Volume 1
Capítulo 12: Novo Recorde
— Tá doido?! Abre essa porra agora!
— Por quê? Esta é a minha barreira. Eu decido o que faço com ela.
— Então por que você tá agindo assim? Tem ideia do que passamos pra chegar aqui?
— Noooossa, então você teve que passar por muita coisa, hein? Mas o que eu devo fazer? De acordo com alguém, eu sou um filho da puta desgraçado e egocêntrico.
Sang cerrou os dentes, escutando todo o sarcasmo proferido com aquelas palavras. Podia mais ou menos imaginar o motivo dele estar agindo daquele jeito. Era óbvio que Seok ainda guardava rancor desde quando os dois discutiram no auditório.
Segurou a raiva e voltou a falar em um tom calmo: — Me desculpa. Peço perdão por te ofender, então, por favor, abra o caminho. Não tem só eu aqui. Essas pessoas não tem nada a ver com minhas atitudes. Não trate a vida dos outros como uma mera brincadeira.
— Olha só. Era isso mesmo que eu esperava ouvir de você. Está sendo honesta?
— Claro.
— Bem, então não tenho escolha. Certo. Prove.
— Provar?
— Eu deixo os outros quatro entrarem, mas você não.
Congelou. Ela ficou desesperada, que tipo de cuzão faria isso? No entanto, a expressão daquele cara demonstrava o quão calmo ele estava.
— Você…
— Vai chorar? Aquele monstro pode aparecer a qualquer momento, sabe?
Sang não esperava essa reação, então o seu rosto ficou vermelho. E todos menos Sungjin a encaravam com um olhar de súplica. Fazendo-a cerrar os dentes e se afastar.
— Uau, temos uma mártir aqui pelo jeito — disse Seok enquanto apertava o botão.
No momento em que a barreira se retraiu, os três saíram correndo para dentro da sala de espera. Sungjin, após alguns segundos, também caminhou, meio receoso, em direção ao objetivo.
Os que chegaram primeiro, após a sensação de alívio, olharam para trás e gritaram por seu nome. Foi tudo em vão, pois segundos depois a barreira se fechou.
Observando as suas ações, logo que os espinhos se retraíram, Sungjin saiu correndo e apertou o botão próximo de si o mais rápido que pôde.
Claro, nada aconteceu.
— Não perca seu tempo. Eu já falei, sou o único que pode abrir essa barreira — afirmou rindo.
Com raiva, Sungjin foi em direção ao Nóia com os punhos fechados. No entanto, aquilo não podia ser considerado uma luta, já que Vara-pau e Bolo Fofo logo se intrometeram.
— Seu puto, tá querendo morrer? Aquela piranha falou que seria sua nova irmã?
— Abram a barreira!
— Eu decido isso.
Sungjin se calou.
— Agora você pode ir procurar um novo caminho pra chegar até aqui. Boa sorte.
Sang pareceu não escutar aquelas palavras, pois ainda ficou parada um tempo observando o interior da sala de espera. Foi uma perda de tempo. Por fim, virou-se para voltar.
— Será que eu te deixo entrar?
Ouvindo aquilo, a mulher parou de maneira abrupta, virou o rosto e deu um olhar assassino para Seok.
— Você gosta de ficar brincando com os outros?
— Claro. Quando eu poderia me divertir assim? — respondeu, bem calmo, enquanto fazia um sinal para ela se aproximar.
— Para de se fazer de difícil e vem cá. Você viu que eu deixei essas pessoas entrarem agora há pouco. Sou do tipo que tem palavra.
Sang passou a sentir uma mistura de dúvida e incerteza. No entanto, ao lembrar de tudo que passou para chegar até ali, nada seria mais difícil do que procurar outro caminho, especialmente sozinha.
Virou o seu rosto e o encarou.
— Então... O que você quer que eu faça?
— Não tô pedindo muito. Só quero que você se desculpe por tudo que disse lá no auditório.
— Mas eu já fiz isso…
— Não. Eu não senti sinceridade naquilo. Além disso, prefiro desculpas que vem de ações, não palavras.
— Então o que você quer que eu faça? — A mulher ergueu a sua voz, irritada com todo aquele sarcasmo.
Seok ficou coçando o queixo enquanto olhava para ela de cima a baixo. Não possuía o mesmo “charme” de Yi Seol-Ah, mas a sua pele era macia e o corpo, bem bonito.
Uma risada debochada saiu.
— Primeiro, tira a roupa aí, vai.
— Oi?!
— Tire suas roupas. Ah, eu sou legal, então vou deixar você ficar com a calcinha.
Ouvir aquele tom “benevolente” fez com que Sang fizesse uma cara muito surpresa.
— Eu acho que vou ficar melhor se você fizer um strip. Que tal rebolar essa raba pra mim?
— Seu filho da puta retardado!
— Não quer? Tranquilo. Vaza. — Nóia deu de ombros.
Mordeu o seu lábio inferior com raiva e murmurou bem baixo “Esse maluco não deve comer ninguém.” Então, lágrimas de humilhação brotaram no seu rosto.
Ainda pensava muito naquele monstro. E se descesse as escadas e o encontrasse?
— Tá esperando o que? Já disse, pode sair daqui se não quiser.
— Certo… Eu faço.
— Bora então. Te dou dez segundos pra tirar essa calça. Valendo! — disse, parecendo empolgado com a situação. — Dez, nove oito, sete…
Quando a contagem começou, ela não teve mais escolha. Começou a abrir o zíper. Hesitou. Continuava ouvindo aqueles números, então deixou o seu jeans cair.
— Opaaa, você até que é gostosinha, hein? Aliás, gostei da calcinha.
Fechou os olhos esperando que isso amenizasse um pouco da humilhação que sentia.
— Boraaa. Tá esperando o que? Continua. Vou continuar contando, hein. Ai! Aaaaiiiii! É o monstro!! O monstro!! — Nóia gritou, apontando para a escadaria atrás dela enquanto andava para trás.
Gritou de desespero e terror.
— Mamãe!
Olhou para trás. Nada. A escadaria estava vazia, mas aquela criatura poderia chegar a qualquer momento. Ouviu risadas abafadas de dentro da sala de espera.
— Ouviram? Ouviram isso? Ela gritou mamãe! Mamãe! Hahahaha!!
— Tãão fofo. Socorro! Mamãe! — Quando Hyungsik imitou aquele grito, Seok e Minwoo gargalharam. Tudo que Sang podia fazer era acumular lágrimas nas suas pálpebras.
— Foi mal, foi mal. Eu só tava brincando contigo. Você foi até fofa gritando assim.
Passaram dos limites.
— Bem, agora é hora de tirar sua camisa, né?
Passaram muito dos limites.
Por fim, ela não aguentou mais e começou a chorar.
— Tá chorando? Ah, para com isso. Você não deveria chorar. Você tem que tirar suas roupas e rebolar pra mim antes que… — Bateu as suas mãos antes de rir e, pouco tempo depois, ficar em silêncio.
Uma sombra desconhecida o espreitava.
***
Seol não estava se importando muito. No começo, até pensou em ignorar aquilo tudo. Afinal, não era nem um santo e nem um juiz. Mesmo que presenciasse algo que discorda, ele apenas iria franzir o cenho e pensaria “Isso não é demais?”
A menos que fosse alguém conhecido, nunca iria se levantar e fazer algo. Porém…
Quando olhou para Sungjin e ouviu aquele sussurro dizendo “nos ajude” enquanto estava deitado no chão, decidiu mudar de atitude.
Talvez fosse uma coincidência, mas aquela cena o fizera lembrar de quando Yi Seol procurou suporte no auditório.
As suas emoções se descontrolavam. Quanto mais via aquela cena, mais aqueles sentimentos se transformavam em raiva.
Levantou-se.
Assim como no dia em que teve aquele sonho.
Assim como foi no auditório.
Habilidade Inata, Visão do Futuro, ativada.
Assim como o caminho no qual as suas emoções o guiavam.
— O que? Também quer dar uma olhada…?
— Isso já é demais. Abra a barreira, por favor.
Nóia o encarou sem entender aquela atitude. Não havia percebido até então, mas Seol era mais alto do que ele.
— Vou abrir, mas só quando eu quiser.
— Abra. A Barreira.
Nóia ficou em silêncio. Pela expressão, não estava entendendo muito bem o que acontecia.
— Fumou bosta? Quem é você pra mandar em mim?
— Abra.
Por alguma razão, achava difícil olhá-lo nos olhos. Não queria admitir, mas estava com medo. Parecia que aquela decisão seria a de cruzar uma linha que não deveria ser cruzada.
Seus instintos o forçaram a apertar o botão. Mas, logo antes de o fazer, sua mente foi atacada por uma enxurrada de pensamentos. “Por que eu escutaria esse corno? Porque é um Marca de Ouro? Ridículo.
— Não quero — respondeu com arrogância, mas não com muita segurança. — Olha, tô tentando ser amigável com todos os Invocados. Não seja um cuzão. Sai daqui.
Seol lentamente levantou o seu braço, o que fez com que Hyungsik e Minwoo se movessem. No entanto, Seok impediu que os dois continuassem apenas erguendo a sua mão.
— O que? Vai me bater? Beleza. Se o Marca de Ouro fodão quer me bater, eu, um mero Marca de Prata devo, obedientemente, apanhar, não é?
Respirou fundo e foi na direção do Nóia.
Soco!
Bateu no nariz, surpreendendo Hyungsik e Minwoo pela atitude e pela velocidade da ação.
— S-seu filho da… — Por reflexo, Nóia tentou bater de volta, mas o seu oponente desviou com facilidade. A força posta no soco foi tanta que ele chegou a cair de joelho no chão por não conseguir se segurar em algo.
Seol puxou o braço que antes tentara lhe acertar e o forçou a apertar o botão.
A barreira abriu.
— Vem.
Sang estava atordoada, nem pensou em colocar as suas calças de novo.
Senhorita Shin Sang-Ah chegou à sala de espera do segundo andar.
A primeira missão do Tutorial, “Escape do Auditório”, foi concluída. Número de sobreviventes: 12.
Nova mensagem do Guia.
A segunda missão do Tutorial, “Escapando de Armadilhas”, começou.
Todos ouviram os anúncios juntos e, ao mesmo tempo, a porta trancada no final do corredor se abriu. Parecia que, apesar do tempo restante, o próximo objetivo começaria assim que todos os sobreviventes chegassem.
— Meeerda! — Seok ainda estava no chão. Usou a parede como suporte e então se levantou. — Você…! — disse com um olhar furioso prestes a gritar, mas conseguiu se recompor antes de continuar a falar. — Veremos o que vai acontecer depois, seu filho da puta! — Pegou a sua bolsa e saiu pela passagem recém aberta.
— O-obrigada. Muito obrigada… — disse Sang ainda com as bochechas ainda cheias de lágrimas.
Apesar de tudo, Seol não se sentia muito bem. Sabia que as suas ações não eram inteiramente por vontade própria. Quando acalmou-se mais um pouco, sentiu que havia apenas piorado a confusão.
Remetente: O Guia
Entrem na sala “3-1” no quarto andar do prédio principal por meio do anexo no terceiro andar antes que o tempo acabe.
Tempo restante: 01:57:56.
Duas horas, uma missão cronometrada. Depois de repassar os detalhes, os seus olhos se queimaram.
— E-ei! Espera! — Sangmin pegou duas bolsas e foi andando em direção ao seu parceiro.
***
Área 1. A segunda missão está começando.
Uma voz robótica proferiu tal anúncio e inúmeras imagens começaram a aparecer em uma espécie de tela. Várias pessoas estavam sentadas em frente àquela tela assistindo a tudo que acontecia.
— É só a segunda missão, mas parece que eu já tô ficando doido. Droga.
— 24 pessoas morreram na primeira? Como assim? São todos uns bostas dessa vez? — gritou, com raiva, um homem alto e careca, deixando uma mulher que vestia um roupão irritada. No entanto, quando uma outra mulher, dessa vez usando um traje de negócios, o encarou, ele ficou em silêncio e mudou a sua expressão.
— Sério. Pelo jeito o nome “Área 1” vai virar uma piada. Com o abrigo de Março sendo tão ruim, como vamos durar até Setembro? — perguntou o careca, mas com medo do olhar da mulher bem vestida, não prosseguiu com a sua fala.
— Alguém sabe o que está acontecendo com as outras áreas?
— Eu sei. — Um jovem homem com o cabelo cacheado levantou a mão. — Eu ouvi algumas coisas enquanto estive fora. Parece que a Área 2 e a Área 7 estão pau a pau pelo primeiro lugar.
— 2 e 7? Os Europeus eu entendo, mas o que esses Chineses querem?
— Pra que perguntar? Você já sabe quais são os truques sujos que eles usam. Seus Invocados trabalham juntos e, assim que o Tutorial começa, fazem os Contratados de refém. Tenho certeza que aproveitam e os usam como sacrifício para passar das missões.
— Certo. E a 2? — resmungou o homem alto e careca.
— Ouvi dizer que são um exemplo de perfeição. Uma francesa chamada Odelette Delphine que manda lá. Ela matando o fantasma na frente de todo mundo com seu bônus de início ajudou bastante pra que ganhasse a confiança de todos.
— Hm. Qual a Marca dela?
— Prata. Quando a segunda missão começou, ela também conseguiu abrir o caminho para a sala dos computadores. Acho que não vai precisar nem de uma hora pra chegar no final. Talvez uns 50 minutos, no máximo.
— Wow, ela é um monstro então? A Europa arranjou um pessoal bom dessa vez. E o resto?
— A Área 5 tá bem até, mas ela é bem mais ou menos. Tiveram 30 minutos de vantagem para iniciar a segunda missão e é isso.
— Cacete, assim a gente não vai ter ninguém sobrando até o final do Tutorial.
— Nem. Temos um Marca de Ouro. Parece que ele até ganhou o Diário de um Estudante Desconhecido. Com certeza vai conseguir passar.
— Você acha?
— Assim, ele espantou aquele fantasma só com o olhar, né? — falou o jovem de cabelo encaracolado tentando consolar o homem alto, mas esse continuou com uma expressão de decepção enquanto fixava os olhos na tela.
Seol havia acabado de entrar no anexo por meio da faixa de pedestres que conecta os dois prédios.
— Ei, aquele cara não parece meio pistola? Que porra. O que houve com ele? — A fina voz do jovem de cabelo encaracolado questionou.
O local em que deveriam “Escapar das Armadilhas” não era para ser enfrentado com desleixo, mas Seol nem parou para olhar em seu celular.
— Hm… Será que dá pra confiar em um cara assim? — O homem alto e careca cutucou a mulher com traje de negócios. — Ei, fala alguma coisa, Hannah.
— Cala a porra da boca pelo menos uma vez, pode ser? — As palavras saíram com um tom de irritação.
Percebeu que, se tentasse provocá-la mais um pouco, teria que lidar com a histeria de uma mulher solteirona e com raiva. Preferiu levantar-se e fumar do lado de fora antes que se irritasse com ela e com o que passava na tela.
***
Ficou cerca de 15 minutos fumando, mas quando estava prestes a voltar para a sala…
Clang! Clang!
Soltou um suspiro desapontado depois de descobrir que aqueles sons metálicos vinham de dentro. Pensou que algum idiota estava caindo nas armadilhas. Mexendo a cabeça em negação, abriu a porta.
Clang!
Piscou com força os olhos para se certificar de que o que estava vendo não era uma ilusão.
Na verdade, a segunda missão não era tão difícil para alguém como ele. Um Terráqueo bem treinado conseguiria passá-la em 30 minutos mesmo indo com calma. Porém, quem estava lá não eram Terráqueos bem treinados, e sim um bando de civis que não possuíam experiência na guerra.
O objetivo era simples — parar a ativação de várias armadilhas completando algumas condições. Ou contar com a sorte. Pelo menos era para ser assim, mas…
“Ele tá desviando, bloqueando e refletindo!?”
Não apenas fazia isso tudo, mas Seol também ativava as armadilhas que ainda não haviam sido estimuladas. Continuava seguindo em frente enquanto destruía tudo. Era como olhar para um Terráqueo, não um civil indefeso.
Um olhar de descrença ganhava o rosto do homem careca enquanto ele se aproximava cada vez mais da tela. Ao mesmo tempo, três lanças de metal foram atiradas em sua direção, uma pelo teto, outra pela esquerda e a última pela direita.
Clang! Claaaang!!
Não sabia se ele carregava consigo alguma viga de aço para refletir aquelas lanças, mas elas voaram como se não fossem nada. Em pouco tempo, a audiência se deparou com inúmeros sons metálicos parecidos, assim como um brilho vindo da direção da tela.
Seol realmente havia conseguido uma viga de aço. No momento em que as lanças da direita e da esquerda foram refletidas, a do teto cravou-se no chão.
— Ele morreu? — A mulher com o robe roxo se levantou com os punhos cerrados.
— Não, ele desviou.
O homem alto e careca assistia tudo de perto e, então, decidiu falar: — Tenho certeza. Ele refletiu as lanças vindo dos dois lados e estava prestes a fazer o mesmo com a que saiu do teto, mas…
— Mas?
— Não sei. Parece que seu corpo não conseguiu acompanhar seus pensamentos. De qualquer forma, eu vi que ele moveu a cabeça tentando se esquivar. Ei, Hannah! Qual é a desse cara?
— Qual o recorde de tempo para a segunda missão? — disse Hannah, calma.
— O recorde? Se refere aos lendários 29 minutos e 38 segundos de Sung Shihyun-nim?
O homem careca mexeu a cabeça em concordância como se estivesse orgulhoso de algo.
Enquanto isso, Hannah fez uma expressão de cansaço e começou a esfregar o rosto, como se estivesse sentindo algum tipo de fadiga.
— Isto é loucura.
— O que é loucura?
A Segunda missão da Área 1 foi concluída.
Todos ficaram embasbacados com o anúncio.
16 minutos e 24 segundos.
Aquilo era a história sendo reescrita.