O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 74: Reunião Estratégica

Suzuki se encontrava sentado no chão frio com a cabeça afundada nos próprios joelhos e ferimentos terríveis nas mãos causados por si mesmo.

Já estava daquele jeito há horas, afinal, era a única maneira que conseguia chorar sem que suas lágrimas congelassem suas pálpebras.

Yuri, aquilo que mais amava fora manchado, quebrado bem diante de si.

Suzuki amaldiçoava sua fraqueza e seu destino.

— Kura... — disse entre prantos. — Por que me faz passar por isso? O que eu fiz para merecer isso?

Apenas as rochas ouviram sua pergunta.

— Desde que Yuri engravidou, só tem tirado de mim... Noda morreu ainda jovem... e agora isso? — perguntou com sua tristeza logo se tornando raiva.

De repente, passo começaram a soar do corredor de sua cela, e um homem vestindo a mesma roupa daqueles devotos abriu a porta e entrou na sua sala.

— O que você quer? — perguntou Suzuki enfurecido.

Hihihi! Tá bravinho é? — perguntou o homem com uma voz irritantemente debochada e fina. — O que acha de sua estadia aqui?

— Vai se fuder — disse Suzuki, tentando ignorar as provocações.

— Isso é algo que um convidado deve dizer? — perguntou o homem. — Talvez eu devesse punir sua mulher por isso.

Ao ouvir isso, Suzuki se levantou subitamente e tentou atacar o devoto, mas foi atingido por raios que o imobilizou no chão.

— Olha só! Ele ainda tem coragem para lutar! Hahahaha! — riu o homem quase que de maneira enlouquecida. — Você é muito mais interessante do que eu havia previsto, hihihi!

— Fa-fala lo-logo o que quer, maldito! — disse Suzuki conforme a eletricidade o fazia se contorcer.

O homem se aproximou, ajoelhou-se ao lado dele, e ergueu sua cabeça pelos cabelos.

Com ambos tão perto um do outro, Suzuki percebeu o rosto daquele devoto. Seus olhos eram castanhos, e a característica mais marcante era seu cabelo vermelho escuro penteado como um chapéu de um bobo da corte.

Diferente dos outros devotos, ele seria considerado de certa forma bonito, se não fosse por seu olhar arregalado vibrante e seu sorriso enlouquecido.

Suzuki logo reconheceu aquela pessoa, afinal, era a figura mais marcante entre aqueles que invadiram e capturaram os habitantes da vila que morava, sempre rindo e dizendo coisas sem sentido.

— Diga, seu inutilzinho — disse o homem. — Quer sair dessa situação e proteger Ruri, certo?

— É YURI! Seu maldito! — respondeu Suzuki enfurecido.

— Tanto faz, vocês das Montanhas Pintadas parecem só se chamar igual — respondeu o devoto. — Enfim, meu pobre coitado. Se pudesse adquirir poder para proteger Uri, estaria disposto a fazer qualquer coisa?

— Eu... — Suzuki hesitou por um momento, mas a imagem de sua esposa sofrendo veio à tona. — Sim! Qualquer coisa!

— Tem certe...

— EU DISSE QUALQUER COISA! — insistiu conforme chorava novamente. — POR FAVOR, APENAS PARE COM ISSO!

O homem soltou Suzuki no chão e começou a rir histericamente. Sua risada fina ecoou pelos corredores.

— Ótimo, ÓTIMO! Era isso que eu queria ouvir! — O devoto retirou uma pedra de Conjuração do seu manto e jogou na direção de Suzuki. — Não me desaponte, Sasuke!

O homem saiu da cela, a trancou e se afastou com sua risada ecoando, deixando Suzuki a sós com a pedra.

 

***

 

Todos do grupo estavam reunidos em uma grande mesa conforme tomavam seu desjejum.

Shiina, apesar do que ocorrera na noite anterior, estava ao lado de Raymond e com suas roupas padrões.

Contudo, havia muito a ser discutido.

— Muito bem, começarei explicando sobre o que o Conselho sabe sobre as Seitas — disse Feng Ping. — Antes eu mencionei Nergal, o Deus da loucura, Elgor, o Deus da guerra e Freya, a Deusa da luxúria...

Todos deixaram de comer e passaram a prestar atenção no Pilar do Vento.

— A Seita de Elgor é a mais agressiva, sendo a mais responsável por grandes conflitos com a Vigília. Além disso, as criaturas do mundo desse Deus são todas compostas quase inteiramente de Elementos de Combate, exceto pela Natureza.

— Os devotos de Elgor também apenas recebem os Elementos de Combate dele, então é seguro dizer que esse Deus foca no poder ofensivo — disse Sariel.

— De fato — concordou Feng Ping. — Quanto a Nergal, é o Deus mais imprevisível entre eles. Seus devotos são todos loucos, literalmente, e as criaturas do mundo dele não seguem nenhum padrão. Podem ser seres elementais, animais misturados com humanos, plantas que se movem... É como se seu mundo fosse um grande laboratório.

O viajante se lembrou de quando enfrentou a Seita de Nergal, e o comportamento dos devotos eram tão inconsistentes que ora faziam algo que prejudicava a humanidade, ora ajudavam.

— Quanto a Seita de Freya, parece ser composto de apenas mulheres, e as criaturas são seres humanoides com uma quantidade imensa de Ilusão — explicou o Pilar do Vento. — Tanto as devotas quanto as criaturas atraem homens e mulheres com Ilusão para conseguir suas almas. Mas também agem como assassinas...

Naquele momento, Feng Ping lançou um breve olhar para Shiina.

A assassina sentiu um leve fervor surgir dentro dela. Como se não bastasse ele ter matado seus amigos, ainda colocava a responsabilidade daquilo nela.

— Já a última Deusa, é Baba Yaga, a Deusa da Corrupção. Os devotos dela parecem receber, principalmente, os elementos Natureza e Reanimação fundidos com Conjuração, e ela foca mais em corromper e modificar a fauna e flora de nosso próprio mundo.

— Baba Yaga... Nunca encontrei nenhum devoto dela — comentou Sariel.

Todos prestavam bem a atenção, contudo, Luna, se lembrou de um detalhe importante.

— Espere, de acordo com o que acabou de dizer, então nenhum desses Deuses são compatíveis com aquelas sombras que encontramos nas Minas Belvuch.

— De fato... — concordou Feng Ping. — Me disseram que seus corpos eram feitos apenas de Reanimação fundidos em Conjuração, e que eram bastante fracas, morrendo simplesmente por serem expostas à luz.

— E não é apenas isso — disse o viajante. — Elas possuem cadáveres e fortalecem tanto o corpo quanto a sombra, multiplicando o poder... o que não faz sentido, pois a força do hospedeiro e do parasita deveriam se somar, com uma diferença mínima já que um deles é muito fraco... Mas a aura deles multiplicaram.

— Quanto exatamente? — perguntou o Pilar do Vento.

— Bem... os “Lobos de Fogo” tiveram seu poder multiplicado entre duas a três vezes. Já aquela criatura maior que encontramos no magma, o poder multiplicou várias dezenas de vezes — disse Sariel. — Acredito que Raymond ou Shiina seriam capazes de lidar com aquilo sozinhos, mas seria um oponente difícil.

— Mas essas criaturas têm um limite do que podem possuir, certo? — perguntou Raymond. — Por que atacavam separadamente, mas se uniram para possuir aquela criatura?

— Talvez seja apenas uma suposição minha... — disse Luna. — Mas creio que seu comportamento é primariamente solitário, como uma águia. Contudo, quando encontram um alvo muito poderoso, como nós, devem se unir visando tomar nossos corpos, como um formigueiro se unindo contra um oponente maior.

A princesa expos sua teoria sem pensar, pois estava muito imersa na discussão. Quando percebeu que todos a olhavam com olhares sérios, acreditou que havia dito besteira por ser algo que tem pouquíssimo conhecimento.

— Luna provavelmente está certa — disse Sariel, surpreendendo a princesa. — Por acaso o Conselho nunca encontrou uma criatura como essa, Feng Ping?

— Não... E quanto a você, Aegreon — perguntou o Pilar do Vento, prestando bem atenção nas palavras dele para detectar qualquer intenção e descobrir se mentiria.

— Aquela foi a primeira vez que me deparei com aquela criatura — respondeu Aegreon, cuja resposta ssou genuína para Feng Ping.

— Isso só pode significar uma coisa... Há um Deus da Escuridão e uma Seita inteira que o Conselho não conhece — supôs Shiina.

— É o mais provável — concordou o Pilar do Vento. — Até pouco tempo, Shiva era considerado um Deus como Kura, mas graças a vocês o Conselho descobriu a verdade e está agindo no mundo todo para lidar com ele.

— Mas como aquelas criaturas de fogo e sombras foram parar em um santuário protegido dos anjos? — perguntou Raymond. — Pelo pouco que vimos, não havia nenhuma fissura na parte de dentro.

— Aquele santuário era enorme, então é possível que havia uma fissura em algum lugar — disse o viajante. — Contudo, tenho uma teoria diferente e um tanto quanto absurda.

Todos esperaram pelas próximas palavras de Sariel.

— Encontramos a Seita de Elgor em K’ak’, que tentou destruir o reino forçando uma erupção. Lutei contra algumas criaturas de fogo lá inclusive — explicou o viajante. — No santuário das minas Belvuch, havia magma...

— Acredita que as criaturas de fogo viajaram pelo magma sob a terra desde o vulcão de K’ak’ até as minas? — perguntou Aegreon.

Sariel acenou afirmativamente com a cabeça.

— Mas... E quanto às sombras? — perguntou Luna.

— Bem, as sombras não devem ter vindo da mesma maneira, pois morrem com uma pequena luz — disse o viajante. — Ainda não sabemos suas habilidades, mas quando agarrei uma delas, ela escapou pelas frestas de meus dedos quase como se fosse líquido. Talvez tenham a capacidade de se locomover entre brechas minúsculas nas rochas, talvez até em um nível microscópico.

— Isso ainda não explica como foram parar lá... — disse Shiina. — De fora seria impossível, pois até a lua os mataria... Teriam que ter se originado ali mesmo.

— Neste caso, só podem ter sido conjuradas — disse Yuu pela primeira vez, atraindo a atenção de todos. — E pela quantidade, ou há um portal em algum lugar na Cordilheira Belvuch... ou foram conjuradas inúmeras vezes durante anos e por várias pessoas... que muito provavelmente estão escondidas nas minas.

Naquele momento todos ficaram em silêncio e com um olhar preocupado.

— Isso explicaria o desaparecimento dos trabalhadores na mina... — disse Sariel. — Se considerarmos que a mina Belvuch esteve em atividade décadas atrás...

— Então há uma Seita enorme reunindo um exército nas minas — completou Raymond.

Um ar pesado recaiu sobre o ambiente. Era impossível ter noção da proporção da Seita, mas era inegável que seu poder seria uma ameaça para a humanidade.

— Não há nada que podemos fazer? — perguntou Luna preocupada. — Não podemos ignorar isso... Ainda mais depois que abrimos a porta daquele santuário.

— Impensável — retrucou Aegreon. — Não podemos ficar muito tempo no mesmo lugar. Além disso, apenas nós não seriamos capazes de lidar com isso.

— Mas...

— Aegreon tem razão — concordou Feng Ping. — Não podem voltar nas minas. Mas ao mesmo tempo não podemos ignorar esse problema.

A princesa permaneceu pensativa por um tempo tentando encontrar alguma solução, quando se lembrou de um detalhe importantíssimo.

— Senhor Ping, o Conselho não sabe que está nos auxiliando, certo? — perguntou.

O Pilar do Vento afirmou com a cabeça.

— E se informar ao Conselho que esteve nas minas Belvuch e encontrou essas criaturas? Isso levaria o Conselho a agir, então não apenas isso resolveria o problema da Seita, como também estaríamos despistando-os e focando a atenção dos Pilares para longe de nós.

Após Luna dizer isso, todos na sala se calaram e a encararam surpresos.

Mais uma vez, a princesa acreditou que havia cometido alguma gafe, mas logo convenceram-na do contrário.

— É uma ideia genial! — exclamou Shiina. — Isso resolveria dois problemas ao mesmo tempo.

— Ganharíamos muito tempo com isso, e muitos dos Pilares teriam de repousar também após a operação — comentou Aegreon. — É uma ótima manobra estratégica.

Ouvir estes elogios fizeram Luna se orgulhar de si mesma e começar a ter a visão que tinha de si mesma mudar um pouco.

— Há apenas um problema nisso — disse Feng Ping. — Faz menos de uma semana desde que recebi o relatório do Conselho sobre Krimisha, junto de um pedido para que eu lide com a Seita de Shiva aqui, portanto, se eu usar esse argumento, precisarei de mais alguns dias para soar convincente.

— Bem, isso não chega a ser um problema, apenas uma questão de tempo — disse o viajante. — Ah, já que mencionou a Seita de Shiva, o que há de importante sobre eles que gostaria de discutir?

O Pilar do Vento permaneceu em silêncio por um tempo, encarou todos na mesa, e disse: — Quando fui atrás dos envolvidos a Shiva, como pessoas espalhando elogios sobre ele ou tentando atrair novos membros, descobri que todos haviam deixado Shiroi Tate, alguns dias antes de eu receber a mensagem do Conselho com todo o relatório sobre Krimisha.

Quando ouviu isso, Aegreon quase se levantou da mesa e se inclinou para perto de Feng Ping.

— Tem certeza? — perguntou seriamente. — Todos?

O Pilar do Vento encarou o Pilar da Conjuração profundamente.

— Sim... Todos... — disse seriamente. — A Seita de Shiva deixou este reino no mesmo dia que sofreram a derrota em Krimisha.

— Mas como isso é possível? — perguntou a assassina. — Nós viemos para cá quando destruímos a Seita, portanto a única maneira de souberem de Krimisha seria se tivessem partido ao mesmo tempo que nós e viajado muito mais rápido! E ainda atravessamos a cordilheira Belvuch para poupar tempo.

— De fato, por isso há apenas uma resposta para isso... — disse Feng Ping em um tom grave e baixo. — Uma suspeita que tive desde a primeira visita de Sariel...

O Pilar do Vento permaneceu em silêncio por um tempo, encarando todos, olhando os arredores e mantendo sua guarda alta.

Percebendo esse comportamento, Sariel trocou seu elemento para Alteração e procurou em uma ampla área por qualquer pessoa que pudesse estar ouvindo-os.

O viajante permaneceu um bom tempo averiguando, porém não encontrou nada e acenou afirmativamente com a cabeça para que Feng Ping continuasse.

Encarando novamente todos nos olhos, buscando qualquer indício de suspeita, inspirou profundamente e, com um tom sério, disse: — Acredito que há um traidor no Conselho...


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