Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 21: Jardim de flores mortas

      Daniel esfregava o tapete vermelho do salão principal, ele olhou para cima e avistou o grande lustre antigo de cristal, que provavelmente testemunhou várias festas da nobreza naquele salão.

— Elas estão chegando!

     A voz de Liz, uma mulher grávida de oito meses, ecoou pelo local enquanto ela corria rapidamente para fechar as cortinas do salão, afim de impedir a entrada da luz do sol. Seu rosto exibia determinação e preocupação, tanto com seu estado quanto com o ambiente ao seu redor.

— É a Carmila, ela esta acompanhada por uma bruxa! — Liz disse preocupada.

    Daniel começou ajudar a fechar cada cortina do salão. Assim que Carmila desceu as escadas, Daniel correu para falar com ela.

— Tenho outra charada para você. Ocorre uma vez a cada minuto, duas vezes a cada momento, mas jamais a cada quinhentos anos?

— Lá vem você de novo! — Carmila revirou os olhos. — Eu não sei, talvez eu tenha que esperar quinhentos anos pra descobrir!

— A letra M — A bruxa ao lado da Carmila respondeu, sem tirar os olhos do Daniel, ela o analisou dos pés à cabeça. — Por que ele está aqui?

— Preciso de pessoas para arrumar esse lugar — Carmila disse e mostrou o salão com um único gesto. — Tem ele, a moça grávida, o jardineiro...

— O jardineiro morreu. — Daniel a interrompeu.

— Ele morreu é. Até que gostava dele. — Carmila disse ao passar o dedo sobre o corrimão da escada. — Tudo bem, a partir de agora você cuidará do jardim.

      Daniel cortava cada folha seca das rosas vermelhas que estavam sobre o portão, enquanto Liz juntava as folhas e pétalas do chão com um rastilho.

— Daniel! — Ela sussurrou, enquanto erguia uma cruz dourada.

     Ao ver o símbolo dos Paladinos, Daniel se assustou e pegou a cruz rapidamente.

— Você tá maluca! Se ela desconfiar que somos Paladinos, ela vai nos matar!

— Nós não vamos sair mais daqui?

— Ninguém venho nos resgatar até agora. Creio que pensam que estamos mortos — Daniel arrancou uma flor e a colocou no cabelo da Liz — Vou dar um jeito de sairmos daqui depois que o seu bebê nascer.

     Morgana se aproximou dos dois, vestida com um elegante vestido preto com degradê verde que contrastava perfeitamente com seus olhos lilás e cabelos longos. Sua presença exalava um ar enigmático e revelava a força de seus poderes.

— Carmila está te chamando, minha querida — Morgana disse a Liz.

— Tudo bem — Liz se retirou.

— Seu coração, posso senti-lo — Morgana tornou um das rosas vermelhas, pretas ao tocá-la. — Mesmo preso aqui, você não perdeu seu sorriso, sua força de vontade e seu coração puro.

        Morgana puxou o braço do Daniel e desenhou uma runa com a unha.

— O que está fazendo? — Daniel puxou o braço, assustado.

— Não se preocupe. Hoje á noite você vai sair daqui. — Morgana ignorou totalmente a pergunta do Daniel e saiu enquanto acenava de costas para ele.

      O castelo da Carmila, era um monumento privado, algo medieval e majestoso. As pessoas não ousavam chegar perto do local por conta dos boatos que  espíritos antigos rodeavam a estrutura. Ao se aproximarem do castelo, Silver e Eliott procuraram uma forma de entrar sem serem vistos.

— Vamos evitar uma batalha aqui — Silver disse e olhou para as grandes janelas de vidro do local.

      Havia um grade muro que rodeava a área. Silver decidiu escalar o muro na parte de trás do castelo, onde seria menos provável que fossem vistos. Assim que puseram os pés no castelo, os Paladinos olharam ao redor e  perceberam que não havia ninguém lá. Aparentemente, o local estava vazio.

— Pode ser uma armadilha — Silver disse ao descer uma grande escada.— Mas se meu irmão está aqui mesmo, eu quero encontra-lo, vivo ou morto.

      Eliott entregou a lanterna que segurava para Silver e tomou a frente. Ele se agachou percebendo que há vários ratos que correm em direção contrária a eles.

— Vamos seguir os ratos. Se há algum humano aqui, eles vão nos levar até ele.

      Ambos seguiram os animais pelos corredores escuros do castelo até chegarem a um calabouço sombrio, repleto de celas macabras onde esqueletos e cadáveres repousavam por muitos anos. Ainda seguindo os ratos, são levados a uma sala iluminada pelo teto de vidro adornado com um pentagrama, que permitia que a luz da lua cheia irradiasse. No centro da sala, logo abaixo do pentagrama, encontrava-se Daniel, aparentemente desmaiado.

— Daniel! — Silver correu para ver o irmão. Ele colocou a mão no pulso de Daniel e sentiu que ainda estava vivo. — Acorde! — Silver sacudiu Daniel, na tentativa de acorda-lo, o que funcionou.

— Sil... — Como um choque, Daniel lembrou-se da Liz e levantou-se rapidamente.

      Daniel percorreu quase todo castelo, seguido por seu irmão e Eliott, até chegarem no jardim. Um pouco antes de chegar nas rosas vermelhas, havia um poço onde flor alguma nascia muito menos grama. O poço era rodeado de terra e areia. Ao olhar para dentro do poço, era visível um líquido verde borbulhante, assim como Liz que estava em pé, segurando seu bebê erguido para cima.

— Liz! — Daniel quase caiu dentro do poço, mas por sorte foi puxado por Silver.

— Se cair, pode ser derretido pelo ácido — Silver entregou a ponta de sua corrente para Eliott — Segure firme!

     Silver desceu no poço fundo, onde escorria ácido pelas paredes de tijolos. Ele olhou para Liz, os olhos fechados com lágrimas que escorriam do canto e a respiração inexistente. Somente os braços esticados para cima, seguravam seu bebê, o protegendo do ácido que subia cada vez mais. Como seu ultimo ato, ela conseguiu salvar a vida de seu filho e permitiu que ele visse o amanhã.

— Foi ele! — Daniel pegou um graveto no chão e desenhou um ser com orelhar de coelhos e garras no lugar das mãos — Ele fez isso!

     Silver entregou o bebê para Eliott, segurou os ombros de Daniel e o olhou nos olhos.

— Por que não fugiu daqui?

— Se eu fugisse, a Carmila poderia fazer algo com a Liz e ao filho dela. Enquanto estava aqui podia cuidar dela.

— É, mas agora ela se foi e o que te prende aqui? — Eliott disse ao digitar algo no celular — Vou pedir que venham nos buscar.

— Eu não vou — Daniel disse ao se afastar dos dois — Eu preciso encontrar aquela bruxa. Ela me amaldiçoou.

— Vai voltar conosco, é isso que precisa! — Silver fez menção em seguir Daniel.

— Não, eu me viro sozinho! Por favor, não me sigam.

      Daniel sumiu no crepúsculo da noite, deixando Silver preocupado com sua partida novamente.
        Silver adotou a criança da Liz e deu a ela o nome de Rose. Uns anos após o ocorrido Daniel continuava desaparecido. Ninguém sabia do paradeiro dele, mas havia relatos que ele foi visto vagando pelo mundo atrás do homem com a máscara de coelho.

       Silver colocou uma caixa sobre o chão de sua nova casa e respirou aliviado. Rose passou por ele correndo e quase o derrubou.

— Você pode se machucar! — Ele gritou para ela, Johnny correu por ele e o derrubou sobre as caixas — Eliott! Seu fedelho só pode estar de brincadeira.

        Eliott adentrou na casa com uma caixa em mãos, assim que viu Silver caído nas caixas começou a rir.

— Martin, vai vigiar as crianças. — Eliott disse ao filho.

        Martin foi até o quintal onde Johnny e Rose se arremessavam lama e água.

— Parem já com isso! Brinquem como crianças normais.

       Sam estava agachado, ele rabiscava vários planetas e estrelas no chão com um graveto.

— Martin, vamos ao fliperama? — Sam perguntou com uma expressão de tédio.

         Johnny arremessou uma bola de lama e grama em Martin e começou a rir.

— Vamos logo! — Martin deu um longo suspiro e retirou a jaqueta agora suja de terra.

     Algumas horas se passaram, Johnny e Rose já estavam completamente sujos de terra, enquanto tentavam plantar algumas flores, já mortas. Johnny começou a cantarolar uma linda melodia enquanto olhava para as flores sobre o chão, Rose tentou imitar a mesma música, algumas vezes até conseguir e começar a sorrir.

— Se precisar de ajuda é só cantar, eu sempre vou te encontrar e escutar sua voz — Johnny disse com um sorriso. 

— Helsing — Rose retribuiu o sorriso.

 



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