Volume 1

Capítulo 5: Fama Poderosa

Mais um dia, mais uma aula.

Posso até não estar em meu auge, mas me recuperei bem. No entanto, há uma coisa que me incomoda.

Depois que eu e a “Queen” lutamos, aconteceu um efeito inverso.

Ao invés de minha fama ser nula, ela aumentou.

Minha fama é maior do que a anterior.

Brutal Guy pra lá, Queen pra cá. Brutal Guy x Queen aqui.

Agora, aqueles merdas de cérebro liso transformaram tudo isso em uma história de mangá. E está alcançando grandes vendas; o nome da obra é: “A história de um cara brutal e uma Rainha”

E o que me deixa mais puto, é que além de estarem correndo rumores de que eu e a Yukari dariamos um bom casal, na própria obra isso está em destaque.

Agora eu e a Yukari somos o assunto em destaque dessa escola.
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— “A história de um cara brutal e uma Rainha”?


— Sim, você já leu?

— Já, e gostei muito dos personagens. Muito melhor do que o Alger da vida real.

— Concordo, mas a Yukari continua perfeitamente linda.

— Shh! Olha ele ali!

Mais uma vez, eu estava andando pelos corredores.

O melhor a se fazer nessas situações, seria ignorar ou fingir que não ouviu. Mas não quer dizer que eu não esteja puto por dentro.

Parei, olhei pra um pôster promovendo o mangá. Peguei o pôster e o rasguei em mil pedaços.

Quem eu queria estar rasgando em mil pedaços era o autor, ou autores desse mangá lixoso agora.

Talvez eu possa entrar com um processo, dizendo que estão fazendo uso da minha imagem sem minha autorização. Mas isso seria uma chatice, sem falar no dinheiro.

Quem investir mais no processo, ganha. E eu não estou com vontade de virar um morador de rua.

Entrei na sala.

Haviam mesas espalhadas, com exceção de uma, que estava bem no centro. Todos estavam sentados em cadeiras, um ao lado do outro, fazendo uma roda em volta da mesa.

Nessa mesa, havia um mangá.

E acho que nem preciso dizer qual era, certo?

Mas a mesma coisa que fiz com o pôster, quero fazer com essa merda de mangá.

Fala sério, suspirei.

Me sentei na cadeira, coloquei a bolsa na mesa. O sinal tocou.

Primeira aula, aqui vamos nós.

A porta se abre; o professor de Biologia entra na sala.

Olhar relaxado, olhos largos; rosto calmo.

— Turma, arrumem essa bagunça — ordenou o professor.

Aww. Não podemos ficar assim só nessa aula? — falou um dos que estava na rodinha.

— Não. — Ele passa a mão no cabelo — Além de não prestarem atenção na aula, tenho um comunicado a dar pra vocês.

Como mágica, os que estavam na rodinha pegavam as cadeiras, as levavam até as mesas e se sentavam.

O dono do mangá havia o guardado também.

Uhum! — Ele limpa a garganta — Daqui a duas semanas, haverá um exame escrito.

— O quê?!

— Tá de sacanagem?!

— Mas já?!

Seus gritos; olhares raivosos; semblantes de raiva.

— Calem a boca! — gritou o professor.

A sala se calou.

Ele suspira: Peço que me escutem antes.

Lá vem a bomba.

— Nos chegou hoje a notícia de que terá uma classificação de todas as escolas, dirigida pelo governo. — Ele pega um giz e começa a escrever na lousa.

— Essa classificação servirá para auxiliar os pais que estão indecisos em qual escola irão matricular seus filhos. Eu sei o quão desagradável isso deve estar sendo pra vocês — disse o professor.

— E como cada escola tem turmas e o plano do diretor é fazer essa escola ser a mais pika das galáxias, as turmas irão se unir. No entanto, será em duas duplas, que realizarão o exame.

Finalmente, um professor que não fica segurando o que tem pra falar, como: “pika das galáxias”

— Mas por que duas duplas ao invés de um grupo com as turmas A, B, C e D? — perguntou alguém da sala.

— Se isso fosse feito, ficaria uma bagunça. Além do que, para essa escola ser bem falada, ele pensou nas turmas com diferentes conhecimentos, ajudarem umas às outras — respondeu o professor.

— Então, as duplas são: turma A com turma D, turma B com C.

Achei incrível que apesar da decisão bunda do diretor, ninguém reclamou dela. Todos ficaram apenas quietos escutando, e a aula começou, como se nada de importante tivesse sido dito.

Eles têm o cérebro liso?

Finalmente, o intervalo.

Dessa vez, estou com um sanduíche normal comigo. Joguei a embalagem no lixo, comi e saí para dar uma volta.

Enquanto andava pelos corredores, tinha um pequeno grupo de garotos e garotas em volta de uma pessoa de cabelo prateado.

Sim, ela mesmo: Yukari.

Seu olhar afiado e fechado havia sido trocado por um de desespero, sem saber como lidar com a situação. Seu rosto sério era de alguém preocupado.

Acho até engraçado ela estar nessa situação.

Como qualquer outra pessoa comum, passei reto, ignorando isso.

Até sentir uma mão sob meu ombro.

Virei-me, havia um cara com uma câmera fotográfica em mãos.

— E aí, Brutal Guy! Como vai?

Minha curta paciência se esgotou; quero quebrar esse muleque.

O encarei, em total silêncio.

Uh. Aí, que tal tirar algumas fotos? A Queen também está tirando algumas e… Err.

— Vai se fuder, caralho. Se ela está tirando fotos, bom pra ela — disse.

— E você por acaso, não quer ficar famoso como ela?

— Continua me torrando a paciência e eu te quebro. — O ameacei.

Seu olhar brilhante e entusiasmado mudou para um sem vida com tristeza.

Virei-me, pronto para ir embora, mas fui puxado por uma mão.

Sua mão macia, quente e pequena.

Quando mal percebo, Yukari está com seu braço em volta do meu pescoço, pressionando meu rosto contra os peitos dela.

Eles são tão macios, e são grandes.

Ela estava fazendo um “V” com os dedos, sorrindo.

Luzes cegantes me atingiam, parecia que isso duraria para sempre, até pararem.

— Muito obrigado! — gritaram, os fotógrafos filhos das putas.

Casualmente eles iam embora.

Eles por acaso se deram conta do que fizeram?

— Tchau! — disse Yukari, acenando para eles.

Puxo minha cabeça para fora; saí do braço de Yukari e a empurro.

— Que merda é essa, caralho?! — gritei.

Ela bate na parede.

Tch, mal agradecido — disse Yukari, dando tapinhas em seu ombro.

— Como é?

— Acho que você também notou, não é? Depois da nossa luta, ficamos incrivelmente famosos nessa escola, ganhando até um mangá — falou Yukari.

— Sim, eu sei. Mas e daí?

— Quanto melhor respondermos a eles, mais rápido eles nos deixarão em paz. — Ela balança seus lindos fios de cabelo prateados no ar.

Tenho que admitir, ela fazendo isso me pegou de jeito.

— E você acha que sua lógica é absoluta? — perguntei.

— Bem, não — respondeu Yukari.

— Exatamente, só estaríamos alimentando o “monstrinho” dentro deles.

— “Monstrinho?” — Ela disse.

— Egoísmo. Se respondermos a como eles querem, isso será um estímulo ao seu egoísmo, o que fará eles quererem mais e mais. É como o cíclo da pornografia — expliquei.

— Analogia interessante, comparação horrível.

— Eu sei, tá legal? — falei.

— Não vou nem perguntar…

— Não. A resposta é não, pois sei que está com essa pergunta em sua mente — disse.

— Eu não precisava saber! — gritou Yukari.

Ela suspirou: O que pretende fazer para que isso acabe então?

— Nada. Nem estou me importando com isso.

Aham, sei. Não parecia isso agora a pouco não — disse Yukari.

— Você é chata, hein?

? Vai vir com essa bem agora? — Seu olhar afiado parecia me furar.

E o sinal toca; essa conversa frustrante pode ficar para depois.

— Que peninha, o sinal tocou. — Virei-me.

— Espera aí! — Ela me agarrou pelo pulso.

Olhei para trás.

— Há uma coisa que quero te pedir — disse Yukari.

Hm?

— Poderia me encontrar no ponto mais próximo da escola depois? — perguntou Yukari.

Me veio à mente um acontecimento de ontem: Eu havia pedido pra conversar em um canto privado com ela, e ela instantaneamente recusou meu convite.

Olhei para ela; Meu sorriso enorme e simpático; meus olhos fechados, relaxados. Emanando uma aura brilhante de carisma.

Que assustador! pensou Yukari.

— Não — respondi, de forma seca.

Com as mãos nos bolsos, saí do corredor, deixando Yukari sozinha.

Parece que meus planos de viver uma vida sossegada estão cada vez mais, indo para baixo. Sério, qual é o problema desse pessoal?

Bando de cérebros lisos inúteis do caralho.
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— Não sei não, payman. Tem certeza disso?


— Claro que tenho. Aquele arrombado do Alger já nos humilhou muito — disse.

— Mas…

Corto a fala do gorila: Calem a boca! Vocês, cinco alunos do terceiro, do tamanho de uma geladeira, não conseguiram cuidar de um cara só, com metade da altura de vocês!

Eles ficaram calados.

— Bem, aproveitando que a fama dele e da “Queen” subiu, que tal chamar ele? — falei.

— Está falando Dele?!

— Exatamente. O aluno que levou dois meses de suspensão. — disse.

— O Makyu?!

— Sim, o Monstro — falei.

Ei, ei, ei! Isso já é loucura!

— Cala a boca, armário ambulante! Eu não te perguntei nada! — gritei.

Respirei fundo e bufei.

— Sendo loucura ou não, vou fazer aquele bosta pagar.

Só espere, Alger. Você tá muito fudido.
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Atchim!

Respirei fundo.

E, que grande merda. Agora, todos estavam me encarando.

Cortei legal o clima da aula, hein?

— Alger, por acaso está gripado? — perguntou o professor de Biologia.

— Não, foi só um espirro mesmo — respondi.

— Se você diz. Bem turma, a glicose é produzida pelas plantas também, não só pelos seres humanos. — Ele voltava a explicar o conteúdo.

Todos voltaram a prestar atenção na aula.

Será que tem alguém falando de mim?

Se for a Yukari, vou ter que bater um certo “diálogo” na cabeça dela.
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— Sim, eu sei meninas. Mas eu realmente não gosto do Al..


Senti um calafrio subir pela minha espinha até minha nuca.

Eek! — Me levantei, com os braços sendo contraídos com meu torso e pernas fechadas.

— Yukari? Você está bem? — disse uma das minhas colegas de classe.

— Sim, foi só um calafrio repentino — falei.

Me sentei.

— Como eu ia dizendo; é bom que você não goste mesmo do Alger. Aquele cara bruto.

— Ah, é mais por ele não fazer meu tipo mesmo — respondi.

Eehh?! Você tem preferências por homens?! — gritou uma.

— Mas é claro que ela tem! Olha só pra essa Deusa!

— Para, vai! Eu não sou tudo isso que vocês dizem que sou — falei.

— Modesta como sempre, não é?

Depois disso, eu mal conseguia prestar atenção na conversa.

Foi só falar do diabo que ele se manifestou.

Será que ele estava falando de mim?
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Depois de um longo dia acadêmico, finalmente posso ir para casa.


Me espreguicei; peguei meu material, o coloquei na bolsa e a pendurei sob meu ombro. Saí da sala.

Enquanto descia as escadas, soltei um enorme bocejo.

Não havia praticamente ninguém na escola.

— Até que enfim. Ficou dormindo na sala de novo?

Essa voz, eu a reconheço.

Olhei pro lado.

Ei, Queen. Que merda você está fazendo aqui? — perguntei.

— Te esperando. E não precisa me chamar por esse “título”, nós praticamente nos conhecemos.

— Não, eu não te conheço, só passei um dia na enfermaria com você — disse.

— Cabeça dura…

— Quem é cabeça dura aqui é você, que não aceitou um “Não” como resposta — falei.

— Tá, tá! Tanto faz. Apenas vamos logo — disse Yukari.

— Ir aonde?

— Você quer morar na escola agora? — perguntou Yukari.

Tch. Ela tinha um ponto.

Começamos a caminhar, um ao lado do outro, mas mantendo distância.

— Então… eu queria falar com você sobre a nossa luta.

— Sem revanches — falei.

— Não é nada disso, idiota — disse Yukari — Queria discutir algo mais sobre você mesmo.

Hm? E o que é? — disse.

— Como você já enfrentou boa parte da escola, ouvi dizer que você sempre sabia o que fazer, até mesmo quando estava prestes a perder. Você dava a volta por cima.

— E? — perguntei.

— Não foi esse o caso da nossa luta. Por quê?

— Sei lá. Vai ver, inconscientemente eu já sabia que daria em um empate — respondi.

Hmn.

— E quanto a você?

? Eu? — Ela perguntou.

— Notei que na nossa luta, sempre quando eu te batia, você devolvia mais forte. Sempre que eu era mais rápido que você, você ficava mais veloz.

Seu olhar afiado ao invés de sério, era de curiosidade. Uma sobrancelha dela estava levantada; ela pressionava os lábios.

— Força; velocidade; resistência; durabilidade. Você se adaptava a cada segundo da luta, até ficar totalmente igualada a mim. Como? — perguntei.

— Eu também notei isso, mas decidi deixar quieto — Ela suspira — Mas isso sempre acontece quando brigo com alguém.

Parei de andar; fiquei calado por um momento. Tomei coragem e olhei no belo par de olhos carmesim.

— Por acaso você também tem um poder?

— Poder? — Ela disse.

— Sim. No meu caso, eu tenho uma precognição, que me deixa ver alguns segundos no futuro — expliquei.

Seu olhar de curiosidade mudou para um brilhante.

— Que bacana! Então é assim que você sempre sabe o que fazer! — Ela parecia uma criança.

— No meu caso, é uma evolução exponencial. Eu me adapto à luta, mesmo caso eu não queira. Mas só consigo me adaptar até ficar de igual pra igual — explicou Yukari.

Minha teoria estava totalmente certa então.

No final, mesmo sendo tão diferentes, temos algo em comum: Poderes.

Odeio os privilegiados, nunca dando chances aos mais fracos. Mas como temos algo em comum, posso deixar, passar dessa vez.

Paramos em um ponto, e entramos em um ônibus; me sentei no fundão, e Yukari se sentou ao meu lado.

— Há quanto tempo você tem esse poder? — perguntou Yukari.

— Não força a barra.

De um papo tão agradável, foi para uma encheção de saco. Até finalmente poder descer no meu ponto, e deixar ela sozinha no ônibus.

E foda se se essa atitude minha foi bacaca, eu tô pouco me fudendo.

Mas até que essa conversa não foi uma perda de tempo. Eu também queria discutir a mesma coisa com ela naquele dia que a convidei para conversar em um local privado.

Deu tudo certo no final, certo?

Acho que sim.

Mas agora estou com uma enorme dúvida em minha cabeça.

Será que inconscientemente, eu já sabia que o resultado seria um empate, ou ela evoluiu a um nível onde meu poder não funcionava mais?



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