio; todos estavam em suas salas tendo aula, diferente de nós, que estamos matando-a.

Soltei um suspiro: Que fome.

— Você não… comeu nada? — perguntou Yoichi.

Sua voz ainda era trêmula, porém um pouco mais firme.

— Não. Eu saí às pressas de casa — respondi.

A pele dele já estava menos pálida, mas ele ainda estava magro. Vai demorar um pouco pra ele se recuperar, mas isso é exatamente o que eu preciso.

— Mas e aí? As pessoas têm olhado torto pra você? — disse.

— Sim. Não está tudo perfeito, mas ao menos, não corro risco de bullying — falou Yoichi.

— Sério, me desculpa. — Abaixei a cabeça.

U-Uh? Pelo o quê? — perguntou Yoichi.

— Por te humilhar em público daquele jeito.

Yoichi ficava em silêncio; eu podia sentir seu olhar julgador sob minhas costas.

— Falando de pessoa para pessoa, me desculpe — falei.

— Mas se eu te humilhasse na frente de todos, eles veriam que você estaria sob minha proteção, e eu também sabia que a Yukari daria uma proteção extra a você por minha causa — dizia.

— Não estou te ordenando a me perdoar. Apenas queria me desculpar por não ter pensado em outro método para dar um fim nessa história — falava.

?!

— Para acabar com essa história de uma vez por todas, usei o nosso acordo como desculpa. E bem, funcionou aparentemente, mas não cem por cento do jeito que eu queria. Realmente, me desculpa — conclui.

— Então tudo isso foi para você acabar com o meu sofrimento? — perguntou Yoichi.

Hmh — afirmei.

— Acho que te julguei de maneira errada no final. Me desculpe por isso — falou Yoichi.

Ele respira fundo e solta o ar: B-Bem, ainda estou bravo com você. Mas com sua explicação, posso confiar um pouco em você.

Eu continuava de cabeça baixa, com uma expressão vazia em meu rosto.

— Mas podemos tentar nos dar bem — disse Yoichi.

Ergui minha cabeça e o encarei; eu estava surpreso com sua resposta.

Yoichi sorria gentilmente; era um sorriso fraco, mas gentil.

Devolvi com um pequeno sorriso.

Posso até ter dito isso, mas é tudo uma mentira.

Quem fez 90% do plano fui eu, e a primeira pessoa que escreveu mensagens ofensivas em sua mesa fui eu também, com o intuito de provocar um efeito manada.

E como previsto, deu certo.

Eu não me arrependo nem um pouco disso.

Mas, fingir um cenário de arrependimento com uma falsa causa para um tumulto, pode fazer com que nossas diferenças com o tempo, se quebrem mais rápido.

— Yoichi, você se lembra do nosso acordo, certo? — perguntei.

— Em troca de você não me vender para pessoas me estudarem, guardar em segredo que tenho poderes e me dar proteção, eu seria seu peão, jurando obediência absoluta. Certo? — disse Yoichi.

— Sim, é isso mesmo. — Me levantei do banco e fiquei na frente de Yoichi.

Meu sorriso se desmanchou; meu olhar vazio mudou para um sério.

— Agora quero que me responda: Você sabe o porquê de não ter conseguido revidar? Sabe o motivo de ter sido tão inútil e pisoteado por aquelas pessoas?

A expressão calma de Yoichi muda para a dúvida; sobrancelhas franzidas; pálpebras superiores e inferiores pressionadas; boca semi-aberta.

— É porque te pressionaram com o bullying, rejeição e mensagens ofensivas. Tudo com o intuito de abalar seu psicológico. Mesmo podendo acabar com isso, você não fez nada.

— Eu poderia muito bem ter me juntado a eles, mas senti pena de você. — Coloco uma mão na cintura — Posso até mesmo dizer que você quebrou nosso acordo, e humilha-lo agora mesmo.

Os olhos de Yoichi se arregalaram; suas sobrancelhas se levantaram; seu queixo caiu.

Rapidamente, ele se levanta do banco e ajoelha-se à minha frente.

— Piedade! Por favor, eu suplico! Eu já sou o seu peão, não era isso que você queria?! — disse Yoichi, com sua voz trêmula.

Ei, eu não disse que faria isso, disse que poderia. — Me agachei — Olha pra mim.

Yoichi ergueu sua cabeça, com seus olhos em lágrimas.

— Você já deve saber pelo doutor que a pessoa que te salvou, fui eu. Mesmo espancando pessoas, ainda sou humano, e não suporto ver alguém morrer por uma causa fútil.

— Então quero que me responda com clareza uma única pergunta — disse.

Hm?! — Yoichi, com os olhos marejados, fungou o nariz.

O que aconteceu? E eu me refiro a quando te achei com cortes no abdômen. Qual foi o motivo disso? — perguntei.

Yoichi ficava com uma cara de espanto; seu corpo tremia.

Coloquei a mão em seu ombro: Mas não aqui. Primeiro, vamos para um lugar mais calmo: o telhado.

Me levantei e estendi minha mão para ele.

— Lembre-se de que você jurou obediência absoluta a mim, peão. Caso não cumpra sua parte do acordo, eu posso fazer o que te falei.

Yoichi pegou na minha mão e se levantou. Virei-me e comecei a andar para fora do pátio.

A princípio, não ouvia os passos de Yoichi, então parei. Segundos depois, seus passos ficavam cada vez mais altos e chegavam perto.

Eu voltei a andar.

Passamos pelos corredores, ouvindo as vozes de todos dentro das salas. Subimos as escadas, até chegarmos no telhado da escola.

Fechei a porta e virei-me para ele: Comece explicando como você conseguiu aqueles cortes.

Yoichi desviava o olhar; esfregava a mão em seu cotovelo esquerdo; seus lábios estavam pressionados.

Ei, eu mandei você explicar como ficou com aqueles cortes.

— T-Tudo bem, eu falo. Mas me prometa algo primeiro — falou Yoichi.

Hm?

— Poderia manter isso entre nós dois, por favor? Eu apenas não quero que esse assunto vaze pela escola — disse Yoichi.

— Tá, eu prometo guardar em segredo, tudo que fizeram com você.

Yoichi suspira: Bem, os cortes foram feitos pelo Payman. Os dois amigos deles me seguraram, e eu não pude fazer nada contra.

— Foi por isso que você me encontrou daquele jeito perto da enfermaria — explicou Yoichi.

— Payman?

— Sim. Aquele cara loiro que você espancou no primeiro dia de aula — disse Yoichi.

Meus olhos se arregalaram e o meu queixo caiu.

— Aquele merda?!

— Difícil de acreditar, não é? — disse Yoichi, sorrindo.

Com passos pesados, parei a frente de Yoichi e coloquei as mãos em seus ombros.

— Me conte tudo o que aconteceu! — falei.

U-Uh, tudo bem.

Fingi me preocupar de verdade.
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— Resumindo, aquele bosta fez essa coisa chamada doxxing, tem a sua vida na palma da mão dele e te torturou.

— Sim — disse Yoichi.

Tch. Aquele merda. Tudo porque meti a porrada nele.

— M-Mas por favor… não vá atrás dele. Eu não quero a minha família mor…

— Não precisa se preocupar, não vou ir atrás dele — Interrompi Yoichi.

— Ao invés disso, vou fazer ele vir atrás de mim.

Yoichi me encarava, com um rosto de total confusão.

— Por que…? Qual o sentido em ir atrás dele…?

— Você está cumprindo sua parte do acordo, então também irei cumprir a minha: te dar proteção — Cerrei os punhos — E também, ele mexeu com algo que é meu, então o farei sofrer.

Eu não estava bravo, preocupado nem triste pelo que o Yoichi me contou. Não me arrependo nem 1% de ter quebrado seu psicológico, afinal, isso só me ajudou.

Mas o que eu mais quero nesse momento, é enfiar a minha mão no rosto de cada um. Motivo? Preciso ganhar confiança e cumprir com minha parte do acordo.

Não importa se todo o terceiro vier para cima de mim, nem mesmo se eles usarão armas. Pode vir até mesmo a “arma secreta dele”, que são aqueles dois que estão escondidos nas sombras assistindo a tudo, como se fosse um grande teatro.

Eu vou eliminar todos.

No entanto, deixarei a Yukari se divertir também.

— E não se preocupe, você não sairá machucado. Eu o protegerei — disse.

— Só, por favor… eu lhe imploro, não quero ver minha família morta no dia seguinte! — disse Yoichi.

Lágrimas escorriam de seus olhos, que estavam avermelhados; sua voz estava trêmula; suas bochechas estavam vermelhas.

— Tudo que você encontrará, será aquele idiota lambendo o chão.

Palavras cheias de esperança, coragem e poder. Isso pode confortar qualquer pessoa que passou por um episódio traumático, como o Yoichi.

Yoichi abre os braços e vem até mim: Muito obrigado, mas não…

Coloquei minha mão em sua testa, parando-o: Corta essa, sem abraços.

— Além do mais, você é minha propriedade e o protegerei.

— E não me importa o que você vai me dizer, eu não vou recuar. E mais importante, quantos estão com o Payman?

— Só vi dois dos seus amigos e um cara do terceiro ano. Mas tinham duas pessoas também — respondeu Yoichi.

— Sabe quem são? — perguntei.

— Um cara e uma garota. Mas julgando pelas vozes, devem ser os Monsters — respondeu Yoichi.

Monsters? Monstros?

— Sim. Ano passado, os dois dominaram todos os alunos da escola ano passado, mas algo aconteceu com eles depois disso — disse Yoichi.

— E o que aconteceu?

— Eu… não sei — falou Yoichi.

Hmm. Tudo bem, não lhe forçaria a dizer o que não sabe.

De repente, ele se atirou em meus braços.

— Me solta, porra! — gritei, mas ele não me soltava.

— Larga, caralho!
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Bocejei.

— Ele está demorando — disse.

Hoje, antes da escola abrir, Alger me ligou, dizendo as seguintes palavras: “Eu vou arrancar informações do Yoichi e contar a você depois”

Agora, estou esperando.

Parando pra pensar, ele não disse quais informações, mas presumo que sejam pessoais. Como Yoichi não se recuperou totalmente, Alger pode fazê-lo algum tipo de acordo ou promessa maldosa.

Ele pode dizer: Você me fala isso, em troca disso. Ou, Yoichi, por desespero, pode propor uma promessa para Alger não vazar as informações.

Aquele garoto briguento do início está demonstrando ser inteligente, então ele vai achar uma brecha ou criar uma para me contar algumas informações.

Se a minha teoria estiver correta, ele vai me dizer três coisas, que seriam mais ou menos:

1: “Por causa de uma promessa, só posso te contar um terço.”
2: “Eu fiz um acordo com ele, posso te contar muito mas não detalhadamente.”
3: “Pela nossa promessa, não posso te contar nada. Me desculpe.”

Mas com base no que ele já demonstrou, a segunda opção é a mais viável.

Me espreguicei: Ficar sentada nessa sala vazia é um saco.

Heh. Nunca imaginei que estaria matando aula.

No meio do tédio, senti meu celular vibrando. O peguei do meu bolso, que fica na saia. Havia uma notificação de mensagem, era do Alger.

“Me encontre no corredor do segundo andar depois da escola, preciso te contar algumas coisas”

— Só no final da aula…? — suspirei.
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17:34.

Depois que o Yoichi me contou, tenho um motivo “válido” para acabar com o Payman. Mas aquele abraço quase me fez quebrá-lo na porrada.

Como pedido, Yukari estava no corredor do segundo andar. Ela estava de braços cruzados e postura corporal fechada.

Parecia brava.

— Você demorou, hein?

— Estava ocupado com algumas outras coisas — disse.

Yukari veio até mim: Então, o que conseguiu?

— Eu prometi a ele que não contaria para ninguém. No entanto…

— No entanto?

— Prometi que não contaria somente o que fizeram com ele.

Bingo. Era a segunda opção, pensou Yukari.

— E o que você tem a me dizer? — perguntou Yukari.

— Bom, fizeram algo de ruim contra ele, só posso dizer isso da primeira parte. A segunda parte, é que tempos divertidos estão se aproximando — respondi.

?

— Payman, o mesmo cara que subornou Yoichi com cinquenta mil Ienes, pretende usar uma arma secreta contra mim. Duas pessoas apelidadas de Monsters, que dominaram todos os alunos ano passado — disse.

— Em breve, você poderá acabar enfrentando um deles, frente a frente — falei.

— Espera um pouco! Já me falaram sobre eles!

— E o que disseram? — falei.

— Um deles é um cara chamado “Makyu”. Por um motivo grave, levou uma suspensão de um ano. A outra é uma garota chamada “Horikita”, que também foi suspensa — explicou Yukari.

— Que motivo é esse? Não me contaram — disse Yukari.

Hmm. Interessante. — Sorri — Quer se juntar a mim para acabar com eles?

Yukari abriu um sorriso em seu rosto: Quero.



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