Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Capítulo 4: A Estratégia de Kumiko Horie ①

Depois daquele dia, resolvi deixar de frequentar o clube de artes por um tempo.

Alertei a Chinatsu que deveria se acalmar e assumir suas obrigações como tesoureira do Conselho Estudantil durante aquela semana, deixando que sua amiga Shiina cuidasse do clube.

Do jeito que as coisas estavam, quanto menos chamar atenção, melhor.

De uma semana para outra, minha mente ficou uma bagunça. Não podia me aproximar de Kumiko pela possibilidade de ela suspeitar sobre meus movimentos e estava apreensivo se deveria contar todo o ocorrido para Himegi e os calouros.

Entretanto, me recordei que aquela seria a semana marcada para a sessão caseira de filmes de terror. Por causa da apreensão de estar se relacionando cada vez melhor com seus membros, Yonagi permitiu que fizessem aquela alteração no cronograma.

Em vez de seguirmos com ficções, tomaríamos o rumo do terror! Kuroi era capaz de dominar a mente dos outros? Ela era o demônio do controle!

Yonagi era tão facilmente manipulável daquele jeito?

Depois de tudo o que havia acontecido no mês passado, Kumiko estava de volta com um plano novo em andamento. O fato de ninguém a estar criticando — ou querendo fazer algo a respeito — tornava as coisas piores pro meu lado do que a vez anterior. Se nem mesmo o grupo de Takahashi ouviria meus relatos e agora tinha o fator dela própria obter informações do Conselho Estudantil, o que alguém como eu poderia fazer?

Graças ao apelo de Chinatsu naquele dia, sabia que seu objetivo era tirá-la do cargo de tesouraria. Isso se o resultado deste plano não gerasse a expulsão da garota, até mesmo uma suspensão era algo fora de cogitação pela grandeza do problema.

Porém, parecia que Kumiko não estava fazendo aquilo para me atingir, já que aquele assunto não me era relacionado de forma alguma. Então, por que me sentia tão apreensivo daquele jeito?

Talvez deva ter desenvolvido algum tipo de senso de dever em combater Kumiko por qualquer atrocidade que queira fazer a todo momento?

Isso não combinava comigo.

Dado isso, não conseguia me concentrar nas atividades de classe e tampouco as do clube, o que pareceu chamar atenção de Yonagi e dos outros. Himegi me cutucou cautelosamente, cochichando:

— O que houve? Por que está assim?

— ... — fiquei sem saber o que responder, até reunir palavras: — Acho que estou num impasse e não sei o que devo fazer.

Pareceu que Himegi manteria a conversa, mas a porta da biblioteca se abriu e o grupo de Takahashi apareceu juntamente com Kumiko Horie, para minha infelicidade... aquela garota era uma maldição classe especial pra ficar me atormentando tanto?

— O que desejam, Takahashi e Kumiko? — perguntou Yonagi.

— Estou aqui para fazer uma pesquisa — disse Kumiko, agindo normalmente. — Espero poder contar com a compreensão de todos.

— Uma pesquisa? — indaguei.

— Sim. Estou fazendo uma enquete sobre o financiamento dos clubes. Takahashi, Nishimura e os outros estão me ajudando com isso.

— Presumo que esteja interessada sobre os custos deste clube, certo? — interveio Yonagi. — Mas... isso não é uma tarefa do Conselho Estudantil?

— Sim, é verdade — proferiu a garota. — Só que o responsável ficou doente e me pediu para fazer este favor.

Franzi o cenho.

— Bem, devo dizer que não tivemos nenhum tipo de gasto até agora... — explicou Yonagi. — Teremos a convenção de escritores daqui a duas semanas, mas este será um evento aberto e, portanto, não mudará nossa situação financeira.

— Entendo. Muito bem... — disse Kumiko, anotando em uma prancheta. — Era apenas isso. Desculpe o incômodo.

— Que coisa estranha, não é? — questionou Himegi. — Não imaginava que fosse tão próxima dos membros do Conselho Estudantil... não depois de ter causado tantos problemas, sabe?

Tive calafrios depois de ouvir essas palavras de Himegi, mas me contive. Não queria que Kumiko olhasse para mim naquele instante.

— Posso entender sua opinião sobre isso, mas só estou querendo ajudar alguém que precise...

Grunhi em silêncio.

— É bem louvável você querer ajudar o Conselho Estudantil, estou impressionada... — suspirou Yonagi.

— É um ótimo elogio vindo de você, Yonagi. Obrigada! — disse Kumiko, sorrindo gentil.

Ver aquela cena me deixou com um gosto amargo na boca, visto como Kumiko ainda odiava Yonagi, era uma atuação e tanto.

— Eu não disse pra você, Shiroyama? — indagou Takahashi. — Os atos passados tiveram suas consequências e houve mudanças.

Senti todos aqueles olhares em mim, enquanto Kumiko permanecia cabisbaixa. Estavam apreensivos com a minha opinião?

— Kumiko realmente mudou bastante... — comentou Nana, aparecendo naquele instante. — Nunca imaginaria que fosse querer ajudar logo o Conselho Estudantil, da qual sempre fugíamos por causa de nossas brincadeiras.

O comentário tirou uma salva de risadas dos presentes.

— Verdade, né? Nos metíamos em cada encrenca por causa das ideias de Takahashi... — expressou Kumiko.

— Ninguém pode dizer que não era criativo, ao menos...

— Estamos voltando a ficarmos próximos e é isso que importa, certo? — expressou Kuwasabe, surgindo ao lado de... Ota, acho que era esse seu nome.

— Sim, isso mesmo... — disse Himegi. — Que bom... eu acho.

— É, estou vendo... foi uma boa iniciativa, mesmo... — disse, desacreditado. — Por acaso, querem uma salva de palmas também?

— Shiroyama... — repreendeu Yonagi.

— O que foi? Não era isso o que esperavam que fosse dizer? — retruquei. — Minhas palavras e desconfiança soaram erradas pra vocês, não? O esperado seria reagir assim, não é?

— Você é muito exagerado... — disse Nana, enojada. — Por que ser tão desconfiado desse jeito?

— Bem, que seja. Era o tipo de reação que esperava que teria, sim — respondeu Takahashi. — O que importa é que todos estão vendo quem está certo e quem esteve errado nessa história.

— Pessoal... — expressou Kumiko.

Vi de relance Himegi mordendo os lábios, frustrada. No entanto, não disse mais nada.

— Desejam mais alguma coisa de nós? — proferiu Yonagi.

— Não, estamos de saída. Já atrapalhamos demais... — concluiu Kumiko, curvando-se rapidamente. — Obrigada pela cooperação.

— Até depois — Takahashi e os outros acenaram para nós e se retiraram do local.

— Acho que nunca vou me acostumar com isso... — expressou Teru, mexendo no colarinho. — Que sensação desagradável!

— Nunca imaginaria que Kumiko fosse ajudar o Conselho Estudantil. Parece bom demais para ser verdade... — comentou Kuroi, atormentada.

— O que mais me surpreende foi essa imposição deles... — resmungou Himegi. — Agora nós é que somos os errados?

Yonagi massageou suas têmporas, parecendo tão incomodada quanto todos os presentes.

— Parece que não tem jeito. Teremos que conviver com essa mania dela em querer se destacar nas coisas...

— E o que você pensa a respeito disso, Yonagin? — indagou Himegi. — Realmente achei que seria a primeira pessoa a questionar as ações daquela garota...

— Ela já me causou muitos problemas, Himegi — disse Yonagi. — Não pretendo ser aquela que causará pretextos em arranjar brigas com os outros, mas se for necessário... não a deixarei agir como queira se for pra nos prejudicar, principalmente contra mim mesma.

A intriga entre as duas já perdurava antes do ensino médio, explicada a mim pela própria Yonagi após a dissolução do clube de jornalismo. Não haveria como criar outro clube para se destacar na escola e, atualmente, esse título foi pego pelo clube de artes.

— Agora, Shiroyama... seus inimigos parecem estar crescendo, hein... — continuou Yonagi. — Quanta facilidade a sua de conseguir tal feito em pouco tempo, viu...

— Não enche — grunhi. — Todos eles não passam de um bando de clones agindo sob um mandante, pra mim. Devem ter enlouquecido de vez, isso sim.

Se fosse possível o fato do grupo de Takahashi terem virado Stormtroppers em auxílio dos Sith, então ainda havia a possibilidade de me tornar um Jedi e mudar aquela República! A Força está comigo!

— Mudando de assunto, combinamos que o dia do cinema será na sexta-feira para não termos nenhum imprevisto, certo? — comunicou Yonagi e os calouros comemoraram. Apenas me encolhi, submerso em meus pensamentos.

Kumiko Horie não estava fazendo tudo aquilo impulsivamente para querer chegar ao topo, como foi da outra vez. Pessoas ambiciosas não eram assim. Ela estava calculando tudo com grande perfeição, galgando os degraus rapidamente.

Nesse ritmo, não haveria um Tamer poderoso o suficiente para deter aquele Arcadimon de evoluir! Não tinha um V-dramon pra lutar contra aquela garota!

Por mais que estivesse agindo por conta própria, poderia apenas entregar estes dados para o Conselho Estudantil... não, esse não era o problema.

Era o que deveria fazer com aquelas informações. E outra, era o único que sabia que Kumiko mentiu sobre o responsável ter se comunicado com ela.

Ao término das atividades do clube daquele dia, todos saímos da biblioteca. Pela mente fervilhante, andava a passos lentos ao ritmo dos outros estarem se afastando exponencialmente. Ao vê-los conversando e rindo — reunidos —, deliberadamente tomei outra direção para chegar no hall antes de todos.

Aquilo havia se tornado cada vez mais constante, por sempre nunca ter o que dizer ou como começar uma conversa.

Para uma situação dessas, era melhor ficar longe.

Assim, ninguém precisaria tentar interagir comigo e, poderia continuar aliviado.

Precisar recorrer a essa alternativa todos os dias consumia cada vez mais meu coração, que pesava como chumbo. Com aquela angústia crescente, a vontade de querer interagir se tornava mais ínfima e longínqua exponencialmente.

Caminhei sozinho até a Estação Inagekaigan pra pegar o metrô e ir embora. Estava tão cabisbaixo que uma volta no monotrilho poderia até me animar, mas tomaria o percurso contra e sem razão...

Ao entrar na estação, me deparei com Chinatsu. Porém, antes que pudesse levantar a mão para chamar sua atenção, Kumiko Horie entrou na linha de visão.

Permaneci cabisbaixo. Não precisava ser um gênio pra saber que ela teria notado todos os alunos presentes, mais ainda a pessoa que mais odeia. Ou seja, eu.

Olhei os arredores e encontrei uma máquina de bebidas, perdendo o metrô que tinha acabado de chegar. A estação ficou deserta e, enquanto escolhia algo para beber cogitava na perda de tempo que teria até chegar o do próximo horário.

Agarrei a moeda, com força.

Por que me sentia daquele jeito?

Por que toda aquela insegurança me impedia de querer agir?

Fitava os sabores de bebidas como se procurasse aquelas respostas. Meus olhos bateram no cappuccino usual, mas meu estômago embrulhou no mesmo instante.

Minha visão cerrou, permaneci imóvel durante alguns segundos até fazer a escolha. A moeda entrou no compartimento e apertei a tecla, em que um barulho surdo ressoou abaixo da máquina. Me abaixei e toquei aquela lata quente de café amargo.

Fitei a lata preta, sem motivo. A abri e solvei um longo gole.

— Amargo... muito amargo...

Virei a lata rapidamente, tomando o resto do café de uma só vez. Soquei a parede mais próxima e rangi os dentes.

Aquela garota gostava de querer me enganar ou tinha ciência que me fazia pensar demais até nas ações mais insignificantes? Se soubesse, com certeza se deleitaria com tamanha angústia.

Preenchi minha mente com o sabor amargo do café, enquanto repetia a tortura de repassar aquele gosto pela garganta a todo momento.

Teria de aceitar que havia sido derrotado, e esse gosto era muito pior.

***



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