Peace Out Brasileira

Autor(a): John C.


Volume 1

Capítulo 12: O meu maior tesouro!

Espaço: Quintal, casa do Spark.

Tempo: Sexta-feira de noite.

Era sexta-feira a noite. Spark, Talita e Demon estavam sentados em toras de madeiras no quintal da casa do Spark. A fogueira estava acesa. O fogo os aquecia em meio ao frio da noite.

Spark abre seu baú, revelando uma simples foto. O conteúdo dessa foto era de uma mulher de cabelos longos e olhos azuis, e um homem de pele morena, barba e cabelo curto.

Talita segurou a foto e observou bem os detalhes. Spark começa a falar:

— Essa é uma foto do meu pai com a minha mãe.

Talita esboça uma reação de espanto, pois acabara de conhecer os pais do garoto. No entanto, ela sabia que eles não se encontravam presentes, o que fazia desta foto, uma recordação de família de Spark. Logo, Spark continuou:

— É, eu sei. Provavelmente esteja passando pela sua cabeça que isto é apenas uma foto do meu pai e minha mãe. Para mim, é o meu maior tesouro.  Por isso, eu guardo neste baú, para mantê-lo em segurança e colocá-lo em um lugar especial.

— Spark... Eu... — disse Talita.

— Eu havia dito a você antes que meu pai precisou sair daqui para arrumar trabalho. Sim, enquanto eu era criança, meu pai esteve comigo me fazendo companhia. Mesmo tendo tão pouco, ele nunca me deixou passar fome. Às vezes, até deixava de comer a comida dele para me dar. Eu admiro muito o meu pai por isso — disse Spark, emocionou-se.

— Mas a minha mãe, eu não tive a oportunidade de conhece-la. Pois, ela acabou morrendo logo após o meu nascimento. Meu pai me contou a história da minha mãe antes de partir. Ela era uma mulher carinhosa, respeitosa, amorosa e cuidadosa. Meu pai a admirava muito, e por isso, decidiram ter um filho como prova do amor que tinham um pelo outro.

— O amor deles era de verdade, porém, eles não contavam com um desafio que surgiu logo após minha mãe engravidar-se de mim. Ela não tinha dilatação o suficiente para poder me dar à luz. Os médicos sugeriram fazer cesariana, mas o plano de saúde dela e de meu pai não cobriam essa operação médica. Mesmo assim, minha mãe e meu pai não desistiram e quiseram continuar para que eu pudesse nascer.

— Ao se aproximar de meu nascimento, meu pai, com receio de dar errado o parto comum, conversou com o hospital para fazerem a cesariana em minha mãe. Ele entrou em dívidas, mas prometeu pagar tudo conforme o que era combinado para essa operação. Tudo isso foi feito para garantir a segurança de minha mãe.

— No dia do meu nascimento, levaram a minha mãe para a mesa de cirurgia e eu acabei nascendo. Minha mãe me segurou pela primeira vez, e meu pai, logo em seguida. Ele me disse que esse foi o momento mais feliz da vida deles, e eu acredito que foi, pois eu me lembro dele ter me contado essa história e lágrimas caiam de seus olhos enquanto contava... — disse Spark, prestes a chorar.

— Mas algo tinha dado errado. Minha mãe começou a passar mal e veio a ficar em coma. Mesmo eu tendo saído do corpo dela, ela fez um esforço tremendo na hora do parto, o que resultou em uma anemia severa depois. Minha mãe veio a falecer 3 horas depois que eu nasci.

Talita ao ouvir a história de Spark, esboça uma reação de susto e tristeza. Não haviam palavras para serem ditas naquele momento que confortaria o garoto, ela pensou. Tal tragédia, claramente marcou a vida dele, e o que ela podia fazer naquele momento, era escuta-lo e compreender um pouco sobre a história dele com a sua família. Demon não esboça nenhuma reação, apenas o observa em uma expressão neutra.

— Meu pai, arrasado com a notícia, se encontrou em dívidas com o hospital pela operação de parto. Porém, ele sabia que não ganhava muito bem para poder pagar essa dívida o quanto antes, o que corroía boa parte dos ganhos dele. Ele continuou a pagar por algo que não garantiu a segurança da minha mãe.

— Ele disse que pagava as parcelas de suas dívidas pensando em minha mãe e como seria bom se ela estivesse viva, ao menos, para fazê-lo companhia.

— Com muito sacrifício, meu pai cuidou de mim até a minha idade de criança. Ele havia perdido o seu emprego, porque a empresa em que trabalhava, foi a falência. Ele não podia ficar de braços cruzados, pois ainda tinha que pagar a dívida do hospital que crescia conforme o tempo que ficava sem pagar.

— Neste tempo de desemprego, meu pai precisou pedir ajuda aos camponeses da vila, que ajudaram como puderam, nos deixando em uma situação de miséria. Claro que meu pai não se conformava com a situação. Logo depois, acabou encontrando uma oportunidade de um novo emprego, mas este emprego, era em uma outra cidade.

— Meu pai resolveu fazer a maior aposta da sua vida e aceitou a proposta de emprego, porém, ele sabia que não tinha como garantir uma vida decente neste outro local. Ele começaria a construir as coisas do zero novamente, o que nos colocava em uma situação de risco. Ele então, conversou com o pastor Elizeu, e o colocou para ser o meu tutor, para me ensinar e educar caminhos corretos a serem seguidos.

— Eu gosto do pastor Elizeu. Ele sempre se demonstrou interessado em me ajudar, mas eu me sinto um incômodo para a família dele. Eles não são nem um pouco simpáticos comigo. Não é a mesma coisa terceirizar educação, pois eu sempre senti a necessidade de ter o meu pai comigo, para poder me ouvir, me ensinar e me educar conforme o que ele viveu, pois, eu o admiro. — disse Spark, observou as estrelas.

— Spark... Eu sinto muito por isso... — disse Talita, esboçou muita tristeza.

— Hahaha, tudo bem Talita! Eu não costumo ficar todos os dias com a cabeça baixa assim. Eu só me dou esse luxo de ficar assim em uma sexta feira a noite, porque foi o dia e horário que meu pai precisou ir embora. Ao olhar essa foto, eu fico imaginando como seria a minha vida se eu tivesse minha mãe e meu pai comigo. Fico sonhando acordado e me consolo, em apenas imaginar, como seria a minha vida com eles. — disse Spark, emocionado.

— Sempre que eu olho para essa foto, eu me sinto abraçado por eles. Vendo-os sorrir assim, me coloca um sorriso em meu rosto. Isso me permite passar pelas dificuldades em minha vida. Eu uso muito da imaginação como meu passatempo, com brincadeiras e histórias.  A história que eu mais gosto de imaginar é essa. — disse Spark, veio a chorar.

— Nossa, que lindo isso Spark. Você pode não ter a vida que quer, mas a sua imaginação permite viver essa situação que o seu coração deseja e sempre desejou. Hoje pude compreender o uso desse baú, e acho apropriado, pois é um tesouro seu e deve ser bem guardado.

— Obrigado por compreender Talita. Eu achei que você iria me achar um fraco patético por chorar por uma foto. Sei que isso não tem importância para os outros, mas para mim, não consigo me imaginar sem isso... — disse Spark, limpou suas lágrimas.

Por um momento, Demon que estava escutando a conversa e esteve atento, lhe veio uma ideia. Ele observou que esta foto era de extrema importância para o garoto, o que convenientemente, ele confirmou ao dizer que não consegue se imaginar sem isso. Com isso, ele traçou um plano traiçoeiro, que para ele, resultaria na resolução de seus problemas.

— Deixe-me ver isto. — disse Demon, estendeu seu o braço para pegar a foto.

Talita o entrega a foto. Demon, observou por alguns instantes e decidiu rasga-la, 1 vez, 2 vezes, 3... Rasgou muitas vezes a recordação do garoto. A reação do garoto foi de instantâneo espanto, o deixando em um estado de paralisação e pânico, desacreditado no que acabara de presenciar.

— Mas que bobagem... Você vive de passado porque não suporta o seu presente, e com certeza, não suporta o seu futuro. Ficar olhando sempre para algo que já foi, é o mesmo que bater a cabeça no mesmo lugar que um dia você já bateu. Eu achei que tu eras inteligente ao ponto de desfazer disto antes, mas, visto que você tem problemas, resolvi isto para você hoje. Chega de chorar pelo leite derramado, garoto. — disse Demon, exibiu um sorriso sádico em seu rosto enquanto rasgava a foto.

Talita entra em estado de choque, espanto e paralisada diante de tal situação, pois foi ela que entregou inocentemente a foto para Demon, que a rasgou em sangue frio. Spark cai de joelhos, desacreditado com essa situação, apoia o seu corpo sobre suas duas mãos e joelhos no chão, observando os pedaços da foto de seus pais no chão.

— Qual é o seu problema?! Por que você fez isso com a foto dos pais dele?! Por um acaso tu és idiota?!! — gritou Talita, inconformada e furiosa com a situação.

— Idiota? Não, idiotas normalmente não pensam em suas atitudes. Já eu, pensei.

Ao recobrar a consciência do choque e impacto desta situação inesperada, Spark entra em um estádio de fúria intensa. Demon continua encarando Talita, esboçando seu sorriso sádico enquanto observa o garoto sofrendo com a perda de seu item mais precioso.

— Você... Demon... Realmente... Não é um amigo!!!

Spark grita de todo o seu coração e exala todo o seu sentimento de fúria para com Demon. Após proferir suas palavras, uma forte aura explosiva e cheia de fúria cobre totalmente o corpo de Demon, elevando tal força e pressão aos céus, limpando todas as nuvens que estavam pairando encima de vossas cabeças.

Demon retornou a sua forma gloriosa. Estava esbanjando poder e confiança em sua nova condição. Sem perder tempo, executou um forte soco em Talita, o que empurrou o seu corpo sobre as árvores da floresta. Destruiu todas as árvores pegas no impacto do golpe e acertou, o corpo de Talita que voava em uma alta velocidade.

Spark ao se deparar com tal cena, entra novamente em estado de choque.

— Hahahahaha, ah sim, agora sim! Te farei pagar por toda a humilhação que passei e por todo o mal-estar que passei desde a sua chegada até aqui! — disse Demon, avançou em meio do caminho recém-aberto de seu poderoso golpe.

Spark recobra a consciência de seu estado de choque. Levantou com o seu corpo tremendo todo por razão da adrenalina e de seus fortes sentimentos que exalavam. Spark fica admirado ao ver toda a destruição causada pelo golpe de Demon, e imediatamente pensa que o mesmo, matou Talita. Extremamente decepcionado e irado, Spark começa a caminhar sobre o caminho destruído, na expectativa de ao menos encontrar com o corpo de Talita.

— Não há justificativas pelo o que acabou de fazer. Com toda a certeza, você é mal.



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