Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 3

Capítulo 1: Mesmo assim, a Rotina de Shiroyama Hideo permanece Igual. ③

Aquela foi uma terça-feira nublada. Como já era quase verão, as chuvas da primavera se acumulavam naquele mês de junho. Acordei de mau humor naquele dia por não ter conseguido dormir após aquela conversa intensa com Chinatsu.

Justamente por não saber o que ela iria discutir com a Yonagi. Por que queria tanto se meter nisso? Nestes casos, a maioria dos garotos possuem o mesmo tipo de pensamento em ocasiões como esta... o pensamento de: — ah, será que ela está gostando de mim?! —, ou: — ela irá brigar pra que eu fique ao seu lado! —.

Essas comédias românticas baratas não funcionam aqui, droga! Afaste logo essas ideias, afaste!

Por mais que cada célula do meu corpo ansiasse por querer algo do tipo, no fundo sei que o intuito dela é outro. Isso mesmo, tive uma ideia equivocada e quase me iludi!

Não há problemas em pensar algo assim... quase cometi o erro de considerar tamanho absurdo.

Seria um ponto de vista diferente se estivesse em uma bolha de garotos e garotas sociáveis e minhas ações tivessem chamado atenção de uma das garotas deste meio.

Inclusive, esse é um dos ideais de Hisashi Masayoshi. As pessoas criam suas ilusões em dois tipos de situações: quando se envolvem com um grupo de pessoas (por terem muitas interações entre si), ou quando não pertencem a nenhum grupo (que é quando sua mente divaga em como seria uma relação com certa pessoa). Se você se perde em meio a esses devaneios, se limita a imagens fantasiosas de que pode ter alguma chance em um relacionamento duvidoso.

Muitas pessoas conseguem construir relacionamentos sobre esse ponto de vista, mas não se pode considerar pessoas introvertidas neste grupo de maneira integral.

Então — socialmente falando —, estaria me iludindo tolamente por uma pessoa que detinha convivência, apenas isso.

Mas não farei nada para querer confirmar o que não pode existir. Aliás, não se iludir com suposições é uma de minhas regras pessoais... sem contar que detesto me submeter a situações constrangedoras apenas por querer ter certeza.

Veja, ter um relacionamento é algo legal, mas se você apenas quer se relacionar superficialmente com uma pessoa, o que a palavra amizade representa? Nada mais que algo vazio.

Eu abomino qualquer coisa superficial, por mais que minhas ações possam ser, não quero escapar da crueldade da realidade com fantasias e tentativas de procurar algo compensatório!

Os verdadeiros dedicados lutam pra conseguir tal recompensa — com a sensação de um relacionamento profundo —, não apenas um estado de autossatisfação momentâneo.

“Uma pessoa solitária não toma conclusões precipitadas nem se ilude com fantasias mentirosas, pois a realidade de seus pensamentos e vontades são expressos em suas ações como a pele é grudada na carne.”

Hisashi Masayoshi sempre colocava essa frase em seus livros. Parece algo autoconsciente, mas é muito mais que isso. Se as pessoas apenas olhassem para si mesmas e soubessem dos próprios limites, ações precipitadas não ocorreriam.

É difícil querer viver sem arrependimentos, sem poder ter dito o que queria em tal momento específico. Muitos garotos desejam se confessar para as garotas que gostam no ensino médio como uma meta de vida... não sei o que as garotas pensam, mas devem pensar em vivenciar um conto de fadas ou algo assim.

Por que tudo não poderia ser mágico assim? E sim, não quero me iludir com fantasias..., mas tudo precisa ser doloroso?

Sempre que tenho devaneios do tipo, meu corpo pesa toneladas. Seguindo minha metodologia, apenas queria ser reconhecido pelas habilidades que me orgulhavam. Se fosse comparar as coisas, ter isto realizado para mim seria a minha meta.

Era por ficar tão preocupado com coisas assim que não conseguia dormir direito. Os fins não justificam os meios, mas queria alcançar algo para mim mesmo sem querer seguir o que os outros pensem ou considerem.

Em meio a isso, parei de andar após trocar os sapatos no hall, na qual encontrei mais bilhetes daquela garota irritante. Os joguei rapidamente na lixeira sem nem mesmo olhar o que continha — seria possível que teria um recorde de ser a única pessoa daquele lugar que recebeu mais cartas ofensivas? Se isso era algo ainda não catalogado no Guiness Book, era bem capaz de ser colocado em breve... —.

Depois dessas ideias barulhentas em minha cabeça, consegui achar uma forma de competir com Yonagi.

Eu não me importo comigo mesmo, mas queria dar a palavra para alguém. Se quisesse construir um status firme, preciso entender o local em que me situo.

Yonagi Kaede era uma pessoa conhecida por todos daquela escola, então qualquer coisa que fizesse geraria um peso sobre os outros. Se alguém quer competir com ela sem chamar atenção pelo tipo de pessoa que é — como eu —, era necessário realizar grandes feitos pelos bastidores.

Tornando a caminhar novamente, o peso excessivo dos ombros se esvaiu e uma forte determinação me consumiu. Seguindo as ideias de Hisashi Masayoshi com o tipo de pessoa que sou, poderia criar a plataforma de status que tanto queria obter.

***

Após encerrar o último período, arrumei minhas coisas e me dirigi ao corredor, onde me deparei com Chinatsu encostada na parede. Pelo visto, ela decidiu me aguardar pacientemente desta vez.

— Vamos lá, para o clube de literatura.

— Hein? Você vai fazer isso mesmo, então?

Ela me afixou como sempre, mas sua postura emanou uma determinação agressiva e fiquei intimidado.

— Não adianta fugir agora, certo? Temos um acordo, lembra?

— Ah, sim. Bom, vamos então.

Vi que seria inútil dialogar com Chinatsu, então a segui durante todo o caminho até a biblioteca. Ao ver aquela porta fechada se abrir, meu coração tornou a bater mais forte. Passou-se exatamente um pouco mais de uma semana desde que parei de falar e me encontrar com Yonagi, definitivamente não sabia o que poderia acontecer a seguir.

O recinto iluminado pelo tom alaranjado do pôr do sol era o mesmo. Em uma única mesa alguns alunos usavam-na, somente um dos assentos permanecia vazio, que era o meu. Ao ouvirem o ecoar da porta abrindo, todos viraram sua atenção para nós. Em frações de segundos visualizei os rostos confusos e surpresos de todos: Himegi, Teru, Kuroi e Yonagi, nesta ordem.

Após alguns segundos em apenas ouvir os passos de Chinatsu ecoarem em meus ouvidos ao nos aproximarmos, uma voz firme ressoou:

— O que desejam? — perguntou Yonagi, com o seu tom usual de sempre. Formalmente gélido.

Ela parecia indiferente por eu estar ali, mas se era isso mesmo ou não nunca poderia saber ao certo.

— Yonagi, do Segundo Ano Classe A. Vim aqui por que quero propor um acordo! — entoou Chinatsu. Sua voz ecoou por toda a biblioteca vazia.

— Um acordo? — refletiu Yonagi, demonstrando surpresa. Ela me fitou por apenas alguns segundos, talvez esperando uma resposta minha, mas nada disse.

Quer dizer... não conseguia dizer nada. Na verdade, não sabia o que dizer. O que poderia dizer a ela naquele momento?

— Sim. Mas, antes disso, Shiroyama tem algo a te dizer. Não é mesmo?

Chinatsu olhou para mim, o que me fez engolir em seco. Ela montou aquele palco para que apenas voltasse a falar com Yonagi? A quão ardilosa ela conseguia ser?

— Ah... eu... quer dizer... hum... — tentei iniciar conversa, mas só percebi meu nervosismo ao tomar a fala. Cocei a nuca e a encarei diretamente em seus olhos.

— Você quer me ver lutando de verdade, certo? Vou te mostrar isso, então. Eu vou te mostrar que terá que me enfrentar com todas as suas forças se quiser me vencer... é melhor que esteja preparada para isso, senão ficará para trás.

— ...

Após dizer aquelas palavras, a biblioteca ficou em silêncio. Na verdade, ficou uma atmosfera tão tensa que ninguém sabia o que falar.

— O QUÊ?!! — exclamou Himegi.

— O... o que foi? — indaguei assustado.

— Depois de todo esse tempo... de tudo o que te disse... e você em vez de pedir desculpas para ela, você a confronta em prol desta disputa?!

Ela agarrou meu colarinho agressivamente e berrou uma oitava. Ah, que assustadora! Quero sair dali naquele instante antes que ela me mate!

— Do que está falando, Himegi? — perguntou Yonagi, surpresa.

Parece que as discussões entre mim e os calouros foram omitidas de Yonagi.

— Eu... eu só quis que vocês voltassem a se falar normalmente..., é horrível presenciar essa situação que a incomoda tanto, Yonagin!

— Himegi...

— Ei, e comigo nada? Você literalmente me obrigou a fazer flexões e abdominais a todo momento quando pôde!

— Você que as fazia pra não parecer um idiota, Shiro!

Chinatsu tossiu para chamar a atenção de todos novamente.

— Como eu ia dizendo, Shiroyama está disposto a te enfrentar com tudo o que tem... mesmo que tenha cometido esses erros. Era isso o que você queria, certo?

— É, em tese era isso mesmo... — respondeu Yonagi, me encarando de desdém. — Era o mínimo que ele deveria fazer, no entanto... ao menos assumir que errou.

Senti que deveria falar algo, mas as palavras simplesmente grudaram em minha garganta e não consegui emitir ruído algum.

— Mas, há um problema aqui... — expressou Chinatsu.

— Problema?

— Não sei dos detalhes, mas parece que esta disputa não tem um prazo limite totalmente definido. Estamos falando do futuro dos dois como universitários, então isso irá demorar no máximo por dois anos. Quer dizer, Shiroyama teria que provar durante esse período de tempo inteiro que estará lutando contra você com tudo o que tem, e isso seria algo bem complicado de se provar a todo momento, certo?

Chinatsu tinha um ponto. Afinal, nem sempre estamos dispostos a lutar. Nem mesmo as longas guerras descritas nos livros de história haviam conflitos a todo momento.

— Então o que você propõe?

— Proponho uma linha de partida... — proferiu Chinatsu. — Se vocês começarem a partir de certo ponto, acredito que ambos saberão que estão dispostos a continuarem a partir daí. Se isso não acontecer, tudo apenas vai parecer sem sentido.

— Acho que você está certa, Chinatsu... — concordou Himegi. — Se for em questão de notas e status, Yonagi está na frente de Shiroyama, sem dúvidas.

— Ei! Eu... ah, não tenho como negar isso...

Apesar de me magoar com a conclusão de Himegi, não tive como negar sua opinião.

— Para isso, quero propor um acordo entre as duas partes e que pode interessar a todos.

— E onde você entra nisso? — questionou Yonagi.

— É bem simples. Serei direta: Shiroyama não tem clube no momento, então ele ficará me ajudando no clube de artes. Além disso, se inscreveu no nosso concurso. Se ele vencer, poderá escolher entre ficar formalmente como membro do clube ou regressar para cá. Se ele perder, ficará no meu clube e você poderá decidir se esta disputa terá valido a pena, Yonagi.

— Mas o quê?!

Eu fiquei chocado com aquelas condições. Quer dizer que por causa das minhas ações que fiz até aquele momento geraram todas aquelas consequências? Eu realmente fui posto à prova se era alguém dedicado ou apenas um preguiçoso!

Além disso, por causa da posição de Yonagi como uma aluna de alto ranking, Chinatsu resolveu torcer pela minha derrota para que entrasse no clube de artes! O que se passa em sua cabeça?

Não fui o único que ficou surpreso com o que ela sugeriu. Todos os calouros ficaram boquiabertos.

— Não sei se deveria aceitar esses termos... — expressou Yonagi, incrédula. — Se nem mesmo este ser aqui se mostrou capaz de dizer algo a respeito durante todo esse tempo.

— Eu...

— Se ninguém vai aceitar isso, eu aceitarei!

Uma outra voz ecoou no recinto, e pertencia a professora Harashima que acabou de atravessar a porta.

— Professora? Você vai aceitar isso? — retrucou Himegi. — Mas, tudo isso...

— Sim, irei. Já que essa disputa esteve acontecendo de forma informal até agora, deve mesmo haver uma intenção formal entre as duas partes para que possamos oficializar isto de vez!

— Como assim a disputa não foi formal até agora?! — Eu e Yonagi retrucamos ao mesmo tempo para a professora, que ficou intimidada.

— Ah, sabe como é... eu só queria fazer um aquecimento para que vocês se preparassem... sabem como é, conhecer o inimigo! — balbuciou a professora, dando socos no ar.

É a típica resposta de alguém que não definiu as coisas direito e agiu no calor do momento... ela era algum tipo de editor de comédia para novatos, por acaso?

— Não me venha com essa! Isso só piora tudo!

— Mas, de fato. Se não foi algo oficial, agora poderemos fixar o acordo de vez.

Enquanto demonstrava minha indignação, Yonagi concordou com os termos.

— Aliás, Shiroyama. Isto será mesmo para provar se você está apto para isso. Eu apenas o coloquei contra a Yonagi pois vi um potencial em ti e ainda o enxergo. Mas você precisa de um empurrão para começar esta competição com o pé direito!

— Por que apenas eu estou sendo testado aqui? Não é um pouco injusto, não?! — cerrei os dentes, irritado. — Apenas quis tomar minhas próprias decisões e estou sendo julgado sem nem ao menos verem os resultados!

— Shiro... — Himegi me afrontou.

— Se todos serão contra mim, então eu não ligo! — esbravejei. — Não me interessa se enxergam ou não algum potencial em mim, sou eu quem decide isso no fim!

— De jeito nenhum, Shiroyama! — exclamou Chinatsu. — Eu acredito que você tem um grande potencial! E se não for usado neste lugar, poderá ser no clube de artes! Mas só você deve escolher isso, senão por mérito, será por obrigação!

— O quê? Obrigação?!

— Isso mesmo, Shiroyama! — retrucou a professora, mostrando um rosto agressivo. — Yonagi já provou que é apta para participar. Além disso, não quero preguiçosos sob direção, minha reputação iria cair!

Ela tinha alguma reputação? Dizer que o status dela iria cair por minha causa me deixou incrédulo, de verdade.

Grunhi de frustração, mas não vi como poderia escapar daquela situação, então aceitei.

— Neste caso, todos serão meus inimigos... — refleti em voz alta. — Eu realmente não esperava que você fosse querer participar disso, Chinatsu.

— Desculpe, Shiroyama. Mas eu também não quero perder para a Yonagi! — Chinatsu entoou para Yonagi. — Se o vencer, poderei ser vista como alguém responsável e capaz de voltar ao Conselho Estudantil!

Me esqueci totalmente de que Chinatsu ainda pretendia se restituir ao Conselho Estudantil, mas não esperava que tal vontade permanecesse tão viva dentro de si. Ainda por cima, não imaginava que competir comigo poderia lhe valer de algo como reconhecimento para o Conselho.

— Se você saiu do Conselho, foi devido a alguma coisa. Não sei se conseguir o feito de vencê-lo vai render algo, apesar de que não espero muito dele.

— O quê?

Chinatsu conteve um grunhido por aquelas palavras de Yonagi, mas pude ver que ficou frustrada.

— Eu te disse isso durante o primeiro dia que nos conhecemos, Shiroyama... — Yonagi proferiu. — Você é como um livro aberto para mim e essa opinião não mudou desde o início.

— O início...

Pelo visto, Yonagi continuava incomodada com a minha atitude de sair do clube e não demonstrar remorso algum. Podia sentir em suas ações e palavras que ela não daria o braço a torcer para mim em nenhum momento. Porém, notei um traço de tristeza em seu rosto da qual não consegui entender a razão de imediato.

E devido a isso...

— ...ainda não mudei minha própria opinião sobre você também, Yonagi... — proferi. — E mantenho minha consciência nisso, já que é a pessoa da qual quero ultrapassar.

— Shiroyama...! — Himegi e a professora Harashima levantaram a voz para me repreender, mas me mantive fitando Yonagi.

— ...me ultrapassar, é? — indagou Yonagi, pensativa.

— Sou um ser imprevisível, que foi capaz dos métodos mais alternativos para resolver as situações que apareceram diante de mim. É assim que sou, você também enxergou isso e esperou para ver até onde chegaria. Por isso, não mudei o que penso sobre você e as palavras que disse. Desde o início, tudo foi uma charada para que mostrasse do que era realmente capaz de fazer!

Vários segundos se sucederam após terminar de falar e tão logo a expressão triste no rosto de Yonagi se dissipou.

— Vejo que continua do jeito de sempre, então. Parece que ao menos consegue entender o que minhas palavras querem dizer.

— Yonagin...? — Himegi ficou confusa.

— Que seja! Vou encerrar de vez essa discussão e te fazer repensar sobre mim, Yonagi! — retruquei, mostrando minha indignação. Descartei todos os meus pensamentos de lado durante aquele momento. — Eu terei o status que almejo e vencerei esta disputa, custe o que custar!

— Será mesmo? — provocou Yonagi. — Vejamos se pode me surpreender, então. Neste caso, quero acrescentar mais uma coisa neste acordo.

— E o que seria? — perguntou Chinatsu.

Fiquei confuso com a atitude de Yonagi, mas Chinatsu rapidamente tomou as rédeas da situação.

— Se este concurso de artes que vai definir se o Shiroyama é digno ou preguiçoso, então ele precisa vencê-la, Chinatsu. Não importa se não for o primeiro lugar, se este requisito for cumprido, eu o aceitarei de volta.

Essa condição me deixou sem reação. Pareceu como se quisesse me dar mais uma chance para que retornar ao clube. Ou então, Yonagi quer me causar ainda mais remorso pelas minhas ações.

Essa possibilidade me deixou com calafrios. Ela queria ser vista como alguém que mostra compaixão com qualquer um?

— Tudo bem, aceito as suas condições... — Chinatsu assentiu decidida. Seu olhar não vacilou, demonstrando tamanha é sua seriedade.

— Qual será o tema desse concurso? — indagou Yonagi.

— Rostos. Será um desafio pra ver quem irá desenhar a melhor expressão — explicou a garota. — Por mais que seja algo irônico dada a situação...

— Não, isso é perfeito. — Yonagi cruzou os braços. — Pelo que jeito que o Shiroyama não saiba compreender o sentimento dos outros, vai ser um desafio à sua própria existência.

Essas palavras me atingiram mais do que um efeito de dano crítico por um d20...

— Yonagin... — Himegi sibilou.

— Isso foi realmente palavras difíceis de se ouvir... — murmurou Kuroi.

— Só espero que depois dessa ele não invente de competir desenhando um rosto de fúria... — expressou Teru.

Simplesmente não soube como explicar, mas suportei tamanho julgamento. Respirei fundo e falei com uma voz mais calma do que imaginei que conseguiria proferir no momento:

— Certo, então. Está decidido... — cerrei meus punhos, aceitando a posição de réu. Um sentimento ardente cresceu dentro de mim de provar meu valor para todos ali presentes. Por não entender como me expressar, apenas compreendi que ao se deparar com adversidades tão extremas quanto aquela, a vontade de prevalecer e ultrapassar essa dificuldade se provou maior do que a intriga.

Com esse ideal ardente, os encarei com determinação em meus olhos considerados mortos.

— Acho que esta é a forma mais justa de definir as coisas para você que se escondeu atrás dessa garota para vir falar conosco aqui, Shiroyama.

Yonagi entoou aquelas palavras duras, quebrando o silêncio da biblioteca.

Mas aquilo não me intimidou.

— De jeito nenhum. Você se lembra do que eu disse antes, certo? — A encarei. — Isso tudo não teria sentido se não enfrentasse tudo sozinho. Desde o começo e até agora, essa foi a única condição válida para mim. Enquanto Chinatsu tem o exército dela do clube de artes e você terá o apoio do clube de literatura, eu serei um exército de um homem só.

— Ei, Shiroyama... — Chinatsu balbuciou meu nome, mas não conseguiu dizer mais nada além disso. — Não era pra ser assim...

— Pode até ser... mas isso só deixou claro as intenções de cada um. Estou bem em aceitar os termos dessa forma.

— Você... conseguiu distorcer os sentimentos de Chinatsu pra algo totalmente egoísta... — A professora Hirashima me olhou torto. — ...moleque imbecil.

Ei, não venha com esse olhar como se eu fosse uma maçã podre no meio de uma cesta de frutas...

— Hein? Sentimentos?! Não... não é nada disso...!

Chinatsu ficou atrapalhada por alguma razão, mas não parei de encarar Yonagi.

— Não vou mudar as minhas intenções e pensamento. Este será o embate que vai decidir como será feita esta disputa de uma vez por todas.

— Espero que ao menos pense bastante sobre si mesmo antes de ir além com isso.

Yonagi não disse mais nada além disso, apenas me analisou em silêncio. Isso me fez perceber as expressões dos outros membros do clube. Teru, Kuroi e Himegi se mantiveram silenciosos. Himegi, em questão, se manteve cabisbaixa.

Suspirei e tentei controlar meu nervosismo. Dito isso, me virei e segui para a entrada da biblioteca.

— Shiroyama, você vai mesmo querer que as coisas sejam assim? — Chinatsu perguntou a mim.

Parei de andar e sem me virar, a respondi:

— Quando assumimos uma posição, temos que mantê-la até o fim. Se não for assim, não terá sentido nenhum. Não estou forçando a vontade de ninguém por isso e, não vou infligir dano aos outros se agir como alguém egoísta.

Himegi exasperou, aflita.

— Além disso, eu e Yonagi não temos como nos enfrentar com todas as nossas forças se estivermos nos encontrando todas as vezes. Eu agirei sozinho daqui para frente... — expressei, cabisbaixo. — No fim das contas, você me fez mesmo um grande favor...

Yonagi pareceu estar pensativa sobre o que acabei de dizer, mas nada disse. E como não quis dizer mais nada, passei pela porta, fechando-a sem ver as expressões dos outros lá dentro.

Conforme caminho pelo corredor, minha mente foi se acalmando e a cada passo que dei, fiquei cada vez mais decidido que seguir este percurso é a melhor opção para mim.

E, desta forma, a competição para decidir oficialmente a disputa entre mim e Yonagi começou.



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