O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 133: Um Fio de Esperança

A noite avançava, porém, em meio aquelas árvores altas e negras, era impossível até mesmo ver a beleza da lua, na verdade, mesmo se fosse possível, estava mais nublado do que o normal.

O vilarejo possuía uma atmosfera sombria, e apenas os soldados se encontravam no lado de fora, patrulhando atentos a qualquer som estranho.

Apesar da opressão causada pela floresta, aquele fora o primeiro dia em algumas semanas que um ataque não ocorrera, o que trouxe esperanças aos aldeões de que a comitiva de reconhecimento teria conquistado algo.

Alguns dos soldados conversavam sobre o assunto no momento, com muitos se mostrando otimistas, apesar de alguns poucos não compartilharem daquele sentimento, sendo Boris um deles.

— Talvez eles tenham encontrado o portal e o fecharam, por isso não houve um ataque hoje.

— Não sei... Não consigo deixar de sentir algo ruim sobre essa demora deles...

— Deixa de ser pessimista, Boris! Finalmente conseguimos alguma pista concreta sobre esse problema.

Boris permaneceu em silêncio, buscando não acabar com alegria dos soldados ao redor apenas por causa de um pressentimento ruim.

Talvez eles estivessem certos, aquelas pessoas eram incrivelmente habilidosas e experientes, dificilmente cometeriam algum erro que pudesse comprometer a missão.

Alguns minutos se passaram, quando alguns dos soldados em guarda começaram a escutar sons de algo se aproximando pela floresta.

Todos ficaram imediatamente atentos. Como o grupo de Andrik possuía pessoas capazes de se deslocar sem serem percebidos, aqueles sons só poderiam ser de criaturas.

Todos aguardaram com uma expectativa crescendo, porém algo os fez estranhar aquela situação.

Se fosse um grande grupo de Wilkolaks como nas outras vezes, então o som seria muito maior e viria de vários locais, mas não era o caso.

Seria um animal perdido então? Igual a loba que deu à luz a seus filhotes logo após chegar ao vilarejo?

Após mais alguns segundos de expectativa, uma figura humana finalmente apareceu, surpreendendo a todos.

— Andrik?

— Tragam uma pedra de Natureza o mais rápido possível! — O capitão não deu nenhuma explicação, e seu nervosismo preocupou os soldados.

Logo depois, Raymond apareceu com Sariel em seus ombros, seguido de Shiina, Aegreon, Branko e Karel.

— O... O Pilar da Conjuração?! — Como era de se esperar, não estavam preparados para ver Aegreon, um dos membros do Conselho, aparecer do nada naquele momento.

A surpresa fora tão grande, que nem se deram conta de que uma pessoa não havia retornado.

— O que aconteceu com ele? — Boris se aproximou preocupado.

— Sua magia se esgotou, ele precisa de uma pedra de Natureza agora!

— Ce-Certo!

Um dos soldados se apressou para buscar uma pedra de Natureza, contudo as coisas ainda piorariam.

— Há um enorme grupo de Wilkolaks se aproximando! — Um grito desviou a atenção de todos para a floresta. — Não... É o maior grupo de criaturas que já vimos desde então!

— Maldição! O que faremos? — Praguejou Andrik.

— Levem-no a um lugar seguro. Vamos lutar. — Aegreon tomou a iniciativa e se preparou para o combate.

— Minha casa é afastada daqui, podemos levá-lo lá — Boris sugeriu.

— Então se apressem! — O capitão se virou para a floresta e começou a coordenar seus soldados, enquanto outros levaram Sariel para longe.

Raymond carregou o viajante até a moradia de Boris, enquanto todos os outros ficaram para barrar as criaturas.

Durante o caminho, o guarda-costas era incapaz de controlar suas emoções. Seu coração estava acelerado, quase como se pudesse sair de sua boca a qualquer momento.

Durante toda essa jornada, Sariel, que inicialmente era apenas uma pessoa irritante e um inimigo em potencial, se tornou seu maior amigo até então.

Desde que deixaram as minas Belvuch, o viajante começou a se afastar e se tornou mais silencioso, e Raymond não pôde deixar de desejar dizer algo, se aproximar ou conversar com ele para saber o que estava acontecendo.

Porém, como Luna permaneceu próxima dele mesmo nesses momentos, acreditou que não era necessário.

Agora, enquanto o carregava em seus braços, tão fraco como um cadáver e o brilho do broche dele cada vez mais fraco, não conseguia deixar de se culpar por não ter agido.

Tudo isso inundava sua mente, o que quase o fez não perceber quando chegou à casa de Boris.

Sem pensar duas vezes, abriu a porta com tudo, usando seu corpo, quase a derrubou, foi até um sofá e deitou o viajante lá.

Boris entrou logo depois, acompanhado de um soldado carregando uma pequena pedra verde.

Devido ao barulho e comoção, Misha despertou e apareceu na sala, assustada.

— O que está acontecendo?

— Um dos estrangeiros está correndo risco de vida, trouxemos ele aqui para proteger do ataque — Boris explicou.

— Papai...? O que tá acontecendo? — O filho deles também apareceu, esfregando os olhos e com a voz sonolenta.

— Filho, papai está ocupado agora, vamos voltar para a cama, certo? — Misha, ao perceber a seriedade da situação, começou a empurrar o filho de volta ao quarto.

— A pedra! — Raymond quase gritou, sem nem se importar com a presença da criança.

O soldado entregou a pedra ao guarda-costas rapidamente, e Misha deixou a sala com pressa.

Ao receber o item, Raymond percebeu que não fazia ideia do que era suposto fazer.

Casos de esgotamento de magia eram extremamente raros, e a esmagadora maioria das vítimas disso faleciam imediatamente, era um milagre que Sariel ainda tinha uma pulsação, por mais que estivesse tão lento que era necessário esperar três segundos para senti-lo.

— Como fazemos isso?

— Se me lembro bem, precisamos deixá-lo tocando a pedra constantemente e rezar a Kura para que ele absorva naturalmente a magia. — O soldado vasculhou sua mente, lembrando-se dos poucos relatos de pessoas que sofreram a mesma condição e foram salvas.

— Só isso?! — Raymond segurou com força a pedra em suas mãos. — Não há nada além disso que possamos fazer?!

Todos ficaram em silêncio. Era mais do que visível o quanto Raymond estava afetado, por isso não tinham coragem de dizer o óbvio.

— Maldição... — O guarda-costas se aproximou do viajante e colocou a pedra em uma de suas mãos.

Raymond não se afastou imediatamente, ainda mantinha a mão de Sariel fechada usando suas próprias mãos, como se quisesse ter certeza de que a pedra não seria solta.

— Esculta aqui... É melhor você não morrer... — Raymond sussurrou enquanto mantinha o olhar baixo. — Luna ficaria devastada, e eu já lhe disse que jamais o perdoaria se fizesse algo contra ela...

 

***

 

A batalha prosseguia, e a situação parecia péssima para a vila.

A quantidade de criaturas que precisavam lutar era inúmeras vezes maior do que os últimos ataques, além de haver vários monstros que nunca viram antes.

A vila com certeza já teria sido completamente destruída se não fosse por Aegreon e Shiina que, basicamente, estavam barrando o avanço inimigo sozinhos.

Apesar disso, não podiam fazer tudo e estar em todos os lugares, além de seus poderes ainda estarem parcialmente selados — visto que o único que poderia remover tal selo estava à beira da morte —, por isso várias criaturas conseguiam passar por eles.

Para qualquer direção que olhasse, veria alguma criatura, seja no chão, no ar ou, até mesmo, aparecendo do nada a partir do subsolo.

— Recuem para o centro da vila! Matem qualquer um que escapar de Aegreon! — Andrik disparava suas ordens habilmente, analisando a situação com calma e racionalidade, apesar do caos que o rodeava.

Algumas das criaturas, parecendo notar que não seriam capazes de quebrar as defesas tão facilmente, começaram a lançar magia à distância, mirando, por algum motivo, nas casas.

— Por que estão fazendo isso? — Branko questionou-se. — Esse comportamento não é como normalmente agem.

— Será possível que estão tentando matar Sariel? Faria sentido considerando seus números — supôs Karel.

— Acho bem provável, maldição... — Andrik encarou os arredores, notando o número cada vez maiores de pessoas nas ruas, forçadas a deixarem suas casas devido aos ataques. — Se isso continuar, muitos morrerão. Vamos todos recuar até a moradia de Boris! Será mais fácil de proteger todos dessa maneira!

— Entendido! — Todos os soldados ao redor começaram a mobilizar o povo e, lentamente, se moveram até a casa de Boris.

Como era de se esperar, as criaturas perceberam aquilo e focaram todas suas atenções naquele local.

— Karel! A barreira!

— Certo! — Karel envolveu toda a casa em um domo dourado, que foi logo bombardeado pelas magias das criaturas e começou a rachar. — Maldição... Não vai resistir muito...

Aegreon e Shiina se reagruparam, matando mais criaturas com mais eficiência agora que não precisavam se mover muito ao redor da vila.

Apesar disso, o problema com os ataques à distância permanecia.

Devido à comoção, Raymond não demorou para sair de dentro da casa e perceber o que estava acontecendo, imediatamente fortalecendo a barreira de Karel com sua própria magia.

Graças a isso, o domo dourado se tornou resistente o suficiente para receber todos os golpes sem que os danos aumentassem.

Contudo o guarda-costas não se deu por satisfeito. Comandando as nuvens com facilidade, fez inúmeros relâmpagos arrebatarem as criaturas, finalmente lidando com os ataques à distância.

— Eles estão muito organizados, deve haver alguém liderando-os — Raymond disse. — Branko, consegue encontrá-los?

— Certo. — O batedor imediatamente se concentrou para tentar detectar qualquer aura que parecesse humana escondida na floresta.

Como havia centenas de criaturas ali, precisou de um bom tempo para rastrear a área toda, mas, eventualmente, encontrou o que poderia ser devotos comandando as criaturas.

— Encontrei! — Branko estabeleceu uma conexão mental com Raymond, permitindo que ele soubesse com precisão a localização dos oponentes.

Sem dizer uma palavra, o guarda-costas castigou a floresta com seus raios, matando os devotos escondidos, fazendo as criaturas se perderem e atacarem de maneira desorganizada.

As criaturas ainda continuariam a aparecer por algumas horas, até que, eventualmente, o dia amanheceu com o vilarejo quase que completamente destruído, apesar de a grande maioria dos aldeões terem sobrevivido.


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