O Segredo no Luar Brasileira

Autor(a): Moonlight Valley


Volume 1

Capítulo 10: O Segredo no Luar

 

Enquanto a figura luminosa preparava-se para falar, o ambiente ao redor começou a vibrar levemente, como se o próprio espaço estivesse respondendo à urgência daquela conversa. Luna sentiu um peso sutil no ar, como se algo estivesse prestes a mudar.

Foi nesse instante que tudo pareceu silenciar dentro dela — um breve momento de pausa, de respiro — antes que a voz da mulher voltasse a preencher o vazio com novas verdades.

— O colar... aquele que você encontrou em sua casa... ele pertencia a mim. Foi nele que guardei um amigo. O espírito que você viu... era ele, o que estava preso no colar.

— Se ele era seu amigo, por que ele estava atacando a cidade, isso não faz sentido, quem prenderia um “amigo”? — Luna, mostrou-se confusa diante dos fatos contraditórios apresentados.

— Pense um pouco, você presenciou em primeira mão o poder dele e os homens estranhos perseguindo o colar, prendi ele para que não fosse rastreado e para que não caísse na mão de pessoas erradas.

Luna permaneceu em silêncio por um instante, absorvendo cada palavra. Percebendo que algo ainda está errado, mas lembrou-se de um detalhe.

— Mas ele parecia... perdido. Furioso. — murmurou, quase para si mesma. — Como se tivesse esquecido quem era.

A figura assentiu levemente, como se esperasse por aquela observação.

— E esqueceu. O tempo dentro do colar é diferente, pois não consegui concluir meu encantamento. Ele ficou lá por muito mais tempo do que deveria... e sozinho. Sem uma âncora, sem uma consciência estável, acabou se fragmentando. A raiva e a dor tomaram conta do que restava dele.

Luna franziu a testa, tentando entender.

— Então ele não é mais o mesmo que você conhecia?

— Parte dele ainda existe, mas o resto... é o caos da guerra. Quando o colar quebrou e o libertou, ele despertou num mundo que já não reconhecia — e reagiu como uma criatura ferida, um animal selvagem.

Luna sentiu um aperto no peito. Aquela criatura havia sido amiga daquela mulher. E agora...

— Ele se foi ou podemos fazer algo para ajudá-lo? — sua voz saiu baixa, quase hesitante.

A figura desviou o olhar por um instante, sua expressão entristecida.

— Não completamente. Ainda resta uma centelha, mas será preciso muito mais do que palavras para trazê-lo de volta. E é por isso que você está aqui, Luna.

— Eu?

— Sim. Há coisas dentro de você que ainda não despertaram. E só com elas você poderá guiá-lo de volta — ou enfrentar o que ele pode se tornar.

— Então é isso que você quer de mim? — Luna perguntou, a voz embargada entre medo e curiosidade. — Que eu o traga de volta?

A figura fez que sim com um leve movimento de cabeça, sua presença ainda irradiando uma calma quase sobrenatural.

— Mais do que isso, Luna. Você terá que domá-lo... e torná-lo seu.

Luna arregalou os olhos.

— "Domar"? Como se fosse um pet?

— De certo modo, sim. — A mulher se aproximou um pouco, como se quisesse diminuir a distância entre elas e tornar suas palavras mais íntimas. — Aquele espírito é um Ser Espiritual. Uma entidade feita de pura energia espiritual, nascida de um ponto de alta concentração de energia. Ele não é um ser vivo no sentido tradicional. Não pode morrer como nós, mas se a energia dele se esgotar, desaparecerá para sempre.

Luna absorvia cada palavra como se estivesse ouvindo uma verdade antiga, enterrada sob séculos de silêncio.

— Então... ele pode ser controlado?

— Não exatamente controlado. Mas pode ser vinculado a você. Existem pessoas com um talento especial, capazes de formar um Contrato Espiritual com esses seres. E você é uma delas.

Luna deu um passo para trás, insegura.

— Mas por quê? Eu não sou ninguém especial...

— Está enganada. O espírito reagiu a você. Isso só acontece quando há compatibilidade espiritual. Ele tentou se conectar, mas estava fragmentado demais para distinguir aliado de inimigo.

A figura então estendeu a mão, e um brilho suave surgiu em sua palma, moldando a imagem do colar de Luna.

— Este colar foi o receptáculo que abrigou sua consciência por anos. Ele ainda pode servir como elo entre vocês, mas só se você for forte o suficiente para conduzi-lo. O contrato... exige mais do que palavras. Você terá que enfrentá-lo — não apenas em batalha, mas dentro de si.

— E se eu falhar?

— Se falhar... ele será consumido pelo caos de vez. E você talvez não sobreviva ao impacto espiritual de tentar abrigar um ser daquele nível. Ele não é comum. É um espírito raro, quase lendário. O vínculo entre vocês pode te tornar mais forte do que jamais imaginou — mas também pode destruir você.

Luna respirou fundo, sentindo o peso daquela responsabilidade se espalhar por seu peito como fogo.

— O que eu preciso fazer?

A figura sorriu suavemente, lembrando de si mesma quando mais nova, seus olhos brilhando como a luz de um amanhecer distante.

— Quando acordar... siga o chamado. Ele vai sentir você, e você vai sentir ele. O momento do reencontro virá — e quando vier, olhe-o nos olhos e mostre que você não tem medo. O vínculo nasce do respeito... e da coragem de caminhar lado a lado com algo maior que você mesma, por agora mostrarei o caminho para ele com a energia restante que me sobrou.

Um brilho dourado começou a emanar da figura e do pulso de Luna, espalhando-se em finos feixes de luz que serpentearam pelo espaço branco ao redor, como rios fluindo em direção a um ponto invisível. A própria presença dela parecia vacilar, tornando-se mais etérea a cada segundo.

— Minha existência aqui está se desfazendo, Luna. Use bem o tempo que lhe dei. O caminho até ele foi aberto, mas será você quem terá que atravessá-lo.

Luna observava, o coração batendo forte, como se já sentisse o chamado pulsando em seu espírito.

— E quando eu encontrá-lo... como vou saber o que fazer?

— Você vai saber. Não com a mente, mas com a alma.

A luz da mulher se intensificou de repente, envolvendo Luna em um calor reconfortante, como o abraço de alguém que ela não sabia que sentia tanta falta. Em meio ao brilho, ouviu a última frase da figura, sussurrada como vento entre as folhas:

— Lembre-se... coragem não é ausência de medo. É seguir em frente apesar dele… Boa sorte… min- filh- e lembr- se… t- amo — as palavras finais saíram como ruídos.

Então, tudo se desfez em luz.

Luna, fechou os olhos, e um caminho se formou no escuro, seguindo-o até o final.

Luna respirou fundo, sentindo cada passo reverberar no vazio ao seu redor enquanto avançava pelo caminho que se desenhava diante dela. A escuridão parecia pulsar, e uma luz tênue surgia ao longe — uma promessa de respostas e desafios.

De repente, uma forma de luz se desprendeu do final do caminho, movendo-se com suavidade até alcançar seu peito. O calor que emanava era diferente de tudo que já sentira, uma presença viva, inquieta, mas também familiar.

A luz deslizou pela pele até se moldar em seu pulso, formando uma delicada pulseira prateada, adornada por pequenos pingentes em forma de lua crescente, cheia, e minguante, que brilhavam com um brilho etéreo.

— Este é o elo — a voz da figura soou, distante, quase um sussurro dentro de sua mente. — A primeira conexão entre você e o espírito. Ele agora habita em você, Luna. Domá-lo, torná-lo seu, será a prova mais difícil que enfrentará.

A pulseira pulsava com uma energia sutil, como se respirasse junto com ela.

E então, o mundo ao redor começou a se desfazer, a luz se expandiu até engolir tudo.

                                                      

                                                    --= ☽ ✧ ◯ ✧ ☾ =--

 

Luna abriu os olhos lentamente, sentindo um leve desconforto no corpo, como se tivesse sido derrubada, mas a cabeça ainda pulsava de forma estranha. O céu acima era vasto e claro, um azul intenso que ela não via há algum tempo.

Ela estava deitada no chão — não no quarto, mas na rua, sobre o concreto quente. Ao redor, vozes familiares quebravam o silêncio.

— Luna! Você está bem? — Hana se abaixou ao seu lado, preocupação estampada no rosto.

— O que aconteceu? — perguntou Ryuu, olhando em volta, atento.

Luna levou a mão ao pulso, sentindo o toque frio e suave da pulseira lunar, que brilhava sutilmente sob a luz do sol.

Seu pai, Yoru, apareceu ao lado, com os olhos fixos nela, misturando alívio e seriedade.

— Você desmaiou, menina. Precisamos entender o que está acontecendo com você, não me diga que você e o espírito…

Os tios, Dai e Jun, ficaram um pouco mais afastados, trocando olhares tensos, cientes de que algo maior se desenrolava.

Luna se sentou com cuidado, sentindo a energia pulsante dentro dela — o espírito, agora parte dela, fazendo seu vínculo silencioso e intenso.

Ela respirou fundo, como se buscasse mostrar que estava pronta para o que viesse.

— Acho que tudo mudou, pai. Minhas lembranças estão um pouco confusas, mas as coisas fazem mais sentido agora…

— Precisarei que me conte melhor essa história… Mas primeiro, vamos para casa, a barreira que o inimigo levantou está se desfazendo e logo todos de fora poderão nos ver.

Luna assentiu, sentindo o peso da urgência nas palavras do pai. Ao seu redor, o ambiente parecia mais tenso, como se o ar carregasse uma eletricidade invisível, pronta para explodir.

— Tudo bem — disse ela, levantando-se com esforço. — Vou tentar explicar tudo que conseguir lembrar.

Yoru olhou para os tios, que já começavam a reunir seus pertences e ficar alertas.

— Precisamos nos mover rápido — falou Dai, com a voz firme. — Se a barreira está caindo, é só uma questão de tempo e não seria legal e nem simples de explicar a situação para pessoas comuns sem o poder espiritual.

Hana se aproximou, segurando o braço de Luna com gentileza para ajudá-la.

— Não se preocupe, estamos juntos nessa. Você não vai enfrentar nada sozinha, Luna.

 

                                                    --= ☽ ✧ ◯ ✧ ☾ =--

 

Alguns dias se passaram desde o ataque. A escola havia entrado em recesso por uma semana para a manutenção da infraestrutura danificada, dando a todos um breve respiro para assimilar os acontecimentos recentes. Durante esse tempo, Luna e seu pai se reuniram com a família Aoki para conversarem sobre os Seres Espirituais — suas origens, seu funcionamento e a importância vital de manter esses segredos longe dos olhos das pessoas comuns e com o intuito de ajudar Luna a dominar esse poder também.

Na sala, Luna sentiu o olhar atento de seus tios, Jun’ichi e Saori, e da amiga Hana. Tio Jun, com seu cabelo bagunçado e os olhos que brilhavam à luz, transmitia calma e segurança, mesmo sem dizer muito. Saori, tranquila e protetora, tinha um jeito acolhedor, enquanto Hana sorriu para Luna, oferecendo apoio silencioso.

Jun, iniciando a reunião, falou com a voz firme:

— Precisamos que vocês entendam a gravidade da situação. Os seres espirituais são muito mais do que energia — podem causar problemas se não forem controlados, e nosso mundo precisa permanecer protegido disso, vidas estão em jogo.

Yoru olhou para Luna, com expressão séria.

— Sua conexão com esse espírito é especial, Luna. É por isso que precisamos te preparar para manter sua aura oculta. Se as pessoas que estavam atrás desse poder perceberem, pode ser perigoso para você e para todos nós.

Jun, com um leve sorriso, acrescentou:

— Por isso, decidimos organizar um acampamento de treino durante as férias de verão de vocês, em Okinawa. Será uma oportunidade para vocês, Luna, Hana e Ryuu, aprenderem a controlar seus poderes e a esconder a presença espiritual na sociedade, e aqueles que já sabem disso, ganharem mais experiência e se fortalecerem.

Luna engoliu seco, sentindo o peso da responsabilidade, mas também um certo alívio por não estar sozinha.

— Okinawa… — repetiu, quase em um sussurro.

Yoru se aproximou do centro da sala, as mãos cruzadas nas costas e a postura ereta, imponente. Quando falou, sua voz cortou o ar como uma lâmina — firme, baixa, carregada de decisão.

— O treinamento será em uma das ilhas de Okinawa. Um local isolado, sem fluxo de pessoas comuns. Escolhi aquele ponto porque a interferência espiritual é mínima... ideal para quem precisa aprender a esconder sua presença.

Luna franziu o cenho, intrigada.

— E quem vai nos treinar?

Yoru encarou a filha por um momento. Seus olhos revelavam orgulho, mas também uma preocupação silenciosa.

— Minha cunhada, Midori. Ela está vindo de onde nasci, especialmente para isso.

O nome soou desconhecido para Luna, que trocou um olhar rápido com Hana.

— Sua cunhada? Irmã da minha mãe? Por que nunca ouvi falar dela antes?

— Porque Midori prefere o silêncio ao barulho — respondeu ele. — E porque os caminhos que ela trilhou... não foram feitos para os fracos. Nem para quem deseja uma vida comum.

Ele deu um passo à frente, fazendo os três adolescentes instintivamente se manterem atentos.

— Vocês não vão para um retiro de verão. Isso é um campo de preparação. Midori vai ensinar vocês a camuflar a aura, controlar o fluxo espiritual... e, se tiverem o que é preciso, usarem esses poderes com clareza e propósito.

Ryuu coçou a nuca, desconfortável e de forma antipática como sempre.

— Parece... intenso.

— Será. — A resposta veio sem hesitação. — Mas é necessário. O que aconteceu naquela noite não foi o fim. Foi o começo. Vocês têm poder demais para andarem por aí sem controle.

Hana cerrou o punho ao lado do corpo, determinada.

— Quando partimos?

Yoru virou-se, indo em direção à escrivaninha onde estavam alguns papeis dobrados, mostrando as passagens com data marcada para o início do recesso de verão.

— No primeiro dia das férias de verão. Estou organizando ainda, mas creio que logo terei tudo pronto.

Luna sentiu o peso do momento se instalar sobre os ombros, como uma segunda pele. Mas também havia algo diferente agora. Uma faísca — talvez coragem, ou só o eco do espírito dentro dela.

Ela assentiu com um leve sorriso.

— Então vamos nos preparar.

 

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