Volume 3
Prólogo: Declaração entre Pessoas Perturbadas
Você sabe como é acordar de um sonho e sentir estar dentro dele mesmo assim? Eu ainda recordo do sentimento após aquela conversa com Yonagi, em que discutimos seriamente pela primeira vez desde que a conhecera.
Ah, não... espera. Não foi um sonho...
Que desagradável.
Após conversar com o escritor Hisashi Masayoshi, tive algumas ótimas ideias para querer colocar em prática. Desde pequeno, sempre gostei de criar histórias — das mais diversas — e sempre quis levar isso adiante.
Entretanto, detenho de alguns problemas em meu caminho para me tornar um escritor. Por mais que fosse um solitário, minha percepção da realidade é clara — cruel, pessimista, destruidora e amarga! —. No entanto, tive minhas limitações. Pessoas solitárias não são tão ativas em compreender as coisas ao seu redor.
Como por exemplo, interações sociais. Se fosse uma disciplina escolar, seria reprovado em todos os trimestres. Mas... e Sociologia? Ah, mas Sociologia é uma disciplina que te ensina sobre os parâmetros da sociedade, seus conceitos, estruturas políticas e por aí vai. Não tinha exatamente essa parte relacionada com as diferentes interações entre pessoas, principalmente com aquelas difíceis de se discutir.
Espera, eu também sou horrível em Sociologia, então você pode dizer que mesmo não sendo a mesma coisa, o resultado não mudaria...
Oh... que deprimente.
Bem, voltando ao assunto das interações sociais, possuo um interesse próprio em ter tais ideias. Porém, também era em prol de uma disputa entre mim e a presidente do clube de literatura, Yonagi Kaede.
Professora Harashima, nossa professora de ciências sociais — a verdadeira culpada aqui! —, nos desafiou sob as próprias conclusões de melhorarmos nossas habilidades de comunicação.
Durante o mês de maio, compreendi que nossos métodos são muito diferentes. Após pensar bastante, tomei a decisão que levou a discutirmos. Achei que poderíamos nos entender a longo prazo por até termos trejeitos parecidos, mas apenas me iludi.
Será que no fundo, desejo encontrar algo assim em alguém? A propósito, o fato de estar naquele clube foi por causa daquela professora ter me colocado contra a vontade — mais ou menos —, no entanto, até essa ocorrência mudou.
Eu não pertenço mais àquele clube.
Aquela foi minha resposta para Yonagi. Eu agirei à minha maneira, sozinho.
Mesmo odiando todos meus defeitos, principalmente a aparência, preciso admitir que trabalho em completa harmonia comigo mesmo.
Atuar junto da solidão não é tão ruim assim, às vezes. Quando se convive com tal realidade durante muito tempo, acaba se acostumando.
Após mais uma noite sem dormir direito, abri meus olhos para admirar aquele céu anil se volvendo cada vez mais claro. Conforme o dia se aproxima, as estrelas desapareceram e o brilho matutino ganhou força.
Levantei, incomodado. Meus olhos ardiam pela falta de sono, mas reuni coragem de me mover. Arrumei minhas coisas e me deparei com uma figura que há tempos não via em casa.
Meu irmão está aparentemente atrasado.
Takashi e eu temos a mesma idade. Apesar disso, não possuímos tantas semelhanças. Ele detém um corpo mais robusto e boa aparência. Não somos tão comunicativos, algo que nos lembrava o fato de sermos irmãos.
Diferente do meu incômodo sobre me acostumar onde fui parar, ele encontrou sua zona de conforto. Sempre jogou muito online e com os mesmos amigos desde o fundamental. Takashi é uma boa pessoa e sua impressão era ótima, ao contrário de mim.
Nós estudávamos em escolas diferentes devido nossas escolhas.
— Ah, você acordou, Hide? — disse Takashi.
— Sim... acabei dormindo pouco, então resolvi me levantar de uma vez.
— Sua escola deve ser tão puxada quanto a minha, hein... — expressou meu irmão.
Devido a diversas discussões com nossos pais, Takashi resolveu ir para Chiheisen, uma escola de nível avançado — praticamente da mesma estatura que a Daiichi —. Por isso, sempre se levantou muito cedo e saía antes do meu despertador tocar, só o vejo quando chego em casa. Quer dizer, exceto nos dias em que não consigo dormir direito.
— Deveria tentar dormir mais, viu. Sua cara está horrível...
— Como sempre, irmão... — O respondi com um bocejo. Fui até a geladeira pegar leite. — E a escola?
— Do mesmo jeito, sabe... — suspirou Takashi. — Eu e meus amigos quase não conseguimos jogar RPG nos intervalos... as provas estão chegando...
Deve ser divertido ter amigos tão próximos para se distrair desse jeito antes de períodos conturbados.
— Aguente firme. Vocês vão conseguir se ajeitar.
— Obrigado, irmão. E você?
— Ah... hum, estou bem. A escola é puxada, mas ainda consigo relaxar nos intervalos, então tudo certo.
— Nós sempre fomos ruins para fazermos amigos, mas com suas habilidades de desenho, é moleza, certo?
— Não... não exatamente...
De fato, aquela tática deu certo durante o ensino fundamental. Durante o meu primeiro ano do ensino médio, ainda fiquei com alguns colegas conhecidos na antiga escola, mas então me transferi e, agora desbravo um local desconhecido sozinho.
— Tem certeza que essa sua cara de morto não afastou todos aqueles próximos de você? — brincou ele, rindo.
— Não enche... — resmunguei. — Mas... é capaz que esteja certo...
— Mudando de assunto... — Takashi franziu o cenho. — Ela voltou a falar com você?
Aquele novo tópico era apenas de nosso conhecimento, totalmente à parte dos acontecimentos da escola.
— Ainda não, irmão. Sem notícias...
— Se eu fosse você, ficaria alerta. Entende isso, não é?
Decidi não reagir àquelas palavras, sabia que meu irmão apenas disse pela minha segurança, mas tudo permaneceu tranquilo. Eu tomei um rumo em busca das próprias respostas e de um novo caminho para minha vida.
— Não se preocupe, irmão... — disse, indiferente. — Tudo está diferente agora... nada voltará a ser como antes.
— Se você diz... estou indo.
Com Takashi finalizando de se arrumar, voltei a arrumar minhas coisas.
Fora o contato de Himegi, retornei ao estado original no início das aulas. Apesar do grupo de Takahashi estar na minha classe, acabei discutindo com o próprio durante as ações voluntárias de Kumiko Horie antes que entrasse para o Conselho Estudantil e parece que se criou algum tipo de barreira entre nós.
Como se nós tivéssemos alguma interação digna de descrição. Apenas nos falamos algumas vezes...
Kumiko Horie é uma estudante do segundo ano que entrou recentemente para o Conselho Estudantil no cargo da tesouraria. Obteve essa vaga possuindo-a de uma conhecida minha — Chinatsu Chitose — do seu lugar. A propósito, ela me odeia e é capaz de tudo para ser expulso da escola. Que lindo.
Se passou uma semana exata desde esse evento, assim como a convenção dos escritores. Hoje é segunda-feira e após ficar todo aquele tempo pensando, tomei minhas decisões.
A primeira: não quero me envolver mais com Kumiko.
Por ser ardilosa, sempre quer se sair na frente dos outros. Foi capaz de coisas impensáveis para conquistar aqueles ao seu redor, mas em todas as vezes a impedi.
Se fosse pra recomeçar desde o início das aulas, preciso evitá-la, o que talvez seja praticamente impossível, por me odiar.
Aparentemente, não possuo fraquezas ao seu ver e talvez constitua sua maior frustração. Que coisa sem sentido.
Inclusive, em nossa última discussão saí vitorioso por ter gravado suas confissões. Tenho em mãos uma arma poderosa para se usar contra ela!
Honestamente, se todos simplesmente se esquecessem de mim, seria uma benção. Ou, ao menos, apenas se lembrassem de mim como — o cara que sabe escrever bem e que é muito inteligente! —, ou algo assim. Foi minha intenção tentar estabelecer isso desde que me transferi e não deu certo até agora.
Parando pra pensar, durante todo aquele tempo em que jazi naquela escola, só aconteceu infortúnios, exceto nos intervalos em que conseguia relaxar...
Sério, quero ter um Retorno da Morte ou algo assim se fosse para recomeçar e fazer diferente.
Parece que Takashi visualizou minha expressão desanimada. Se aproximou e deu tapas no meu ombro, querendo me consolar.
— Sabe que sempre pode contar comigo, certo? Lembre-se do que combinamos.
Com toda a certeza ele ainda poderá ser o presidente do país se continuar com esse carisma...
— Sei, sim... valeu.
Nós nos despedimos e ele tomou seu rumo ao fechar a porta da sala. Atentei para o relógio, era hora de me aprontar para sair também.
— ...só quero uma razão para vivenciar coisas novas. Apenas isso.
Por mais que as coisas fiquem sombrias, devo resistir. Uma coisa que sempre acreditei era que o passar de uma semana para outra representava mudança, ou um novo começo. Diante do que aconteceu, esta nova semana poderá significar algo.
Agindo com a cautela certa, farei isso acontecer.
Quando deu meu horário, coloquei minha máscara e me dirigi à estação de metrô. Por mais que tivesse passado uma semana, não foi possível deixar as coisas como eram sem ter conflitos, já que Himegi me questionou durante todo aquele tempo sobre o que fiz e tentou me convencer de regressar ao clube. Evitei ao máximo de me envolver com esse tipo de conflito, mas Yonagi não voltará atrás de suas palavras, assim como eu.
Apesar das nossas posições opostas, estranhamente pensamos de forma convergente.
Não, não. Preciso tirar isso da mente. Neste momento, vou manter a maior distância dela possível.
Devo começar a estabelecer minha linha de pensamento sobre o que penso de Yonagi. Esse é o momento decisivo para evitar confusões.
Por mais que proferi aquelas palavras, admito que apenas quis impor os meus ideais sobre ela.
Eu a provarei que apesar de ser considerado fraco aos seus olhos, até mesmo os fracos possuem sua própria força para agir.
Quando cheguei na escola, troquei meus sapatos e vários papéis dobrados apareceram entre eles. Os peguei e coloquei em meu bolso, pois ao me dirigir aos corredores, vi uma pessoa conhecida da qual não quis me encontrar de jeito nenhum.
Kumiko Horie.
A nova tesoureira do Conselho Estudantil. Empregou o fardo do cargo em um dos braços, representando a sua autoridade sobre os assuntos financeiros dos clubes.
Takahashi passou por ela e trocaram cumprimentos, parece que a relação entre eles ficou mais sólida do que antes. Mesmo assim, não consegui ver aquilo como sendo uma amizade puramente verdadeira, não se é da Kumiko Horie que estivesse falando.
Ela se virou na minha direção subitamente e me escondi em outro corredor por reflexo o mais rápido que pude. Desde o primeiro confronto que tivemos, ela foi o estopim de todos os meus problemas na escola. Gostaria que apenas me esquecesse...
— Ora, Shiroyama? Então você está aqui.
Enquanto permaneci ali escondido, ouvi a voz ardilosa dela ao meu lado e estremeci. Não fui rápido o bastante para escapar dos seus olhos de víbora...
— Ah, Kumiko... o fardo coube bem em você... — tentei parecer normal, mas o meu nervosismo sempre me atrapalha nesses momentos.
— Obrigada, mas não considero isso um elogio de você... — entoou Kumiko, sorrindo. — Então... pare com isso, pode ser?
Hum, acho que víbora não é a palavra certa para descrevê-la... nem mesmo a Nagini falaria com alguém de maneira tão áspera quando sorri!
— Mesmo depois de uma semana, você se manteve o mesmo... — disse Kumiko, gélida. — O que você está planejando desta vez?
Ela se refere à minha posição como membro do clube de literatura. Como as notícias voam, a informação que eu saí do clube já se tornou de seu conhecimento.
— O quê, você vem perguntar isso pra mim? — A questionei. — Eu é que devo perguntar isso a você.
— Você como sempre é muito escorregadiço... — retrucou a garota. — Sei que você se afastar de Yonagi faz parte de algum plano, ainda que tenha aquela gravação de mim. O que estão tramando?
— Por que você mesma não pergunta para ela? — A provoquei. — Mesmo que eu diga que não é nada do que você esteja pensando, não vai acreditar em mim, não é?
— Preciso responder?
Suspirei como resposta. Já fiquei mais aliviado.
— Não importa o que esteja planejando, eu vou acabar com os dois. Vou mostrar a todos que sou mais inteligente que Yonagi ao ficar entre os melhores daqui! Aqui não há espaço pra você, seu verme!
Seus olhos demonstravam uma fúria da qual nunca compreendi, e mesmo nesse momento não quis saber e muito menos compreender:
— Que patética... duvido que essa sua obsessão seja do interesse de todos... — retruquei. — Aliás, quem é você pra dizer que não possuo qualquer direito de intervir? Que ideia idiota.
— Porque você simplesmente não cala a boca? Essa sua máscara só serve de enfeite, por acaso?
— Se quer ser a melhor, apenas seja... — intervi. — Só pare de me perturbar...
Some o fato de ter dormido pouco e o estresse de ouvir aquele monólogo de mangá deixou tudo ainda mais irritante. Espera, se aquilo for verdade, serei considerado um personagem secundário em vez do protagonista! Ah, cara...
Soltei um longo suspiro de mau humor e recuperei minha postura. Sabia mais do que ninguém que demonstrar falta de interesse aqui geraria um erro terrível. Reuni toda a ignorância do meu âmago e falei:
— Apesar de estar falando sério, gosto de desafios... — argumentei. — Mas, se lembra do que falei para você antes?
— Hein?
Enquanto Kumiko duvidou sobre o que me referi, avancei um passo e fiquei a poucos centímetros dela, encarando-a o máximo que meus olhos cansados podiam.
— Faça ao menos o seu trabalho direito, já que finanças não mentem. Talvez assim você possa evoluir como um ser humano decente sem pisar nos outros, pra variar.
Por um momento, Kumiko ficou intimidada, mas logo se recuperou e fez deboche:
— Há! O sujo falando do mal lavado! Vai me dizer que não é uma pessoa podre? Logo você?
— Pouco importa sobre mim, mas estou falando sério. Vai mesmo querer continuar? Posso te garantir que suportaria o dia inteiro essas provocações baratas e ainda ganharia.
— Claro... ser desagradável é sua maior característica!
Kumiko Horie tentou me subjugar duas vezes até então. Primeiro, com a disputa entre os clubes de jornalismo e literatura. Depois, o caso da presidente do clube de artes com o Conselho Estudantil, Chinatsu Chitose. Nas duas vezes, ela tentou se desfazer dos outros para poder subir seu status e pude intervir.
Desta vez, sabia com clareza que almejava se livrar de mim. Colaborei para fazê-la entrar no Conselho Estudantil em troca dela não dedurar a mim e Chitose por estarmos trabalhando depois do horário permitido. Eu sabia que essa jogada poderá se voltar contra mim a qualquer momento, mas estou preparado.
— Se me entendeu, suma logo da minha frente.
Kumiko não me respondeu, apenas deu meia volta e se dirigiu aos corredores. No entanto, ela parou por um instante sem olhar para mim.
— Você está errado quanto a mim, Shiroyama... — proferiu, com uma voz sincera que quase perdi minha postura. — Ao contrário de você, posso ser alguém influente. Se eu quiser, posso me tornar alguém grande e conquistar os outros.
— ...nunca disse que não poderia fazer isso. Porém, não é certo fazer isso sob o esforço dos outros.
— Convencer as pessoas com palavras é o que as deixam fracas. Se os outros se convenceram disso, não é problema meu. Pessoas com ideais fortes manipulam os fracos, e desde sempre foi assim.
Do que ela está falando, afinal? Seu desejo era apenas exercer seu poder nos outros? Foi isso o que pretendia fazer desde o início?
— Esta é uma disputa apenas para os melhores... — Ela me olhou de relance. — ...e como te odeio, quero você fora disso. Este é o ponto.
Acho que entendi. Após nosso primeiro desfecho, decidiu se livrar de mim primeiro para depois atacar Yonagi, visto que fui o responsável que atrapalhou seus planos e sou um forte aliado para sua inimiga.
— ...mesmo assim, não sou influente a ponto de atrair as pessoas. Isso quer dizer que, ao seu ver, me afastar de Yonagi te deu uma grande vantagem, é isso?
— Como sempre, uma mente rápida e irritante.
Ao expor minha opinião, Kumiko concordou. Compreendi o que disse até ali. Então era por isso que permaneceu tão desconfiada, se eu me afastei de Yonagi — uma forte aliada —, então supostamente cometi um erro brusco que facilitaria uma nova investida de Kumiko, da qual não queria se arriscar.
Fiquei um pouco exaltado, mas decidi disfarçar para que ela não percebesse.
— Certo, acho que entendi. Bem, você não vai tirar nada de mim e muito menos de Yonagi. Parece que desta vez a disputa será entre nós dois, apenas.
Dito isso, Kumiko tocou em suas tranças e as desfez, permitindo seu cabelo solto escoar por entre suas costas como cascatas. Assim como sua personalidade e suas intenções, ela também era ágil em sua aparência.
— Isto é uma declaração de guerra, então. Prepare-se! — entoou Kumiko, decidida. — Ao menos torne esse massacre em algo proveitoso para mim, Shiroyama.
— Não vou perder pra uma maldita ignorante, não importa como... — A enfrentei, friamente. — Esse foi meu último aviso.
— Que seja... que vença o melhor.
E após isso, ela sumiu na multidão animada através da circulação dos corredores, como um vilão de mangá.
Isso me confirmou uma coisa: ela não era uma víbora, e sim uma loba atuando estar ferida para morder qualquer um próximo de si.
Os lobos são criaturas ardilosas e calculistas, então eles se armam o quanto podem e entram em lutas que podem vencer. Seu olfato é muito aguçado de detectar inimigos, o que os tornam praticamente invencíveis.
Como derrotar uma fera com os sentidos tão aguçados assim? Você pode dizer que, de uma maneira geral, ela virou um problema. Uma verdadeira calamidade.
Bom, pode ser difícil, mas não é impossível de confundir esses sentidos aguçados. Por sorte, não éramos lobos e muito menos um ser humano enfrentando um. Éramos todos seres humanos, com habilidades físicas e mentais semelhantes, o que praticamente nos iguala. E neste caso, sentidos aguçados podem ser confundidos, pois a intuição é igual para ambos.
A garota com mente de loba pode ter as suas vantagens, mas uma coisa que tenho ciência é o ego das pessoas ser um ponto fraco completamente vulnerável. Ela não é um lobo e posso combatê-la.
***
Se você atentar as coisas de um contexto geral, nada mudou. As mesmas pessoas comuns faziam coisas comuns com amigos em comum. As atividades escolares permaneceram difíceis a ponto de acumular deveres de casa e não consegui dormir direito. As disputas constantes na cantina para conseguir um bom sanduíche são tão rotineiras que até os movimentos pareciam se repetir dia após dia.
Quer dizer, em poucas palavras você consegue definir uma rotina escolar simples e comum em que se vê em qualquer lugar.
Pessoas mais extrovertidas riam e conversavam com seus amigos, e os introvertidos ficam em seus cantos lendo livros, ouvindo música ou jogando.
Por mais que não fosse exatamente proibido, há casais aqui e ali aos arredores. Uma juventude escolar comum em um lugar comum.
Se você é o tipo de pessoa que está em um destes lados, então sinta-se incluso nessa analogia. Não importa suas razões, medos e limitações, todos estão categorizados em algo. Todos fazem parte de algum tipo de seleção.
Quando se é alguém sozinho e observador, perceber estes ínfimos sinais é algo tão fácil quanto respirar.
E para mim, não estou exatamente no lado dos introvertidos, mas sustento um sentimento amargo pelos extrovertidos normais que vivem suas vidas a vontade. Por que as coisas ocorrem de maneira tão injusta?
Este sentimento dentro de mim existe há muito tempo, antes mesmo de entrar no ensino médio. Se apegar aos desejos infantis o deixa sensível com as adversidades que aconteceram.
Sim, esta seria a descrição perfeita de minha infância.
Vulnerabilidade é algo muito ambíguo. Pense nisso como uma esponja. Pessoas do tipo agem como tal, por absorverem tudo ao redor para si, sejam coisas boas ou ruins. Crianças não possuem noções do que é o melhor para si, então se animam demais quando recebem uma boa notícia e se martirizam quando estão sofrendo.
Por isso, fiz promessas no meu passado a fim de bloquear essa esponja. Mas, no fundo, sei que tudo permaneceu do mesmo jeito.
E desta forma, fui vulnerável e sofri as consequências. E por isso, a sociedade me destruiu.