O Retorno da Gula Coreana

Tradução: Teverrr

Revisão: Melão


Volume 1

Capítulo 16: Caça ao Tesouro (4)

Havia compartilhado comida com 7 pessoas mais cedo. Dessas, Shin Sang-Ah, Yi Sungjin, Hyun Sangmin e Yun Seora, assim como outras 3 estavam de pé no corredor da sala 3-2, parecendo incapazes de entrar na zona segura.

Mas não eram todos.

Tinha encontrado três rostos familiares do lado de fora da 3-1. Yi Hyungsik e Jeong Minwoo emanavam uma aura triunfante, enquanto Kang Seok estava sentado em uma cadeira parecendo relaxado e orgulhoso de si mesmo.

— Finalmente você chegou. — Nóia levantou a mão em um cumprimento, mas foi ignorado, já que todos pareciam estar nervosos.

— Eles tão falando que é um feitiço que restringe o acesso.

“Um feitiço que restringe o acesso?”

Andou em direção a barreira, porém logo foi forçado a parar. Aquilo não estava certo.Não conseguia continuar seguindo em frente, parecia que havia algum tipo de barreira invisível o bloqueando.

Tateou o ar e pôde sentir algo que lembrava uma porta. 

Toc, toc. 

Não havia nada visível à frente, mas tinha a sensação de ter encostado em algum objeto.

— Tá perdendo tempo. Sabe, consegui isso como bônus de início. Ninguém entra sem a minha permissão — falou com um pedaço de papel amassado entre o dedo indicador e o médio. — Não esqueceu que eu sou um Marca de Prata, né, senhor Marca de Ouro fodão?

— Foi você quem abriu a porta para o sexto andar, não foi?

— Bingo.

— Por quê?

Mm? Eu consegui a chave com a máquina. Não sabia que era só gastar 199 moedas?

Claro que sabia. No entanto, estava curioso para saber o motivo de terem a comprado logo de cara. Afinal, ele e Yun Seora haviam conseguido a maioria das moedas. Logo, seria normal que o resto das pessoas priorizassem outros itens. Já seria difícil encontrarem o suficiente para a taxa do portão, então por que…

Ahh… — Uma hipótese formou-se na sua cabeça. Olhou para trás de si e a viu inconsciente.

— Não é que você é inteligente mesmo? Olha, tenho que admitir, essa era uma aposta com poucas chances de sucesso. Assim, pra dar certo, duas coisas teriam que acontecer, sabe? Se você não saísse da zona segura a gente tava era fodido.

— Do que você tá falando?

— Mas, eu tinha quase certeza que você iria sair. Sério, um cavalheiro como você não conseguiria ficar com a bunda na cadeira enquanto ouvia um grito daqueles.

Seol estava pensando no que poderia ter ocorrido.

— Eu tava pensando em fazer alguma coisa com a Seora no momento certo, mas, por algum motivo, ela tava muito animada pra encontrar mais moedas. Ah, qual é. Foi bom pra gente no fim das contas, não foi?

Com aquela frase, as peças se encaixaram.

O primeiro passo foi conseguir a chave para o sexo andar. Com os três trabalhando juntos não deve ter sido tão difícil. Quando a capturaram, passaram a analisar mais a situação.

Desde o começo o objetivo não era acertá-lo. Planejavam atacar Yun Seora quando essa revelasse que tinha um mapa. O tempo era importante, mas a maior variável ainda era ela. Deviam tentar qualquer coisa para separá-la.

O plano original era que um dos três atacassem alguém para chamar a sua atenção e, enquanto isso, os outros dois partiriam para cima de Yun Seora. Pela sua personalidade, mesmo que algum acidente acontecesse, não ligaria e continuaria agindo normalmente, já que estava focada em conseguir mais moedas mesmo depois da meia-noite. Como isso poderia ser mais perfeito?

Então, o trio a atacou quando ela entrou no banheiro feminino. Depois de roubar as moedas, foram ao sexto andar antes que Seol chegasse ao local em que ela estava ferida. Por fim, quando ele ainda estava no quinto andar, foram para a zona segura e ativaram o feitiço de restrição.

— Vocês estão malucos! — gritou Shin Sang-Ah. — Seus doidos desgraçados! Vocês quase mataram uma pessoa só pra conseguir a porra de algumas moedas?

— Não. A gente não queria isso. Era só deixar ela fora do jogo. Juro que era isso. Mas aí essa piranha foi muito persistente. Ela segurou minha bolsa e não queria largar, o que me deixou bem puto. É por isso que… — O final da frase de Nóia foi interrompida, pois Jeong Minwoo riu e imitou alguém esfaqueando outra pessoa com uma adaga. Ele também era um Invocado, tendo a sua Marca classificada como Bronze.

KKKIIIEEEEEHHHHHH!!!

Um rugido demoníaco ressoou. Quase todos ficaram pálidos. O primeiro monstro que encontraram no início daquilo tudo — Gaekgwi, estava subindo as escadas.

— Opa! Parece que aquele bicho tá bem puto, né? Bem, ele ficou preso lá embaixo esse tempo todo. — Kang Seok e os seus dois capangas pareciam bem relaxados com a situação. — Se vocês estão esperando o feitiço acabar é melhor desistir.

— Tá dizendo que vai durar pra sempre?

— Nem tanto. Não é um item tão apelão. A duração depende do tamanho do lugar. Se eu fosse colocar o maior tamanho de área bloqueada possível, provavelmente iria durar uns 8 minutos, no máximo. Mas o que você acha que vai acontecer se eu deixar só com metade? Tipo, só essa parte do corredor. — Nóia apontou para a entrada principal e lateral da zona segura.

Todos ficaram em silêncio. Não tinha muito o que falar. Ele estava dizendo que, quanto menor o tamanho do local a ter sua passagem impedida, mais tempo o feitiço poderia ficar ativo.

— Com aquele bicho chegando, vocês também não conseguiriam ir pro sexto andar.

Ah, isso? Relaxa. Sabe, eu sou um filho da puta sortudo. Olha aqui. — Puxou outro pedaço de papel. — Viu? Tenho outro papel talismã com um feitiço escrito!

“A única coisa que pode ter deixado esse filho da puta tão chato é ter levado uma surra do pai bêbado na infância.” pensou.

— Por favor, deixa a gente entrar! — gritou o jovem que havia pedido para Seol reviver o seu amigo.

— Oi?

— E-eu não fiz nada com você.

“Tá dizendo que eu fiz alguma coisa errada, então?”

Com uma expressão cínica, Nóia abriu os olhos e começou a coçar o queixo.

— Sim, é verdade. Pode ser. Seria injusto. Perfeito! Você, você e você. Eu deixo os três entrarem — disse, querendo parecer benevolente enquanto apontava para os seus escolhidos.

Eles se olharam e, sem nenhuma hesitação, correram pra dentro da sala. Parecia que haviam voltado para o segundo andar e estavam correndo para passar pela barreira de metal novamente.

 Dentro da classe, respiraram aliviados. Então, o momento no qual Nóia esperava chegou. Ele encarou os outros e deu um sorriso relaxado.

“Lá vem…”

Desapontado, Seol suspirou. Parecia que aqueles idiotas ainda não tinham aprendido a lição.

“Que bom que eu me preparei.”

Devagar, começou a fazer menção de enfiar as suas mãos no bolso. Porém, antes que conseguisse…

— E você, carinha? E você, Sangmin? Quer morrer assim? Quer morrer pro monstro que matou sua linda e amada irmã? De sangue, né? Onde come um come dois, hein.

— Eu, eu…

— Senhorita Seol-Ah deve estar se contorcendo no túmulo. Tenho quase certeza de que ela tá torcendo pra eu te salvar. — Percebeu que Yi Sungjin estava tremendo muito, então mudou o seu foco. — E você fez o que pôde, né? Não, espera, será que tu tá com peso na consciência? Como assim? Eu pensei que você não seria do tipo sentimental.

Ambos o escutavam com atenção, indecisos sobre o que fazer.

— Vem logo. Não tem ninguém aqui pra te impedir. — Aquelas palavras eram perigosas e sedutoras. Depois de ouví-las, os dois ficaram em silêncio e voltaram a atenção para uma outra pessoa.

Todavia, Seol permanecia em silêncio.

O primeiro a se decidir foi Yi Sungjin. Ele permaneceu calado enquanto passou pela barreira invisível.

— Olha só, tão novo, mas tão decidido. Muito bom. Você pode até virar um general no futuro — disse Kang Seok, dando tapinhas no ombro do garoto.

— Mas você é mais leal do que parece.

Observando o silêncio do parceiro, Sangmin lambeu o seu lábio inferior, abaixou o boné e começou a se mover.

— Desculpa… — Foi tudo o que disse.

— Não esqueça o isqueiro. — Apenas quando ele acendeu o cigarro na boca de Nóia é que a passagem foi liberada.

Deu uma forte tragada no tabaco e, entre a fumaça que saía pelo nariz, pôde ver Shin Sang-Ah ainda parada.

— O que você quer agora? Virou uma exibicionista depois de ficar pelada pra mim só uma vez?

Ela cerrou os dentes. A deserção daqueles dois foi chocante, mas havia um assunto sobre a sua segurança muito mais importante para se preocupar. Pensando na discussão do auditório e na humilhação que passou no segundo andar, ela sabia que aquele cara não facilitaria as coisas.

— Eu só tava brincando. Eu percebi que você rasgou a sua camisa pra estancar o sangramento da Seora. Isto é muito bom. Mas mesmo assim, se continuar parada aí vai acabar morrendo. — Tirou o casaco e o ofereceu, deixando-a confusa.

— De novo, seu pica murcha…!

— Não. Não tô tentando te sacanear. Prometo.

— Mas por quê?

— Pare de tentar me fazer falar o óbvio. Coloca isso logo. Não entendeu?

— O quê?

— Porra, essa mulher é lerda. Tô dizendo que você também pode entrar. Quer que eu desenhe?

Shin Sang-Ah engoliu em seco. Por que aquele cara começou a agir assim? Não entendia o motivo. A única hipótese que conseguia pensar era pelo soco que ele levou no segundo andar. Ficou muito indecisa. Estava analisando as opções quando uma luz invadiu o seu rosto e…

Argh, meu braço dói — reclamou, abaixando o braço estendido que segurava o casaco.

Moveu-se.

Enquanto caminhava para o interior da barreira, continuou a encarar Seol, que permanecia impassível. Um sorriso estranho formou-se na boca de Nóia.

Ah, então você veio.

— Como assim?

— Não, não. Fez bem. Pega isso aqui logo antes que meu braço caia.

Shin Sang-Ah encarou o Marca de Ouro mais uma vez. Quando a sua mão tocou no tecido, Kang Seok a puxou para perto de si pela cintura.

— Mamãe!?

— Você gosta mesmo da sua mãe, não gosta?

— O-o que você tá fazendo!?

— Relaxa, beleza? Você veio pra cá sabendo que isso iria acontecer.

— Eu, eu…!

Ruído, ruído…

A pequena vibração dos andares inferiores estava chegando perto.

A mão que antes estava no quadril começou a descer até alcançar as suas nádegas.

— Ou será que você prefere ir lá pra fora? — murmurou Nóia.

Ela começou a tremer ainda mais. Toda a sua força se esvaiu. Não conseguiu mexer um músculo, mesmo que aquele homem tivesse começado a apalpá-la com mais força.

— Agora você quer me escutar?

— Q-quero…

— Opaaa. Sua puta safada. Não sabia que essa raba era tão macia — disse, dando dois tapas no traseiro de Shin Sang-Ah, o que a deixou com mais medo.

Surpreendendo a todos, ela abriu os seus braços e envolveu Kang Seok em uma espécie de abraço. Vendo aquilo, Yi Hyungsik e Jeong Minwoo começaram a assobiar.

— Viu? Se você tivesse se comportado assim desde o começo tudo seria mais simples. É só começar a ser fofinha assim que eu começo a te tratar melhor. — Enquanto se divertia com o corpo daquela mulher, ele olhou para fora e encarou as duas pessoas que lá estavam: Seol e a desacordada Yun Seora. — Como se sente sendo traído? Diga-nos, senhor Marca de Ouro fodão.

Seol estava ocupado olhando para aquela Janela de Status. Com isso, pôde entender um pouquinho mais daquele cara. Além do “gogó”, parecia que o resto da personalidade toda era bem negativa.

— Irmão. — Seok se direcionou para Seol.

“Virei irmão agora?”

— Sinto muito por você. — Pela expressão facial, parecia que Nóia estava falando a verdade. — Por que insiste em viver assim? Hein? — Afagou a cabeça de Shin Sang-Ah e continuou.

— Parece que você não tem moral.

— Moral? Já entendi, irmão, já entendi. Tem uma razão pra gente agir do jeito certo na Terra. Lá tem leis. Se você não seguir, é preso. Mas… — Ele apontou para o chão. — Aqui não é a Terra. O que significa que não tem motivo pra eu ser certinho. Você também é um Invocado, então já deve ter percebido. Vamos para um novo mundo? Vamos o caralho! No final, isso aqui é só a porra de um jogo, cara! Um jogo. E você deve se divertir jogando.

— Um jogo, né?

— Sim. Então, qual o ponto de ter moral aqui? Qual o mérito de ser o melhor, o mais gentil e o mais justo deste lugar? Ninguém dá uma foda pra isso. Só o “eu” conta.

Ahh, tá doendo. — Kang Seok agarrou no cabelo da mulher, fazendo com que ela arfasse de dor.

— Olha ela. É a prova disto. Ela só ficou um pouco contigo pra se aproveitar. Você viu com os seus próprios olhos, não viu? O que ela fez quando a situação ficou feia pro seu lado?

Shin Sang-Ah desviou o olhar.

— O negócio é não sofrer perdas. Você tem muito talento e é inteligente. Então por que não curtir um pouco? Esquece as morais.

Seol continuou ouvindo enquanto mantinha os seus braços cruzados na altura do peito.

— Quer cuidar desses bostas? Que bonitinho. Você acha que todos com poder são maus e todos os fracos são boas pessoas? Ainda acha que esses lixos são boas pessoas? — Parecendo entusiasmado, Nóia continuou cuspindo palavras. — Eu sei que você ficou em choque agora. Mas quer saber? Não fique tão mal com isso. É como o mundo funciona. Você não pode se contentar com aquilo que tem, deve sempre ir atrás de mais. Fica esperto com esses dois aqui. Ou vai acabar morto.

Fechou os olhos. Aquelas palavras eram algo que ele também começou a pensar sobre.

— Ainda não entendeu? O que aconteceu com a Yi Seol mais cedo? E o que será que vai acontecer com você agora?

Seol permaneceu em silêncio, fazendo Seok continuar falando.

— Aqueles que alcançam algo não são os “destinados”, mas sim os que querem alcançar. Aqueles que falham não são os “destinados” a falhar, mas sim aqueles corajosos demais para se contentar com o que já tem. — Respirou fundo e continuou: — Agora que eu já falei muito eu acho que você entendeu.

Hm?

— Como cavalheiros, por que não deixamos o passado de lado e tentamos recomeçar? Ahh! — Como se estivesse lembrando de algo ele continuou. — Você ainda tem que pedir desculpas.

— Me desculpar, né?

— Isso. O lugar que você me bateu ainda dói. Ufa. — Deu um leve suspiro. — Se você realmente mudou do jeito que pensa, tenho certeza de que não vai ser tão difícil pedir perdão.

Seol permaneceu encarando-o em silêncio.

— É fácil, vai. Você só precisa dizer “desculpa”. Depois disso a gente vira amigo.

Olhou para Yun Seora.

— Ela não. Você tem que deixá-la aí — respondeu Kang Seok ao perceber as intenções. — Venha sozinho ou eu não vou poder aceitar suas desculpas.

— Então… — Desviou o olhar e apoiou a sua mão esquerda na barreira invisível.

— Então… — A boca de Kang Seok ia se abrindo à medida em que pensava no seu desejo sendo realizado.

— Seu filho da puta.

— Eu tava ment… O quê!?

Antes de conseguir terminar a frase, Nóia levou um susto, pois a parte de trás da zona segura começou a ficar barulhenta.

— Que porra tá acontecendo?

Jeong Minwoo se levantou e foi tentar entender o motivo daquele barulho todo.

Ao mesmo tempo, Seol pegou uma bola de feitiço do bolso…



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