O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 142.5: Metamorfo

Em uma pequena cabana no meio de uma floresta de Midgard, dois caçadores cuidavam de seus afazeres.

Um deles se chamava Herjolf, um filho de um bardo. Era de estatura média, possuía cabelos e olhos castanhos, além de uma barba curta. No momento, esfolava o couro de uma raposa.

O outro se chamava Eirik. Era loiro, de olhos azuis, sem barba e alto. Estava focado em fazer flechas.

Ambos eram amigos desde a infância, e ganhavam a vida vendendo aquilo que abatiam para uma vila ali perto.

— Você voltou tarde ontem à noite, o que esteve fazendo? — perguntou Eirik.

— Estava pronto para voltar quando ouvi um lobo chorando. No começo pensei em ignorar, mas continuou por um tempo, então decidi procurar. Achei o lobo com a pata presa embaixo de um tronco caído, então ajudei ele.

— Que gentil de sua parte! Nem parece um caçador! — Eirik respondeu ironicamente.

— Ora, cala a boca. — Apesar do que disse, Herjolf não pôde deixar de sorrir um pouco. — Não falo com quem erra um cervo parado a sete metros de distância.

— Vai se foder! Você me distraiu respirando pesado igual um fumante. Não sei como o cervo não te ouviu.

Apesar daquela conversa aparentemente nada amigável, era parte do cotidiano de ambos. Provocavam e xingavam um ao outro sem pensar duas vezes, mesmo assim, eram melhores amigos.

Eirik terminou suas flechas, as colocou na sua aljava e pegou seu arco.

— Vou caçar, vem comigo?

— Hoje não, tenho que curtir couro. Pode ir sozinho hoje.

— Curtir couro? Desde quando faz isso? Sua cabecinha é capaz de fazer algo tão complicado?

— Vai se foder. Parece que o ferreiro da vila que vendemos morreu, por isso vamos fazer mais dinheiro se começarmos a curtir couro.

— Hmm. Tá, tanto faz. Já volto.

Eirik deixou a cabana e se dirigiu até a floresta.

Já era relativamente tarde — o sol começava a se pôr — o horário perfeito para caçar.

Após se afastar bem da cabana, começou a se esgueirar e tomar cuidado para não fazer sons.

Eirik se dirigiu lentamente até o local onde normalmente abatia cervos, porém se surpreendeu ao não encontrar nenhum.

— Que estranho... Será que algum predador apareceu?

Eirik esperou por alguns minutos para ter certeza de que não teria nenhum cervo ali. Quando percebeu que realmente não teria sorte, se deslocou para outro lugar.

Se dirigiu até as margens de um rio e o subiu devagar. Aquele também era um local bom de caça, muito usado pelos animais para beber água.

Contudo, mais uma vez, se deparou com o lugar totalmente deserto.

— Que saco... Aonde foram se meter hoje?

Estava escurecendo rápido, se não abatesse nenhuma presa, teria que retornar de mãos vazias, e sabia muito bem que Herjolf não iria deixar essa oportunidade de provocá-lo passar.

— Nem ferrando que vou dar esse gostinho a ele, vou voltar com algo custe o que custar.

Eirik continuou procurando por vários lugares, mas todos estavam desertos.

Com o tempo passando, ficou escuro demais para caçar, e Eirik estava prestes a desistir, quando encontrou um único cervo perdido.

A distância era razoável e, considerando a escuridão, seria quase um milagre se o acertasse.

Mesmo assim, colocou a flecha no arco com cuidado, mirou na cabeça do animal e prendeu a respiração.

Quando teve certeza de que o cervo não se moveria, soltou a flecha, que viajou direto até o animal e o atingiu em cheio.

O animal caiu duro. Um tiro milagroso.

— Nem fudendo! — Eirik não pôde conter sua animação. — Herjolf não vai acreditar nisso.

Eirik se aproximou do animal, retirou sua faca de caça e, para ter certeza de que o cervo estava morto, perfurou seu coração.

 — Ufa, agora vou te levar de volta.

Era um cervo relativamente grande, levaria um tempo para carregá-lo até a cabana.

Eirik estava se preparando para levá-lo, quando ouviu o choro distante de um lobo.

Isso o fez lembrar daquilo que Herjolf disse mais cedo, e, assim como ele, decidiu ignorá-lo.

Eirik usou sua faca para cortar os chifres do cervo para levá-lo sem precisar se preocupar que ficasse preso em algum lugar.

Durante todo esse tempo, o choro do lobo não parou.

Pelo som, parecia relativamente jovem, mas Eirik não queria correr o risco de verificar e topar com uma matilha.

Se preparou para levar o cervo, mas, como o choro continuou, sua curiosidade o compeliu a verificar.

— Que droga, o que estou fazendo? — perguntou-se enquanto se esgueirava pela mata.

Eirik prosseguiu com cuidado, sabia que, se encontrasse uma matilha, estaria praticamente morto.

Apesar de seu trabalho relativamente arriscado, era capaz de usar apenas magias muito básicas, não era como muitos guerreiros de Yggdrasil, capazes de lutar contra criaturas grandes e poderosas.

Os sons de choro se tornaram cada vez mais altos conforme se aproximava, até que chegou perto o suficiente para que pudesse, em teoria, ver o lobo.

Contudo não encontrou nada.

O som estava perto, ridiculamente perto, mas não via lobo algum.

Eirik começou a se sentir desconfortável, como se algo terrível fosse acontecer em breve.

Seus ouvidos estavam atentos a qualquer som, mas só agora notou como a floresta estava silenciosa.

Não podia ouvir som de grilos, o piar das corujas, o uivo de outros lobos.

A única coisa que podia ouvir, era do lobo misterioso.

Eirik estava prestes a se virar para ir embora, quando seus olhos captaram um movimento bem diante de si.

Só então percebeu o lobo que chorava, porém precisou esfregar seus olhos para ter certeza do que via.

O motivo disso, era porque aquele era o maior lobo que já encontraram em sua vida. Era do mesmo tamanho, não, até maior que ele, e Eirik era um homem adulto de mais de um metro e oitenta, sem contar que aquele estava deitado.

Seu pelo era tão escuro quanto a própria noite, e seus olhos possuíam uma cor roxa sinistra.

O primeiro instinto de Eirik foi de se afastar dali, contudo estava, de certa forma, maravilhado com o tamanho daquele animal.

O lobo percebeu sua presença e o encarou. Seus olhos fizeram Eirik tremer de medo, porém o animal não o atacou.

Continuou a chorar baixinho, enquanto permanecia deitado.

Eirik ficou curioso. Normalmente, o lobo teria ou o atacado, ou fugido.

Não podia deixar de se sentir intimidado por aquele animal, afinal, suas garras eram do tamanho de sua faca de caça, e a aparência quase demoníaca dele não era nada convidativa.

Mesmo assim, decidiu se aproximar devagar para ver o motivo do choro do lobo.

Cada célula em seu corpo dizia para não fazer isso, mas acreditou que, se aquele animal desejasse feri-lo, já o teria feito.

Pela maneira que o lobo se comportava, deitado e com suas patas traseiras tremendo, acreditou que havia se ferido.

Porém, ao verificar as patas do animal, não encontrou nada.

— Por que está chorando assim?

O lobo continuou chorando, por isso, Eirik decidiu chegar ainda mais perto, afinal, quase não foi capaz de ver o lobo mesmo estando tão perto, talvez não estivesse vendo algo pela escuridão.

Quando chegou perto o suficiente, começou a ver as patas do animal novamente.

Contudo o lobo se moveu subitamente. Sua boca se abriu, revelando presas grandes e negras, que atravessaram sua perna, perfuraram a carne e esmagaram seu fêmur em dezenas de pedaços.

— AAAAAH! SOCORRO! — Eirik imediatamente sentiu a pior dor que já sentira em toda sua vida. Havia sido mordido por lobos anteriormente, já fraturou um osso antes, mas nada se comparava com aquilo.

O animal não o soltou e moveu sua cabeça violentamente, como se tentasse arrancar sua perna.

Eirik pode sentir os dentes entrando cada vez mais fundo em sua carne, o sangue encharcando sua pele, os ossos se quebrando.

Diferente de qualquer lobo, aquele não fazia nenhum som, estraçalhava sua perna em silêncio.

— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA! HERJOLF!

Eirik pegou sua faca de caça e enfiou contra um dos olhos do animal, porém ele nem reagiu àquilo.

O outro olho do lobo o encarou no fundo de sua alma, um olhar faminto, mas não era por carne, era como se desejasse... possuir seu corpo.

— SOCORRO! POR FAVOR! HERJOLF! — Eirik gritou pela única pessoa que poderia possivelmente aparecer, mas foi em vão.

O lobo pareceu se cansar de brincar com sua presa, soltou a perna de Eirik e, em uma única mordida, esmagou o crânio do caçador.

Eirik imediatamente parou de se mover, era impossível sobreviver àquela força demoníaca.

O lobo, então, ao invés de comer o caçador, fez algo diferente.

A escuridão em seu corpo começou a se espalhar pelo cadáver de Eirik, como se as sombras o consumisse.

Então, o corpo do lobo e o cadáver de Eirik começaram a se fundir. O animal se tornou maior, mas nada parecia ter mudado.

Foi então que o lobo se levantou com apenas as duas patas traseiras. Seu corpo começou se deformar até adquirir uma forma que lembrava apenas vagamente o de um humano, apesar das garras, presas e a grande quantidade de pelos escuros denunciarem o contrário.

O lobo, não, a criatura se moveu de maneira desajeitada, como se estivesse aprendendo a agir como um humano.

Então, abriu a boca e, com uma voz distorcida, mas que ainda se assemelhava com a de Eirik, gritou: — So...corro!


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