O Retorno da Gula Coreana

Tradução: Teverrr

Revisão: Melão


Volume 1

Capítulo 14: Caça ao Tesouro (2)

Analisando a lista, Seol balançou a cabeça para cima e para baixo em um sinal de aprovação. Não tinha ideia de quem esse estudante era, mas ele fez um ótimo trabalho organizando aquilo tudo.

“Deve ter sido o melhor da turma…”

Mais calmo, conseguiu andar pelo corredor. Encontrou quatro pessoas correndo dentro da sala 3-2. Na 3-3, reconheceu Shin Sang-Ah, que pulava de alegria enquanto gritava “Ebaaaaa!”. Depois, foi em direção à janela da 3-4 para pegar mais moedas e seguiu para a 3-5. Lá encontrou alguém que não esperava ver tão cedo.

Yun Seora estava procurando em cada cantinho. Quando ouviu a porta se abrindo, lançou um olhar de ódio em direção ao som. Com muito cuidado, ela investigava todas as carteiras que via.

“Por que procurar com tanta atenção assim? Achei que ela tinha um mapa.” Em partes, estava correto. A diferença era os detalhes com que as informações eram passadas para cada um.

No Diário de um Estudante Desconhecido, as localizações eram o mais concisas e precisas possíveis, dizendo “sala 3-5, 2ª carteira na 2ª fileira (1)” ou “6ª carteira na 5ª fileira (4)”. Porém, o mapa dela era muito mais vago, com dicas do tipo “sala 3-4, dentro de uma carteira”.

A menos que fosse algo como a mesa do professor, que há apenas uma, o trabalho para encontrar as moedas seria muito mais complicado com aquelas dicas tão superficiais.

Quando encontrou uma, ela pareceu muito feliz. Jogou-a dentro da sua bolsa e retornou à sua busca. Porém, quando viu que Seol havia achado quatro daquelas dentro de uma mesa próxima à porta, piscou os olhos em confusão.

— Quê? — Ela sussurrou.

“Certo, vejamos. O próximo é…”

Em seguida, deveria ir para a sala 3-6. Depois de se recuperar do choque, ela decidiu segui-lo. Porém, quando chegou ao lugar, todas as moedas já haviam sido pegas.

“Isso é facinho. GG easy.”

Estava preocupado, mas depois de perceber a enorme vantagem que tinha, passou a sentir-se aliviado. Explorou a classe 3-7 da mesma forma. No entanto, quando estava saindo de lá, seus passos foram interrompidos.Yun Seora estava parada em frente à saída.

A atenção dela alternava entre uma porta aberta, um armário e seu mapa, mas logo passou a encará-lo também. Mesmo o rosto tendo permanecido impassível, os olhos continuaram piscando.

Ela permaneceu  o encarando por um tempo e, por alguma razão, pensou que tivesse feito algo que não devia.

“Talvez eu deva deixar a 3-8 pra ela…!”

Deu um passo para o lado deixando-a passar e foi em direção à 3-9. Seus passos eram rápidos e apreensivos, já que o sentimento de culpa passou a ganhar força na sua consciência.

Porém, ela começou a segui-lo. Não entendia o motivo daquela escolha.

Incomodado, começou a correr, mas também ouvia os passos apressados da mulher logo atrás de si. Entrou na classe 3-9.

Sala 3-9, na mesa do professor (3)

Sala 3-9, acima do suporte para televisão (1)

Enquanto pegava as moedas da mesa do professor, ela correu em direção ao suporte para televisão.

Ah.

Yun Seora era muito baixa, então seu braço não conseguiu alcançar onde queria.

Tentou ficar na ponta dos pés.

Tentou pular.

A Sua mão encontrava apenas o vazio.

Continuou assim por um tempo. Poderia ter simplesmente pego uma cadeira, mas…

Seol achou fofo e engraçado o suor e a respiração ofegante daquela mulher, então uma pequena risada escapou de sua boca.

— Ahahaha…

Ela parou.

Tentou cobrir sua boca com as mãos, mas era tarde demais. Já estava sendo encarado por um olhar atordoado e cansado.

Sentiu um peso na consciência. Não tinha desculpas. Sabia que havia feito merda. Precisou de muita força de vontade para que conseguisse interromper sua risada. A situação ficava ainda mais engraçada quando pensava na reação inesperada dela.

“O que eu devo fazer agora?”

Engoliu em seco para disfarçar melhor o sorriso que se formava no canto de sua boca. Caminhou em direção ao suporte da televisão e pegou a moeda.

“E agora? Por que ela parece tão ressentida?”

Entregou-a para Yun Seora. Ela encarou Seol por um tempo, como se dissesse “Tá com pena de mim, seu bosta?”

Um estranho silêncio permaneceu no ar. 

“Pega logo essa porra e sai daqui. Quero muito rir, desgraça.”

— P-pode pegar — disse, com muito esforço. Porém… — Ha, ha, ha hahahahahahaha!!! — A risada saiu de sua boca, fazendo-o pensar “Caralho, fodeu muito!” — Não, espera! Eu não quis parecer um otário! Pode pegar a… ha, hahahaha…

Agora que deixou suas gargalhadas saírem, o inevitável o atingiu.  

A mulher estava perplexa. O olhar variava entre a moeda e o chão.

“Acho que ela tá bem, né?”

Logo quando estava se sentindo aliviado…

Choro.

Acompanhado daquele tímido som, os olhos dela estavam marejados. Parecia que havia tido o orgulho ferido. Segundos depois, a respiração começou a se acelerar e a sua face ficou trêmula. Ela também estava mordendo levemente o lábio inferior.

Pouco depois, limpou os olhos e virou-se para ir embora.

— É… — Seol ficou parado, vendo-a sair da sala.

 

***

 

No quinto andar, logo depois da caça ao tesouro ter começado, Kang Seok guiou seus seguidores em direção ao banheiro e trancou a porta.

— Qual o problema? É urgente? Precisamos achar logo essas moedas!

Ouvindo as palavras de Yi Hyungsik, um sorriso malandro formou-se nos lábios de Nóia.

— Com o que você tá preocupado? Dá pra começar a procurar depois. Ou melhor, pegar de quem já tiver algumas.

— Você quer roubar?

— Claro. 

— Aquele puto não ia deixar… — falou Magrelo.

— Verdade. Melhor coletar essas merdas do jeito normal — concordou Bolo Fofo.

— Caralho, vocês levam uma porrada e já ficam balangando os beiços assim? Fogo do caralho. Idiotas!

Surpresos, o encararam.

— Qual o problema de vocês dois? Vão deixar por isso mesmo?

— M-mas…

— Eu não vou deixar passar. Vou dar um troco 10 vezes, não, 100 vezes pior.

— Você tem um plano? — perguntou Jeong Minwoo, ainda não muito convencido.

— Chega mais perto. — Kang Seok lambeu os lábios de uma forma assustadora, verificou de novo se a porta estava fechada e fez sinal para os dois se aproximarem. — Vem mais pra perto. — Com todos próximos uns dos outros, prosseguiu. — Nós também vamos pegar aquelas moedas. Vamos dar o nosso melhor até meia noite. Entenderam?

An? 

— Continua escutando, porque é agora que fica interessante. — Abaixou sua voz a quase um sussurro e explicou o plano.

— C-como é que é? — Yi Hyungsik estava surpreso. — Mas se isso acontecer…

— Fica quieto — rosnou, calando o amigo.

— Tem uma razão para irmos tão longe?

— Tem sim. Aquele bosta que começou com isso tudo. Pimenta no cu dos outros é refresco.

— Mas, será que vai funcionar?

— Vai sim. Olha, só! — afirmou, tirando dois pedaços de papel do bolso

— O que é isso?

— Ele não é o único que ganhou um bônus no começo. Se der certo, a gente que vai começar a mandar nessa porra — falou logo antes de levantar as sobrancelhas em confiança. — E aí?

Magrelo deu de ombros e Bolo Fofo soltou um suspiro.

— Perfeito. Não se preocupem, rapazes. Precisamos de quê? 5, 10 minutos, no máximo? Agora entenderam, né? — Balançaram a cabeça em concordância. — A gente só precisa foder com aquele merda e mostrar quem manda. 

 

***

 

Tempo restante até meia noite: 00:36:12

O fim da caça ao tesouro está se aproximando.

O número total de moedas pode ter sido 3000, mas isso não significava que todas poderiam ser encontradas. Quando descobertas e pegas em algum local, elas reapareciam pouco tempo depois. Seol descobriu isso com as constantes atualizações do Diário de um Estudante Desconhecido. Assim, ele andou pelo quinto e sexto andar várias vezes, mas em algum momento precisou descansar.

Estava satisfeito. Achara quase 1600. 1552, para ser exato. Haviam doze sobreviventes participando, então era como se ele estivesse monopolizando metade delas.

“Acho que eu deveria ir pra lá agora.”

Se quisesse, poderia continuar procurando. Porém, estava preocupado com o tempo necessário para usar a máquina de itens. Não é como se cooperar com os outros estivesse descartado, mas ninguém sabia o que poderia acontecer mais tarde. Então, antes de ficar ansioso esperando à meia noite, era melhor se preparar um pouco.

Parecia que todos os outros estavam preocupados com a caça ao tesouro, porque ele era o único no quinto andar. O autômato lembrava aquelas máquinas pega urso¹, a única diferença era a sua largura um pouco maior.

Lista de itens disponíveis para pegar:

  • 1 moeda a 9 moedas: Comida, materiais de higiene pessoal, uma nota do Guia, suprimentos médicos…
  • 10 a 49 moedas: Lembrancinhas, vários mapas, carta da empregada…
  • 50 a 99 moedas: Armas, itens de defesa, Pontos de Sobrevivência, celular de última geração…
  • 100 moedas: bolas de feitiço, caixa de moedas aleatórias (contém de 1 a 499 moedas)
  • 199 moedas: Chave de acesso ao sexto andar (100% de chances)
  • 300 moedas: ESPECIAL

Ficou duvidoso. Precisaria de 100 moedas como taxa de uso. Como não sabia o que aconteceria depois, também iria reservar o dinheiro para a chave de acesso. Sobravam 1253 moedas.

Será que deveria escolher o “ESPECIAL” quatro vezes ou só tentar esse uma vez e pegar algumas bolas de feitiço?

Não pensou por muito tempo.

Primeiro, achou as ações de Kang Seok e seus amiguinhos muito suspeitas. Se encontraram algumas vezes, mas eles não tentaram nada. Porém, não podiam enganar os seus olhos.

“Eu vi as cores.”

No início, apenas o Nóia emitia uma cor amarelada, mas agora tanto Magrelo quanto Bolo Fofo também estavam com a mesma cor. O que significa que estavam tramando algo.

Precisaria de alguma arma. Na verdade, precisaria de um ás na manga que poderia tirá-lo das piores situações.

Pegou a primeira moeda, mas começou a se xingar. Por quê? Porque inserir uma por uma dava muito trabalho.

— Merda…

Um bom tempo depois, encheu sua bolsa com os itens que conseguiu. O resultado foi bem satisfatório.

Caixa de moedas aleatórias: continha 81 moedas extras.

Bola de feitiço: Teia de Aranha (1)

Caixa de moedas aleatórias: continha 136 moedas extras

Bola de feitiço: Névoa Venenosa (1)

Bola de feitiço: Inflamar (1)

Caixa de moedas aleatórias: continha 292 moedas extras

Bola de feitiço: Ácido Clorídrico (1)

ESPECIAL: Espelho da Sabedoria

Tinha ficado muito feliz com duas das caixas aleatórias que conseguira. Mesmo que não pudesse ser considerado um enorme sucesso, poderia ser chamado de um sucesso médio.

Ainda tinha 1061 moedas sobrando. Mesmo que escolhesse ESPECIAL duas vezes, ainda ficaria com 162. Decidiu parar. Já era o suficiente e o tempo estava acabando. Os relógios já quase apontavam para a meia noite e a Hora dos Mortos logo começaria. Era melhor retornar para a zona segura e esperar até às 12:00 do dia seguinte.

Descendo a escadaria, estava confiante. O que não esperava era a falta de pessoas na sala 3-1. Pouco menos de 10 minutos antes da meia noite e ninguém havia voltado para lá. Ficou parado pensando até que a porta atrás dele se abriu.

Ah, você já estava aqui?

Seol virou-se pensando “Claro, daqui a pouco deve chegar mais gente.”

A primeira pessoa que entrou foi Hyun Sangmin, mas ele não parecia muito bem. Um pouco depois, Shin Sang-Ah também apareceu.

— O que aconteceu com você?  Eu quase me fodi.

— E-eu também…

— Assim, mas que porra? Parece que um pau no cu saiu pegando tudo. Por que é tão difícil achar uma moeda?

— Sim! Sabe, eu não devia ter me empolgado toda depois de achar algumas no começo. Só consegui achar umas 70 no final — reclamou enquanto massageava os pés.

— Você tá pior do que eu então, pelo menos consegui o mínimo de 100 moedas.

Seol pensou sobre aquilo por um tempo antes de decidir dar as moedas que faltavam para os dois. Como já considerava 162 das suas como reserva, não hesitou.

— Oi? — Ela se surpreendeu. — T-tá me dando essas? — Seu olhar já expressava muito mais do que gratidão e estava quase no nível de “adoração a um salvador”. — Como assim? 30 logo de cara?

— Por favor, pode pegar. O quê? Você também precisa de algumas? 

— Caralho. Quantas você encontrou?

— O suficiente pra sobreviver, eu acho — respondeu, coçando a cabeça.

Ah, então foi você — disse o parceiro, um pouco perplexo, mas logo depois começou a rir.

Hm?

— Sabia. Não fazia sentido a menos que alguém já tivesse limpado tudo. Sério, eu procurei em tudo quanto era canto, cara! Então a culpada não era a Seora.

— Por quê? O que tem ela?

Mm? Achei que você já tivesse percebido. Eu imaginei que ela soubesse a localização de todas as moedas e estava ocupada pegando tudo pra ela. Tenho quase certeza de que não sou o único que pensa assim. De qualquer forma, me sinto um pouco mal por tê-la chamado de puta egoísta.

Faz sentido.

Seol começou a se sentir culpado por ter causado um inconveniente para todo o resto, mesmo que não fosse sua intenção. 

A Hora dos Mortos começará a partir de agora. 

Meia noite. Como se tivessem feito uma promessa antes, todos calaram a boca ao mesmo tempo. Porém, apenas eles haviam chegado à zona segura até então. 

— Cadê o resto?

— Não é óbvio? — Hyun Sangmin respondeu à pergunta enquanto pegava um cigarro. — Até mesmo eu estava pensando se deveria retornar ou não, então os outros devem estar pensando a mesma coisa.

— Você acha?

— Sim. Eles devem estar pensando que alguns minutos a mais do lado de fora não vão fazer diferença. Devem estar tentando achar o suficiente para a taxa de uso. E aqueles tentando reviver os mortos, bem, não acho que estejam ligando mais pra isso.

Mesmo que não tanto, Yun Seora deve ter achado uma quantidade boa. Com os dois pegando a maioria das moedas, não devia ter muitas sobrando. Então era esperado que a competição só piorasse. Ele nunca havia pensado que as coisas se desenrolariam assim enquanto estava procurando. Não, nem mesmo se incomodou em imaginar tal situação.

— Bem, se eles estiverem preocupados com a própria vida, daqui a pouco devem aparecer.

— O-o que você tá fazendo? — perguntou Shin Sang-Ah enquanto observava as reações do Marca de Ouro.

Seol ficou confuso. Não ligava muito para Kang Seok e seus dois amigos, mas sentia-se mal quando pensava nos outros.

— Eu acho que devo ajudar aqueles que eu conseguir.

— Sim. Eu te ajudo. — A mulher concordou imediatamente, demonstrando o quão aliviada estava.

Ouvindo aquilo ficou bem curioso com a Janela de Status dela. Quando estava quase indo dar uma olhada.

— Ai! Merda. — Hyun Sangmin se levantou da cadeira. — Eu não gosto disso, mas vou ajudar também. Uma promessa é uma promessa, né? — disse, apontando para a porta. — Podemos ir, Líder?

E então aconteceu.


Nota:
1 Você pode ver uma máquina pega urso clicando aqui.
 


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