O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 88: Nunca Vai Ter Acontecido

O grupo guiava o povo de volta para Báishui primeiro, pois havia habitantes daquele reino lá.

Enquanto caminhavam, Feng Ping e Sariel permaneciam mais afastados e discutiam em segredo.

— O que faremos? — perguntou o Pilar do Vento. — Precisarei reportar essa batalha ao Conselho, mas se eu fizer isso, descobrirão que vocês estão vivos e sobre sua manipulação em Krimisha.

— Eu estive pensando sobre isso, e creio ter uma solução para isso — disse o viajante. — Serei forçado a selar todas as memórias deles, desde o momento que foram atacados até o retorno.

— Mas eles perceberão a falta daqueles que morreram — disse Feng Ping.

— Por isso usaremos a investigação que lhe foi encarregada — disse Sariel. — Você foi avisado ao Conselho para investigar os devotos de Shiva, mas eles haviam sumido antes mesmo de você iniciar suas buscas. Dessa maneira, poderá usar esse pretexto para explicar tanto para o Conselho quanto aos moradores sobre o desaparecimento deles.

— Ainda assim, vão desconfiar de suas casas destruídas — disse o Pilar do Vento.

— Quando chegarmos no vilarejo atacado, passaremos a noite lá e checarei a memória dos moradores enquanto dormem, assim terei uma noção completa de como era o local antes do ataque — explicou o viajante. — Teremos de nos separar depois disso, pois precisarei esperar outra noite para selar as memórias deles e reconstruir o local. Farei o mesmo com o vilarejo de Shiroi Tate.

Feng Ping permaneceu em silêncio por um breve momento, pensando cuidadosamente se não haveria nenhuma falha nesse plano.

— Não temos escolha... É a única opção... — disse o Pilar do Vento.

O grupo seguiu seu caminho durante toda a noite, chegando no vilarejo atacado durante o início da tarde.

Assim que chegaram, inúmeras pessoas apareceram das casas parcialmente destruídas ao encontro de seus familiares, agradecendo profundamente ao grupo por terem ajudado.

É claro, muitos não haviam voltado, e alguns dos moradores de Báishui culpavam Feng Ping por isso.

Contudo, alguns dos resgatados defenderam o Pilar do Vento, contando como ele lutou para proteger as pessoas.

O tempo passou rapidamente enquanto os moradores de Báishui contavam tudo o que acontecera, e os moradores das Montanhas Prateadas se recuperavam para partir na manhã seguinte, montando acampamentos improvisados e até se abrigando na moradia dos residentes.

Conforme as horas se passavam, amizades entre as pessoas de ambas as nações foram surgindo e, graças aos relatos, uma grande admiração surgiu sobre o grupo.

Até mesmo Feng Ping começou a ser tratado melhor, com as pessoas mais compreensivas conversando com ele e se desculpando pela maneira como o trataram antes.

Xiao Li levou Luna para conhecer seu marido e filho — que haviam escapado na hora do ataque da Seita.

Era uma pena que tudo aquilo deixaria de existir na mente daquelas pessoas quando o viajante selasse suas memórias...

Quanto a Suzuki, Sariel selou seu poder mágico e o colocou em um estado vegetativo.

Yuri aceitou aquela ideia com relutância, sabendo que — apesar de ser o melhor a ser feito — sentia-se impotente e possuía um gosto amargo em sua boca ao ver o marido daquela maneira.

Quando a noite caiu e todos adormeceram, o viajante trocou seu elemento para Alteração e começou a analisar as memórias de todos os moradores, prestando atenção não apenas no design do vilarejo de fora, mas dentro das casas também.

Tudo levou horas conforme Sariel planejava cuidadosamente e recriava a planta do vilarejo em sua mente.

Quando terminou, estava amanhecendo e sentia-se cansado.

Logo que o sol banhou Báishui com sua luz, o grupo partiu para as Montanhas Prateadas, separando-se do viajante.

Xiao Li, a mulher salva por Luna, se despediu dela e a agradeceu novamente.

Em um certo momento no dia anterior, Sariel explicou ao grupo o plano, por isso, apenas precisou criar uma desculpa qualquer para justificar sua continuidade naquele vilarejo.

Luna perguntou se não haveria outra maneira de resolver aquilo, já que havia criado laços com muitas daquelas pessoas e sentia-se tristes por se tornar uma completa estranha novamente aos aldeões, mas logo aceitou o plano.

Conforme o dia passava, inúmeras pessoas conversavam com Sariel, agradecendo-o por ter salvado suas vidas, oferecendo refeições e presentes.

Quando a noite caiu novamente e todos dormiram, o viajante começou seu plano.

Trocando seu elemento para natureza, reconstruiu as casas de madeira de maneira idêntica se comparada com as originais.

Também fez o melhor que pode para decorar o interior, apesar de alguns itens específicos faltarem.

Porém, não era um grande problema. Os moradores provavelmente pensariam que perderam em algum lugar e não ligariam muito.

Quando terminou de reconstruir tudo, seguiu para a próxima parte.

Apesar de ter refeito as casas, estavam com uma aparência nova e boa demais se comparado com as memórias, que possuíam vários remendos devido à nevasca constante.

Por isso, Sariel começou a danificar as casas e colocar remendos onde causara estragos.

Após algumas horas, estava tudo pronto.

Se os moradores acordassem, se questionariam por um momento se não haviam voltado no tempo.

Agora, restava o estágio mais importante.

Convertendo seu poder mágico para Alteração e outra parte de Selagem, invadiu a mente de todas as pessoas que dormiam.

Imediatamente, as pessoas — que estavam em seus próprios sonhos — se viram em uma biblioteca infinita, com estantes altíssimas contendo inúmeros livros.

— O que está acontecendo? — perguntavam-se assustados.

Passos reverberaram pelo ambiente, fazendo-os se viraram na direção deles e se deparando com Sariel — que no momento estava com os olhos prateados, tão belos que pareciam duas lagoas de mercúrio líquido.

— Senhor Sariel, que alívio... — disse Xiao Li. — O que está...

Antes que pudesse terminar sua frase, correntes feitas de palavras prateadas surgiram e se enrolaram em todas as pessoas, impedindo que se movessem e até falassem.

As pessoas, confusas com o acontecimento, tentavam gritar, mas apenas murmúrios escapavam de suas bocas.

— Peço perdão por isso... — Foram as únicas palavras ditas por ele. — Isso nunca vai ter acontecido...

Sua figura era imponente, bela e, de certa forma, intimidadora.

Seus olhos prateados encaravam todos com pena e demonstravam um poder além da compreensão dos aldeões.

Em seguida, as palavras começaram a entrar na mente de todos pelas orelhas, bocas e nariz.

As memórias de cada pessoa sobre o incidente foram cobertas completamente nessas palavras prateadas, ofuscando a visão delas.

As pessoas não tinham como resistir perante o poder do viajante.

Apesar de se debaterem, a única coisa que conseguiram com sua resistência fútil foi apenas atrasar mais o processo e desgastar Sariel.

Após mais algumas horas, todos finalmente caíram pesadamente no chão da biblioteca e inconscientes.

Todas, exceto um.

Um garoto, com cerca de 15 anos de idade, olhos verdes e curtos cabelos pretos ainda resistia às correntes prateadas.

Percebendo aquilo, o viajante fez as correntes libertarem a criança e se aproximou.

Cof! Cof! — Tossiu o jovem com dificuldade, tentando protestar com Sariel, mas falhando.

O viajante a observou por um tempo, até que ela se recuperou o suficiente e tentou atacá-lo.

No exato momento que sequer pensou em se mover, correntes prateadas surgiram e se enrolaram nas pernas e braços do garoto.

O jovem tentou se debater, mas as correntes eram simplesmente inquebráveis.

— O que está fazendo?! — perguntou com raiva. — Deixe meus pais em paz!

Sariel o observou por mais um tempo com seus olhos prateados e levemente intimidadores, como se considerasse algo.

— Me responda! — insistiu o jovem apesar de se sentir incomodado e com medo da situação.

Após algum tempo, o viajante finalmente decidiu quebrar seu silêncio.

— Seu nome é Xiao Lu... certo? — perguntou.

O garoto se surpreendeu e perguntou: — Como sabe?

— Vi todas as memórias de vocês... — disse o Sariel. — Por acaso prática magia?

— Eu que perguntei primeiro! — disse Xiao Lu. — Me responda!

— Se responder minhas perguntas, explicarei o que estou fazendo, o que acha?

O garoto permaneceu em silêncio por um tempo, lançando um olhar às pessoas desmaiadas ao seu redor e depois encarando a figura majestosa de Sariel.

Após considerar muito, disse: — Está bem...

 

***

 

Duas noites após se separarem de Sariel, o resto do grupo se encontrava na moradia de Feng Ping.

Após a intensa batalha, todos descansaram, compartilharam o que descobriram e discutiram o que fariam a seguir.

Contudo, como o viajante não estava presente, não era possível decidir tudo no momento.

Suzuki havia sido levado até a casa do Pilar do Vento e estava em um quarto no subsolo.

Luna se encontrava em seu subconsciente, um local totalmente branco e vazio.

Ainda estava atormentada pelo que fizera, porém, naquele local, era capaz de se sentir calma e organizar sua mente.

— Como eu deveria organizar esse lugar...? — perguntou-se.

O subconsciente de Sariel era uma grande livraria, mas também possuía um grande mundo com florestas, montanhas, rios e animais nele.

A princesa pensava cuidadosamente, perguntando-se o que a deixaria à vontade e relaxada naquele local apenas dela.

Enquanto considerava, se lembrou da primeira vez que entrou no mundo de Sariel e deixou seu corpo cair livremente.

O sentimento de poder cair de tão alto em segurança a fez se sentir libertada, talvez pelo fato de ainda não possuir suas asas e uma queda livre ser o mais próximo de voar que poderia chegar agora.

Com base neste sentimento, a princesa usou de toda sua imaginação para criar seu espaço.

Grandes montanhas se ergueram, alcançando as nuvens. Rios com águas cristalinas corriam. Desertos, oceanos, tundras pintaram a paisagem com sua beleza.

Contudo, apesar da paisagem digna de um quadro, o que viria a seguir complementaria tudo.

Ilhas flutuantes enormes flutuaram acima das nuvens, com montanhas, cachoeiras e florestas inteiras nelas.

Contudo, o local mais chamativo era uma ilha com dezenas quilômetros de largura. Árvores enormes se contorciam no formato de mesas, cadeiras e estantes, onde mais tarde organizaria os livros com seus conhecimentos.

Uma grande montanha se erguia em uma das extremidades da ilha, e no meio havia um grande lago com águas límpidas.

Animais viviam em harmonia naquele mundo, cantarolando e complementando o cenário com sua doce música.

Após um bom tempo, a princesa levitava no ar observando o mundo que criara, satisfeita com o resultado.

Foi neste momento que percebera algo que estava fazendo o tempo todo e não notara antes: estava flutuando!

É claro que seria capaz disso, afinal, tudo naquele lugar obedecia às suas regras.

Percebendo isso, a princesa planou pelo ar, com o vento aconchegante acariciando sua pele e sentindo uma profunda sensação de liberdade.

Conforme voava pelos ares, ria como uma pequena criança, totalmente inocente do mundo e esquecendo-se completamente de seus tormentos.

Após voar e brincar por um tempo, parou para continuar a arrumar aquele mundo.

— Bom, hora de organizar os livros... — disse para si mesma.

Dedicando um bom tempo nisso, começou a organizar seus conhecimentos no formato de livros nas árvores.

Eventualmente, deparou-se com um objeto estranho — com a forma e dimensões de um livro — totalmente preto, sem textura e impossível de abrir.

Curiosa com aquele objeto, se aproximou e o tocou.

No momento que a ponta de seu dedo entrou em contato com o livro, uma imagem ofuscada atravessou sua mente.

Via-se diante de um homem muito parecido com Sariel, vestindo mantos escuros — como um devoto — coberto de sangue e atravessando seu peito com uma espada.

A princesa tentou olhar ao redor, mas tudo eram sombras.

Tentou se mover, porém era inútil.

Veni, veni, venias...”, soou uma voz feminina, suave, gentil e distante em sua mente, iluminando novamente seu mundo.

— O que foi isso? — perguntou confusa levando a mão até a testa.

Luna permaneceu um bom tempo parada, observando o livro e sentindo-se extremamente confusa.

Percebendo que aquele livro era algo anormal, aproximou-se lentamente e o tocou novamente, mas nada aconteceu.

Em seguida, tentou abri-lo de todas as formas possíveis, entretanto não se moveu nem mesmo um milímetro.

— O que é isso? — perguntou a si mesma. — O que foi aquela... memória?

A palavra memória lhe parecia estranha, já que aquilo nunca havia acontecido.

"Seria uma visão do futuro?"

Esse pensamento era absurdo, mas não podia ser o presente, nem o passado.

Após passar várias horas pensando sobre o assunto, sentiu alguém tentando acordá-la.

Aparentemente, já era de manhã.

Lamentando sua falta de tempo, abriu os olhos devagar, se deparando com Sariel em seu campo de visão.


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