Os Raios de Lost Sun Brasileira

Autor(a): Gil Amorim


Volume 1

Capítulo 9: Os Raios dos Solarius

— Nunca antes em nossa história milenar trouxemos para dentro do nosso recanto um de vocês, e olha só, dois de uma só vez! — disse o líder dos Solarius.

Ele se apresentou como o Primeiro-Raio, o Justo. Era um homem velho e gordo de bigode enrolado e uma roupa engraçada composta por um terno branco listrado com um sol bordado do lado direito do peito, e um monóculo. Estava sentado na cadeira principal da mesa circular.

Escorpião sorrateiro estava ao lado deles, sentado na poltrona, escoltado por um sujeito musculoso usando um chapéu coco e a vestimenta padrão branca com detalhes amarelos.

O grupo era composto por quatro homens e três mulheres trajando roupas elegantes de tecido finamente cortados. Uma das mulheres em especial portava um vestido longo e bonito com lantejoulas brilhantes.

— Por favor, sente-se, senhor Ryan!

— O que querem de mim? — Dirigi-me à poltrona e sentei-me na ponta.

— Seu amigo nos informou que vocês desejam acabar com a cidade fantasma de Lost Sun — disse a mulher que usava o vestido elegante. Ela apresentara-se como o Terceiro-Raio, a Esperança. Tinha o cabelo branco, mas não aparentava ser muito velha. — Achamos proveitoso para o bem da nossa missão que unamos nossas forças neste nobre propósito! Cidades fantasmas são parasitas do mundo dos vivos e só causam desgraça por onde passam! Normalmente não aceitaríamos ajuda vindo de fantasmas, mas um fato inédito aconteceu aqui...

— ... O seu corpo humano e o corpo de fantasma do seu amigo! — falou uma terceira pessoa. Chamava-se Segundo-Raio, a Alegria. Era uma mulher morena de cabelos pretos que usava um sobretudo branco e um colete amarelo por baixo. — Embora haja relatos em nossos documentos históricos fazendo menção às partículas de rejeição e como combatê-la, nunca antes havíamos tocado um desses corpos ou estudado um...

— Com relação ao seu corpo humano, — interrompeu um terceiro sujeito. Era um homem magro e franzino. Intitulava-se Sexto-Raio, o Humilde. Tinha um óculos preto, pequeno e redondo. Era o único que não usava um sobretudo ou paletó, mas portava uma camiseta de manga longa branca e um suspensório segurando as calças amarelas — sabemos que as cidades do limiar cortam as cabeças e retiram a alma e as inserem em um novo corpo corrompido. Contudo, o seu corpo manteve a alma, embora fragmentada, pois a cabeça não foi levada!

— ... ou seja, — disse o homem musculoso. Quinto-Raio, o Poder, era o seu nome — com vocês trabalhando conosco, temos uma chance única de adentrar numa cidade fantasma e destruí-la por dentro!

Que bando de esquisitões.... Cada um complementa a fala do outro como um coro ensaiado.

— Então este é o grande plano? — falei com um ar de incredulidade. — Lost Sun é cheia de caçadores...

— Só que eles não sabem — disse Escorpião-Sorrateiro. — Esta é a nossa única chance, Coiote-do-Deserto! Nossa chance de vingar o que o Xerife-da-Noite fez conosco!

— Só que o xerife não confia em mim! Ele tentou acabar comigo agora há pouco!

— Fantasmas não podem morrer...

— Eu sei! Mas ele quer que eu falhe e seja escravo para sempre em Lost Sun!

— Nossa única saída é destruir aquele lugar...

— E como faremos isso?

O Primeiro-Raio levantou-se da sua mobília majestosa e dirigiu-se a mim. Apesar da baixa estatura, o homem exalava autoridade.

O sujeito me entregou um objeto esférico e branco com um pavio envolto em pólvora. Era uma bomba de mais ou menos dez centímetros de diâmetro.

— Primeiramente precisamos localizar a fonte que alimenta uma cidade fantasma — falou Primeiro-Raio.

Peguei o explosivo com as duas mãos. Pesava mais do que aparentava.

— E que fonte seria essa?

— O líder!

— ... O primeiro dos mortos — complementou Sétimo-Raio, o Virtuoso, o rapaz que eu encontrei em Whitegrass e que me acompanhara até o esconderijo. — Uma cidade fantasma é formada por sentimentos ruins que geram as partículas de rejeição, e a primeira pessoa que foi assassinada ali, geralmente é quem comanda. Na maioria das vezes trata-se do xerife!

— Xerife-da-noite...?

— Detone essa bomba na delegacia — disse Quarto-Raio, a Vitória. Era uma mulher branca, ruiva do cabelo curto e com sardas no rosto. — Geralmente no local primordial é de onde brota toda o limiar. A esfera está carregada de prata puríssima, resultado dos testes que fizemos ao longo do tempo com fantasmas e que pudemos comprovar no corpo do seu amigo aqui.

— A prata irá purificar o ambiente e dissolver a rejeição — falou Primeiro-Raio. — Ao fazer isso, libertará o mundo da corrupção de Lost Sun, salvando vidas e dando descanso aos mortos...

Descanso...?

— Temos um acordo?

— Sim! — disse Escorpião-Sorrateiro. — Coiote-do-deserto?

Mais um contrato... cadê o papelzinho para eu assinar e me tornar o maior dos traíras de todos os tempos...

Assenti com a cabeça.

— E o que faremos agora? — falei.

— As únicas maneiras de entrarmos em Lost Sun são em nossas montarias ou com um tiro — disse Escorpião-Sorrateiro. — Meu cavalo não está mais aqui, mas você pode retornar em Vento-Galopante.

— Só podemos retornar nos cavalos com as cabeças!

— Tire a minha cabeça!

— Enlouqueceu de vez?

— Digo a do meu corpo humano! Os Solarius encontraram meu corpo em Prudence depois que você fugiu.

— Mas...

— Eu já estou morto e não há mais como reverter isso. Meu antigo corpo já não me serve de mais nada...

— Mas Lost Sun terá sua alma para sempre!

— É o preço a se pagar! — falou Sétimo-Raio.

— Contudo, se você acabar com o xerife eu poderei descansar em paz — disse Escorpião-Sorrateiro.

Ou talvez não, meu amigo...

— O que me diz?

— Tudo bem...

Retirei a cabeça de Mark McDonald e a coloquei em minha bolsa.

— Escorpião-Sorrateiro. Tem mais uma coisa.

— O quê?

— Acredito que o xerife não seja o líder de Lost Sun!

Todos os presentes dirigiram os olhares em minha direção.

— Há alguém acima, chama-se Senhor-Sangrento — continuei. — É o responsável por escravizar os que vão para lá. Ouvi várias menções a ele, mas nunca o vi. Sei também que o mesmo mora numa grande fazenda há poucas milhas da cidade fantasma.

— Malditos e precavidos... — disse Primeiro-Raio.

— Se queremos obter sucesso nesta operação precisamos agir em conjunto!

— Como assim...?

— Preciso contar com a contribuição de todos vocês. Voltarei no meu cavalo com a cabeça do McDonald e o entregarei ao xerife. Quando o homem estiver distraído, darei um tiro nele com uma dessas suas armas de prata. Escorpião-Sorrateiro, por sua vez, dirigirá até o Senhor-Sangrento e explodirá a bomba na fazenda para ter certeza de que não falharemos em acabar com Lost Sun!

— Mas como eu voltarei para Lost Sun? Estou sem montaria!

— Darei um tiro em você...

— Vejo que pensou em tudo, amigo... — disse Escorpião-Sorrateiro.

— Mais uma coisa... antes de sair de Lost Sun pela última vez, fiquei sabendo que o xerife planeja mandar um novo grupo de desestabilização para uma cidadezinha próxima daqui chamada Lincoln Galden. Seria de grande ajuda se os Solarius os atrasassem para que tenhamos menos perturbações na cidade fantasma...

— Conte conosco — falou Primeiro-Raio.



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