Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 1

Capítulo 2: A Insistência de Harashima Miyagi ①

Naquela noite trabalhei na redação sobre “Decisões para o Futuro” em que deveria apresentar um ponto de vista e explicar suas razões. Sério, isso estava parecendo aqueles livros de autoajuda do tipo “como se tornar um milionário” ou “10 passos para conquistar o emprego dos seus sonhos!” ... como se títulos feitos como esses poderiam ajudar alguém a conquistar os mínimos requisitos de sucesso como tantos desejam...

Mesmo assim, produzir redações do tipo por dia seria algo muito cansativo. A professora tinha me explicado depois que saí da biblioteca algumas coisas a mais: — Você terá que escrever redações com temas diversos todos os dias e conforme chegarem aos finais de semana escolheremos os melhores temas para serem publicados na semana seguinte. Entendeu?

— Entendi, é realmente uma rotina bem pesada... — disse descontente. Havia começado a planejar uma rotina própria, mas aquelas redações haviam tomado a frente do meu tempo livre, que frustrante.

— Vocês terão os feriados e os finais de semana livres. Não se preocupem quanto às redações já que não precisam ser tão longas.

— Este não é o problema aqui — retruquei, irritado. — O que está atrapalhando a situação atual são todas essas decisões. Isso não é um dever que apenas duas pessoas deveriam fazer. Não está havendo uma injustiça aqui?

— Eu só consigo ver alguém preguiçoso para trabalhar a cabeça! — rosnou a professora, apertando minha cabeça como se fosse uma noz. Ei! Eu realmente tenho um cérebro dentro dela!

Enquanto me desvencilhava das mãos de gorila daquela mulher, ela parecia perdida em seus pensamentos.

— Diante dessa situação só as pessoas capazes podem fazer algo para resolver este problema.

— Eu posso ter mesmo problemas de comunicação, mas esta situação toda não parece ser um bando de gente que não sabem ao menos procurar entender uns aos outros?

— Nesse caso, é o mesmo senso da qual queria mencionar antes — suspirou a professora. — As pessoas querem se mostrar capazes com tudo o que têm e por isso não hesitam ao pisar em cima das outras.

— “Capazes”, hein? — disse, exasperando. — Isso é apenas um sinônimo para “responsáveis”. A questão não é ser capaz e sim ter responsabilidade para assumir os riscos e ter noção de sua própria capacidade para seguir isso até o fim.

Se eles achavam que ser alguém da elite era agir daquele jeito, estavam muito enganados.

— Yonagi é uma pessoa que assume as responsabilidades que surgem até si e as exerce elegantemente — continuou a professora conforme me acompanhava até a entrada do outro prédio.

— Ela é um ser tão incrível que chega a me assustar — falei, suando frio. — Sinto como se ela estivesse distante de qualquer outra pessoa que conheci aqui...

— As pessoas evitam de querer falar com ela por causa de suas próprias mentes ignorantes — A professora deu de ombros. — Por isso que as coisas nunca são como aparentam ser.

Concordava com sua opinião, mas realmente sentia que aquela garota se mantinha afastada do resto do mundo. Se ela era realmente considerada como uma das melhores dali, não era exagero compará-la com Netuno dada sua personalidade.

— Bem, voltando ao assunto — continuou a professora. — Como você quer que as pessoas te reconheçam pelas suas ações, fazer os dois trabalharem juntos te trará uma experiência melhor do que significa cooperar com pessoas que saibam usar de suas utilidades.

— Não importa como eu veja isso, minha posição nesta situação é a de apenas um subordinado! Mesmo assim... não vou largar desse osso já que fui envolvido — disse, lembrando da parte do clube de jornalismo. — Não sei como está a questão do outro clube, mas não deve ser das melhores. Seja como for só precisarei tirar o meu próprio benefício neste fogo cruzado para subir meu status.

Acho que a minha frase triunfante teve um efeito contrário do que esperava. A professora Harashima me fitou com um rosto enojado.

— Você realmente não sabe como se comunicar com os outros... — após um suspiro de decepção, parou um pouco como se lembrasse de algo naquele momento — Por acaso, você não tem namorada, certo? Eu o vi interagindo quase normalmente com Yonagi.

— Que tipo de pergunta é essa? Claro que não... — retruquei, confuso.

— Ora, mas que estranho... — disse a professora. — Diferente de como você age, pessoas tímidas realmente não conseguem formular frases inteiras com pessoas desconhecidas. Ainda mais com o sexo oposto.

Como esperado da professora de ciências sociais..., mas não precisava de uma definição técnica sobre ser alguém tímido, sabe?

— Você realmente não travou nenhuma vez quando foi falar com ela?

— Você, hein... em primeiro lugar mal consegui falar com ela direito, não parava de gaguejar... — grunhi, balançando as mãos. — E em segundo lugar o que discutimos foi um choque entre ideais. Um diálogo de negócios ou uma discussão de ideias é algo perfeitamente normal para mim, seja com qualquer pessoa. Mesmo que tenhamos que agir juntos, ainda fica estranho dois desconhecidos trabalhando por algo em comum...

— Bom, agora é muito cedo para se dizer algo — respondeu a professora. – Mas, já que você está tão preocupado com ela acredito que isso deva servir de consolo para que não queira sair da situação.

Por que eu disse aquilo?!

Depois daquilo apenas me virei e fui embora deixando a professora rindo da minha resposta. Aliás, permaneci nervoso mesmo após ter chegado em casa. Queria poder não ir para a escola amanhã, simplesmente.

Finalizei minha redação antes de dormir e no dia seguinte estava com as olheiras novamente por causa de toda aquela apreensão e não tive como observar o céu de madrugada por estar coberto de nuvens. O título de “zumbi escritor” parece que ficou permanente. Droga, ao menos me deixem escolher meu próprio apelido!

Enquanto ignorava as brincadeiras de Takahashi e seu grupo durante as aulas, permanecia sozinho. Brincava com o lápis em meus dedos pensava no que iria escrever na próxima redação do clube.

Por mais que aquilo fosse algo desgastante realmente gostava de escrever. Talvez devesse escrever livros de autoconhecimento ou só procurar alguma editora e apresentar ideias para Light Novel.

Ainda tinha mais uma carta na manga para atrair mais reconhecimento próprio. Porém, com toda aquela situação não tinha mais tempo para mais nada senão ficar pensando sobre os temas das redações e de lidar com aquela carga alta de atividades.

Geralmente tinha ideias rapidamente, mas temas abertos como “Discute seu Futuro” eram pouco delimitados e mais chatos de se elaborar. Aliás, colocar coisas assim no jornal da escola não deveria ser uma das razões para aquilo ter se tornado tão desvalorizado?

— Será que vou aguentar este ritmo por todo esse ano?

Enquanto divagava o sinal do último período das aulas havia soado. Guardei as minhas coisas e avancei para os corredores, mas não iria de imediato para a biblioteca desta vez.

De acordo com a professora quando terminasse uma redação deveria entregar pessoalmente no clube de jornalismo. Fui até o mural em que se encontrava a localização de todos os clubes para saber onde ficava o meu alvo. Conforme caminhava ficava apreensivo se iria me encontrar com Yonagi pelo caminho.

Veja, este é um pensamento comum para pessoas que são mais introvertidas ou tímidas como eu. Quando se está na escola ou fora dela, pessoas como nós tendemos a não quererem ser reconhecidos por pessoas que nos conheçam e não tenhamos um relacionamento firme.

Eu sempre gostei da atmosfera que exalava de desconhecido. Você não era incomodado e os outros não te olhavam de volta, era algo perfeito.

Como ainda estava um pouco perturbado pelas falas da professora Harashima, não queria que alguém visse nós dois juntos. Ou apenas não queria que as pessoas pensem: ­— Nossa, ela está andando com alguém como ele?

Por conta deste cuidado anormal olhava atento aos corredores, mas não via nenhum sinal daquela garota ou de alguém conhecido da classe (ao menos que me recordasse do rosto). Um alívio gratificante cresceu dentro de mim.

Havia chegado até a porta do clube de jornalismo. Bati na porta umas duas vezes.

— Hum... olá. Sou do clube de literatura. Vim entregar a redação para vocês.

— Pode entrar — disse a voz que estava dentro. Ao abrir a porta, me deparei com uma sala cheia de folhas de jornal por todos os lados e os alunos tentando conter a impressora. A lousa da sala estava toda rabiscada com planejamentos de data e modelos para o jornal.

Resumindo, estava tudo uma bagunça.

— Ah, você deve ser novo! — proferiu uma das garotas que estavam ali, tinha uma aparência muito bonita. Seu cabelo claro enrolado e seu uniforme estavam desarrumados. Quando percebi que estava corando por olhá-la soltei um pigarro e estendi a redação que estava em minha mão. — Porque está de máscara? Está se sentindo mal?

A garota me fitou preocupada e me deixou mais corado.

— Ah, não... só não estou muito disposto. Aqui estão as redações.

Dei uma resposta rápida e entreguei a papelada sem tentar encarar muito o decote daquela garota animada.

— Bom, vou aparecer aqui todo dia para entregá-los. Conto com vocês, então.

— Certo, obrigada! — agradeceu ela. — Ah, a propósito... sou a presidente do clube, Senjou Hana! Estou no terceiro ano, então se tiver algo que precise é só falar!

— Ah, certo! Sou do segundo ano, vim por transferência. Me chamo Shiroyama Hideo. É um prazer — disse, me curvando rapidamente. Após a minha apresentação notei olhares de algumas pessoas daquela classe virados para mim, não eram apenas olhares de pessoas que estavam conhecendo alguém.

Eram olhos de repulsa e apreensão.

Estreitei meus olhos frustrados e tentei agir normalmente, apesar disso.

— Transferência, hein? — murmurou Senjou. Aquilo havia me deixado um pouco surpreso, mas decidi ignorar aquela expressão.

— Não há muitos alunos transferidos nesta escola, por isso a nossa surpresa — explicou um garoto de cabelo rasos e óculos, que se aproximou de nós.

— É surpreendente que você tenha entrado em um clube como o de literatura — comentou uma garota de longos cabelos castanhos escuros. — Ser submetido às vontades de Yonagi deve ter deixado você com os cabelos em pé!

— Verdade, né. O preço disso é ele estar nesse estado, provavelmente! — debochou outra garota de cabelos curtos. Ela e os outros dois deram altas risadas do seu comentário.

Inclusive, havia sido deles aqueles olhares irritantes.

— Bom, espero que gostem da redação. Eu cheguei agora e sei que tenho muito a aprender, mas conto com vocês — expressei, mudando as expressões dos que estavam ali com uma resposta sensata. Dito isso, me curvei novamente e sai daquela sala.

Caminhava mais rápido e o mais naturalmente possível.

Meu desejo era se afastar daquele lugar o mais rápido possível. Pude sentir aquela pressão em cima de mim, quase cogitava em me alojar na biblioteca! Montaria uma barricada para permanecer protegido daquele bando de carniceiros! Eles eram zumbis caçando cérebros ou apenas eram débeis intrigando os outros?

Enxerguei perfeitamente o que se passava na mente daquelas pessoas: — Chamaram um calouro para assumir o nosso lugar daquele clube! —, — Colocaram um novato convencido! —, ou ainda: — Deve ter se destacado mesmo sendo inexperiente!

Após ter me distanciado o bastante, soltei o fôlego com mais calma.

Agora compreendia a situação em que fui envolvido.

Era um verdadeiro campo de batalha.

— Aquela garota estava lidando com tudo isso sozinha?

Meu coração não parava de bater e parecia que estava tentando de tudo para sair do meu corpo e não voltar nunca mais. Ei, não faça isso! Fique aí!

Porém, os que estavam me olhando torto aparentavam ser alunos mais velhos e os que me olhavam confusos eram os calouros, pelo que supus. Não me parecia que todos fossem alunos do terceiro ano, apenas Senjou Hana deveria ser. Ao menos era o que esperava... chamar aquelas pessoas de veteranas só poderia ser considerado um erro.

— Aposto que não esteja sendo o único sendo pressionado em lidar com um problema que não seja meu, então...

Já que havia cumprido com o dever teria que ir para a biblioteca.

Fala sério, morram todos.

— Acham que isso é o bastante para me amedrontar? — disse a mim mesmo, ajustando a gravata do uniforme.



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