Livro 1
Capítulo 1: Um Herói Segue em Frente
Orcs.
Pele verde, grandes presas e robustos e definidos corpos resistentes a venenos e doenças. Uma raça feita para a guerra.
Vale a pena mencionar que possuem um enorme apetite carnal. Para os orcs, acasalar não é apenas um jeito de propagar a raça, mas também um jeito de relaxar e recreação.
Lute, festeje e foda; repita.
Contam sucesso em batalha pelo número de cabeças que conseguem e o número de crianças geradas após as lutas.
Morra em glória no campo de batalha e deixe muitos descendentes para trás: o legado que todos os orcs aspiram ter.
Têm corpos fortes e altos níveis de fertilidade.
O que mais uma raça precisaria? Porém a verdade é que, numa área onde orcs estão em falta extrema... não há fêmeas da espécie, apenas machos. A fim de reproduzir, precisam do corpo de mulheres de outras raças.
Capturaram soldadas durante tempo de guerra e usaram-as como ferramentas para darem à luz filhos atrás de filhos até seus corpos se tornarem inférteis. Esse é um grande motivo do ódio de mil milhões de sóis dos orcs quais outras raças sentem.
— Ei, olha ali. Aquele não é o tão dito Herói? Bash.
Aquele com esse nome superava todos os outros, um guerreiro formidável.
Ele era mais rápido para pular em qualquer batalha e ficou na linha de frente mais tempo que qualquer outro. Naturalmente, derrotou muito, muito mais inimigos que os outros.
Vários orcs deviam suas vidas a ele, e muitas batalhas só foram vencidas graças às ações heroicas de Bash.
Bravo o bastante para bater de frente contra os mais fortes dos inimigos, a visão dele numa batalha faria qualquer um querer se proteger. Claro, é o pináculo da raça.
E por todos os seus feitos corajosos, lhe foi dado o título de Herói.
Herói. Era reverenciado por sua bravura.
Para um orc, não havia título mais precioso e que mais comprovasse a força de alguém quanto esse.
Todos admiravam muito Bash, de verdade.
— O Herói! Ah, cara, ele é legal demais! — Cês sabem, eu amaria ouvir a história de como ele derrotou o Cabeça Negra naquela vez. Junto com o título de Herói, Bash tinha tudo que um orc queria — uma grande casa, o melhor arsenal, mais comida do que precisava, mais privilégios especiais para usufruir, e o respeito de todos os orcs vivos.
Tinha tudo... tudo que os jovens exemplares de sua raça sonhavam. — Ah... sinto muito, mas estava pra sair agora...
— Idiotas! Não podem ver que ele tá só tentando beber em paz?! — Oh, merda, foi mal... Desculpa, esqueci que não temos o direito de nos aproximar de um Herói em público e fazer pedidos! Mas Bash havia um grande problema que pesava em sua mente sempre.
Sim, de fora, parecia ter tudo que queria, mas na verdade, existia algo qual nunca foi capaz de conseguir.
Ah, talvez a frase tenha sido formulada errada. Não era sobre querer algo ou querer não ter algo, se conseguir ler as entrelinhas... Algo que ele quisesse descartar para sempre, como um anel ancestral forjado nas chamas que nunca apagam.
— Não, cara, qual é! Eu quero ouvir o Herói falar! Quero saber qual o tipo de mulher dele!
— Qual será que é o tipo de mulher dele? Deve ser as humanas, né?
— Tão doidão, porra?! Ele é a porra de um herói! Durante as batalhas, deve ter comido tanto as humanas quanto as elfas. Deve tá cansado delas! Não vi ele lá no Recanto do Coito antes, e vocês?!
— Cansadão das humanas e elfas? Porra, tá dizendo que ele só pega dragonewt? Aquela raça lendária?!
— Qualquer merda é possível pra ele! Ele é um Herói, afinal! Esta tarde, Bash estava sentado na taverna, bebendo um uísque e agonizando sobre seu problema pessoal mais uma vez.
Como? Como perdê-la? O ato em si era fácil de fazer, mas Bash, na terra dos orcs, se destacava das outras pessoas, devido à fama. Alguém uma hora iriam descobrir. E se a verdade fosse revelada, ele perderia tudo; isso era certo.
Como um Herói entre os orcs — que inferno, esquece a parte do Herói. Como um viril e másculo orc, a vergonha das pessoas sabendo do seu grande segredo o esmagaria.
Assim que descobrissem, seu orgulho e dignidade despedaçariam.
O respeito dado a ele por toda a sua raça se transformaria em desprezo e ridicularização.
Sua já baixa autoestima seria obliterada, e passaria a vida toda vestindo um saco na cabeça... se suportasse viver o resto da vida.
— Vou perguntar pra ele!
— Não! É desrespeitoso.
— Só vou perguntar com quem foi a melhor foda dele! Não é uma pergunta tão desrespeitosa, não é, não? Uma guerreira humana? Uma elfa dona de tarvena? A filha única de um homem-fera? Vou descobrir! Bash pôs-se de pé.
Tinha exatos um metro e noventa e cinco. Um pouco pequeno para alguém de sua espécie, mas seu corpo portava muitas cicatrizes, que contava as histórias de inúmeras batalhas lutadas. Seus músculos eram do dobro de tamanho de qualquer um naquele bar.
Era extremamente estoico em termos de personalidade, exalando uma aura de dignidade e de alguém inaproximável sempre.
Se virou e encarou o jovem bêbado, que continuava determinado em fazer perguntas obscenas.
O Herói estava carrancudo, silencioso.
O outro congelou.
— P-perdão, senhor! Esse cara aí não sabe quando calar a boca! Fala demais, sabe...? — A companhia do orc curvou-se freneticamente à frente do Herói.
Como regra, orcs nunca abaixavam suas cabeças e certamente não fariam isso em resposta a uma mera carranca, entretanto na frente deles estava uma pessoa que não era comum. Não prestar respeito a alguém assim seria uma grave ofensa.
— Hmph. — Bufou, indo em direção à porta da taverna.
— Ah, cara, ele é legal demais…
Todos os orcs sentados próximos deixaram suspiros vazarem e murmúrios de admiração.
Sua força e carisma... eram demais.
Qualquer outro sem ser ele falaria com seus jovens admiradores, sorrindo, gabando-se de seus feitos.
O quê, pirralho? Vocês querem ouvir minhas provas de grandiosidade? Ga-ha-ha! Muito bem, vou contar pra vocês. Foi durante a batalha das Planícies Arkansel. Estava contra uma horda de lutadores inimigos, quando um deles veio e disse para mim... Bem, não tem nada de errado nisso.
Na sociedade orc, se gabar sobre sua proeza no campo de batalha soaria como uma ação de um verdadeiro guerreiro. Qual o problema de fazer isso depois de uma luta bem lutada?
Era uma prática completamente aceitável.
E se o orc superior estivesse num humor ruim nesse dia, talvez descontaria nos mais jovens. Apenas um pouco.
Calem as boca, mói de pivete! Deixa eu beber em paz, caramba!
Estaria tudo bem também. Brigar com a geração mais jovem era um jeito de mostrar sua superioridade.
Sim, ser socado na boca por alguém do calibre de Bash seria tipo um sonho para esses jovens orcs. Uma memória para guardar como um tesouro. Que história pra contar!
Mas o que ele fez foi ainda mais legal.
Suas ações serviam mais do que falas. Tiveram a impressão de tipo: "imprudentes pequenos orcs como vocês nem mesmo são dignos de olharem para mim".
Sim, um forte de verdade falaria tipo isso.
Assim que um guerreiro de verdade era identificado. Um Herói verdadeiro como Bash não tinha tempo para prestar atenção em todos os jovens endeusando-o numa taverna.
Só de ser capaz de beber a mesma bebida que ele na mesma taverna já seria honra o bastante para eles. Estar simplesmente na presença dele era uma emoção maior do que qualquer coisa que tivessem na vida toda; o bastante para estufarem o peito de orgulho.
— Bicho, eu daria qualquer coisa pra ser como ele! — Maluco, tu nunca vai chegar nos pés dele! Ninguém chegaria!
— Tá, tá! Eu só queria ouvir dele mesmo quantas mulheres teve! Bash suspirou, as vozes dos jovens orcs passando pela porta da taverna.
O que pensariam se o vissem indo para casa, as costas largas curvadas, parecendo pequeno e fraco? Dando pequenos e silenciosos passos, parecendo ter medo de algo não visto?
Os jovens orcs faziam perguntas que pegaram Bash de jeito e atingia em sua ferida.
Quantas mulheres teve?
Qual delas foi a melhor?
Como ele teria respondido tantas perguntas?
A maior insegurança dele, seu maior complexo... Para alguém tão admirável, havia uma coisa que ele queria se livrar desesperadamente.
E essa coisa era...
— Ah, eu o invejo! Cara, sempre me pergunto quantas mulheres ele saiu! ... Zero. Sim, zero.
Ele era virgem.
Nasceu durante a longa guerra.
No meio do conflito, uma mulher humana foi capturada, feita de prisioneira e estuprada. Uma criança verde saiu de seu ventre, após o último suspiro da mulher.
Esse orc era Bash.
Aos cinco anos, empunhou sua primeira espada. Aos dez, teve sua primeira luta e destruiu o inimigo.
Mesmo entre os orcs amantes da guerra, dez anos era uma idade ridícula para ter sua primeira batalha entre adultos crescidos.
Indeed, ten years old was a ridiculous age to join full-grown orcs in all-out war.
Mas naquele tempo, mesmo um orc de dez anos voltaria vivo de uma luta; tal era o sucesso das doutrinas de batalha do Lorde Demônio Geddigs.
Ou, pelo menos, poderia.
Felizmente, ele sobreviveu.
No primeiro ano em suas lutas, encarou a morte muitas vezes. Mas no segundo, se tornou um grande guerreiro, e no terceiro, um dos melhores. No quarto, de fato, virou o melhor. No quinto, foi visto pelo seu povo como um dos mais fortes que já viveram.
Um formidável e lendário.
Era um prodígio nas batalhas.
O campo de guerra era cruel e rigoroso, mas onde ele ia, as coisas saíam diferentes. Sua presença significava chuva de sangue de humanos, elfos e anões. Entranhas e miolos eram espalhados pelo chão no seu alcance
Matou todos que entraram em seu caminho.
O mais forte lutador, mais ágil espadachim, com o apelido de semideus da batalha — todos caíam após sentirem seus ataques.
E nunca descansou. Depois de cada vitória, ia direto para o próximo conflito. Batalha após batalha, com uma mínima pausa entre elas.
Esse lutador nato nem mesmo sabia o que significava estar cansado. Dia, tarde e noite lutando. Parava apenas a cada três dias, espalhando o pó de fadas medicinais sobre ele mesmo para forçar-se a dormir um pouco. Nunca pensou em questionar algo assim. Estava apenas fazendo o que era esperado fazer como um orc guerreiro.
Contudo, suas proezas nas batalhas eram imensas. Cidadãos de cada país começaram a falar, com medo, do "superorc". Aqueles que o encontraram e fugiram para contar as histórias diziam: "a encarnação do deus da guerra Gudagoza".
Quando a guerra acabou, o líder dos humanos foi escutado falando: "se aquele orc tivesse aparecido no campo de batalha cinco anos mais cedo, ouso dizer que seriamos aqueles a saborearem a derrota"
Porém, Bash era uma pessoa incrivelmente privada e modesta. Se via como só mais um soltado qualquer, que por sorte possuía uma incrível força. Apesar de sua dominância em lutas, sentia-se fraco para mudar sua situação.
O Lorde Demônio caiu nos dez anos de luta do orc, e cinco anos depois, a guerra chegou ao seu fim.
Quando o lado do Herói Orc perdeu, ele recebeu seu título e muitas outras coisas.
Uma grande casa, mais comida do que aguentaria, o melhor arsenal e o olhar de respeito de cada orc na terra.
Então, percebeu uma coisa.
Algo duro.
Percebeu que mesmo os orcs tinham uma vida além do campo de batalha.
Assim quando a batalha acabasse, a tradição era arrastar uma mulher até sua casa pelo cabelo e ter um dia com ela.
Nenhum dos guerreiros que Bash lutou ao lado continuou virgem.
Sentia que era tarde demais para admitir a verdade.
A verdade: zero experiências carnais. Um virgem.
Notou isso muito tarde. Se a guerra continuasse, as coisas poderiam ter sido diferentes. Poderia ter dizimado as forças inimigas, escolhido uma sobrevivente e levado-a de volta, gloriosamente se libertando da virgindade. Então, depois de praticar com mulheres o bastante, voltaria para casa com a que gostasse e teria um ou dois filhos. Faria isso.
Porém, tarde demais. A Aliança dos Sete, a qual os orcs pertenciam, perdeu. Também optaram pela paz. Assinaram um trato, concordando com o rendimento incondicional, e uma das condições do tratado era que os orcs não pudessem mais realizar o coito com membros de outras raças sem consentimento.
Em outras palavras, sem estupros. Soa como algo bom, não? Mas, para os orcs, era um absurdo. Se estupros estavam proibidos agora, como iriam reproduzir? Com certeza morreriam. Todavia, a única escolha era aceitar. Melhor uma hipotética extinção do que uma iminente.
Muitos prefeririam a morte. Alguns diziam para continuarem lutando até o último orc, mas o rei colocou ordem no seu povo.
Então, num tiro de sorte, as outras raças optaram por enviar suas prisioneiras para os orcs como um pedido de paz, tirando o medo da raça de ser extinta devido à falta de parceiros sexuais.
Mulheres com anos férteis o bastante foram enviadas e deram à luz a quantia de jovens orcs o bastante para manter a população seguindo em frente.
Então, para ser honesto, Bash podia ter perdido a virgindade muito tempo atrás.
Tudo que precisava fazer era ir no Recanto do Coito e ter "utilizado a paz oferecida por outras raças". Simples.
Lá, a prioridade era baseada nos feitos na guerra. Ele nem mesmo precisaria esperar. Sua virgindade poderia ter ido embora num piscar de olhos.
Mas, se fosse lá, teria outros orcs se perguntando sobre.
Quão animado estariam para ter um vislumbre de um condecorado herói de guerra no ato de acasalamento.
Agora, desnecessário dizer, mas um virgem dificilmente teria uma performance sexual digna de um prêmio.
Sabia que sua primeira vez envolveria uma grande quantia de desastres e constrangimentos — uma vergonhosa exibição da virgindade dele.
Sim, na terra dos orcs, perder a virgindade evidenciaria a existência dela.
Bash não podia se desfazer desse destino, e nunca se colocaria em tamanha humilhação.
And there was no way he would subject himself to such abject humiliation.
A perspectiva só já faria qualquer homem se encolher, mas ele era um orc, e um Herói.
Ficou só, uma exaltada e famosa figura entre seu povo. Caso descobrissem que o Herói era, na verdade, virgem, o orgulho de toda a raça seria questionado.
E assim, decidiu esconder o segredo de sua virgindade pelo resto da vida.
Não precisa dizer que escolheu viver uma vida de abstinência.
Não, ele era um jovem e viril orc.
Seu desejo de pegar uma mulher e deixar um filho nela era mais forte do que qualquer outro, e não era apenas seus naturais desejos carnais aparecendo.
Todo lutador forte tinha o dever de passar adiante seus genes para os descendentes.
O próprio rei deles vivia implorando para irem no Recanto do Coito e engravidassem quantas mulheres conseguirem.
Ah, mas ter a virgindade de alguém descoberta... A humilhação.
Não tinha vergonha maior entre a raça.
Pode até ser um virgem, mas ainda continha seu orgulho como Herói.
Odiaria ver o desapontamento tomando o lugar da admiração clara nos olhos dos jovens que o viam nas tavernas.
E então, sentiu que estava preso numa situação sem esperanças de sair. Pensava sobre isso a todo momento.
Por três anos inteiros, desde que a guerra acabou, pensou sobre. Para piorar, ele tinha vinte e oito anos de idade; fez nesse ano. Em mais dois anos, seria um virgem na casa dos trinta. Bem, olhando pelo lado bom, pelo menos viraria um mago.
Não é uma piada, por sinal. Um orc que alcançou os trinta sem ter seus desejos carnais aliviados realmente adquiria poderes mágicos, mesmo sem nenhum tipo de treino.
De fato, orcs eram muito requisitados em lutas.
Orcs no geral eram inimigos formidáveis, agora imagina os com magia!
Os magos cresciam em comunidades isoladas livres da tentação das mulheres. Assim que seus poderes mágicos ativassem, uma crista apareceria em sua testa.
Aqueles com essa marca eram tratados com reverência. Bem, com razão.
Era a prova de terem controlado a si mesmos por trinta longos anos, tudo pelo bem de sua nação — mas só os magos.
Um guerreiro comum manifestar algo assim... a vergonha seria incompreensível de tanta.
Orcs não consideravam oponentes mulheres derrotadas a não ser que ficassem com elas. Os magos, que batalharam por muitos anos sem mesmo realizar a "finalização", eram vistos como fracotes com zero conquistas confirmadas.
Eram tipos vergonhosos de orcs.
Bash preferia morrer lutando sobre a poça do próprio sangue a esse destino.
Agora, tinha apenas dois anos restantes.
Sua virgindade se mostraria para todos, mesmo se nunca falar uma palavra sequer.
"Não... eu vou fazer isso."
Então, ele tomou uma decisão.
Naquela manhã, acordou e pegou sua grande espada.
Era meticulosamente mantida. No sexto ano lutando, ele derrotou uma unidade inteira do exército demônio, e a espada foi dada a ele pelo general para honrar este feito.
Foi imbuída com magia. Longa e forte, nunca enferrujaria ou perderia seu corte. Era quase como a companhia dele.
A colocou em suas costas e equipou a armadura. Como um orc cresce através de classificações, ganhou o direito de vestir armaduras mais pesadas.
Como um Herói, estava livre para vestir armaduras que cobrem o corpo todo como desejar, mas ao invés disso, continuou a usar a leve que cresceu usando.
Porém, depois de um dia inteiro de lutas, mesmo a mais forte armadura acabaria desgastada. "Não faz sentido usar", pensou, dando em sua casa uma limpeza básica.
Orcs eram surpreendentemente bons e habilidosos em manter as coisas limpas e arrumadas. Nos campos de batalha, sempre cobriam seus vestígios conforme avançavam no inimigo. "Apenas um idiota deixa para trás pegadas", acreditavam.
Ele era especialmente bom na limpeza. Hoje uma leve limpa era necessária.
Após colocar as coisas nos lugares apropriados, saiu da casa.
Ao sair, virou para dar uma última olhada.
Sua grande casa era a segunda maior da terra natal dos orcs; grande demais para um único orc como ele.
Você deve pensar que ele era famoso e tinha uma casa cheia e barulhenta sempre, festas cheias de bebidas dignas de reis, onde conta sobre sua glória na guerra; ele, contudo, era reclusivo e introvertido, e tentava desesperadamente manter sua virgindade um segredo, então não tinha convidados.
Contar histórias significaria que precisaria contar suas experiências com mulheres.
Olhou para trás e voltou a andar diante seu destino.
— Oh, é o Bash!
Conforme andava pela estrada, alguns soldados orcs curvaram-se em respeito para deixá-lo passar, todos o respeitando.
Normalmente, quando dois orcs se encontram assim, um com certeza falaria: "Tu quer passar?! Tu vai ter que matar eu primeiro! Mas seja rápido, antes que eu bote tua cabecinha pa fora!”
Sim, era o cumprimento normal de soldados.
— Ah, cara, ele parece mais legal do que nunca!
— Tá indo na direção da casa do ancião! O que será que vai falar com ele?!
— Talvez sobre se tornar o próximo ancião?
— O quê?! Ele se tornar o próximo?! Seria foda pra porra! Maluco, eu seria o primeiro a jurar lealdade a ele!
— Você? O primeiro? Essa foi boa! Tu estaria era cheirando o meu rabo atrás de mim!
Quando as vozes dos soldados deixaram de chegar aos ouvidos de Bash, ele chegou no seu destino: uma grande casa.
Foi construída com ossos gigantes e troncos de árvores colossais. A maior casa na vila orc.
Andou até o enorme salão, onde algumas chamas queimavam. No fim, alguns orcs sentavam no chão, comendo juntos.
— Bash...
— Pai, o Bash tá aqui.
— Bash, quer se juntar a nós? Os que estavam sentados deram as boas-vindas.
Eram todos da geração do Herói, e mesmo assim o admiravam.
Quando novo, tinha quem não gostasse dele, mas agora todos da sua raça queriam ser como o mesmo. No fim das contas, ele é um herói para seu povo.
— Bem, Bash, você veio.
No meio do grupo, um estava sentado, encarando o jovem orc, sério. Estava logo no meio, o único numa cadeira, que era superextravagante. Era um orc importantíssimo. Meio velho, com uma barba branca para provar, mas tinha quase o dobro do tamanho do Herói. Portava um martelo de ferro ao seu lado quase tão grande quanto ele mesmo.
O orc rei, Nemesis.
Foi um forte e incrível guerreiro que lutou nas linhas da frente até o fim da guerra. Um tipo de figura paterna para todos, que o respeitavam como o patriarca.
Bash também o respeitava e havia jurado lealdade há tempos atrás.
— O que o fez querer me ver? Seu olhar era afiado e penetrante.
Qualquer orc normal espumaria pela boca e desmaiaria caso recebesse um olhar assim de Nemesis. Porém, o Herói não hesitou. Simplesmente olhou para o rei de volta, com um fogo determinado queimando em seus olhos.
O rei riu, impressionado pela determinação do outro.
— Meus filhos, deixem-nos agora.
Deixaram o lugar. Sem palavras, somente pegaram a comida e saíram.
Uma reunião particular entre o rei e o Herói. Independente da curiosidade ardente deles, também haviam lutado até o fim da guerra. Um guerreiro sempre seguia as ordens daqueles acima. E então, apesar da relutância, os deixaram a sós sem reclamar.
Assim que somente os dois estavam no local, Bash sentou ao oposto do rei. Ainda tinha comida sobrando, mas não tocou.
Por um momento, os dois observam eles mesmos em silêncio. Parecia sem fim, ainda mais para orcs, que amavam falar mais alto do que os outros sempre que tinham a chance. Entretanto, claro, não duraria para sempre.
Quando o fogo estalou, o velho limpou sua garganta.
— Seus olhos me dizem que sua decisão já tem seu coração nela.
— Sim, eu...
— Não precisa explicar. Eu entendo. — Silenciou o jovem, por mais que estivesse prestes a falar de seu objetivo.
— Eu ouvi, é claro, que é raramente visto perto do Recanto do Coito. — Seus olhos cerraram, focando em Bash — Você está indo procurar por uma esposa.
A sociedade desse povo é promíscua. Uma mulher seria compartilhada entre muitos machos e daria à luz muitos bebês orcs. A fim de preservar uma linhagem excepcional, guerreiros orcs condecorados ganhavam a permissão especial de ter uma esposa.
Uma esposa... em outras palavras, uma mulher exclusiva dele. Alguém para tomar conta da casa e gerar filhos do guerreiro apenas. Conseguir essa conquista... Não é exagero dizer que era o maior ideal de status e sucesso da raça.
Uma esposa... algo especial. Tipo uma medalha brilhante garantida para apenas alguns orcs de elite.
Naturalmente, só a melhor mulher serviria como um troféu assim. Uma madame com a beleza mais elevada, quais canções sobre seu amor eram cantadas. Ou então uma guerreira com tanta habilidade e proezas que ultrapassou as limitações de seu sexo e ascendeu aos maiores ranques do exército. Uma com extrema inteligência, dita ser um gênio que nasce a cada mil anos.
Uma joia rara seria perseguida, cortejada e pega como esposa pelo orc guerreiro. Quanto mais especial e extraordinária é a esposa, maior seria a reputação da pessoa.
Bash era um lendário Herói entre seu povo, e com certeza contaria presença em livros de história. Se tivesse uma esposa, precisaria ser alguém praticamente perfeita. Nenhuma mera escrava ou ex-mulher do Recanto do Coito seria o bastante para alguém como ele. De fato, se ele reproduzisse com mulheres comuns assim, o orgulho da raça mancharia.
Por todas essas razões e mais, decidiu embarcar numa busca de sua própria noiva. O digno e nobre orgulho dos orcs.
O rei pensou assim. Nem, talvez seja melhor dizer que ele percebeu isso; sua percepção era melhor do que qualquer outro, embora tenha, na verdade, uma péssima visão.
— Você sabia... — Bash abaixou o olhar, constrangido.
Seu rosto queimava num vermelho profundo.
Nunca esperaria que o rei soubesse da verdade. A verdade de sua virgindade.
Não só isso... o rei usou a palavra "esposa".
Sabia de tudo... seus planos para viajar em segredo e perder a virgindade com, se der, uma mulher também virgem. Então, a escolheria como esposa e praticaria o ato de copulação muitas e muitas vezes.
Sim, ele estava constrangido. Um orc do calibre dele, pego no ato de ir numa jornada para perder a virgindade. Ter um segredo assim descoberto por um venerável e respeitadíssimo orc como o rei, que era como o pai para muitos... Caso fosse dito como uma vergonha para a raça, entenderia.
Na verdade, nada disso ocorreu. Mas Bash, não diferente dos outros, acreditava que o rei havia um olho mais aguçado do que qualquer um na terra deles e via tudo.
— Meu rei, por favor, não tente me parar. Eu...
— Não vou fazer isso. — Levantou uma mão para apaziguar o Herói.
O rei deixou sair um rápido e autodepreciativa risada, então, estreitou um pouco os olhos, como se estivesse contra uma confusão dele mesmo, e falou.
— Vá. Não vou falar nada aos outros. Ele tinha simpatia por Bash.
Como o ancião da vila, o rei teria dado a chance do Herói ter uma esposa antes, se a guerra continuasse e se o tratado de paz não incluísse a cláusula irritante de não poder copular com outras raças sem consentimento.
Caso não houvesse isso, teria a certeza de fazer Bash viver um estilo de vida de alguém do seu calibre.
Todavia a guerra acabou, e os termos do tratado eram bem claros. Nessas circunstâncias, achar uma mulher de qualidade superior o bastante para servir de esposa de um orc como ele... não seria coisa fácil.
Um orc noivando sem o uso de força... nunca foi ouvido falar sobre isso, nem mesmo nos cinco mil anos desde o começo da guerra. Seria um desafio extremo, para não dizer mais. Um desafio que ele queria enfrentar só.
Que homem!
Um orc herói saindo numa jornada, quando em sua terra, havia todos os privilégios e conforto. Tentar provar que, apesar da derrota deles na guerra, os orcs continuavam com seu orgulho... Sendo um rei, como ele falaria não para isso?
— Obrigado. — Abaixou mais a cabeça em respeito ao rei.
Embora tenha se tornado o que tornou-se e ganhado respeito como o mais forte dos orcs, em nenhum momento quis ir contra os desejos do rei. Mesmo se fosse mais forte ainda, não o faria. Mesmo se quando lutasse contra o patriarca e vencesse.
Não há orc mais benevolente e bom quanto o rei. Ver essa parte vergonhosa e fraca de Bash e, de alguma maneira, não rir. Dar para ele o tempo e oportunidade de restaurar a honra. Quão gentil era com os subordinados.
Sim, ele merecia o cargo de rei dos orcs. Ninguém mais merecia o título.
"Até minha morte, minha lealdade será somente a ele." Ao olhar de volta pro rei, o Herói teve certeza de sua convicção mais do que antes.
E então, saiu em sua jornada.
Uma longa, longa jornada para perder a virgindade...