Volume 5
Capítulo 5: Preparativos para a Despedida
Quase uma semana se passou desde o incidente do vídeo, e sábado chegou.
“Akihito-kun, estou pronta,” — anunciei.
Estávamos prestes a ir para a Prefeitura de Hiroshima. Akihito-kun precisava discutir algo com Kannagi-kun e, apesar de seus protestos, insisti em me juntar a ele, preocupada com sua segurança.
“Você vem mesmo?” — perguntou Akihito-kun, com a voz carregada de preocupação. — “Pode ser perigoso...”
“Isso também vale para você.” — Retruquei. — “Na verdade, acho que é mais perigoso para você.”
“Mas a Emma-chan está vindo conosco...”
“Isso—”
Antes que eu pudesse responder, meu smartphone vibrou. Olhando para a tela, vi que era minha mãe me ligando.
“É da minha mãe...” — murmurei.
“Atenda.” — Disse Akihito-kun gentilmente. — “Eu vou cuidar da Emma-chan.”
Ele se aproximou de Emma, que cochilava no sofá com seu corpo minúsculo meio encolhido de sono. Nossa conversa teria que esperar.
“Bom dia, mãe.” — Respondi, dando um passo para o lado.
“Bom dia, Lottie. Você está bem?” — Sua voz era calorosa, familiar, mas carregava o peso de semanas passadas separadas. Ela provavelmente não fazia ideia de como as coisas haviam se desenrolado desde então.
“Estou bem. Mas e aí?”
“Desculpe, mas você pode vir agora? Tenho algo importante para discutir.”
“Algo importante...?” — Minha curiosidade aguçou. — “Não podemos conversar por telefone?”
“Prefiro discutir isso pessoalmente.”
“Mas tenho planos para hoje, no entanto...”
“Se quiser ficar com ele, venha aqui agora mesmo.”
Eu congelei, um suspiro agudo escapando dos meus lábios. Eu não tinha contado a ela sobre o namoro com Akihito-kun. Quando deixei Emma com ela, eu só tinha mencionado sair com os amigos. Será que a escola a contatou sobre o incidente do vídeo...?
“O que houve? Você não quer ficar com ele?”
“Ah, hum...” — Minha garganta se apertou, as palavras me faltando. Se ela soubesse que estávamos morando juntos, tentaria nos separar? O pensamento me envolveu como uma sombra fria.
De repente, braços gentis me envolveram por trás.
“Akihito-kun...?” — Sussurrei, assustada.
“Vá vê-la.” — Ele murmurou, sua voz tão suave que minha mãe não ouviria pelo telefone. Ele sabia que meus ouvidos aguçados captariam suas palavras. — “Eu vou ficar bem.”
“Mas...”
“Seria pior se você brigasse com sua mãe sem necessidade. Por favor, vá.”
Akihito-kun já estava lidando com os problemas do conglomerado Himeragi e as calúnias daquele vídeo. Eu não podia adicionar nossos problemas familiares ao seu fardo.
“Eu entendo…” — Cedi, com a voz baixa. —“Mas, por favor, tome cuidado, okay...?”
“Claro.” — Ele me assegurou. — “É no hotel da sua mãe? Eu te levo lá.”
“Mas você vai perder o seu encontro com o Kannagi-kun...”
“Tudo bem. O Riku vai entender. Vamos.”
Akihito-kun sempre me colocava em primeiro lugar, se importando tão pouco com a própria segurança — como se isso mal importasse para ele. Essa indiferença me assustou mais do que eu poderia dizer.
Depois de encerrar a ligação com a minha mãe, enviei uma mensagem rápida para alguém por um aplicativo de bate-papo. Então, com Akihito-kun e a Emma sendo carregada, saí de casa.
◆◆◆
“Bem, então, tenha um bom momento com sua mãe.” — Disse Akihito-kun, acenando com um sorriso caloroso. — “Te vejo mais tarde, Emma-chan.”
Pegamos um trem e um ônibus para o hotel internacional, um símbolo imponente de luxo. Mas quando ele se virou para sair, a mãozinha de Emma-chan agarrou suas roupas.
“Onii-chan, você não vai conhecer a mamãe...?” — Perguntou ela, com a voz cheia de esperança.
Emma adorava a sua mãe. Embora a mãe estivesse hospedada no hotel agora, de volta da Inglaterra, elas eram inseparáveis. Emma devia querer exibir a mãe para Akihito-kun, orgulhosa da mulher que a criou.
“Desculpa, Emma-chan.” — Respondeu Akihito-kun gentilmente. — “Ainda não posso conhecê-la.”
Não sabíamos o quanto a mamãe sabia sobre ele ou o que pensava dele. Os pais sempre querem proteger os filhos, e com a reputação manchada de Akihito-kun — alimentada por boatos que, embora falsos, eram tratados como verdade por aqueles que não o conheciam — um passo em falso poderia levá-la a tentar nos separar. Eu não suportava a ideia da minha mãe olhando para ele com olhos frios e críticos.
“Muu...” — Emma fez beicinho, suas bochechas inchando.
“A gente se encontra depois.” — Eu disse, dando um tapinha em sua cabeça para acalmá-la. — “Seja paciente até lá. Vamos ver a mamãe agora.” — Ofereci a Akihito-kun um sorriso reconfortante. — “Volte em segurança, okay?”
“Haha...” — Ele riu baixinho, como se minhas palavras o tivessem pego de surpresa. — “Nunca pensei que ouviria isso na vida real. Vou ficar bem, prometo que volto. Até mais.”
Com um último aceno, Akihito-kun se afastou, sua figura disfarçada por um chapéu, óculos de grau e uma máscara. Ele ficará bem... ou assim eu disse a mim mesma, rezando silenciosamente por seu retorno em segurança.
Assim que ele desapareceu de vista, entrei no saguão imponente e luxuoso do hotel. Desde que cheguei ao Japão, minha mãe morava ali, cercada por sua decoração suntuosa.
Quando cheguei ao quarto dela, vozes fracas ecoavam pela porta.
“—Por que aquele garoto sempre se mete em encrencas...? Se ele pudesse ter ido com a Onee-sama naquela época, não teria enfrentado tanto infortúnio…”
A voz era calma, refinada e clara — provavelmente de uma garota da minha idade.
“Não acho que isso seja necessariamente verdade. A Kanon-chan foi boa para ele, afinal.”
Meu coração disparou ao ouvir o nome Kanon-chan. Era inconfundivelmente a voz da minha mãe. Uma coincidência...?
“Compartilho a opinião da Presidente Bennett. No mínimo, estar com a Ojou-sama deve ter sido uma felicidade para ele. A culpa é inteiramente—”
Uma terceira voz, baixa para uma mulher, interrompeu. A Presidente Bennett...? Minha mãe, uma presidente? Ela nunca havia mencionado nada parecido.
Embora... eu não tivesse contado ao Akihito-kun, mas lá na Inglaterra, morávamos no último andar de um apartamento de luxo. Este hotel também transbordava extravagância, cada detalhe exalando riqueza. Eu sempre soube vagamente que éramos ricos, mas será que a mãe poderia mesmo ser presidente de uma empresa...?
Perdida em meus pensamentos confusos, mal percebi que a mulher de voz grave havia se calado.
“Você está aqui,” disse uma voz quando a porta se abriu, me trazendo de volta à realidade.
Uma mulher, mais ou menos da idade de Hanazawa-sensei, estava diante de mim, vestida de empregada doméstica, com o olhar fixo no chão.
—Uma roupa de empregada doméstica...? Uma empregada!?
“Kaguya, calma. Seu olhar pode assustá-la.” — Foi uma advertência gentil.
Enquanto eu permanecia cativada pela empregada, a mulher sentada em frente à minha mãe ofereceu um sorriso irônico. Ela se levantou com uma postura graciosa, aproximando-se de mim com passos elegantes. Seus longos cabelos negros e lisos caíam em cascata pelas costas, sua pele tão clara quanto a minha, sua expressão gentil, porém imbuída de um ar digno — uma verdadeira Yamato Nadeshiko.
“Prazer em conhecê-la, Charlotte-san.” — Disse ela calorosamente. — “Sou grata à sua... mãe.”
A Yamato Nadeshiko curvou-se com uma graça refinada, e eu retribuí o gesto apressadamente.
“Sou Charlotte Bennett. Obrigada por sempre cuidar da minha mãe.” — Respondi, embora um leve desconforto me percorresse. Sua saudação... teria ela evitado deliberadamente revelar seu nome? E com uma criada a tiracolo, ela devia ser uma dama de alta posição.
...Uma criada...
Meu olhar se voltou para a criada alta, tranquila e incrivelmente bela. Uma criada de verdade! Será que eu poderia pedir para tirar uma foto com ela? O pensamento me arrepiou — diante de uma criada que supostamente servia famílias da elite, minha excitação era incontrolável. Criadas, afinal, eram seres maravilhosos, saídos diretamente de mangás e animes.
“Parece que ela está mais interessada em você do que em mim.” — Comentou a Yamato Nadeshiko com um tom provocador.
“A roupa de criada deve ser novidade para ela.” — Respondeu a criada suavemente. — “Além disso, ela parece gostar bastante da cultura japonesa. Então, por favor, não fique de mau humor, Ojou-sama.”
“Eu não estou de mau humor.” — Bufou Yamato Nadeshiko. — “Não, não estou pensando em nada parecido com ser ofuscada pela minha irmã, de jeito nenhum.”
“Você claramente está pensando exatamente isso...” — murmurou a empregada, com uma expressão preocupada no rosto.
Os lábios de Yamato Nadeshiko se curvaram em um leve sorriso enquanto brincavam. Irmãs? Isso significava que ela era a irmã mais velha da empregada? Mas elas não se pareciam...
“Ah, bem. Charlotte-san.” — Disse ela, virando-se para mim.
“S-Sim!?” — Gritei, assustada com a resposta repentina depois de escutar tão atentamente.
“...Você tem olhos claros e lindos.” — Disse ela suavemente, seu olhar fixo no meu.
Por algum motivo, suas palavras tinham peso. “As coisas devem estar difíceis, mas continue firme. Estamos cuidando de você pelas sombras.”
Yamato Nadeshiko-san...?
“Ojou-sama.” — Interrompeu a empregada, com um tom de reprovação ao observar o sorriso solitário de Yamato Nadeshiko.
“Certo.” — Respondeu Yamato Nadeshiko. — “Bem, então vamos nos despedir. Adeus.”
Ela apertou as pontas da saia e fez uma reverência graciosa. Ao se endireitar, seus olhos encontraram os da minha mãe, e uma compreensão silenciosa pareceu se estabelecer entre elas. Então...
“Anjinha-chan, adeus.” — Disse ela, acenando gentilmente para Emma, aninhada em meus braços.
Emma, timidamente pressionando o rosto contra meu peito, hesitou antes de retribuir um pequeno aceno, talvez tocada pelo sorriso gentil. A expressão de Yamato Nadeshiko se suavizou de alegria.
“Sophia-sama, Charlotte-sama, Emma-sama, com licença.” — Disse a empregada, curvando-se antes de abrir a porta e seguir sua patroa para fora.
Embora perguntas girassem em minha mente, não senti nenhuma hostilidade por parte delas. Acima de tudo, elas não pareciam ser pessoas más. Mas este encontro... não podia ser mera coincidência.
“Não fique aí parada.” — A voz da mãe interrompeu meus pensamentos. — “Por que você não se senta? Venha aqui, Emma.”
“Nn...!” — Emma se contorceu em meus braços, ansiosa para se mexer.
Com medo de que ela caísse, coloquei-a delicadamente no chão, e ela correu até a mamãe com passos rápidos.
“Mamãe...!”
“Você veio, Emma.” — Disse ela calorosamente, colocando Emma no colo com um sorriso terno que lembrava o de Akihito-kun.
Eu não conseguia ler seus pensamentos. Sentando-me à sua frente, perguntei sobre as duas mulheres antes de me aprofundar no assunto principal. Se minhas suspeitas estivessem corretas, havia muito que eu precisava entender.
“Quem eram aquelas duas?”
“Não posso te contar agora.” — Respondeu minha mãe, com um tom firme.
“Você está se encontrando com pessoas com quem nem pode contar para sua filha?” — Insisti.
“São colegas de trabalho.” — disse ela, redirecionando a conversa. — “Mais importante, liguei para você sobre o vídeo que circulou. Você pode explicar a situação?”
Como esperado, a escola deve ter entrado em contato com ela. Ela estava usando isso para se esquivar das minhas perguntas.
“O vídeo foi só algo que um aluno gravou e postou online. Não é como se tivéssemos feito alguma coisa. Mas eu quero saber sobre aquelas duas.”
“Não importa o que você pergunte, eu não vou falar sobre elas.” — Disse ela, inflexível.
“Por quê? Sua filha está preocupada e perguntando.”
“Não é algo com que você precise se preocupar.”
Sua recusa foi absoluta. Seu olhar, fixo em mim, não era o de uma mãe para sua filha.
“Mamãe...? Lottie...?” A vozinha de Emma tremia, seus olhos se movendo de uma para a outra, sentindo a tensão.
Isso não ia dar certo. Eu precisava manter a calma para obter respostas.
“Está tudo bem, Emma.” — Eu disse, oferecendo-lhe um sorriso tranquilizador antes de respirar fundo e encarar minha mãe novamente.
“Você, mãe, tem ligações com o conglomerado Himeragi?” — Perguntei diretamente, observando sua reação.
“Hehe, não importa o que você pergunte, eu não vou responder.” — Disse ela, desviando-se com um sorriso brincalhão.
Aquilo foi uma confirmação indireta ou eu só esperava que fosse? Ou talvez... algo mais?
“Mais importante, Lottie,” — ela continuou — “você vai voltar para a Inglaterra, então o que planeja fazer ao arrumar um namorado no Japão?”
“...!” — Sua mudança inesperada para um assunto que eu havia enterrado profundamente me pegou de surpresa, e eu ofeguei.
“Não pode responder?” — Ela provocou.
“Eu... eu quero ficar com o Akihito-kun. Eu quero ficar no Japão.” — Admiti, com a voz embargada.
“Quer dizer que quer se casar com ele?”
“Eh!?” — Sua pergunta direta fez meu rosto arder. Eu estava me preparando para objeções práticas, não para isso.
“Querer ficar junto significa querer se casar, não é?” — Ela insistiu.
“É... é verdade, mas...” — Assenti, com minhas bochechas queimando de vergonha. O que eu estava dizendo para minha mãe?
Mas a expressão da minha mãe se suavizou. “Entendo... Ouvir essas palavras já basta.” — disse ela, com um sorriso gentil.
“Mãe...?”
“Desculpe, ainda não posso te contar sobre essas duas. Temos nossas próprias circunstâncias.”
Suas palavras soaram sinceras, e eu não consegui insistir.
◆◆◆
“Por que você está aqui…?” — Perguntei, com um sorriso irônico nos lábios ao avistar uma figura inesperada depois de me despedir de Charlotte-san e ir para a estação.
“Desculpa, a Charlotte-san me pediu para vir.” — respondeu Shimizu-san, exibindo um sorriso exagerado de “tehe”.
Charlotte-san… eu entendia a preocupação dela, mas tudo bem eu ficar sozinho com outra garota? Normalmente, ela ficaria com ciúmes ou pelo menos um pouco chateada. Ela confiava tanto em Shimizu, ou havia outro motivo para ela se sentir segura? De qualquer forma, eu gostaria que ela tivesse me consultado. Se tivesse, eu teria recusado na hora. Ela provavelmente sabia disso e ficou quieta… “É seu dia de folga; tudo bem…?” — Perguntei.
“Bem, você vai ver o Riku, certo?”
“Sim, mas...”
“Então é melhor eu estar lá. Aliás, se a Charlotte-san não tivesse me contado, eu não teria te encontrado. Esses óculos falsos combinam com você. Meio intelectual.”
Ela estava brincando, ou era sério? Eu deveria pelo menos ter contatado o Akira... Estar sozinho com a Shimizu-san era terrivelmente constrangedor. Guiado por ela, fui encontrar o Riku.
“Heh, traindo?” — Riku, esperando disfarçado no parque, sorriu e disse algo ultrajante.
“Por onde eu começo?” — Murmurei, com uma dor de cabeça se formando.
“Hm? Ah, o disfarce? Eu também sou meio famoso, principalmente por aqui, então é arriscado.” — Disse Riku, puxando as roupas orgulhosamente para explicar sua roupa.
Não, não era isso.
“Seus disfarces são os mesmos...” — Apontou Shimizu-san, notando que o chapéu, os óculos e a máscara de Riku combinavam perfeitamente com os meus.
“Não nos faz parecer irmãos?” — Brincou Riku.
“Então você escolheu deliberadamente um disfarce que o Aoyagi-kun usaria.” — disse ela, com o tom ríspido.
“Haha.” — Riu Riku, ignorando a provocação.
É, isso me arrepiou.
“Tudo bem, esqueça as roupas.” — Eu disse. — “Mas se você não quer atenção, sua casa não seria melhor?”
“Do que você está falando? Se fizéssemos isso, meus pais surtariam achando que a Arisa trouxe o namorado, e seria um incômodo.”
Eu nunca tinha conhecido os pais de Riku, mas, dada a personalidade dele, parecia plausível.
“A família toda provavelmente se reuniria e cozinharia arroz vermelho. Não, obrigada.” — acrescentou Shimizu, meio brincando, antes de responder sem rodeios.
Parecia que era mesmo isso. Ainda bem que não fomos à casa do Riku. Tirando isso... cozinhar arroz vermelho? Isso significava que Shimizu nunca teve namorado? Ela parecia tão à vontade com os caras.
[No Japão, o "arroz vermelho" é o Sekihan (赤飯), um prato tradicional feito com arroz glutinoso (mochigome) e feijão azuki, que lhe confere a cor vermelha vibrante. O Sekihan é servido em celebrações como aniversários e casamentos, pois a cor vermelha simboliza felicidade e a presença do feijão é associada a afastar maus espíritos.]
“Então não venha com essa de traição, Riku.” — Eu disse.
“Desculpe, desculpe. Então, qual é o assunto?”
O sorriso de Riku permaneceu, mas seus olhos estavam sérios, indecifráveis como sempre. Shimizu-san recuou alguns passos, sinalizando que não participaria da conversa, observando o ambiente ao redor para que eu pudesse me concentrar em Riku.
“Primeiro, deixe-me responder à sua oferta anterior. Vou ter que recusar.”
“Ah~?” — O interesse de Riku aumentou.
Ele provavelmente já esperava por isso. Parecia até mais curioso sobre o que viria a seguir.
“Você não veio até aqui só para me recusar, né? Você é um cara zeloso, mas resolveria algo assim por telefone. Então, depois de recusar minha oferta, que tipo de conversa você estará trazendo?”
Seu sorriso tinha um tom provocativo, aplicando uma pressão sutil. Era uma reação natural, eu supus.
“Você provavelmente já sabe, mas um certo vídeo gerou muita difamação sobre mim nas redes sociais. Preciso da sua ajuda para impedir isso.”
“Você recusa minha oferta, mas pede minha ajuda? Não é um pouco egoísta?” — disse Riku, com o sorriso inabalável enquanto me observava.
“Eu sei que é. Mas, neste momento, há algo em que não posso abrir mão.”
Eu não estava cego à ironia de recusar o pedido dele enquanto fazia o meu próprio. Mas, no que importava, eu não podia me importar com as aparências.
“Então, este é um pedido como amigo.”
“...Hmm, um amigo, hein?” — Riku refletiu, com a mão na boca, me olhando como se estivesse testando minha determinação.
Então—
“Você entendeu, não? Ajudar um amigo não precisa de um preço.” — Disse ele, abaixando a mão com um sorriso largo.
Parece que tomei a decisão certa.
“Desculpe pelo incômodo.”
“Tudo bem. Eu estava esperando por este dia.”
“...?”
“Haha, você parece confuso. Ainda não ouvi os detalhes, mas isso não é só para apagar o fogo, é?”
“...Dá para perceber?”
“Mais ou menos. Para resolver isso, temos que fazer algo. Você está pronto para se tornar um inimigo dos Himeragi, não é?”
Como Riku disse, meu plano para acalmar esse alvoroço significava começar uma briga com o conglomerado Himeragi.
“É, é isso mesmo. Para proteger o que é importante, decidi me tornar um demônio ou diabo se for preciso.”
“Mesmo que você deva a eles, você está se curvando contra eles, hein. Honestamente, eu não tinha certeza se alguém tão dedicado quanto você faria essa escolha.”
Não tinha certeza? Parecia que ele tinha ouvido de outra pessoa, não de seu próprio julgamento...
“Ainda bem que meus preparativos não foram em vão.”
“Preparativos...? Você disse algumas coisas que estão me incomodando...”
“Ah, é verdade. Comecei a aparecer ativamente na mídia para ser útil quando você se decidisse. Três anos atrás, eu não conseguia fazer nada.”
Isso era novidade para mim.
“Você odiava a mídia, mas tem aparecido bastante. Foi por isso... Mas por que ir tão longe?”
Riku não era um amigo de infância nem um companheiro de equipe. Só ficamos assim porque ele continuava se aproximando de mim e conversávamos com frequência. Ele não deveria ter se importado comigo depois que parei de jogar futebol...
“Você provavelmente não sabe, mas... você é a razão pela qual eu pude mudar e estar onde estou agora. Sem te conhecer, eu ainda seria um atacante egoísta, jogando sozinho, dependendo da habilidade individual.”
Riku olhou para o céu, perdido em memórias.
“Eu estava cheio de mim. Achava que era o melhor e que, se todos se movimentassem por mim, venceríamos. Provavelmente foi por isso que não fui escolhido para a seleção.”
É verdade que, na nossa partida do sexto ano, Riku se destacou no time adversário, mas não foi difícil de lidar. Ele raramente passava, não agia como isca e mal corria, mantendo-se na frente com defesa mínima. Eu o considerava egoísta. Mas, na nossa partida do sétimo ano, ele estava diferente — pressionando os adversários, ganhando tempo para a defesa e criando espaço para outros atacantes. Essa mudança, por si só, causava o caos. Aparentemente, me encarar foi o gatilho para essa mudança.
“Nunca pensei que um cara cotado para carregar a seleção japonesa diria algo assim…”
“Não sei como você se sentiu, mas sou grato a você.”
“Não é como se eu tivesse feito isso por você…”
Foi apenas estratégia — mirando nas fraquezas dele para vencer. O crescimento dele foi obra sua, fruto de sua personalidade e mentalidade. Eu não tinha feito nada de especial.
“Isso não muda o fato de você ser a razão de eu estar aqui agora. É por isso que me arrependi de não poder ajudar quando você estava encurralado. Me movi para estar pronto para o dia em que você rompesse com os Himeragi.”
Os olhos de Riku ardiam de determinação. Ele não estava mentindo. Ele havia se tornado um influenciador com fãs por todo o país.
“Essa era a outra questão. Como você sabia que eu romperia com eles? Você disse que tinha quase certeza, então alguém te contou?”
“Três anos atrás, A Ojou-sama dos Himeragi me contou. Ela disse que chegaria o dia em que você Akihito, enfrentaria seu destino e me pediu para ajudá-lo.”
“A Kanon-san...?”
O nome inesperado me fez parar, com a mão na boca. Fazia sentido — Riku conhecia Kanon-san de quando ela estava sempre perto de mim. Como ele visitava com frequência, eles se encontravam com frequência.
“Ela é sua maior aliada, desejando sua felicidade. Isso não mudou.”
“...Sim.”
Acenei com a cabeça para o sorriso gentil de Riku. Kanon-san fazia parte dos Himeragi, mas eu não a via como inimiga. Posso tê-la chateado naquela época, mas ela sempre foi gentil. Decidi confiar nela novamente.
Depois disso, expus nosso plano para Riku.
“—Entendo, voltando a atenção das redes sociais contra eles. Conte comigo.”
Eu havia garantido o acordo com ele.
◆◆◆
No dia seguinte, domingo, do lado de fora de um certo café—
“Você tem muita coragem de aparecer.” — Disse uma empregada, me encarando como se eu fosse um verme.
[Almeranto: Os Himeragi e seus relacionados realmente odeiam nosso menino Akihito, menos a Kanon-san.]
O nome dela era Kusanagi Kaguya-san, de uma família que servia os Himeragi há gerações. Ela era a dedicada criada de Kanon-san desde a infância, provavelmente na idade de Miyu-sensei. E eu era péssimo em lidar com ela. Aliás, eu já tinha ligado para ela.
“Obrigada por reservar um tempo hoje. A Kanon-san já está aí dentro?”
“...Você ficou um pouco mais apresentável.” — Disse Kaguya-san, com um tom inexpressivo e desinteressado, enquanto abria a porta do café.
Isso devia significar que Kanon-san estava lá dentro. Eu estava nervoso, mas bem menos do que esperava. Achei que Kaguya-san seria o maior obstáculo, mas ela me deixou passar facilmente.
Um funcionário conhecido me guiou para dentro. Kanon-san adorava aquele café; vínhamos aqui com frequência. Provavelmente foi por isso que ela o escolheu. Conforme me aprofundava mais—
“—Você cresceu, Akihito.” — Disse uma mulher, mais madura do que eu me lembrava, sorrindo de seu assento.
Era Himeragi Kanon-san, que se considerava minha irmã mais velha desde a infância. Mesmo no ensino fundamental, alguns a chamavam de Yamato Nadeshiko, e agora, adulta, ela realmente personificava esse ideal. Não nos víamos desde a formatura dela no ensino fundamental — cerca de três anos atrás.
“Faz um tempo, Kanon-san. Você ficou ainda mais bonita.” — Eu disse.
“Hehe, e pensar que o Akihito consegue fazer elogios agora. Que crescimento.” — Ela provocou.
Não era bajulação, apenas gentileza. Normalmente, eu não diria isso, mas estava agindo com cautela — atrapalhar essa negociação seria desastroso.
“A propósito, você está sozinho? Achei que conheceria sua namorada fofa.”
Então o presidente Himeragi não era a única que sabia — Kanon-san também sabia de Charlotte-san.
“Ainda não resolvi as coisas do passado, então ainda não posso falar sobre o presente.” — Eu disse.
Charlotte-san queria vir, mas eu a convenci a ficar. Eu não tinha conversado direito com Kanon-san desde a nossa separação complicada. Apresentar minha namorada antes de resolver isso parecia errado.
“Sério como sempre. Esse é um dos seus pontos positivos... mas como é uma oportunidade rara, eu queria falar com ela também.” — Kanon-san provavelmente falava sério. Ela não era do tipo sarcástica, sempre amigável e gentil.
“Vou apresentá-la quando chegar a hora.”
“Hehe, estarei esperando por isso. Você Akihito com uma namorada, hein? Como sua irmã, estou emocionada.” — Disse ela, com seu olhar caloroso quase avassalador.
“Podemos parar de falar dela…?”
“Não precisa ser tímido. Faz uns três anos desde a última vez que conversamos assim. Quero relembrar os velhos tempos, não só falar da sua namorada.”
Sua natureza tagarela não havia mudado.
“Se for dos velhos tempos em vez dela...”
“Ah, você não tem jeito;” — Disse ela, rindo como se estivesse exasperada, antes de tomar um gole de chá.
Kaguya-san silenciosamente me entregou um cardápio por trás, me incentivando a fazer o pedido. Sempre tão rude. Escolhi café, e Kanon-san olhou para o teto.
“Faz quase dez anos desde que nos conhecemos. Naquela época, você era tão cauteloso; foi difícil.”
“Você apareceu do nada, dizendo que seria minha irmã a partir daquele momento. Foi uma reação natural...”
Sim, Kanon-san apareceu de repente enquanto eu treinava futebol no parque. Eu ainda me lembrava daquele primeiro encontro, especialmente porque aconteceu logo depois que minha irmã foi embora.
“Escolha suas palavras com cuidado,” alertou Kaguya-san, com a mão roçando meu pescoço, fazendo o suor escorrer pela minha bochecha.
Seu olhar frio era feroz — ela adorava Kanon-san, e qualquer indício de grosseria desencadeava isso.
“Kaguya, fique quieta. Eu continuo dizendo para você não reagir a cada troca entre irmãos.” — Suspirou Kanon-san, repreendendo-a.
“Minhas desculpas.” — Disse Kaguya-san, soltando meu pescoço e curvando-se profundamente, embora seus olhos ainda alertassem: “Você entendeu, né?”
[Almeranto: Ela só estava esperando nosso prota vacilar pra quebrar o pescoço dele igual galinha kkkkkk. Aliás, eu já fiz isso. (Com galinhas no caso)]
Era ela quem não entendeu.
“Vamos voltar ao assunto.” — Disse Kanon-san. — “Você estava cauteloso no começo, mas depois que nos conectamos, você me ouviu e se esforçou, não foi?”
Ouvi ela? Era mais como se eu tivesse sido coagido pelo demônio que está atrás de mim, mas me faltava coragem para corrigi-la. Honestamente, eu devia muito de quem eu era a elas. Kanon-san contratou Kaguya-san como minha tutora, e seus métodos espartanos moldaram meu sucesso acadêmico. Quanto ao futebol, Kanon-san financiou, contratando um técnico profissional aposentado para nos treinar, já que não existia um time local forte. O plano dela de montar nosso próprio time fracassou — rumores e o nome Himeragi assustaram outros — mas me proporcionou uma infância incrível.
“Graças ao ambiente incrível que você proporcionou... Olhando para trás, tive uma infância muito boa. Sempre me surpreendi com o que você fez.”
“Hehe, eu era jovem, não era?”
Jovem? Ela ainda é jovem, e “eu era jovem” era realmente uma desculpa para tudo aquilo? Eu tinha perguntas, mas fiquei em silêncio.
“Não quero que você me entenda mal.” — Ela continuou. — “Fizemos tudo isso porque você era uma criança que conseguia se esforçar. Não teríamos ajudado alguém que não conseguisse.”
“Sou grato por isto.”
Eu não tinha reclamações sobre o apoio delas... bem, muitas sobre Kaguya-san, mas tudo isso impulsionou meu crescimento.
“Honestamente, sem aqueles dias de ensino fundamental, seu futuro teria sido muito diferente.” — Disse Kanon-san, baixando os olhos com tristeza.
Meu peito apertou — ela ainda se sentia culpada por aquilo.
“Por favor, deixe-me pedir desculpas primeiro.” — Eu disse. — “No ensino fundamental, eu disse algo muito rude para você. Foi como trair sua bondade. Eu realmente sinto muito.”
Eu finalmente expressei a culpa que me pesava. Durante aquele incidente, eu a acusei: “Você só foi boa comigo para me usar, não foi?” Em retrospectiva, era absurdo, mas naquela época, eu a ataquei. Eu não sabia o quanto a tinha magoado.
“Levante a cabeça, Akihito. Você não tem nada pelo que se desculpar. Se é que tem alguma coisa, sou eu quem deveria.” — Disse ela.
“Não, você não tem nada pelo que se desculpar... Fui eu quem disse algo rude...”
“Acho que suas palavras foram justas. Independentemente da verdade, acabamos te usando. E eu não consegui te proteger. Me desculpe.” — Disse ela, curvando-se profundamente.
Lembrei-me de seu pedido de desculpas em lágrimas no ensino fundamental. Ela era tão ignorante e usada quanto eu. Ela não tinha culpa — só tinha tentado ajudar uma criança sem-teto.
“Por favor, pare. É mais difícil quando você se desculpa...”
Sua reverência irrepreensível só aumentou minha culpa. Talvez fosse assim que Akira se sentia.
“Então vamos deixar esse assunto de lado. Eu também não quero que você se desculpe comigo.” — Disse ela.
Ela tinha razão — desculpas intermináveis nos prenderiam.
“Tudo bem, aceito.”
“Sim, aceito. Afinal, eu sou sua irmã mais velha.”
Não era bem isso que eu queria dizer, mas seu papel de irmã mais velha era inabalável, então deixei passar.
“Aliás, é um alívio. Já que você tem uma namorada, não está mais preso ao passado, certo?”
Kanon-san me entendia profundamente, talvez mais do que Akira. Ela entendia o que minha namorada significava para mim.
“Bem, é graças a ela... Sem ela, eu provavelmente ainda estaria me afundando sozinho.”
“Ela deve ser uma garota maravilhosa.”
Eu achava que ela era a melhor do mundo, mas não conseguia dizer algo tão piegas em voz alta... não com o demônio atrás de mim.
“Uma garota que consegue mudar sua opinião não é comum. Você precisa apreciá-la.” — Disse Kanon-san.
“Claro que pretendo. Ela é quase boa demais para mim.”
Senti um arrepio por trás, mas, por favor, perdoe um pouco de entusiasmo.
“Hehe, entendi.” — Disse Kanon-san, rindo alegremente, diferente da presença gélida atrás de mim.
Mas seu sorriso desapareceu abruptamente.
“—Mas você ainda não entendeu. Se entendesse, não teria vindo me ver sozinho. Pelo menos, se a tivesse trazido, poderia ter aprendido algumas verdades. Mas, como você não está dizendo nada, parece que estamos quites.” — Seu olhar sério me perturbou.
“O que você quer dizer...?”
“Eu entendo que não quer causar preocupações desnecessárias, mas esconder coisas de uma amante causa mais problemas, você não acha?”
Ela estava percebendo meu silêncio sobre a questão do noivado? Mas discutir isso não ajudaria — só deixaria Charlotte-san preocupada.
“Pensar racionalmente é bom, mas as pessoas não são tão simples assim. Você não percebe o que suas ações significam para ela.”
Ela estava chateada por eu não ter trazido Charlotte-san? Eu não achava que ela fosse tão mesquinha...
“Ah, bem. Eu não vim te dar um sermão.” — Disse ela, aliviando o clima.
Então foi um sermão. Estranho...
“Vamos ao que interessa? Você tem um pedido para mim, certo?”
O sorriso de Kanon-san retornou, mas eu não estava pronto para a mudança rápida. Ainda assim, eu não podia desperdiçar o tempo dela — ela provavelmente era ocupada.
“Na verdade, estou planejando fazer um certo vídeo.”
“Um vídeo? Que pedido incomum.” — Disse ela, rindo enquanto me observava.
Ela talvez já tivesse adivinhado meu plano.
“Você sabe que meu problema está bombando nas redes sociais?”
“O vídeo de vocês dois foi o que provocou isso, certo? Claro que eu sei.”
Com a comoção, a escola deve tê-la informado. Fiquei surpreso por ela ter esperado que eu tocasse no assunto.
“Para resolver isso, quero fazer um vídeo. Mas—”
“Não precisa dizer mais nada. É algo desvantajoso para os Himeragi, certo?”
Sua perspicácia era assustadora — sua inteligência superava em muito a minha.
“Desculpe-me por causar problemas, Kanon-san...”
“Está tudo bem. Este é o nosso acerto de contas. Conte-me os detalhes.”
Seu sorriso, apesar da desvantagem para sua família, era genuinamente gentil. Expliquei nosso plano por completo.
“Hehe, é um ótimo plano. Adicione isso a ele.” Disse ela, mostrando-me a tela do seu smartphone.
Ele exibia imagens em preto e branco do meu confinamento.
“Como você conseguiu isso...?”
“Mandei a Kaguya proteger as imagens de vigilância para quando este dia chegasse. Use isso para encurralá-los completamente,” ela disse suavemente, seu sorriso brilhante me arrepiando.
Seria eu o único a ficar nervoso? Cercado por pessoas que sorriam quando estavam com raiva... porque eram gentis?
“Obrigado. Vou usá-las com gratidão.” — Eu disse, curvando-me antes de me virar para Kaguya-san. — “Obrigado também, Kaguya-san.”
“Hmph, eu só segui as ordens da Ojou-sama. Não era para você,” disse ela friamente, me ignorando como sempre.
Kanon-san, entretida com nossa conversa, sorriu.
“Hum... na verdade, tem mais uma coisa, não só isso.” — Eu disse, me concentrando.
“Outro pedido?”
“Não, não é um pedido. Tenho outra ideia e quero discuti-la...”
“Ah?” — A curiosidade de Kanon-san despertou — ela não havia previsto isso.
“Por favor, me dê seu ouvido.”
Com isso, compartilhei a outra ideia com ela.
Traduzido por Moonlight Valley
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