Padre em Outro Mundo Brasileira

Autor(a): Raphael


Volume 1

Capítulo 24: Forma sagrada

Duas semanas tinham se passado desde o começo do treinamento com Merlin. As lições da professora passarão a ser mais diretas e o garoto passava boa parte do seu tempo na biblioteca da mansão, estudando sobre espíritos e invocadores. 

De acordo com um livro antigo e surrado chamado: A história do mundo de invocação. A humanidade sempre teve pequenas interações com espíritos, seus sentimentos ruins os geravam, levando a humanidade a ser aniquilada aos poucos pelos próprios pensamentos ruins. 

Dessa necessidade surgiram os invocadores, porém o livro diz que os primeiros invocadores são desconhecidos, junto com os acontecimentos da era em que eles surgiram. Todo esse período em que a energia espiritual começou a ser dominada pelos humanos é chamado de “Era Kenjaku”. 

Crossy achou aquilo tudo muito estranho e perguntou para Merlin sobre isso. 

— Merlin, por que nenhum dos livros fala sobre a era Kenjaku? 

A invocadora olhou com curiosidade para o garoto, confortável em sua poltrona, tomando um belo gole de um vinho azul. 

— Ninguém sabe — respondeu Merlin, de forma simples — Mas tudo indica que houve uma grande guerra entre os espíritos malignos e os primeiros invocadores, afinal, os espíritos estavam no seu auge e graças a energia espiritual imensa presente nos humanos, muito provavelmente os primeiros invocadores eram muito poderosos. 

Crossy se sentou junto a sua professora, prestando atenção em cada palavra. 

— O quão forte eles eram? Mais fortes que você? 

Merlin riu gentilmente, apoiando seu queixo na palma da mão e olhando fixamente para o garoto com um sorriso leve. 

— Esses invocadores conseguiram destruir espíritos malignos que estavam a eras se alimentando da energia maligna da humanidade, esses espíritos, tão poderosos quanto demônios provavelmente seriam capazes de extinguir cidades sem quaisquer problemas... 

— Mas você é uma aventureira de nível especial, não é!? Você também consegue! 

— Acho que Olka não te explicou direito o que significa ser um grau especial... 

— Veja bem, Crossy. Um grau especial é alguém com um poder absurdo, capaz de trazer o caos a uma nação, um exército de uma pessoa. Mas esses espíritos ancestrais são seres que transcenderam isso, se um deles voltasse... não seria somente uma nação que estaria em perigo. 

— Os primeiros invocadores conseguiram matar esses espíritos?! 

— Eu não diria “matar”, a maioria dos espíritos foram selados com os melhores selos já feitos, até mesmo eu não consigo decifrá-los. 

— Sinceramente... eu faria de tudo para obter um desses — finalizou Merlin, com um toque um pouco sinistro. 

Crossy se despediu, um pouco preocupado com o tom da maga. O garoto continuou a ler os livros da biblioteca, adquirindo conhecimento e treinando a manipulação de energia espiritual, além de aprender uma técnica secreta... 

O treinamento de Leo foi diferente, porém não necessariamente mais fácil. Olka o levou para um lugar “especial”, dizendo que o ensinaria sobre o verdadeiro poder dentro de si. 

Depois de alguns dias viajando os dois chegaram em uma montanha gigantesca, repleta de animais selvagens extremamente poderosos e desconhecidos. 

Leo quase se transformou quando viu uma águia de seis asas sobrevoando o penhasco e observando os invasores.  

— Caralho! Esse pássaro é gigantesco! Deixa comigo... 

Olka colocou seu braço esquerdo na frente do garoto, o impedindo de avançar. Com um sorriso confiante o regente arregaçou as mangas, olhando diretamente para a ave. 

O monstro de seis asas tinha olhos amarelos afiados, fixou eles em Olka, como se estivesse pensando “Quem você pensa que é?”. Em um bater de asas o animal voou em direção ao regente, rasgando o ar como uma bala. 

A criatura abriu o bico, porém, ao invés de um grunhido, o que saiu da garganta do animal foi um encantamento, uma magia elementar, que fez a ave lançar um fragmento de rocha gigantesco em direção ao guerreiro. 

— O QUÊ?! ANIMAIS NORMAIS PODEM USAR MAGIA!? — gritou Leo. 

Sem hesitar o regente caminhou em direção ao golpe, com um sorriso maléfico. Estendeu os braços e agarrou a rocha sem problemas, o impulso o jogou alguns metros para trás. 

— TOMA ISSO AQUI!  

Olka concentrou força nos pés e girou, jogando a rocha gigantesca de volta no animal. O fragmento atingiu a ave em cheio, gerando um impacto que a esmagou contra as paredes do penhasco, quebrando 4 das suas 6 asas. 

Batendo as palmas das mãos, limpando a poeira o regente disse: 

— Vivi minha infância nessas montanhas... então, vou te treinar aqui! A maioria dos animais aqui são gigantes, inteligentes e capazes de usar magia. Percebi que você é forte fisicamente, mas é somente isso, então precisa aprender a lutar usando a cabeça! 

Leo se irritou com o insulto e passou a discutir com o chefe, que logo desferiu um golpe da cabeça. 

— IDIOTA! Não percebe?! Crossy e Michiko vão ficar mais fortes! Porém, cada pessoa tem seu limite! 

— O QUE VOCÊ QUER DIZER COM ISSO? 

Olka se sentou em uma rocha, olhando fixamente para Leo, de forma séria. 

— Significa que ainda serão humanos, frágeis. Mesmo fortes, ainda poderão morrer para vários inimigos, quer impedir isso? Então precisa lutar com a cabeça. 

Leo se silenciou, prestando atenção ao máximo. 

— Se eles estiverem em uma situação de muito perigo... uma fera sangrenta e idiota só vai piorar as coisas! Deixe-me fazer uma pergunta Leo... E se Crossy continuar possuído? 

— C-Como assim?! 

— Mesmo que ele se livre daquele espírito em específico, é inegável que uma hora ele terá que enfrentar outros, e talvez... absorvê-los, afinal, é o dom dele. Significa que... alguma hora ele pode sair de controle. 

Leo deu um passo em direção a Olka, manchas negras começaram a surgir em seu braço, rangendo os dentes o garoto disse: 

— O que você está insinuando? 

— Estou dizendo que uma hora você vai precisar pará-lo, por bem ou por mal. Precisa proteger ele não só dos inimigos, mas dele mesmo, consegue fazer isso? 

— Consigo, sem dúvidas. 

— Então, vou te ensinar uma técnica para se usar somente em último caso, mas antes disso... é melhor aprender o básico, sempre cuide das suas costas. 

— É o que... 

Antes que pudesse perceber, Leo foi atingido em cheio por gorila marrom, com punhos feitos de pedra.  

Olka começou a gargalhar, porém parou quando viu o garoto se levantar, encarando o animal fixamente, em tom sério e agressivo. 

O gorila pode sentir a presença da fera, naquele momento o animal se sentiu como uma presa e não como um caçador, porém se recusou a fugir, atacando novamente com um soco poderoso. 

THUM! 

O impacto gerou um barulho, como se fosse uma explosão. Olka se levantou, tentando enxergar por trás da cortina de poeira que se levantou. 

Depois de alguns segundos um cenário se revelou, o chão repleto de rochas secas estava completamente rachado, porém Leo estava defendendo o golpe com os dois braços, aparentemente intacto, com uma face calma e séria. 

— Impressionante! — disse Olka, com um sorriso orgulhoso. 

Leo se manteu sério, flexionando seus músculos e empurrando o gorila com força bruta. O animal perdeu o equilíbrio e foi jogado para trás, Leo pisou no chão com tanta força que fragmentos de rochas foram jogados para cima. Avançando em cima do animal, preparando um golpe com a intenção de matar. 

Desferiu um soco diretamente na cabeça, pressionando o gigantesco animal contra o chão. O impacto criou uma cratera, o gorila gritava desesperado, sua cabeça sangrava intensamente. 

O animal golpeou o tronco de Leo em desespero, seus punhos rochosos se chocavam com o peito do garoto, que resistia a dor dos golpes com uma face séria. 

Não... Não posso recuar! 

Leo segurou o pulso do animal com as duas mãos, exercendo uma pressão absurda com toda a sua força e quebrando a mão do gorila. 

— AAAAAAARGH! — rugiu o animal. 

Sem hesitar o garoto segurou o braço do inimigo, fixando seus pés no chão e jogando o enorme animal para longe.  

O gorila se chocou com uma rocha no caminho. O barulho da luta atraia diversos outros animais da montanha, que se recusavam a interferir, apenas observando a luta dos dois. Olka também observava, garantindo que ninguém interferisse, aquilo era uma luta, uma disputa por algo mais importante que comida, honra. 

O peito de Leo estava machucado, as marcas dos golpes do gorila pioravam e doíam mais e mais conforme o tempo passava, se tornando roxos e tomando um aspecto de dano interno. 

Ofegante, cansado e machucado o garoto andou em direção ao animal, determinado e focado. 

— UUUUUUUUUUUUUURGH! — gritou o gorila, golpeando o chão com seu braço com força e mana. 

Leo percebeu o movimento anormal. 

ELE TAMBÉM PODE USAR MAGIA! 

Mesmo que tenha percebido rapidamente, ainda foi tarde demais. Uma rajada de rochas fortificadas foi lançada em direção ao garoto. Tão velozes quando balas atingiram Leo em diversas partes do corpo. 

— GAROTO!  

Depois de alguns segundos a nuvem de poeira gerada pelo ataque se dissipou e revelou Leo ainda em pé, sangrando pelos braços, ombros, costelas, pernas e até mesmo pelo rosto. Os ossos da criatura estavam danificados, a dor era absurda, qualquer humano comum desmaiaria. 

— Já chega — disse Olka, andando em direção ao gorila. 

— NÃO! — gritou Leo, exibindo uma vontade assassina. 

Os músculos do meio-fera se flexionaram, estendendo e amplificando como fibras únicas. Manchas negras surgiram por todo o corpo de Leo em formato de espirais, seus olhos atingiram uma coloração vermelha como sangue, seu corpo cresceu em uma velocidade absurda, chegando aos 2,14 metros de altura e 45 centímetros de braço. 

Pelos amarelos como de um leopardo surgiram pelo corpo do garoto, criando uma coloração amarela intensa pelos braços e pernas. 

Todos os ferimentos pararam de sangrar, como se os músculos tivessem “suturado” a pele, a tornando impenetrável. Olka suava frio, aquela forma... o lembrava de um passado perigoso. 

E-Ele vai perder o controle! Nenhum xamã consegue controlar essa forma! 

Da boca de Leo saíram palavras que o mesmo não se lembrava de saber, pareceu até mesmo algo automático. 

— Forma sagrada: Leoneko-Seishin. 

A respiração da fera era pesada, seu corpo estava fervendo em calor tanto que o suor no corpo do garoto se transformou em uma espécie de fumaça. 

O gorila se levantou, encantando novamente socando o chão com toda sua força, gerando um terremoto poderoso e fazendo chover rochas do tamanho de casas em cima da fera. 

Leo se contraiu, unindo seus braços e dobrando seus joelhos para atingir o maior impulso possível. O garoto pulou para cima, rachando o chão inteiro e criando uma cratera do tamanho de um javali da montanha, voando como uma bala para cima de um pedregulho e o chutando. 

O golpe foi suficiente para dividir e destruir a rocha em dezenas de pedaços como se não fosse nada. Desceu em alta velocidade pegando impulso em outro rochedo e por último no chão, indo como uma flecha em direção ao gorila.  

O animal socou o chão novamente, desesperado invocou uma barreira de pedra, tão resistente quando uma parede de tijolos modernos, porém, frágil para Leo. O meio-fera socou a parede bem no centro, transformando-a em poeira.  

A face do garoto, no entanto era estranha, não parecia irado, parecia estar se divertindo, o que deixou Olka perplexo. 

— Nossa! Eu tô tão rápido, não consigo acreditar! — disse Leo, em frente ao gorila, com um sorriso no rosto. 

Sem hesitar o animal o socou, criando um punho de pedra gigantesco. O golpe atingiu o braço esquerdo de Leo, que se defendeu rapidamente, porém ainda foi jogado para longe graças ao impacto. 

Mesmo com o impulso o garoto conseguiu se apoiar nas rochas em alta velocidade e ficar em pé com um movimento, dando uma cambalhota. 

— Me sinto tão leve! Esse... Esse é o meu verdadeiro eu! 

— Agora eu entendi Olka! Eu.. Sou um xamã! Essa é a minha essência! — disse o garoto, se armando e preparando um golpe em direção ao animal. 

O gorila rugiu em fúria, aumentando a força do terremoto e gerando deslizes na montanha, os quais Olka lidou sem problemas com sua força descomunal.  

— Você... é forte! Eu respeito isso!  

Leo deu mais um impulso, dessa vez como um corredor profissional, se apoiando no chão, que tremia intensamente. Avançou rapidamente, desviando das rajadas de pedras que o animal lançava incansavelmente com sua magia. Encontrando uma abertura e golpeando o peito do gorila. 

O soco atingiu o animal em cheio, fazendo-o cuspir sangue. O dano foi interno, causando sangramento aos órgãos também. O impacto do golpe jogou o gorila para longe, fazendo o animal se chocar com uma árvore. 

— Vamos! Se levante! Isso ainda não acabou, rei da montanha! 

Leo tinha identificado o gorila como o rei daquele lugar, não só pela sua força descomunal, mas pela forma que os outros animais o olhavam com admiração e medo, principalmente medo. 

Gorila se levantou com dificuldade, cuspindo muito sangue e repleto de marcas por todo o corpo, porém mesmo assim, bateu com força no peitoral e rugiu em direção ao garoto. 

— Hahaha! Pode vir, rei!  

Dessa vez o animal que avançou, em uma investida agressiva e selvagem arriscou uma mordida no garoto. Que segurou sua mordida com o braço e revidou, mordendo o braço da criatura também, uma disputa direta de força. 

A potência do gorila era gigantesca, porém mesmo com tanta força na boca, ainda era difícil perfurar a pele do xamã, que conseguiu esmagar o osso do braço esquerdo do gorila com pura força bruta. 

— AAAAAAAAARGH 

Com o braço livre o gorila golpeou o estômago de Leo em cheio. O impacto gerou um barulho que fez os animais ao redor se afastarem. Mesmo assim, o garoto continuou mordendo com tanta força que o gorila golpeava desesperado e sem jeito. 

Leo finalmente soltou sua mandíbula, com a boca repleta de sangue e um pedaço de carne preso entre os dentes. O garoto mostrou suas garras e as gravou no pescoço do animal, rasgando e expondo suas veias. 

O gorila lutava pela sua vida, golpeou com toda a força a costela esquerda de Leo, a qual se quebrou em um instante.  

Leo foi jogando alguns metros de distância, porém com tanta adrenalina no sangue pulou novamente em direção ao pescoço do animal, decidindo-o finalizar. 

— ME DÊ SUA COROA! 

As garras monstruosas cresceram e os músculos do garoto tremeram, atingindo o ápice da força. O garoto cravou as garras no rosto do Gorila e arrancou a pele inteira com somente um braço, não satisfeito, deu um murro poderoso na testa do animal, que abriu seu crânio ao meio. 

Continuou o golpeando por alguns segundos, até finalmente percebeu... o rei estava morto. 

— AAAAAAAAAAAAARGGGGGGH! — rugiu Leo, olhando os diversos outros animais gigantes. 

O olhar afiado do garoto definia apenas uma coisa: agora eu que sou o rei. 

Assustados com tamanha brutalidade e poder, as criaturas não poderão fazer nada a não ser se curvar perante o rei. 



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