Volume 1

Capitulo 8: Reino Elfíco

No pico do enorme penhasco, grama verde e macia, o cheiro úmido, o barulho das folhas das árvores balançando, lindas cachoeiras que eu podia ver e ouvir de longe, pássaros voando e cantarolando e o vento balançando minhas roupas e cabelo.

Tudo isso é relaxante e muito bonito de se ver… Mas não consigo me manter em pé, sinto como se a qualquer momento fosse perder o equilíbrio e cair desse penhasco, então me ajoelhei para me sentir mais seguro. Bem, mesmo que caia daqui, eu provavelmente consigo me virar de alguma forma…

Gosto da sensação de olhar para baixo de uma altura tão absurda, a adrenalina é gostosa, mas meu corpo age inconscientemente, tremendo feito louco.

Estou com um sorriso meio torto, mas aparecer na ponta de um precipício de repente, com certeza me pegou de surpresa…

— Minha alma quase saiu do corpo, haha…

Esse lugar é assustador, sinto que se eu não me segurar firme, acabarei tropeçando no meu próprio pé e me matar de forma estúpida… Mas a vista é linda e a adrenalina é o melhor.

… Muitas vezes me pego esquecendo do fato de que não sou mais uma garota, é um tanto esquisito, mas não é tão ruim, ser um garoto tem suas vantagens… Acho que teria mais dificuldade sendo uma garota nesse lugar. 

Até parece, não quero ter alguém decidindo toda minha vida ou algo assim, e não gosto tanto de vestidos… Bem, por agora não é importante, não vou me preocupar com isso, não preciso. Eu sou eu e ponto final, quem liga se sou uma garota ou um garoto? Nas duas versões, eu sou lindo, hehe!

Pensei isso e me deitei na grama olhando para o céu azul, quando de repente um rosto apareceu por cima da minha visão.

— Eae!! O que achou da vista!?

Arregalei os olhos e dei um leve pulo, antes de perceber que a pessoa que apareceu na minha frente era Jeff.

— … Bem legal, mas que lugar é esse?

— Esse lugar? É apenas a floresta dos elfos, não fomos a um lugar tão longe assim.

Não parece que ele percebeu que me deu um susto agora, ou ele não se importa mesmo. De qualquer forma, minhas expressões naturais sempre foram muito leves, geralmente as pessoas não percebem meus sustos e eu acho que tenho um bom controle das minhas expressões… Bem, a maior parte do tempo… Às vezes eu não tenho tanto controle, afinal, sou humano.

— Entendi… Ué, mas essa floresta não ficava em uma ilha a mais de 15 mil km do Império de Solaris? — Eu perguntei.

— Exatamente, não é tão longe assim, não é mesmo?

— Pensei que fosse longe… Talvez eu esteja errado, não entendo muito bem geografia, nunca foi meu forte. Mas ainda assim, acho que deve ser longe o suficiente para você cometer algum erro ao me teleportar, não?

— Claro que não, eu nunca cometi um erro em uma distância tão pequena. Eu consigo teleportar até o reino mais distante, que fica a 21 mil km da torre, que está quase em cima do castelo do seu pai nesse momento, mas fica só a uns 8 km daqui. O mundo é redondo, afinal. Meu próximo objetivo é me teleportar para o espaço sem morrer, mas tenho que pesquisar outras magias além do teleporte…

— Mas me teleportar bem na beirada de um precipício não é meio ariscado?… E você acabou de revelar a localização da torre que deveria ser desconhecida?

— A torre está se movendo o tempo inteiro, então não deve ser um problema tão grande revelar isso para você. E sim, é um pouquinho ariscado, mas mesmo que algo desse errado, você saberia se virar, não é mesmo? Só é meio arriscado porque é a primeira vez que teleporto alguém sem me teleportar com a pessoa.

“Mas eu me pergunto o que aconteceria se eu definisse as coordenadas para dentro de uma rocha…” Pensou Jeff com um sorriso em seu rosto.

— … Tanto faz.

Ele deu um enorme sorriso e se sentou ao meu lado enquanto olhava para a direção da enorme árvore que, mesmo de longe, era possível de ver, a árvore sagrada.

Pelo que li sobre esse lugar, supostamente aquela árvore era para ser invisível aos olhos de pessoas de fora, devido à barreira especial dela. Mas estou conseguindo ver ela perfeitamente bem, me pergunto o porquê, estou tendo alucinações?

— Sabe, eu queria saber mais da cultura élfica e levar uma lembrancinha para casa, mas eles parecem ter algum preconceito contra a minha pessoa e sempre que me veem, eles me atiram um montão de flechas e tentam me prender com plantas e tal… Mas aí pensei, e se o Yuki fosse lá? Você é bonito que nem eles, talvez eles te confundam com um deles, não acha?

— Essa é uma lógica bem engraçada… Os elfos não gostam muito de pessoas de fora, eles são meio reservados e antiquados, algo assim. Mas posso tentar mesmo assim, as pessoas costumam ser gentis com crianças pequenas, não é mesmo?

— Qualquer coisa, você fala que é um elfo, você tem a beleza de um, ninguém vai desconfiar.

— A característica principal de um elfo é sua orelha pontuda, não sua beleza… Mas agora que você falou isso… Talvez dê certo, eu sou um meio elfo, né?… Eu não tenho uma orelha pontuda, mas devo me parecer um pouco com minha mãe, talvez funcione se eu falar o nome dela?

— Sempre desconfiei que você era um elfo, uma pessoa não pode ser bonita assim, e Nozuka também deve ser um elfo.

— Eu não sou um elfo… E, de acordo com sua lógica, Akira também não deveria ser um elfo?

— Eu disse pro Akira uma vez que ele era bonito e ele discordou. Talvez meus olhos estejam danificados?

— Uh… Não sei por que perco meu tempo falando com você… Ele com certeza também é uma criança muito linda.

— Entendo, mas e eu? Sou bonito?

— … Você não é feio.

— Qual é? Isso significa que você não me acha bonito, não é mesmo? Tenho um monte de admiradoras secretas me perseguindo, mas meus amigos nunca dizem que sou bonito, o padrão de vocês é muito alto. Além disso, tem também alguns nobres tentando me forçar a casar e mulheres entrando sorrateiramente em meu quarto durante a noite.

“Essa última parte deve ser mais por conta do meu poder e não da minha aparência, mas não importa muito”

“… Você deveria mesmo falar essa última parte para uma criança?” Pensei.

— Acho que é inevitável, nós estamos rodeados de pessoas bonitas, afinal. O mestre da torre, por exemplo, é um velhinho muito gato, nem parece que ele é tão velho assim também.

— Verdade.

— Mas o que você queria do reino élfico mesmo?

— Um galho da árvore sagrada.

— … É o quê!? Pessoas de fora não podem nem sonhar em chegar perto da floresta deles e você quer que eu roube um galho da 'arvore sagrada'!? Como espera que eu faça isso!?

— Acontece que possui alguma barreira envolta da árvore que me impede de me teleportar para perto o suficiente, eles possuem uma guarda muito pesada e não gostam de mim, então eu mesmo não consigo, mas talvez você consiga. Se eu matasse alguns deles, talvez desse certo, mas não quero recorrer a isso.

— Não acho que eu consiga… Mas posso tentar mesmo assim, melhor do que deixar você matar alguns dos meus parentes.

Então ele se levantou.

— Okay! Valeu aí!! — Ele me chutou da ponta do precipício onde estávamos — É só seguir nessa direção!!

Eu ainda conseguia ver ele me olhando de cima com um sorriso largo.

— Qual é o seu problema, seu maluco!?

Estou caindo rapidamente, o pico está se afastando a uma velocidade muito louca, meus cabelos atrapalham minha visão e batem em meu rosto como chicotes.

Acho que agora supero o meu pequeno medo de altura…

— Mas que droga!!

Já que é assim, preciso pensar rápido. Rapidamente usei minha magia para me deixar mais leve, a velocidade que estou caindo diminuiu significativamente, mas sinceramente, é assustador. Sorte a minha que tem várias árvores abaixo, elas podem ajudar a amortecer um pouco mais essa queda.

Cai em cima da árvore e, quando eu estava chegando ao chão, me agarrei em um dos galhos da árvore.

Quase tive um ataque do coração, estou cheio de arranhões e meu cabelo um completo caos. Folhas e galhos no meu cabelo, tem até um pouco de cabelo na minha boca.

— Puff! Esse com certeza não é o melhor jeito de se chegar em um lugar… — Eu disse enquanto tirava o cabelo da boca.

Tirei as folhas e galhos do meu cabelo e ajeitei meu cabelo e roupas.

Olho em volta, só árvores e mais árvores…

“Garot… Quem…” Ouvi esses sussurros meio cortados, não posso compreender muito bem o que está sendo dito.

— O que é esse barulho?

Me aproximei de uma árvore e realmente o som ficou mais alto perto dela. Procurei em volta da árvore, mas não encontrei nada. E quando toquei na árvore distraidamente, os sons de repente ficaram muito mais altos e nítidos. Logo percebi que o som vinha da própria árvore.

“Um meio elfo? Que criatura rara!!”

“Será que ele matou sua mãe ao nascer?”

“Não fale assim, plantinha, já te falei que isso é muito insensível”

Parecia que até uma planta estava a falar, talvez por eu estar de sapato, não pude ouvir os sons de todas essas plantas antes, mas ainda não entendi qual a lógica disso tudo. Só foi eu tocar nessa árvore e agora consigo ouvir a floresta inteira conversando entre si.

“Quem será que são os pais dele?”

“Os elfos já estão vindo aqui, eles irão perguntar por nós”

— Que irritante, os elfos respeitam essas coisas fofoqueiras? Essa tal planta é a mais irritante, onde ela está?

Olhei em volta, procurando de onde vinha a voz fraca, até que encontrei a plantinha no pé de uma árvore próxima, uma plantinha carnívora. Me aproximei dela e arranquei uma de suas folhas.

“Aii! Essa criança meio elfo é tão rude!!”

— Rude, é você, o que pensa que estava falando agora?

“… Você consegue me escutar?”

— Parece um sussurro, mas consigo escutar até que bem, as árvores lá de cima também estavam falando?

(Arvore): “Provavelmente, mas não conseguimos nos comunicar com elas devido à barreira e, como elas não são tão velhas quanto nós, elas não possuem muita consciência, então é mais difícil para você escutá-las”

(Planta): “Você é só um meio elfo fraco, nem orelhas de elfo você tem!! Você não devia ser capaz de nos escutar!!”

— Você com certeza é uma plantinha muito irritante. Como você pode ver, eu consigo te escutar super bem... —  Eu disse enquanto apertava de leve outra de suas folhas.

— Tire suas mãos da planta forasteiro, mãos para cima e não se mova!! — Uma linda elfa alta, de cabelos brancos e olhos azuis cintilantes, gritava enquanto apontava seu arco para mim.

“Parece como se eu tivesse sido pego no flagra por um policial…”

Logo, muitos elfos diferentes foram aparecendo no local. Eu me afastei das plantas e levantei minhas mãos como ela disse, com certeza uma situação estranha...

— Ouvi das plantas que você é um meio elfo, quem são seus pais e o que você faz aqui? — Ela me perguntou.

"Não é da sua conta! É oque eu gostaria de dizer, mas mesmo que eu também seja um meio elfo, eu acabei de invadir o território deles e ela está apontando uma flecha na minha cabeça haha..."

Pensei por um momento e lembrei que Emilly tinha me falado o nome da minha mãe uma vez.

— Minha mãe se chamava Astrid…

— Astrid!? Não pode ser…

Todos se entreolharam e pareciam desconfiados, até que uma voz doce e intensa ecoou por toda a floresta.

“… Essa criança é filho de Astrid, posso sentir pela sua aura e mana, ele é tão poderoso e livre quanto Astrid em sua idade.”

— O que foi isso?… — Perguntei confuso.

Eles se olharam mais uma vez e a elfa dos cabelos brancos levantou uma mão e apontou para seu ouvido com a outra enquanto se afastava para um canto, como se estivesse em uma ligação. Logo ela voltou a falar.

— Filho de Astrid, vossa majestade deseja falar a sós com você.

— Ah, certo… Meu nome é Yuki, aliás.

"Parece que não vou ter que dizer porque vim aqui."

Ela me levou até algumas enormes árvores com uma grande construção nelas, parecia como um palácio de alguma forma, um palácio bem único.

Entrei numa sala e um elfo que parecia estar na casa dos 40 anos estava sentado em uma poltrona. Ele tinha uma beleza que me lembrava uma fada, um olhar sério e compridos cabelos dourados da mesma cor que seus olhos, ele era o rei elfo. Mas, pelo que eu sabia, ele tinha mais de mil anos pelo menos.

— Chegue mais perto, minha criança.

“… O que será que ele quer de mim, me chamando até aqui?”

Eu me aproximei lentamente dele. Quando eu estava a um passo dele, ele se levantou e me abraçou.

“O-o que é isso!? Por-por quê!?…”

— Sinto muito, minha criança, eu não pude te ver nenhuma vez desde que você nasceu e acredito que fui muito duro com sua mãe… Ela pode me visitar quando quiser, ela pode morar aqui, vocês dois podem vir morar aqui juntos. Eu só fiquei chocado quando, de repente, ela voltou grávida… E eles nem ao menos eram casados!… Por isso, acabei tendo uma reação muito negativa.

Foi quando me lembrei de que Emilly disse que minha mãe era uma princesa, então essa pessoa provavelmente era meu avô.

— Vossa majestade… Minha mãe já está morta, ela morreu quando eu nasci…

Ele me afastou por um instante e me olhou confuso e surpreso. Eu podia ver em seu olhar um grande arrependimento.

— Sinto muito… — Eu disse enquanto tentava evitar o olhar.

Ele me abraçou novamente.

— Isso é minha culpa, eu que peço desculpas por não estar com vocês durante esse tempo.

“É, o fato de você não ter presenciado os últimos momentos de minha mãe ou meu nascimento é um pouco culpa sua haha, mas não acho que alguém iria culpá-lo por isso.”

““ … E a mãe ter falecido não é culpa minha ou do avô, mas do meu pai e dela mesma… Sei disso, sei muito bem que não é minha culpa, mas não consigo evitar sentir essa culpa… Me desculpe…”.

Seu abraço é apertado e confortável… Não posso evitar me sentir um pouco estranho... Me sinto um pouco melhor de alguma forma.

“Haha! Agora que penso melhor, a palavra certa para usar nessa situação não seria “desculpe”, mas sim “obrigado”. Obrigado por me dar à luz, mãe, obrigado por cuidar de mim, Emilly e obrigado por me consolar, avô. Mesmo que eu não seja o Yuki real... ”

Ficamos abraçados por um tempo e depois ele começou a contar histórias da minha mãe e como ela dava trabalho.

— Uma vez, quando sua mãe tinha 4 anos, ela tentou escalar até o topo da árvore sagrada, mas ela acabou caindo na metade do caminho e eu a peguei. Outra vez, ela arrancou todas as folhas de algumas das plantas carnívoras que tinham na floresta. Quando tinha 100 anos, voltou tarde de uma festa bêbada, no outro dia sequestrou um amigo elfo e o forçou a vestir saia. Ninguém podia negar que ele ficava bem de saia, ele quase parecia uma princesa.

— “Ela ficava de castigo muitas vezes, mas sempre dava um jeito de escapar. Quando ela fez 230 anos, ela resolveu explorar o mundo inteiro. Tentei a prender em casa quando ela tinha 300 anos, mas não conseguiu. Aos 600 anos, ela voltou com uma criança sombria, cheia de machucados, tímida e um pouco traumatizada. Após passar algum tempo no reino élfico cuidando da criança e passando um tempo com seus amigos, ela finalmente admitiu que estava grávida de um humano. No momento da raiva, acabei brigando por um tempo com ela e a expulsei do reino élfico.

— Minha mãe era bem intensa… Mas eu também tentaria escalar uma árvore alta como essa árvore sagrada, a visão do topo deve ser bem legal e eu já comentei com uns amigos que seria legal sequestrar um asiático…

"Eu não estava falando serio é claro. Não acredito que ela realmente sequestrou alguém, hahaha!"

— Asiát- o quê?

— Ah, nada não… Eu também acho que caras bonitos ficam legais de saia.

— … Você quis dizer, garotas?

— Ah… Não importa, posso olhar a árvore sagrada de perto?

— Pode, mas antes me conte um pouco da sua vida também.

— Okay.

Contei para ele as coisas que aconteceram nos últimos dias, como eu era negligenciado e como eu me tornei um mago na torre dos magos e até tenho alguns tratamentos especiais.

Quando terminei de contar tudo, ele acariciou minha cabeça e disse que sou uma criança muito inteligente. Claro, eu não sou uma criança, afinal…

E nós dois fomos até a árvore sagrada.

A árvore sagrada era enorme e brilhante, engraçado como ela era tão clara mesmo com tantas folhas fazendo sombra. O topo dela era tão alto que eu demoraria um dia inteiro para chegar em sua copa, o ar à sua volta era tão gostoso e ela parecia estar cheia de vida e mana.

“Olá, minha criança, você já esteve em outro mundo, não é mesmo? Parece que manteve suas memórias…” A mesma voz doce e intensa de antes, ecoou por meus ouvidos…



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