Volume 1
Capítulo 17: O Selvagem Espírito Sobre Quatro Cascos
[A Toca dos Leões, 15 de julho do ano 812 da Era Mágica]
Algum tempo havia se passado desde a primeira campanha contra Algardia no antigo feudo tomado pelo miasma, onde hoje se encontra o primeiro posto em reconstrução da aliança contra o império. As notícias sobre a vitória dos Rebeldes Leoninos contra a dominação Algardiana logo se espalhou por todo o continente de Thâmitris, através de comerciantes e andarilhos que sempre passavam pelas redondezas e avistavam agora o estandarte Leonino e Eldoriano.
Entretanto, isso também acabou gerando boatos de que Eldoria ainda estava em pé e logicamente que isso irritou profundamente a corte do Império Vermelho. Sem falar nas revoltas e ações acaloradas que começaram a explodir por todo continente em retaliação ao governo de Joaquim D’Algardia, todas inspiradas na vitória recente da Resistência Leonina e efetuadas em territórios conquistados pelo império. Eu, por outro lado, pedi a Dominic que decretasse uma lei marcial, que impedisse que todo e qualquer membro da resistência revelasse o conhecimento sobre a minha pessoa e de Eldoria, para que assim meu plano e meu povo permanecessem seguros.
A Aliança Rebelde Contra Algardia havia sido decretada e entrado em vigor após Dominic ter jurado sua lealdade a mim, e após os três dias de luto pelas mortes em campo de batalha. Enviamos alguns soldados disfarçados de mercadores em algumas vilas para que pudessem passar a boa nova adiante. Com isso, algumas pequenas vilas e aldeias espalhadas pelos quatro cantos do continente já se declararam nossas aliadas, ganhando nossa atenção e uma quantidade de armas e soldados, enviados para protegê-las, consequentemente expandindo o território de influência da resistência que não parava de crescer com mais adeptos aos nossos ideais.
Novas pequenas campanhas lideradas por Sadreen, Bhalasar e Dominic foram feitas, travando algumas batalhas que ao longo do tempo libertaram muitas pessoas da tirania do Imperador Algardiano, ao mesmo tempo que ocasionou alguns prejuízos nos abastecimentos de recursos da capital do Império. Estou tentando me resguardar ao máximo, os ajudando como posso fora das zonas de combate, para não ser reconhecido por soldados inimigos ou acabar despertando um interesse ainda maior no imperador que a essa altura dos acontecimentos ainda deve achar que estou morto.
Em meus próximos planos pretendo sair da toca dos Leões Rebeldes e ir ao encontro das lideranças Élficas, mas para isso eu irei precisar de um meio de transporte mais eficaz. É por esse motivo que estou nesse exato momento observando aquele lindo e selvagem Mustang negro correr pelo gramado aberto, onde permaneceu sendo cuidado desde a minha última visita ao local juto a Dominic. Havia alguns dias que vinha sempre que tinha tempo para poder observá-lo, estive traçando planos e estratégias para tentar me aproximar um pouco mais dele, mas aquele alazão era extremamente desconfiado e arisco. Um ser selvagem quase indomável, e sinceramente, eu gostava daquilo. Dessa vez eu estava um pouco mais preparado, trouxe comigo algumas maçãs e cenouras, essa era uma oportunidade perfeita de tentar uma aproximação mais afetiva.
Com calma e cuidado, caminhei em sua direção sem sair de seu campo de visão para não assustá-lo, segurando em minhas mãos uma maçã vermelha bem atrativa para o animal, que logo fixou seu feroz olhar em minha pessoa. Mantendo a coragem em meu peito, fui me aproximando cada vez mais até chegar bem próximo do mesmo que bufou como se estivesse incomodado. De imediato ele parou de pastar a grama alta que por ali crescia, e então ergueu seu pescoço olhando firmemente para mim. Aproximei a maçã cuidadosamente dele enquanto começava a cheirá-la, então pegou-a com sua boca e logo começou a mastigar o alimento. Esperei mais alguns segundos para tentar ganhar sua confiança, mas assim que aproximei minha mão no seu focinho, o mesmo relinchou irritado e me deu as costas rapidamente, galopando para longe de mim. Aquela era uma primeira tentativa, mas não gostaria de estressá-lo mais que o necessário, então julguei ser um grande avanço a aproximação e a alimentação feita de forma direta.
Peguei minhas coisas e retornei aos complexos da toca dos rebeldes, já não havia mais o que ser feito ali naquele dia, e tudo o que poderia fazer era deixá-lo descansar bem como a mim mesmo. Ao andar pelas vielas o povo sempre me cumprimentava, e confesso que aquilo me dava um certo sentimento nostálgico de como eram as coisas em Eldoria. O povo ainda acredita que sou o herói de Thâmitris, quase como um escolhido para libertá-los e assim espero responder suas expectativas à altura. Mesmo sendo muito novo, tenho muita energia e aprendizados pela frente, eu quero que tudo isso se torne os motivos pelos quais me levarão a vitória sobre o Império de Algardia.
No caminho de volta para meus aposentos, acabei avistando Miyuki que comprava algumas verduras de uma das várias feiras que haviam ali naquela grande e movimentada área central. Ao seu lado estava Fenrir, que logo latiu enquanto corria em minha direção.
— Ah! Aí está você! Alguém acordou muito cedo novamente hoje... — Miyuki se aproximou segurando suas mercadorias, e então me beijou na bochecha. — Tem certeza de que não está exagerando?
— Hoje consegui um avanço até que significativo. Ele comeu uma maçã que apanhou da minha mão, acredito que a partir de agora será questão de tempo até que consiga sua confiança. — Acariciei os pelos de Fenrir enquanto explicava a Miyuki meus feitos.
— Espero mesmo que consiga. — Com o sorriso gentil de Miyuki, tornamos a caminhar juntos até o nosso local de descanso. — Está ansioso para os próximos passos? Sabe que agora será um caminho bem longo até o Reino de Melmardy, não sabe?
— Os avanços que os Rebeldes vem adquirindo são muito significativos. Acredito que Joaquim deva estar incomodado em seu trono a uma hora dessas, posso quase sentir sua orelha esquentar de tanto nervoso que deva estar passando. — Aquela afirmação veio junto de uma gargalhada sincera. — Ainda terão muitas batalhas pela frente, muitos aliados para se conquistar. E eu ainda tenho que atender o chamado de Halwking e ir até o Reino Élfico.
— Daqui até o Reino Élfico agora não será problema, está bem próximo... Todas as vilas e aldeias em volta da região são adeptas as causas Rebeldes — Miyuki continuou a me encorajar.
— O que me preocupa ainda é até quando Algardia vai se manter assim... Está estranho. O exército deles é pelo menos 10 vezes maior e mais forte que o nosso. Sem falar nas criaturas demoníacas! Eu me arrepio todo só de pensar em rever aquela tal Ignis Scarlett mais uma vez. — Franzi o cenho ao me recordar de toda aquela carnificina do agora destruído covil da demônia.
— De fato isso será um grande problema, mas você elevou a moral de todos com aquela vitória! Veja, você treinou pessoalmente o exército Rebelde e os deu meios de serem mais organizados militarmente! Acredito que agora você deva de fato dar continuidade aos seus objetivos pessoais. — Miyuki olhou para mim com firmeza e confiança, e eu só consegui respondê-la com um assentir de cabeça, pois de fato ela estava correta.
Ao chegarmos ao nosso destino, Miyuki se colocou a fazer alguma coisa para nós comermos, enquanto isso peguei um pote de tinta preta e uma pena de falcão, começando a fazer anotações sobre aquele cavalo em vários papéis espalhados pela mesa. Já havia descoberto algumas coisas ao observá-lo nesses últimos dias. Se tratava de um cavalo forte, imponente, veloz, perspicaz e muito desconfiado. Era com certeza uma máquina de guerra natural que amedrontaria qualquer um que ousasse enfrentá-lo. Ele adora comer as maçãs da macieira que cresce em seu campo. Já o flagrei ficando sobre dois cascos para pegar uma fruta que ainda estava presa na árvore. Ele adora correr e descansar de 5 a 7 vezes ao dia em turnos de 40 min. Era incrível vê-lo exercer sua força e velocidade, quase como um grande espetáculo, e quando trocamos olhares, senti uma conexão com aquele Mustang. As vezes ficamos vários minutos nos olhando, como se ele estivesse esperando alguma atitude minha. Seu pelo é negro e brilhante como o céu noturno, e por incrível que pareça, eu ainda não havia achado um nome decente para ele.
Fenrir se aproximou de mim e ficou de pé ao meu lado colocando suas patas dianteiras apoiadas sobre a mesa. Então ele olhou para mim, deixando sua grande língua pra fora.
— É amigão... Sabe me dizer o que fazer? — Ele continuou apenas a me olhar de forma boba como quem quer apenas um pouco de atenção. Logo minha mão repousou entre suas orelhas, lhe recompensando com um longo carinho. — É um grande carente mesmo...
— Sabe Magnus... Eu estava pensando... — Miyuki parou de imediato tudo o que estava fazendo, deixando até mesmo um jarro cair no chão e se espatifar. Ela então se apoiou sobre o balcão ao lado do fogão a lenha, tentando não cair para trás.
— Miyuki! — A segurei rapidamente após sair às pressas da cadeira. — Você está bem? O que aconteceu?!
— Me perdoe... Eu só senti um pouco de cansaço e tontura... — Ela se recompôs com a mão sobre a testa, e logo tornou a andar em direção ao banheiro. — Eu vou ao banheiro...
—Ah... Está bem? — Eu não compreendi, mas sabia que algo não parecia estar certo.
Já havia passado três dias desde que Miyuki estava agindo de forma estranha, ela não parecia bem e em alguns momentos parecia um pouco mais emocional que o normal. Sentia-se cansada e estava usando o banheiro com mais frequência.
[...]
[Toca dos Leões, 16 de julho do ano 812 da Era Mágica]
Por mais uma vez, lá estava eu tentando me aproximar daquele Mustang indomável, dessa vez eu havia conseguido pelo menos chegar perto dele sem que ele tentasse correr de mim. Com algumas maçãs em minhas mãos, logo tratei de começar a alimentá-lo. Com o passar do tempo pude sentir um pouco mais de conexão com ele. Lembrei novamente do meu pai e de como ele adorava tratar bem os cavalos do Reino, ele dizia que todo cavalo simboliza a nobreza de seu cavaleiro e quanto mais bem cuidado, maior é a disciplina de seu mestre.
Pela primeira vez eu havia finalmente conseguido ao menos tocar naquele cavalo enquanto o alimentava, mesmo que ele soltasse algumas bufadas desconfiadas. Alisei com cuidado todo o seu pelo na região de suas costelas, podendo assim sentir a quão macio era.
— Pelo jeito está conseguindo ter um ótimo resultado aí! — Gritou Dominic escorado na entrada. — Quem diria que ele deixaria alguém tocá-lo algum dia!
O cavalo finalmente disparou, quase me derrubando no seu processo de fuga, e sinceramente quase xinguei Dominic por isso.
— Não tinha outra hora melhor para gritar não?! — Abri meus braços em desaprovação.
— Desculpa! — Gargalhou ele em seguida.
Já que não tinha mais o que ser feito ali, corri até ele que me recebeu com um abraço e então segurou em meus ombros.
— É bom vê-lo novamente. — Disse ele a mim
— E então? Como estão indo as coisas? Alguma novidade? — Cruzei meus braços ao observá-lo sentar em uma das grandes pedras do local.
— Ah, você sabe Magnus, livramos mais uma vila das garras de Algardia. Bhalasar e Sadreen logo mais estarão de volta ao Quartel General, e quanto ao Imperador... — Ele apoiou sua espada ao seu lado.
— Nenhuma sequer movimentação ainda... — Completei sua fala, e como resposta, ele assentiu com a cabeça de forma decepcionante. — Isso está realmente começando a ficar perigoso e preocupante.
— Você pretende continuar seu caminho quando Magnus? Sabe que já fez o que era necessário aqui correto? — Me questionou ele de forma afiada.
— É eu sei... Miyuki me disse a mesma coisa. Eu estou pretendendo ir assim que domar aquele grandão ali. — Apontei com o dedo indicador em direção ao campo trás de mim. — Será mais rápido e eficiente se tiver uma sela sobre as costas daquele Mustang.
— Você tem um ótimo ponto... — Ele tornou a colocar as mãos sobre o queixo de forma pensativa. — Daqui você irá até o Reino Élfico, e do Reino Élfico pretende ir até o Reino Litorâneo de Melmardy. Espero que consiga travar suas alianças... Serão duas nações de extrema importância nessa guerra.
— Se obtivermos a confiança e o poder da Ordem Sacro Mágica, Algardia terá uma gigantesca pedra em seu encalço. Por outro lado, ter a força marítima dos Melmardy nos colocará em uma vantagem inigualável. — Expliquei a ele em detalhes os meus pensamentos.
— Tome cuidado Magnus... Ouvi dizer que os elfos não gostam muito de se envolver com o mundo fora da Floresta Sagrada. Pode ser que seja difícil de convencê-los. — Olhando diretamente para mim, Dominic novamente se levantou. — De qualquer forma, espero ansiosamente por suas notícias meu Rei.
— Poderá me chamar assim a vontade quando Algardia cair. — Sorrindo o respondi, apertando sua mão em despedida.
[...]
[Toca dos Leões, 17 de Julho do ano de 812 da Era Mágica]
No dia de hoje irei tentar acariciar novamente o focinho do cavalo, não deixei de estar preparado e estou trazendo junto a mim uma sela, rédeas, uma corda e alimento para prender sua atenção. Precisava da confiança dele o quanto antes para que meu plano obtivesse sucesso, pois já se passara uma semana desde que iniciei minhas tentativas de domar esta fera e eu não podia perder mais tempo. Ao chegar ao local, o avistei correndo pelo campo enquanto bufava. Me aproximei de seu território com calma e tranquilidade para não assustá-lo, ao perceber minha presença logo desacelerou ficando frente a frente comigo. Nossos olhares foram trocados de forma intensa, até que ergui o sexto de cenouras e maçãs que havia trazido comigo.
Com cuidado coloquei o sexto na sua frente, esperando até que ele por si só viesse até mim. E como planejado, ele relinchou se aproximando com cuidado sem tirar os olhos da minha pessoa, chegando até a sua refeição desejada. Assim que o vi confiante diante minha presença, me aproximei cuidadosamente até que finalmente consegui pousar minha mão sobre sua cabeça entre as orelhas. Um sorriso cresceu em meu rosto, quase incrédulo do que estava finalmente acontecendo, eu mal podia acreditar que depois de tantas tentativas eu realmente havia conseguido a confiança daquele cavalo. Continuei o acariciando até um pouco abaixo do seu focinho, e assim que o vi relaxar rapidamente peguei a sela, as rédeas e a cabeçada. E sem perder a oportunidade engatei a sela em sua barriga a ajustando em suas costas, e então aproveitei que ele ainda estava comendo para passar a cabeçada juntamente as rédeas por sua boca, apertando a fivela que a prendia. Por mais que ele tenha ficado confiante na minha presença, era possível notar que ele ainda não era nada manso, mas mesmo assim deveria ao menos tentar guiá-lo.
Segurando em suas rédeas rapidamente subi em suas costas, e ao fazer isso o Mustang negro logo ergueu seu pescoço olhando para trás, nesse momento eu já sabia que a coisa tinha ficado feia. Percebendo que ele iria começar a correr e agir com veemência para tentar me tirar de cima dele, segurei firmemente as rédeas e me preparei para o desafio que viria a seguir. O cavalo disparou com velocidade no gramado verde de forma espontânea e sem rumo certo de onde iríamos. Diante aquela situação inusitada, puxei as rédeas o fazendo ficar sobre suas duas patas ao relinchar de forma furiosa.
— Eu não irei perder pra você após tanto tempo! Não agora! — Gritei firmando meus pés nos estribos da sela.
Em resposta a minha atitude ele começou a pular freneticamente, dando vários coices no ar enquanto tentava me tirar de seu dorso. Eu segurava as rédeas como se fossem a última coisa que não poderia soltar na minha vida, e de fato, naquele momento se tratava de ser mesmo.
Investidas rápidas e pulos foram dados pelo Mustang, enquanto eu teimosamente insistia em não sair de cima dele. Nossa briga se alastrou por mais alguns minutos, até que ele finalmente havia se cansado de tentar me expulsar da sela. Ao ver que não iria conseguir me deter, cedeu ao meu controle sobre as rédeas que segurava com força. Minhas mãos doíam, mas em compensação eu havia finalmente domado e exercido controle sobre toda aquela situação, mesmo que aquele cavalo fosse muito arisco ainda.
— Você... Com certeza é um problema que vai valer o esforço... — Acariciei sua crina e seu longo e forte pescoço enquanto ainda estava ofegante com todo aquele trabalho. Ele relinchou bufando em seguida, como se estivesse reclamando. — Me dá um descanso vai...
Após um tempo deitado sobre o seu pescoço, eu finalmente desci de minha mais nova montaria, mesmo que ele não concordasse muito com essa afirmação ainda. Ele sabia que teimar comigo não adiantaria em nada, sem falar que no dia de hoje provei minha força de vontade e adquiri sua confiança por completo. Amansar o cavalo será uma tarefa que levará alguns meses, mas pelo menos agora tinha meios mais rápidos de se locomover pelas terras do continente. Segurei suas rédeas e comecei a guiá-lo até um local onde pude amarrá-lo próximo a sua sexta de fruta que estava a sua disposição. Ele por si só já havia um pelo bonito, mas agora era hora de começar a cuidar dele com mais afinco, então peguei uma escova manopla e comecei a alisar seu pelo. Após todo o procedimento ser feito eu retirei a sela juntamente com as rédeas, o deixando livre novamente pelo campo, ele então ficou me olhando por mais alguns segundos, até buffar e sair correndo em direção ao campo aberto por mais uma vez. Hoje definitivamente havia se tornado uma completa missão cumprida.
[...]
— Miyuki! Eu consegui! Eu domei o cavalo! — Cheguei aos meus aposentos extremamente animado com o feito.
— Sério!? Ah, pelos deuses Magnus! Isso é ótimo! — Ela correu me abraçar, envolvendo seus braços em volta do meu pescoço. — Parabéns! Seu esforço não foi em vão.
— Obrigado... — Nos beijamos de forma calorosa e demorada, mas assim que tentei avançar um pouco mais, ela segurou minha mão, me impedido de continuar. — Está... Tudo bem?
— Desculpa... Eu ainda não estou me sentindo muito bem. Hoje fui até a Ursula que me examinou. — Sua voz parecia um pouco trêmula, mas nervosa de certa forma.
— E está tudo bem? O que ela falou? — Eu estava preocupado, não havia como não estar, já fazia dias que ela estava estranha.
— Está!!! Digo... Está sim... Não há nada com que você tenha que se preocupar... — Por algum motivo, aquilo não havia me parecido muito convincente, mas por outro lado eu queria confiar em suas palavras. E com isso em mente, acabou que sua afirmação seguinte me fez ficar ainda mais tranquilo. — Você não vai entender, é coisa de mulher... Sabe? Fique tranquilo, eu estou bem.
— Certo. Você tem razão. Mas se precisar, não hesite em me chamar... — Segurei sua cintura abraçando-a calorosamente de novo. Ela então assentiu com a cabeça, se aconchegando em meu abraço.
Após comermos Miyuki disse que estava se sentindo cansada, e por esse motivo decidiu que iria para cama mais cedo me dando um beijo de despedida. Eu por outro lado decidi sair um pouco para andar pelas ruas, mas devo confessar que minha ansiedade estava em ver como aquele cavalo estava. Minha única companhia naquela noite estrelada era Fenrir, que andava ao meu lado como sempre fez desde que era apenas um grande filhote. Eu não parava de pensar e matutar um nome para aquele Mustang de pelagem negra. Era realmente uma incógnita em minha cabeça, e distraído ao pensar nisso, acabei por nem perceber para aonde estava caminhando até finalmente olhar para frente e avistar a entrada do local onde ele estava. Ao adentrar no local, pude vê-lo ao longo do gramado, deitado e dormindo justamente embaixo da macieira que sempre lhe disponibilizava sua comida favorita.
A noite estava linda e o céu bem aberto, sendo possível ver várias das mais importantes estrelas que brilhavam no escuro infinito da noite. Eu e Fenrir adentramos o gramado e logo fomos em direção ao grande cavalo negro que dormia, o mesmo sentiu nossa presença e ergueu a cabeça para nos observar. Aproximamos-nos dele, mas mesmo assim, o grande cavalo continuava a não se importar com nossa companhia ali. Sendo assim, me permiti sentar ao seu lado para olhar as estrelas, assim como meu pai havia feito comigo dias antes de morrer de maneira fria e cruel. Fenrir finalmente deitou-se ao meu lado se aconchegando em volta de sua cauda peluda, logo começando a dormir.
A lua brilhava e iluminava toda aquela região mais aberta, e as estrelas continuavam a brilhar de forma intensa no céu.
— Adria, Asus, Orthor, Cariús... — Com o dedo fui nomeando cada uma delas, assim como meu pai havia ensinado, até que minha atenção se fez para a mais forte e brilhante de todas. — E essa... É Aragon.
Num pequeno ápice de epifania, eu pensei novamente sobre o assunto do nome daquele Mustang que dormia ao meu lado. Ao olhar para ele, percebi que seu pelo brilhava de forma intensa mesmo diante da luz prateada da Lua, e foi naquele momento que tive uma luz sobre como deveria chama-lo.
— Aragon, a estrela mais brilhante do Céu Noturno... — Olhei para ele colocando cuidadosamente minha mão sobre o pelo do seu pescoço, acariciando-o levemente para não acordá-lo. — Seu nome será Aragon.
E ali embaixo da macieira e das estrelas, eu, Fenrir e Aragon adormecemos sem nem perceber o momento exato em que caímos no sono profundo.
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