Volume 1 – Arco 2

Capítulo 33: Fadados à Derrota

Do outro lado, estava o grupo de Alger: Yukari, Yoichi e Gyomen. Deste, o meu: Makyu, Horikita e Payman. Mas ainda sim…

Olhei por cima do ombro: Hiyori, poderia explicar a contradição em suas palavras?

Antes de responder, ela me encarou por alguns segundos.

— Não vejo contradição alguma, Honsing. — Hiyori lançou-me um olhar frio — Ah menos que esteja tentando contornar a situação, saiba que é inevitável.

— Inevitável?

Hiyori cruzou os braços: Sim. Meu plano era chamar Alger para uma emboscada, mas não me dei conta que se eu o chamasse, atrairia todos seus amigos juntos.

Rangi os dentes; meus olhos arregalaram-se; meu corpo rapidamente esquentava e ao piscar, agarrei Hiyori pela gola de seu yukata.

Meu corpo borbulhava, pronto pra uma explosão; a raiva dentro de mim era capaz de me fazer jogar Hiyori desta varanda, sem arrependimento ou remorso algum, assim como jogar o lixo na lixeira.

Enquanto a pressionava contra o corrimão, meu olhar raivoso colidia contra o seu, que era totalmente frio e afiado.

— Hiyori, você espera mesmo que eu acredite nisso? Logo você? Uma vi…

Então, com um toque suave em meu ombro, ela aproximou-se de meu ouvido.

— Honsing-chan, por acaso esqueceu-se de que eles não sabem sobre você me dar dinheiro escondido e, de que Alger pode estar o filmando neste exato momento? — sussurrou Hiyori.

Apertei mais forte a gola do yukata; a voz dela agora, mesmo nessa situação tensa, era fria, mas também tão… suave?

Como ela consegue estar calma mesmo estando diante da morte? Me perguntava em pensamentos.

— S-Sua víbora… — Assim que a soltei, me afastei e, antes que pudesse olhar novamente para o rosto de Alger, um estalar de dedos ecoou pelo local.

Quando olhei para o grupo, todos continuavam com uma expressão séria, com exceção de Alger, mas um detalhe chamou-me a atenção.

Yukari, com um olhar tranquilo e um leve sorriso em seu rosto, estava com sua mão acima da cabeça e então, novamente, o som do estalar de dedos ecoou pela varanda.

— Ayane, creio que ouviu meu sinal duas vezes e mesmo assim, você irá insistir em não fazer nada? — disse Yukari.

Rapidamente havia mudado sua expressão de tranquila para fria.

— O Mestre mandou você trazer as bebidas, Ayane — ordenou Yukari, com sua voz fria e autoritária.

Olhei para Ayane e, ela com os olhos arregalados, acenou repetidas vezes com a cabeça.

— S-Sim! É pra já! A-Agora mesmo! — Ela então correu para trás do balcão.

Ei!

Olhei na direção da voz; Alger estava com um olhar malicioso em seu rosto, como sempre.

— Já esperei muito, não acha? Enquanto Ayane prepara algo para todos nós bebermos, por favor, peço que acompanhem a minha explicação. — O rosto dele sequer tremia.

— Explicação do que? Da sua atuação pobre em emoção e criatividade? — perguntou Payman.

— Não, ao invés disso, na explicação de como todos estavam fadados à derrota desde o início! — disse Alger, com sua voz cheia de excitação.

Huh. Yukari, creio que esteja violando as regras do jogo “O Mestre Mandou”. No entanto, creio que não tenha sido proposital, certo? — perguntei, lançando-a um olhar analítico.

Lentamente, o rosto frio de Yukari transformava-se em um debochado; assim como Hiyori, com um toque gentil no ombro de Alger, ela aproximou-se de seu ouvido.

— Alger-chan. O Mestre mandou você parar de ignorar Yukari, Yoichi e Gyomen — ordenou Yukari, com um tom leve e doce em sua voz.

Ah, mais já? — Ele a olhou pelo canto do olho — Estava me divertindo vendo o rosto confuso de Honsing.

— R-Rosto confu…

Após Alger dizer isso, me dei conta de que até agora, meus olhos estavam arregalados em dúvidas e minha boca aberta em medo.

— S-Seu rato…! — Apontei para seu grupo  — Todos vocês! Por desobedecerem as regras do “Mestre Mandou”, os bano de meu hotel!

Olhei para Ayane: Vamos, Ayane! Bana-os de seu SPA também, pois não vou tolerar violação de regras alguma!

Virei para trás: Você também, Hiyori! Expulse-os logo desta excursão!

Meus olhos arregalaram-se; Hiyori estava de olhos fechados e cabeça baixa, como se sequer tivesse me escutado.

Ei! Hiyo…

— Eu estou ouvindo, Honsing. Entretanto, desde o início eu já sabia que Alger seria o vitorioso — interrompeu-me Hiyori, com sua explicação.

Assim que olhei para Horikita e Payman, dei um passo para trás; ambos esboçaram a mesma expressão de confusão e medo que eu.

— V-Você nos traiu, Hiyori?! — gritei.

Hiyori, após deixar um suspiro escapar de seus lábios, olhou para mim, com seu olhar despreocupado.

— Honsing, demorei para perceber também, mas assim como Alger, percebi que este jogo possui inúmeras falhas, as quais Alger tomou como vantagem e, usou-as contra todos nós — disse Hiyori.

De repente, foi como se minha mente tivesse estalado; arregalei os olhos ao perceber o que Hiyori queria dizer.

— O-Ou seja, o tempo todo nós…

— Exatamente, Honsing. — Diferente da maioria das vezes, em que sua voz era intensamente fria, agora, seu tom era calmo, trazendo-me certo conforto.

Ela, de modo suave e gentil, colocou sua mão no quadril enquanto me olhava, com aquele olhar despreocupado e sua expressão relaxada no rosto.

— Desde o início, estávamos fadados à derrota, assim como Alger disse — suspirou Hiyori enquanto olhava para Horikita.

Horikita, por sua vez, tinha seus lábios trêmulos e um olhar perdido em meio à confusão, diferente de Payman, que não parecia ter entendido ainda, assim como eu.

— Sei que querem perguntar “O que está acontecendo?!”, mas antes, vamos esperar Ayane — disse Alger, com seu rosto relaxado e olhos fechados.

Eu, Horikita e Payman, após uma troca de olhares e acenos de cabeças, concordamos mutuamente; olhei novamente para Alger.

Após um breve silêncio, Ayane, com uma expressão de nervosismo em seu rosto, finalmente voltou, com garrafas em ambas as mãos; Ayane após colocá-las sobre a mesa, prestava reverência à Yukari.

— M-Mestre, há vinho, whisky, alguns sucos e-e água! — disse Ayane.

— Fez muito bem, Ayane. Entretanto, você esqueceu dos copos — falou Yukari, com sua voz calma e debochada.

Meus olhos seguiam Ayane, até um som de batida ecoar pelo local; rapidamente olhei na direção, era Alger.

— Honsing, me responde… — Ele lançou-me um olhar penetrante — Você se acha esperto?

Eu… me acho esperto? Que tipo de pergunta é essa?

Limpei a garganta: o que quer dizer com isso, Alger?

Então, Ayane retornou, colocando sobre a mesa, uma bandeja com oito taças.

— C-Caso vocês também queiram beber, m-mestre! P-Por favor, não se importe de haver somente taças, isso foi tudo o que encontrei! — Ayane tremia enquanto falava.

De repente, Alger levantou a mão e, o olhar de todos direcionaram-se a ele.

— Ayane, há um último pedido que eu gostaria de fazer, é claro, se o Mestre também concordar.

Yukari escorou-se no ombro dele: Qual seu pedido, Alger?

— Queria que todos nós pudéssemos nos juntar para beber — disse Alger, com um leve sorriso no rosto.

Yukari olhou para todos atrás de mim e, eu mesmo; ela lançou em nós seu olhar, que parecia nos encarar como seres inferiores.


Esse olhar em seu rosto… É como se ela estivesse usando seu par de olhos carmesim para encarar a minha alma.

— O Mestre mandou todos se reunirem na mesma mesa em que Horikita e Payman estão sentados e, caso alguém seja contra, será convidado a retirar-se do SPA e desta excursão — ordenou Yukari.

Sem hesitação, Hiyori obedeceu à Yukari e sentou-se no sofá vago; sem escolha, sentei-me ao lado de Hiyori, que imediatamente olhou para mim, com uma expressão confusa no rosto.

— Honsing, poderia sentar-se ao lado da Horikita, por favor? — falou Hiyori.

Levantei uma das sobrancelhas, mas sem contestar, segui suas ordens e sentei do lado de Horikita, compartilhando o sofá com ela e Payman.

Alger, Yukari, Gyomen e Yoichi sentaram-se no mesmo sofá que Hiyori.

— Ayane, poderia servir as bebidas? — perguntou Hiyori.

Ela respondeu com um aceno de cabeça e começou pela Hiyori; enquanto Ayane derramava o vinho da garrafa à taça para Hiyori, eu só conseguia encarar Alger, que estava sentado de frente para mim.

Ele estava com seus olhos fechados e pernas cruzadas, exalando uma aura de confiança e calma absoluta.

Qual o propósito dessa reunião? Hiyori sentou-se ao lado deles porque não haveria mais assentos vagos neste sofá? Para que as bebidas? O que este garoto está tramando? Pensei comigo mesmo.

— Senhor Honsing!

Retornei à realidade após mergulhar em meus pensamentos; olhei ao meu lado, Ayane estava segurando uma garrafa de rótulo preto escrito Johnnie Walker, Black Label.

A-Ah, sim. Eu gostaria deste whisky.

Ayane após tirar a tampa, derramou o líquido da garrafa dentro do copo e, assim que a bebida alcançou pouco menos da metade, ela parou e colocou a tampa de volta na garrafa.

— Obrigado.

Ayane, com a cabeça, gesticulou que ouviu; ela colocando a garrafa na mesa, sentou-se ao meu lado.

Olhei para a mesa e arregalei os olhos, todos estavam com bebidas alcóolicas nos copos, com exceção de Hiyori, que estava com uma taça de vinho à sua frente.

— Obrigado pela hospitalidade, contudo… — Olhei para Yukari — Ainda não consigo entender o porquê de tudo isso.

— É para o agradar, Honsing. — Ela cruzou as pernas — Quero que saboreie este whisky, como se fosse o último em sua vida.

Yukari era capaz de dizer isso com uma expressão debochada, mas, ao mesmo tempo, eu conseguia ver em seus olhos, uma malícia como eu nunca havia visto antes.

O que ela está planejando? Pensei comigo mesmo.

De repente, a mesa tremeu tudo na mesa quase voou; olhamos de onde veio o som e, Payman estava de pé, rangendo os dentes e de punhos cerrados.

Ei! Já chega de todo esse drama! Alguém quer explicar logo o motivo de todos termos que beber álcool e de todo esse suspense?! — gritou ele.

Hiyori, gentilmente, pega sua taça de vinho e, com uma expressão calma em seu rosto, ela dá um gole na bebida.

Ela suspirou: Nós esta…

O som de algo batendo na mesa interrompeu Hiyori e, rapidamente olhei novamente para a mesa; meus olhos arregalaram-se e meu queixo caiu.

Havia um cartão dourado à frente de Alger, escrito “Mestre”, junto do nome da Horikita abaixo.

Olhei para o lado; Horikita, com uma expressão confusa no rosto, estava tocando todo seu corpo, parecendo procurar algo em suas vestes, até finalmente, olhar diretamente para Alger.

Antes que ela pudesse explodir em fúria, Alger limpou a garganta.

— Eu tenho uma sugestão — exclamou ele.

— Qual seria? — disse Hiyori.

— Por que todos não me acompanham nas bebidas e, após cada quinze segundos, todos nós não damos um gole em nossas bebidas? — sugeriu Alger.

— O Mestre está de acordo com a sugestão — disse Yukari.

— Sendo assim, eu gostaria também de adicionar uma regra a este combinado. — Ele olhou para Yukari, com um sorriso gentil no rosto.

Hm? — Ela o encarou de volta, com um olhar de dúvida.

Alger olhou para mim: Aqueles que forem contra ou, não beberem, serão punidos a darem três golpes a mais, do contrário, sofrerão. Com exceção da Ayane, nossa recepcionista.

A intimidação vinda de Alger; o silêncio entre nós; o sentimento de perigo; Toda essa atmosfera fazia a tensão no ar ser, de forma sufocante, agoniante.

Ele pretende de alguma forma, punir Payman e Horikita usando o comando do “Mestre” e, me processar caso eu não o obedeça, mas…

Olhei para Yukari.

Como essa pirralha se tornou o “Mestre” tão de repente? Perguntei a mim mesmo em pensamentos.

O clima estava tão pesado que, a agonia e medo do que poderia acontecer, fazia meu corpo tremer; essa ansiedade, estava dando-me dificuldades até mesmo para respirar.

— Há algo de errado? Você está respirando pesado.

Olhei na direção da voz; Yoichi estava com uma expressão sarcástica esculpida em seu rosto.

Ei.

Novamente, olhei de onde a voz veio.

— Por acaso está com medo, Honsing?! — Alger tinha um sorriso perverso em seu rosto enquanto lançava em mim, seu olhar egocêntrico.

Fui para trás no sofá; arregalei mais os olhos enquanto meus lábios pressionavam-se um contra os outros; com medo, pintei uma expressão debochada em meu rosto.

Fu… — Peguei o meu copo e, após olhar um pouco para o whisky, olhei de volta Alger.

— Não vá achando que suas caretas são capazes de assustar um homem adulto, Alger. — Balancei o copo em círculos — Pois então, vamos beber, certo? Já devem ter passado quinze segundos.

Dei um gole na bebida; o gosto cítrico das frutas e defumado de suas especiarias, invadia meu paladar.

Um gosto excelente.

Alger, com uma expressão confusa, dá de ombros e deixa ambas as pernas afastadas, uma da outra.

— Tudo bem. — Ele pega seu copo e, após um gole, ele retorna o copo à mesa.

Todos seguiram seu exemplo, com exceção de Ayane, que sequer havia servido a si mesma.

Tudo que posso fazer no momento é que eu estava fingindo estar assustado de propósito, e, tentar sair por cima. Mas isso é impossível, por causa da Hiyori, sentada ao lado dele.

Não sei se ela decidiu sentar-se com ele por falta de assentos neste sofá, ou se ela tornou-se uma aliada dele.

Olhei para Horikita, ela parece ter se acalmado. Quanto ao Payman, ele parece ter ficado mais confuso com a situação inteira após ingerir o álcool em seu copo.

— Horikita, você queria saber de onde eu tirei o seu cartão, não é? Ou prefere que eu responda como eu descobri que você era o “Mestre”? — Alger tinha um sorriso debochado em seu rosto.

Horikita cerrou os punhos enquanto lançava um olhar furioso em Alger.

— É claro, você é esperta, por isso… — Com um rosto debochado, ele tirou do seu bolso outro cartão e o deixou sobre a mesa.

Este, era roxo, escrito também “Mestre”, com o nome de “Hiyori” abaixo.
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