O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 120: A Grande Floresta

Uma floresta densa se estendia além do que a vista alcançava com árvores cujas madeiras eram claras e refletiam bem a luz do luar que vez ou outra encontrava uma brecha pelos reinos superiores de Yggdrasil.

Em um local qualquer dessa floresta encontrava-se um pequeno abrigo de madeira. Pequeno, mas resistente e aconchegante.

Dentro dele encontrava-se o grupo, agora sem Feng Ping acompanhando-os.

Todos dormiam profundamente, incluindo os cavalos.

Depois da cremação de Su-en, Feykron se despediu do grupo e partiu para longe.

Quanto a Sleipnir, como era igual a qualquer animal — apesar de seus dois pares extras de patas — decidiram levá-los consigo, tornando-se a nova montaria de Sariel.

O viajante, inclusive, estava nesse momento dentro de seu subconsciente, analisando o livro negro misterioso.

Sua expressão era de alguém atormentado e cansado, revendo inúmeras vezes a mesma visão.

Desde que desceram para Alfheim a partir de Helheim, tem tentado adquirir alguma informação nova daquela memória, sem nenhum sucesso até então.

Tsc! Não é possível que essa visão pare no momento mais importante... — praguejou enquanto saia de dentro da “memória”.

Não importava o quanto tentasse, a visão sempre terminava quando estava prestes de cortar a garganta de uma pessoa desconhecida.

— Me pergunto se há alguma página nova... — perguntou a si mesmo enquanto folheava a página, encontrando nada novo. — Maldição...

Sariel largou o livro e olhou ao redor, para as inúmeras estantes de livros contendo todo seu conhecimento.

— Isso não está ajudando... — Já estava cansado de tanto ver a mesma coisa nos últimos tempos. — Talvez uma mudança no cenário...

Tão rápido quanto o pensamento, todo o lugar mudou para uma paisagem espetacular com montanhas, florestas, cachoeiras e vales.

Contudo, aquilo não ajudou em nada para melhorar seus ânimos.

— Isso não vai dar certo... Preciso de algo... real...

No momento seguinte, os olhos verdes do viajante se abriram lentamente, deparando-se com o teto de madeira e sons suaves de respiração.

Sentando-se cuidadosamente para não fazer nenhum barulho, observou seus companheiros dormindo.

Após se certificar de que não havia ninguém acordado, se levantou sorrateiramente e saiu do local.

No momento que seus sentidos captaram o doce ar da floresta e sua canção noturna, sentiu a paz que tanto queria.

Com os olhos fechados e a cabeça levantada, passou um bom tempo meditando acompanhado da natureza.

Depois de contemplar a beleza da floresta, caminhou alguns passos e sentou-se em um tronco caído, logo atraindo inúmeros animais noturnos que brincaram com suas roupas, escalaram seu corpo e pediram carinho.

O viajante, como a maioria de qualquer ser humano, obviamente não resistiu e acabou cedendo, brincando com aqueles seres inocentes que desconheciam maldade.

Se havia algo que não falhava em animá-lo, definitivamente eram os animais.

— As criações de Kura realmente são magnificas... — disse deixando escapar um leve sorriso. — Vocês criaturinhas são um grande tesouro...

Sariel permaneceu um bom tempo sentado no mesmo lugar, sem mostrar sinais de que iria voltar para o abrigo.

Passou-se cerca de uma hora até que sua ausência fosse notada.

A porta do abrigo se abriu devagar e uma figura se aproximou por trás silenciosamente, não para tentar surpreendê-lo de alguma maneira, já que sabia muito bem que fora percebida, mas para não despertar aqueles que ainda dormiam.

— Sariel... — disse a doce e preocupada voz de Luna. — Não consegue dormir?

— Dormir não é um problema, mas descansar a mente. Assim me sinto melhor. — Para pessoas como o viajante, que eram capazes de acessar a região mais profunda da consciência, adormecer realmente era algo que demorava segundos.

A princesa se aproximou e sentou-se ao lado dele.

— Sei que se culpa pelo que aconteceu, mas não havia nada que podia ter feito... — Luna tentou confortá-lo.

Sariel a encarou por um breve momento. Apesar de realmente se sentir ainda culpado por Su-en, a verdade era que seu incomodo se dava pelas visões.

“É melhor se eu não disser que tenho previsões do futuro... Ainda mais por causa... daquilo...”, Sariel desviou o olhar ao se lembrar da visão onde ambos conversavam.

Luna percebeu e a principiou acreditou que estava tentando desviar o olhar para não demonstrar estar afetado por causa de Su-en, mas a maneira como ele agiu não parecia condizer com isso.

Confusa com aquela reação, se aproximou ainda mais do viajante, o suficiente para que seus ombros se tocassem.

— O que foi? — perguntou Sariel levemente surpreso com aquele gesto.

— Eu só... queria ficar mais perto... — respondeu ela hesitando um pouco e com a voz levemente mais baixa.

O viajante a encarou por um breve momento e depois voltou sua atenção aos animais.

Nenhum dos dois disse mais nada nesse tempo, apenas brincaram com as criaturinhas em silêncio.

Após algum tempo, Luna sentiu um peso cair sobre seu ombro.

Olhando para Sariel, percebeu que havia adormecido, finalmente cedendo ao cansaço após ter esgotado tanto a magia e ter permanecido tantas noites vasculhando o livro.

A princesa, a princípio, permaneceu imóvel como uma estátua, temendo que qualquer movimento o despertaria.

Porém, a cabeça dele começou a deslizar, forçando-a a se mover para não deixar que caísse e despertasse.

“O que faço? Devo levá-lo para dentro?”, perguntou-se enquanto segurava-o desconfortavelmente.

Como estava distraída, demorou para perceber que durante este tempo estava sendo observada.

Sentindo que havia algo, ou alguém por perto, olhou ao redor e viu, não muito longe, uma figura estranha.

A princípio acreditou se tratar de uma pessoa, mas logo notou algo diferente na pele dela, uma aparência, cor e textura semelhante à madeira.

Sua cor era exatamente igual das árvores ao redor, um dos motivos do porquê não o percebera mais cedo.

Além disso, todo o corpo estava coberto por longas vinhas e musgo.

O rosto lembrava muito vagamente de um homem idoso, mas as orelhas eram grandes e pontudas, os olhos verdes não possuíam pupila e não tinha um nariz.

Luna o observou alerta, acreditando se tratar de algum perigo ou algo relacionado com alguma Seita.

O “homem” pareceu ficar alarmado com aquilo, mas permaneceu atrás de uma árvore observando-a.

— O que... é você? — perguntou curiosa.

Entretanto não obteve resposta, o ser diante dela continuou imóvel.

Logo a princesa percebeu que a atenção dele estava voltada aos animais ao redor dela.

Sem saber muito bem como agir, trouxe as criaturas para perto de si temendo que ele faria algo contra elas.

Porém, os animais logo disseram a ela algo contra o que esperava.

— O quê? Ele é... bonzinho?

As criaturas concordaram com suas cabeças e se aproximaram daquela figura estranha, que os acolheu da mesma maneira que Luna fizera antes.

Aquele ser continuou a observá-la por um momento, e a princesa, ainda segurando Sariel para que não caísse, se levantou para tentar se aproximar e conversar com ele.

Entretanto, a figura, alarmado com sua movimentação, se virou e desapareceu entre as árvores.

— O que foi isso...? — perguntou Luna sem saber exatamente o que acabara de encontrar.

Após algum tempo, decidiu levar o viajante para dentro do abrigo.

 

***

 

Antes do amanhecer, Sariel despertou, para sua surpresa, dentro do abrigo criado por ele.

“Ela... Me trouxe aqui enquanto eu dormia?”, perguntou-se, apesar de saber claramente a resposta.

O viajante se sentou e percebeu que a princesa não estava presente.

Ao sair, percebeu que estava no mesmo lugar onde ambos ficaram na noite anterior, brincando com os animais da mesma maneira.

— E-eu lhe acordei? — perguntou Luna preocupada.

— Não, acordei sozinho — respondeu o viajante. — Me desculpe por ontem.

— Ah, não se preocupe, fiquei feliz em vê-lo descansando.

Sariel a encarou por um breve momento.

— Você... ainda não decidiu que tipo de arma deseja — disse o viajante lembrando-se do pedaço de gelo que encontrara. — Por acaso prefere algo pesado e lento como um martelo, ou algo ágil e leve como uma espada?

Luna se surpreendeu com aquele assunto súbito.

— Bem... creio que uma espada... — respondeu após ponderar brevemente sobre o assunto.

— Prefere longa e fina como a de Raymond, ou um pouco mais curta com uma lâmina mais grossa?

— Acho que algo com alcance maior seria melhor.

— Hm — murmurou Sariel, logo em seguida entrando no abrigo e retornando com o pedaço de gelo de Ymir.

— O que vai fazer?

— Forjar sua arma — respondeu o viajante enquanto colocava o material no chão.

A curiosidade de Luna despertou imediatamente, fazendo-a se aproximar animada.

— Posso ver daqui?

— Claro, afinal, não é algo que se vê todo dia. — Sariel segurou sua glaive com firmeza.

Seus olhos mudaram lentamente para azul-claro, sendo imitado por sua arma.

Uma energia azul cobriu a lâmina e, em um movimento único e certeiro, o viajante golpeou o material, entretanto apenas uma pequena lasca surgiu na superfície.

Apesar do exterior ser gelo, o som produzido foi semelhante ao de metal.

— Isso... não fez quase nada... — disse a princesa observando bem a marca minúscula.

— É um processo demorado e delicado — explicou o viajante. — Para começar, a ferramenta para esse trabalho deve ser algo ainda mais resistente do que o material bruto, o que por si só já é muito difícil. Além disso, apenas posso trabalhar usando o mesmo elemento, caso contrário, há o risco de quebrar e inutilizar completamente o minério.

— Então é mais difícil do que parece...

— Muito mais — disse Sariel conforme golpeava constantemente o material. — Por isso você não vê esse tipo de arma por aí, é algo que apenas os Pilares são capazes de criar.

— Mas se é necessário algo ainda mais resistente que a matéria-prima, como as primeiras dessas armas surgiram?

— Golpeando com outra pedra igualmente resistente, é claro. Foi assim que surgiram as primeiras ferramentas para esse trabalho.

Luna continuou assistindo o viajante golpeando o material, acompanhado do constante som de metal chocando-se contra metal.

Eventualmente, o resto do grupo despertou devido aqueles sons e checaram para verificar o que estava acontecendo, ficando imediatamente animados quando perceberam do que se tratava.

A princesa se surpreendeu por um breve momento, mas logo se lembrou do que Sariel havia falado momentos antes: ver esse tipo de arma já é uma raridade, observá-la ser criada era uma oportunidade única na vida.

Porém, como tinham muito caminho pela frente, Sariel foi forçado a parar antes para se alimentar e seguir viagem.

Não houve quase mudança nenhuma no pedaço de gelo que encontrara, apenas se tornara ligeiramente menor.

Nos dias seguintes, sempre que possível, o viajante trabalharia naquela arma e tentaria investigar o livro negro no seu subconsciente.


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