Our Satellites Brasileira

Volume 4

Capítulo 1: Os Planos das Férias de Verão ②

O fim de semana passou e, a semana das provas semestrais teve início.

As conversas no grupo do LINE ficaram bem mais ativas, com mensagens de encorajamento, textos didáticos e fórmulas. Durante todo aquele tempo, os encontros pessoais do grupo foram menos priorizados para que todos tivessem mais tempo de estudar sozinhos.

Simplesmente não havia tempo para que confrontos fossem realizados. Agradeci profundamente por não ver Kumiko durante toda a semana de provas.

Mas também não vi Yonagi.

Optamos de não irmos ao clube de literatura para dedicarmos às provas. Então, as mensagens no grupo foi o único meio de manter a comunicação, mas como não tinha o contato de Yonagi, não tive como falar com ela.

Não era como se a tivesse evitando..., mas, veja bem. Desde nossa última conversa sinto algo estranho surgiu entre nós, por mais que tudo tenha terminado bem. Ela ainda comentou sobre querer conversar comigo mais sobre nós mesmos, já que temos gostos em comum — como a trilogia de Hisashi Masayoshi — e, aparentemente, ficou interessada na minha ideia de comprar um telescópio com o dinheiro do trabalho de meio-período...

Além disso, depois do que expus no concurso de artes, não tinha como ela não ter algum interesse também no que ando pensando, não é?

Porém, não soube dizer exatamente a razão..., mas sempre que penso no assunto, sinto uma forte ansiedade brotar em meu peito que demora pra passar. Toda vez que tracejo os mesmos perímetros entre a escola, tal tópico surge relampejante em minha mente, deixando-a toda bagunçada.

Os dias passaram em sua tranquilidade rotineira, apesar do ritmo das provas. Até que:

— Shiro, vamos chamar a Yonagi para participar do grupo Shiroi Gamen nas férias!

Fiquei paralisado naquele momento.

— Hein? Como assim? Porque?

— Como assim, porque?! É a única coisa que tem a dizer?! — exclamou Himegi.

Diante da minha surpresa com aquela pergunta de Himegi, foi a única coisa que consegui expressar...

— Você ainda está com aquela ideia na cabeça? — questionou ela. — Vocês dois não tinham se entendido?

— Sim, foi o que aconteceu. Mas não é exatamente sobre isso...

Após a conclusão do concurso de artes, havíamos realmente ficado próximos... não, espera. Na verdade, só voltamos ao que era antes...

— Mas, eu me refiro ao fato dela estar entre os dez melhores no ranking... — expliquei-me. — Tecnicamente falando, ela não precisa se unir a um grupo de estudos e pelo que me disse antes, também não é o tipo de pessoa que sabe explicar com facilidade para os outros...

— É, isso é verdade, mas...

Consigo enxergar perfeitamente a intenção dela de agregar Yonagi no grupo por causa da interação. Se fosse retratar isso no sentido de nossa disputa, dei um passo adiante dela no quesito “comunicação”.

Não me importava realmente se ela fosse entrar no grupo, mas não tive como descrever exatamente que tipo de relação atravessa os meus sentidos ao vê-la tão próxima.

Era estranho não entender o que acontece consigo mesmo... e essa sensação de estar vulnerável era muito ambígua. Por isso, prefiro manter uma certa distância considerável para compreender tudo o que sentia no âmago, mas...

A verdade é que a redoma de vácuo que nos distanciava se rompeu. Tal como aconteceu com os calouros, Yonagi Kaede se abriu comigo. Quer dizer, mais do que na primeira vez em que nos conhecemos. Essa mudança foi o que me deixou sem reação, não faço nem ideia de como devo prosseguir.

Não sou mais considerado como — alguém fora da margem — para eles. O que implica que minhas ações causarão mais efeito do que jamais cogitei antes. De certo modo, uma hora ou outra nossos ideais podem se chocar novamente e terei que corresponder isso a altura... e do jeito certo.

Suspirei, então a respondi:

— Se todos estão de acordo, não vejo por que discordar. Acho que isso está nas mãos dela de aceitar a proposta ou não.

Himegi expressou o maior sorriso que tinha visto até agora.

— Obrigada, Shiro! Parece que você deixou de ser um pouco egoísta e ranzinza, pelo menos!

— Então a questão era de eu parar de ser menos egocêntrico que ficou em jogo aqui?!

E então, após as provas terem terminado na segunda-feira, Himegi me chamou em uma conversa privada no LINE:

[Shiro, todo mundo aceitou a ideia de Yonagi entrar no grupo. Mas ela disse que vai ser difícil para todo mundo se encontrar nas férias...]

[Difícil, como? Eu vou estar em casa todos os dias...]

[Por que você é um sedentário!]

[Certo, certo. E o que ela sugere?]

[Ela ainda não pensou em nada. O que você acha que poderíamos fazer?]

[Também não tenho certeza. Vamos perguntar aos outros e ver o que cada um acha melhor.]

Após as provas de terça-feira, vi Takahashi com alguns colegas indo em direção a quadra de futebol. Como não me viu, agia normalmente com os outros, mas sei que sua dedicação nas partidas era depositada ao desafio do interescolar que ocorrerá durante as férias.

E também tenho ciência que ele se esforça muito por si mesmo.

O calor naquele fim de mês já era quase insuportável e fez meu cabelo pinicar. Mal podia esperar para ficar em casa o dia todo no ar condicionado!

Enquanto visualizava Takahashi e seus amigos indo para a quadra, me perguntei como seria participar de encontros do tipo. Uma vaga lembrança surgiu em minha mente.

Ah, deixa para lá...

Minha mente quase entrou em devaneio, talvez fosse o efeito das férias se aproximando e a tensão das provas finais de semestre.

Quando as provas da quarta-feira se encerraram, o grupo no LINE se encontrava bem eufórico para que todos fôssemos comer em uma lanchonete. Não entendi muito bem, mas parece que queriam discutir ideias sobre o que farão nas férias... era o tipo de coisa que combinava de se fazer em um Saize!

Estava sonolento, então não me senti disposto a ir. Além disso, já sei o que farei nas férias: procurar relaxar o máximo possível. O meu desejo de procurar paz interior era tão imenso que poderia virar um monge e aprender a controlar os quatro elementos...

Na quinta-feira, fui abordado:

— Shiro, porque você não foi ontem? — interrogou Himegi.

— Ah, eu não me senti muito bem, sabe? — indaguei, coçando a nuca. Minha gola parecia mais apertada do que aparentava. — Tenho um diagnóstico que se eu não for para casa depois de fazer uma prova de final de semestre e dormir, vou ter longas crises de insônia... sempre me pega de surpresa!

— Eu é que fico surpresa de a essa altura do campeonato você ainda vir com esse tipo de desculpa... — retrucou a garota, decepcionada. Ela soltou um suspiro e continuou: — Fala sério, era só ter dito que você não queria ir.

— Se eu dissesse algo assim, vocês iriam até minha classe e me arrastariam para lá, correto?

— Hum, talvez sim...

— Eu é que não fico surpreso de vocês agirem desse jeito!

Como a conversa não iria a lugar algum, resolvemos deixar aquilo de lado, mas Himegi me disse uma última coisa antes de ir embora:

— Parece que amanhã a última prova foi feita de modo que seja fácil de ser corrigida. Então, os resultados sairão no último período. Vamos todos nos encontrar para decidirmos o que fazer.

A professora Harashima disse a todos que as provas finais daquele semestre serão até a última semana de junho. Para os alunos que ficarem com notas baixas, terão direito a uma recuperação, mas aqueles que ficassem com a menor nota entre eles será expulso.

Parece que a escola usa qualquer pretexto para eliminar alunos, e isso incluí os que residem no terceiro ano. O método para aplicar a expulsão aparenta seguir o mesmo padrão tanto das provas avaliativas, quanto para as definitivas.

Mas, como estávamos estudando bastante em conjunto e após termos visto tantos desafios, não vi nenhum traço de medo na face dos outros. A sensação de estar constantemente em um local instável forçou uma rotina estudantil em nós, algo que foi gerado aos poucos... era até assustador.

De maneira indireta, éramos moldados pelas diretrizes da escola.

Quando as provas terminassem, receberíamos as atividades das férias de verão. A partir daí, teremos que coordenar nosso tempo em finalizá-las com o descanso.

Pelo visto os outros realmente combinaram algo nas férias. Como não tinha muitos planos, talvez deva participar de uma coisa ou outra. Não é como se não quisesse interagir com todos, apenas quero meus momentos sozinho.

E desta forma, a sexta-feira chegou. A última prova era de fato algo bem prático de ser corrigido, questões de múltipla escolha. Como ocorreu no primeiro período, os professores adiantariam as correções para serem logo inclusas no quadro de ranking mais tarde utilizando de softwares pra agilizar o processo, então não haveria mais aulas naquele dia.

Enquanto caminhava pelos corredores, visualizei alunos indo para as quadras de esportes em prol de passar o tempo restante e vários grupos sociais se localizavam por entre o pátio central. Não tinha um rumo específico, então só tornei a caminhar por aí. Era algo raro ter tanto tempo livre na escola, não sabia o que deveria fazer.

Quando dei por mim, seguia o caminho suspenso para o prédio especial. Dali de cima, tudo parecia se mover em câmera lenta. Olhando todas aquelas janelas, me recordei do clube de artes e resolvi ir lá dar uma olhada.

Ao abrir a porta de correr, me deparei com Chinatsu e Shiina, além dos outros alunos do clube desenhando. O meu quadro ainda estava lá (que vergonha!) emoldurado na parede, ao lado do de Chinatsu.

— Parece que nenhum membro virá para a escola durante as férias, então queremos adiantar as artes para o Festival Esportivo! — explicou a garota radiante.

— Oh, vocês vão participar do Festival deste jeito? — perguntei.

— Bom, a verdade é que todos os alunos devem participar do evento. Esta é só uma maneira da gente motivar nossas classes.

Não tinha pensado naquilo, mas no Festival Esportivo nossas classes serão inimigas... acho. Não era um pretexto forte, mas comecei a suspeitar de que terá alguma premiação para os vencedores. Típico daquela escola.

Como apenas queria ler um pouco, decidi ir para a biblioteca. Me despedi das meninas e segui para lá. Durante o caminho pelas escadas, a presidente do Conselho Estudantil passou por mim com vários outros alunos ao seu redor, ela nem mesmo notou minha presença.

Por mais que estivéssemos em ritmo de férias, o Conselho Estudantil não tinha descanso... desde que todo aquele problema que tive com eles cessou, nenhum dos membros me olharam mais torto. Era aliviador, ainda mais pelo desejo deles me esquecerem o quanto antes.

Na semana passada, houve o desfecho do confronto entre mim e Kumiko, além do secretário Hiyatetsu Bara, que foi destituído do cargo por ter sido enganado por aquela víbora e seus seguidores. O inesperado foi que o cara passou a me respeitar e ficamos de nos comunicar quando o momento fosse oportuno. Desde então, toda vez que me deparava com ele trocávamos acenos e poucas palavras. Não deixava de ser uma interação estranha pra mim, mas não era ruim.

Ao chegar na biblioteca, só há Yonagi ali. Ela lia seu livro perto da janela, como de costume. A brisa quente do dia invadia o local.

— Hum, parece que tivemos a mesma ideia... — comentou Yonagi, olhando para mim de soslaio. — Tem certeza que não vai precisar vir semana que vem?

— Até parece... — retruquei, pousando minha mochila ao pé da cadeira. — Eu fiquei bem atento às respostas, então estou bem. Nunca que ficaria em recuperação, não aqui.

— Com esses olhos mortos? Você tem certeza de que está enxergando direito e não errou na hora de preencher o gabarito?

Cerrei os dentes e virei o rosto, estressado. Ao olhar de volta, ela voltou a se entreter com a leitura novamente... apesar de conter um sorriso torto em seu rosto. Bem, que seja... decidi pegar meu livro e ler também.

No final das provas diagnósticas, fiquei entre os 15 melhores do ranking. Não foi nada fácil, mas queria me manter naquele lugar ou ainda almejar um posto mais alto.

Não sei dos detalhes, mas parece que realmente há algo especial para quem estiver entre os 10 melhores, segundo Kumiko. Não captei muita coisa por entre suas palavras, mas não podia confiar muito em algo que uma pessoa que te odiava dissesse, não é?

Queria perguntar aquilo a Yonagi, mas tão logo recordei da nossa última conversa e de como se encerrou. Um rubor surgiu em meu rosto e decidi não tocar no assunto.

Sei que foi por ter pensado no assunto, mas não consegui evitar o ardor. No entanto, Yonagi abanava o rosto com as mãos enquanto lia. Então, não fui o único a sentir calor ali?

— Será que o ar-condicionado está quebrado? — indaguei em voz alta.

Talvez fosse minha imaginação, mas ouvi algum murmúrio próximo de mim, só que Yonagi permaneceu imóvel. Na verdade, aproximou ainda mais o livro sob o rosto, conforme sua respiração parecia estranha.

Os pequenos sussurros saíram em intervalos apressados, assim como seu corpo tremeu aos poucos. Ela devia estar em alguma parte interessante do livro para se exaltar tanto a ponto de suas orelhas estarem levemente avermelhadas...

— Idiota...

O pequeno comentário dela me deixou ainda mais confuso.

 

Naquela sexta-feira, as coisas ocorreram de maneira tranquila. A prova daquele dia, como Himegi citou antes, foi rápida de ser feita e corrigida. Um clima de alívio e animação se apossou em minha classe ao término da prova.

 — Finalmente acabaram essas provas infernais! — Nana exclamou ao alto, levantando os braços como se tivesse vencido uma maratona. — Estamos livres!

— Viva a liberdade! — acompanhou Kuwasabe.

Todos ao seu redor fizeram o mesmo. Provavelmente todos da escola. Se não tivesse empecilhos, estávamos de férias a partir daquele momento.

Decidi tirar um cochilo, apesar da cacofonia dos meus colegas. Mas antes de fazê-lo, percebi que Takahashi conversava com outro colega sem ser do seu grupo usual. Era um garoto bem animado e com um ar travesso. Tinha sardas no rosto e um porte meio atlético, também parecia ser do tipo popular com seu topete escuro e pelas suas feições.

Se não me engano, já tinha visto aqueles dois interagindo durante alguns intervalos de tempo. Provavelmente aquele era Hiyama Inuzuka, por quem Chinatsu se interessou romanticamente.

Virei o rosto e tornei a fechar os olhos. Não preciso me apressar em nada. O próximo semestre virá com todo fervor — mais do que gostaria... —, então a necessidade de me preocupar com esses detalhes também surgirá no tempo devido. Tudo o que quero fazer é descansar!

Minha bateria social se encontra em menos de 1%!

Por isso, voltei ao cochilo. Bem, vejamos... um carneirinho, dois carneirinhos... droga, pensar em carneiros pulando cerca me fez lembrar dos trocentos exercícios físicos que terei de fazer muito em breve, tudo por causa do Festival Esportivo...

...

Vamos tentar de novo. Um caderno, dois cadernos...

Ei, espera. Se eu for contar cadernos, apenas vou me concentrar no fato de que terei que estudar com ainda mais afinco em breve também!

Cocei a nuca irritado com tantos pensamentos estressantes. Conforme tentava pensar em uma maneira de acalmar a cabeça, fui observado por olhos conhecidos.

— Sabe, quanto mais você estreita os seus olhos mortos, pior você fica... — expressou Himegi, em meu campo de visão.

— É apenas impressão sua... — retruquei.

— Pensei que você seria a pessoa mais animada pelo término das provas...

— Ah, sim. Tem razão. Estou tão animado por tudo isso ter finalmente acabado que agora me encontro angustiado pela quantidade de trabalho que me espera em um curto período predestinado. É por isso que anseio pelo descanso constante em minha residência com direito a pausas longas de leitura e jogos durante a madrugada!

— Você está surpreendente animado pelas questões erradas?!

Enquanto várias ideias inúteis inundavam minha mente sobre o que poderei fazer durante as férias, perguntei a Himegi:

— E você? O que veio fazer aqui?

— Ah, sim. Alguns alunos vão passar no mercado depois da aula para comprar fogos de artifício por causa do fim de semestre... estava pensando se não podíamos fazer o mesmo com o nosso grupo, sabe...

— Ah, não é má ideia.

Hum? Eles vão comprar fogos de artifício por terem passado de semestre? Que raios de lógica era aquela? Por acaso ganharam da loteria ou apostaram com seus pais para caso fossem perder? Tenho pena dos pais desses alunos...

Mas certamente era algo interessante de se fazer depois de um período tão conturbado. Nós literalmente não fizemos nada além de estudar e revisar os conteúdos didáticos. Fazer algo descontraído era algo bem-vindo naquele momento.

— Certo, eu vou com vocês. Vou avisar as garotas do 2ºF pelo LINE.

— Obrigada! — Himegi fez uma breve saudação e se preparava para sair, mas pareceu que se lembrou de algo e voltou. — Ah! E também...

— O que foi?

— É... vamos ver o resultado das provas finais juntos?

***