Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 11: Carniçais

     Rose olhou para a sorveteira à frente e observou as pessoas que saiam de lá, com expressão desanimada ela olhou para o chão e negou com a cabeça, segui assim o caminho que tomou.
   Rose caminhou até uma farmácia, olhou as diversas cores de tintas para cabelo e escolheu a tonalidade que menos chamaria a atenção, buscou uma aparência mais natural possível. Com as tintas em mãos, comprou uma tesoura. Seguiu em direção ao caixa eletrônico, retirou uma boa quantia do cartão de Silver e deixou o celular e o cartão sobre a máquina.
   A noite caiu e Rose andou sem rumo. Ela olhou em volta a cada segundo, temia ser perseguida. Afinal, era uma garota indefesa e sozinha, seria um alvo fácil. Caminhou até um banheiro público onde havia um espelho. Lá, encarou seu reflexo e, sem pensar duas vezes passou a tesoura no longo cabelo castanho. Após isso, misturo aplicou em cada mecha. Seu cabelo agora era preto como a noite que se levantava.
    O relógio marcava 2h30. Rose andou até a estação de ônibus e olhou para o cartaz com vários destinos, sem saber qual escolher. Simplesmente sentou em um banco e esperou as horas passarem até decidir para onde iria. Um grito chamou atenção de Rose. Sendo filha de um Paladino, ela sabia exatamente o que poderia ser. A garota então abriu a mochila e retirou uma cruz dourada de lá – o símbolo dos Paladinos.

     Ela apertou a cruz em mãos e temeu ser atacada por uma criatura da noite. Os gritos continuaram, o que fez Rose ir verificar a origem dos sons. Com medo, ela andou até lá. Na escuridão, Rose avistou duas criaturas pequenas, mas humanoides, com peles podres e os ossos à mostra. Rapidamente, Rose apontou a cruz dourada para as criaturas. Elas encaram o brilho dourado e soltaram um grito estridente, indo em direção à garota. Rose caiu no chão e colocou os braços sobre a cabeça afim de se defender. Antes que o pior pudesse acontecer, uma das criaturas foi lançada para longe, seguida pela outra. “Carniçais não temem objetos santificados”, foi o primeiro som que Rose escutou, antes de ver seu salvador abrir uma garrafa de uísque. Ele jogou todo líquido sobre as criaturas e, em seguida, as incinerou.

— Que merda tche! Não ia mais me intrometer. — Ele recolheu o isqueiro que havia jogado, esse simples ato colocou sua vida em perigo. Um vampiro se aproximou rapidamente pela retaguarda. As garras afiadas que almejavam o pescoço foram paradas imediatamente. Rose cravou a cruz na cabeça do vampiro.

— Eita! Você acabou de cometer heresia perante o símbolo dos Paladinos. — Ele retirou a cruz da cabeça do vampiro. — Você sabe que, se abrir a parte superior, tem uma poção que é exatamente para matar essas criaturas? — Aproveitou que o vampiro estava paralisado, ele virou todo líquido sobre a cabeça. — Tchau, Tchau! — O vampiro virou pó, que foi levado pelo vento — É melhor devolver isso de quem roubou. Pode se meter em problemas, e a propósito está me devendo uma garrafa de cachaça.

— Se você é um paladino, então identifique-se. Cada sua cruz dourada?

— Eu não sou mais um paladino, deixei essa vida — Ele apontou para o braço ferido da Rose — Bah, vai ter que amputar o braço.

     A expressão de pânico da Rose se desfez ao vê-lo rir e logo em seguida tossiu enquanto ri.

— Qual é seu nome?

— Rose, só Rose mesmo.

— É um prazer, “Só Rose mesmo”. Me chamo Bruno, só Bruno mesmo. Parece que somos parentes. — Ele ri.

    Bruno rodeou Rose e analisou cada traços da garota, dos cabelos negros até o sapato que ela usava.

— Algum problema?

— Eu te ajudei, agora é hora de retribuir. Quantos anos você tem?

— Dezesseis. Fique sabendo se tentar algo contra mim, vai acabar como aquele vampiro!

     Rose virou a cara em negação. Ao perceber que a garota diria “não”, Bruno retirou do bolso uma foto.

— A mulher da foto é minha mãe. Ela foi levada pelas bruxas quando eu era criança, a uma bruxa na cidade vizinha. Ela só recebe gurias. Pode me ajudar a salvar minha mãe?

— Se tiver mentindo...

      Bruno sorriu ao ver que Rose concordou em ajudá-lo.

— Só preciso pegar algo no terminal antes de irmos.

     Rose aguardava Bruno, escorada em um poster de luz. Ela olhou na direção do terminal de onde ele vinha com uma maleta preta na mão; na outra, uma chave. Bruno sinalizou para Rose se aproximar.

— Vamos! — Ele apontou para o carro preto estacionado.

— Quanto tempo para chegarmos lá? — Rose perguntou e colocou o sinto de segurança.

— Espero que até amanhã à noite.

***

    Silver olhou para o relógio no canto inferior do notebook, que marcava 1h00. Ele olhou ao redor e estranhou o silêncio, deu um longo bocejo e largou o notebook de lado.

— Vocês já jantaram? — Silver subiu as escadas e gritou. — Crianças?

     Silver abriu a porta do quarto de Sam, caminhou até a cama e puxou o cobertor azul que cobria vários travesseiros, que simulava um corpo. Junto ao travesseiro, há um bilhete escrito “Até mais, Silver”. Ele pegou o celular do bolso e ligou para Sam.

— Onde você está? — disse Silver em tom autoritário.

"Estou bem longe, indo para a Malásia!"

— Para de brincadeira e volte para casa, Sam, ou vai ficar sem sair por um bom tempo.

"Você sempre diz isso e sempre no dia seguinte eu saio."

— Você sabe dos perigos ao andar na rua esse horário.

"Não, não, tudo bem. Não começa com o sermão, eu já estou voltando."

     Silver esperou Sam de braços cruzados com a feição brava. Assim que o garoto passou pela porta, se assustou.

— Onde vocês estavam? — Silver percebeu que somente Sam passou pela porta — Cadê sua irmã?

— E eu vou saber? Ela não estava comigo.

— Vocês querem que eu infarte, né? Ela deve estar escondida.

— Não, ela não estava comigo. Pergunta para o Johnny ou para o tio Daniel. Eu estava com eles.

— Ela disse que ia à sorveteira.

— A essa hora? Bem, são duas da tarde no Japão, então ela deve ter indo comprar lá. — Sam disse em tom sarcástico.

— Para seu quarto, agora! — Silver disse bravo.

    A ansiedade tomou conta do ser de Silver. Conforme as horas passaram, ele olha no relógio, que marcava 5h00. Ele pegou o celular e discou o número de Eliott.

— Alguma notícia dela?

— Não. Mas encontrei algo que pode ser uma pista. O Johnny também está ajudando; ele foi procurá-la nos lugares que costumam ir — Eliott tentou tranquilizar o amigo.

— O que você encontrou? — Antes que Eliott pudesse responder, Silver o cortou — Não, não me fala. Eu vou até aí!



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