Volume 3
Capítulo 169: Um Sorriso Misteriso
Sariel encarou o Pilar da Selagem em silêncio por um momento, surpreso por ter se encontrado com ela tão cedo.
— Zaphkiela, o Pilar da Selagem. É um prazer conhecê-la. — A cumprimentou logo em seguida.
Não recebeu uma resposta imediata. Ela apenas permaneceu em silêncio por um momento, como se o observasse, apesar de isso claramente não ser possível devido sua máscara.
— Está é vossa primeira vez aqui, correto? Ficaste curioso com o servidor? — Virou seu rosto lentamente para a grande gema de Alteração.
— Exato, não pude conter minha curiosidade ao descobrir sobre sua existência. Imagino que não é uma coincidência que vieste aqui, certo?
— De fato. Estou aqui para fazer alguns ajustes necessários. — Zaphkiela virou o rosto novamente para Sariel.
O viajante esteve atento a todos os movimentos, comportamento, fala e postura do Pilar em uma tentativa de entender o que pensava, contudo ela era como um enigma, e era ainda mais difícil de desvendá-la se comparado com Feng Ping, alguém capaz de apagar completamente qualquer intenção por trás de suas palavras ou ações.
“Essa pessoa... ainda é uma adolescente, mas posso sentir uma aura misteriosa e poderosa... De todos os Pilares que encontrei até o momento, ela é de longe a mais difícil decifrar...”
Porém o mesmo podia ser dito para Zaphkiela. Sariel, caso quisesse, poderia ser alguém impossível de se ler.
Por isso, aquela breve interação fez o viajante se sentir em uma batalha. Mesmo que o Pilar da Selagem não tivesse nenhum motivo para suspeitá-lo, agir como se estivesse em um confronto mental era a melhor escolha, ainda mais considerando seu oponente.
— Ajustes... Compreendo, tu e Koeus estão desenvolvendo e melhorando a simulação constantemente.
— Correto. Raramente modifico a simulação sem Koeus, contudo, devido ao Doutor Dante, surgiu a necessidade de atualizá-la.
— Hm? Por minha causa?
— Afinal, não foste tu que descobriste uma nova maneira de usar o elemento Proteção? Um artigo sobre essa descoberta foi publicado há minutos.
“Oh, Tacitus realmente trabalha rápido...” Sariel esboçou um sorriso. — Ah, de fato, eu e Doutor Tacitus Janus, além de outros colegas, confirmamos uma hipótese através de alguns testes.
— Tiveste uma ideia brilhante, Doutor Dante. Nem Koeus, o homem mais sábio do mundo, ou Clementius, o Pilar da Proteção, jamais consideraram usar este elemento desta maneira. És de uma família pequena que acaba de ingressar em Acrópolis, mesmo assim foste capaz de superar os Pilares.
— Agradeço vossos elogios, contudo ainda há muito para aprender. É impossível que eu tenha superado um Pilar.
Sariel respondeu fingindo modéstia. Mesmo que Zaphkiela não parecesse ter nenhuma intenção por trás daquelas palavras, ainda pareciam uma armadilha para ele.
— Se continuares contribuindo tanto para Acrópolis, creio que logo teremos a oportunidade de trabalharmos juntos. — Ela se aproximou lentamente de Sariel. — Devo me despedir agora, contudo sinto que nos encontraremos novamente muito em breve. — Então começou a se afastar.
Zaphkiela manteve seu sorriso neutro e misterioso durante toda a conversa, e nem por um momento houve sequer alguma mudança em sua expressão.
Sariel a observou por um tempo, quando decidiu que já estava satisfeito com aquela visita e decidiu retornar.
Enquanto caminhava de volta até a porta por onde entrou, decidiu, pela primeira vez, falar com os Vigilantes que o acompanhavam.
— Por que Zaphkiela usa aquela máscara no rosto? Ela não pode ver, correto?
— Creio que a máscara possuí pedras de Alteração, então ela pode ver, contudo não sei por que ela usa aquela máscara. — O Vigilante que o revistou respondeu.
— Os Pilares sabem?
— Não sei, talvez. Porém nunca perguntei a nenhum Pilar, não seria apropriado.
— De fato, tens um ponto.
Após atravessar as duas portas que separavam o corredor por onde veio da sala do servidor, despediu-se dos Vigilantes e caminhou até o elevador.
“Se eu encontrar com Zaphkiela novamente, perguntarei a ela o motivo da máscara... apesar de ser impossível dizer se sua resposta será genuína.”
Sariel logo retornou para a sala de testes onde se separou de Tacitus e o encontrou lá, conduzindo novos testes com as barreiras.
Para sua surpresa, todos os outros pesquisadores do elemento Proteção estavam naquela mesma sala, com certeza se interessaram profundamente com a nova descoberta.
Claro, enquanto retornava, o viajante havia checado seu tablet e já viu que várias pesquisas novas já foram iniciadas devido aquela nova descoberta, sendo Tacitus aquele quem liderava esses projetos.
Assim que entrou naquela sala de testes, foi imediatamente cercado por todos os outros pesquisadores, que o elogiavam, questionavam e cumprimentavam.
Conversou com Tacitus, e decidiram que Sariel também estaria envolvido em todos os novos projetos e testes com o elemento Proteção.
Em uma questão de apenas alguns minutos, tornou-se um dos pesquisadores mais ocupados de Acrópolis, e foi forçado a participar e observar os testes por horas até que tivesse algum tempo livre.
Por volta das três horas da tarde, finalmente o movimento reduziu um pouco, permitindo-o se afastar para que almoçasse.
Enquanto deixava o centro de pesquisas do Conselho, dirigindo-se até qualquer restaurante próximo, e fez uma ampla varredura em área com Alteração, como tem feito secretamente desde que chegara, para ter certeza de que ninguém do Conselho se aproximasse sem saber.
Claro, era improvável que Koeus retornasse tão cedo, Feng Ping o avisaria, mas cuidado nunca era demais,
Percebeu a aura de Zaphkiela, além de duas auras familiares.
Olhou para cima e se deparou com Shiina e Raymond, que também olhavam para cima.
Raymond o notou primeiro, depois apontou para sua direção e Shiina o viu depois.
Acenou para ambos brevemente, sinalizando que estava tudo bem, então seguiu seu caminho.
***
Raymond encontrava-se perto da Escola Preparatória de Acrópolis, sozinho e vestindo roupas limpas e apropriadas para que não chamasse muita atenção.
O sol já havia nascido a algumas horas. Após ter se banhado, e se alimentado, discutiu com Shiina e decidiram que ele checaria a Escola Preparatória, enquanto a assassina investigaria os subúrbios, apenas para ter alguma noção das organizações e funcionamento daquele lugar.
Raymond foi caminhando diretamente até a Escola Preparatória, passando-se por um visitante, e surpreendeu-se com a enorme quantidade de estudantes ali.
Quando ficou diante das escadarias, sentiu-se perdido no que fazer. Havia várias entradas, muitas pessoas transitando, e ainda sabia pouco sobre esse lugar.
Foi então que, enquanto considerava o que fazer, sentiu algo o atingindo pelas costas, apesar de ter permanecido imóvel.
— Aí! Droga, sinto muito, senhor. — Ao olhar para trás, deparou-se com um adolescente, por volta dos quatorze anos, caído e esfregando a mão contra a própria cabeça. — Estava com pressa e não o vi.
— Não se preocupe. — Raymond o ajudou a se levantar. — Está aqui para fazer a prova de admissão?
— Ah, não, na verdade vim pelo tour pela escola, contudo me atrasei, e já começaram.
— Tour?
— Sim, algumas vezes a escola promove um tour par amostrar o lugar e explicar seu funcionamento, permitindo que aqueles que aspiram fazer a prova tenham noção se suas capacidades acadêmicas serão o suficiente.
“Oh, isso é perfeito.” A sobrancelha de Raymond se ergueu sutilmente. — Entendo, não sabia disso, posso me juntar a você?
— Claro, mas devemos nos apressar, não faço ideia de onde está o grupo agora. Me siga. — O jovem disparou, e Raymond o seguiu.
Apesar da velocidade que o garoto corria, que definitivamente não era lenta, o guarda-costas o acompanhava apenas com uma caminhada rápida.
Entraram na Escola Preparatória por uma área que havia bem menos alunos. Mesmo assim, não demorou muito até que ficassem presos devido à tanta gente.
— Ah, droga... como vamos passar? — lamentou o jovem.
Raymond encarou o garoto por um breve momento. Não era apenas a diferença de idade que era clara com ambos juntos, Raymond, devido seu poder e treino, também era ainda maior.
— Segure minha mão. — O guarda-costas pegou a mão do jovem. — E não solte.
— O que?
Sem dizer muito, Raymond, usando de seu tamanho, atravessou o mar de pessoas à força e abriu caminho, permitindo que pudessem continuar.
— Uau, valeu, ti... senhor.
“Por acaso estava prestes a me chamar de tio? Nem sou tão velho assim, sou apenas um ou dois anos mais velho que Luna...”
Ambos seguiram caminho até que se encontraram com o grupo que fazia o tour pela escola.
Raymond os acompanhou de perto enquanto prestava atenção a qualquer conversa que mencionasse Sariel.
Claro, não demorou muito até que descobrisse que um estrangeiro chamando Dante Leonhardt havia se tornado um pesquisador de mais alto nível assim que fez sua prova.
Pelo que descobriu, apesar de terem desconfiado disso, e até alguns rumores terem surgido, ele foi capaz de ascender até a Universidade de Acrópolis sem problemas.
O tour durou por mais algum tempo e, quando terminou, se afastou da Escola Preparatória.
Estava nas escadas principais, quando foi chamado.
— Ei! Senhor. — O jovem de mais cedo se aproximou. — Peço perdão por minha falta de educação, me chamo Lucas. Estava com tanta pressa que nem me apresentei.
— Entendo, decidiu se fará a prova?
— Ah, com certeza! Posso não passar, contudo tentarei até conseguir. — Seus olhos brilharam de entusiasmo.
— Bem, boa sorte então, espero que consiga. — Raymond se virou e começou a se afastar.
— Espera, o senhor não me disse seu nome...
— Não se preocupe com isso, não pretendo retornar aqui. — Raymond acenou com a mão e partiu.
— Ah... compreendo... — O garoto confundiu aquela fala como se o guarda-costas tivesse desistido da ideia de ingressar na escola, julgando-se incapaz.
O jovem deu suas costas a Raymond e partiu.
O guarda-costas retornava até a estalagem que alugou, quando Shiina se aproximou dele vestindo uma túnica, uma roupa bem similar aos cidadãos do reino, permitindo-a que não se destacasse.
— Então, descobriu algo? — perguntou a ela.
— Algumas coisas, mas a presença da Vigília é forte aqui, mesmo nos subúrbios. E você?
— Ele entrou com sucesso, basta aguardamos agora.
— Entendo... — Shiina olhou para cima, avistando a parte invertida da universidade. — Esse lugar é incrível...
— De fato. — Raymond fez o mesmo e admirou a engenharia, quando percebeu algo. — Ei, aquele não é ele? — Apontou para um lugar específico.
Shiina seguiu seu dedo e avistou ninguém menos que Sariel, vestindo sua túnica branca.
— Realmente...
Ambos estavam muito longe um do outro, contudo seus olhos eram o suficiente para que pudessem vê-lo.
Sariel os notou e ergueu a cabeça. Então ergueu a mão e acenou a eles, dizendo que estava tudo caminhando como planejado.
— Como esperado dele, se infiltrar em um lugar tão perigoso, e ainda permanecer tranquilo.
— Não creio que ele está tranquilo, mas, como uma assassina, devo admitir que nem mesmo eu seria capaz disso. — Shiina encarou Raymond e agarrou seu braço. — Agora, já que descobrimos que está tudo bem, por que não aproveitamos esses próximos dias?
— Podemos fazer isso, porém não da maneira que espera. — Concordando e discordando ao mesmo tempo, Raymond seguiu seu caminho até a estalagem, apesar de não ter se soltado da assassina.
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