Volume 1

Epílogo

Ashoka, o agora rei de Krimisha, estava sentado diante de sua mesa cheia de documentos.

Fazia uma semana desde que Aegreon e o grupo dele mataram o seu filho. O reino mergulhou em caos e estava à beira da guerra civil, tanto que era possível ouvir os gritos de milhares de pessoas do lado de fora do palácio.

A maioria queria sua morte e o acusava de ter realizado um golpe de estado, matando seu filho e assumindo o poder de Krimisha.

Um grupo considerável — aqueles que ainda não haviam se convertido — defendia Ashoka, sendo a única barreira entre aqueles irritadiços e o rei.

Contudo, devido essa divisão, brigas e até mortes aconteciam cada vez mais.

Como se não bastasse, sofreu inúmeras tentativas de assassinato e de maneiras variadas, sendo os soldados ainda leais a Shiva os principais responsáveis.

Por isso, o rei enviou pedidos de ajuda ao Conselho explicando resumidamente a situação na esperança de que recebesse ajuda da Vigília, mas nenhuma resposta havia chegado.

Ashoka lia vários documentos com planos e medidas para amenizar a situação, quando percebeu que, subitamente, todo o lugar ficou silencioso.

Não é como se os manifestantes tivessem se cansado, pois o mais absoluto silêncio reinava agora.

Sentindo um certo desconforto, o rei estava prestes a tocar um sininho em cima de sua mesa para chamar alguém, quando um de seus únicos guardas leais entrou pela porta — sem bater e fazendo bastante barulho — e com uma expressão mista de surpresa e felicidade.

— Vossa Majestade! Não vai acreditar! — disse o guarda animado.

— O-O quê?! — perguntou Ashoka assustado.

— Koeus, o Pilar da Alteração chegou ao reino e está aguardando para vê-lo!

Ao ouvir isso, o rei se levantou subitamente, derrubando pilhas de documentos no chão.

Sua expressão havia se tornado exatamente igual do guarda, um misto de alegria e surpresa.

— O... o Pilar da Alteração?! — gritou exalto. — Aqui?!

— Sim, Vossa Majestade! Disse que veio devido ao pedido de ajuda que enviou. Ele está agora no salão de visitas!

— Então vou vê-lo imediatamente! — disse Ashoka conforme deixava seu aposento quase correndo e sem esperar a resposta do guarda.

— Sim, Vossa Majestade!

Ashoka disparou em direção sala de visitas conforme se arrumava como podia pelo caminho, chegando ao destino apenas alguns segundos após ter deixado seu aposento.

Chegando lá se deparou com uma figura imponente e alta — com quase 2 metros de altura — sentado no sofá. Vestia longas e largas roupas de cor bronze, deixando à mostra apenas suas mãos, seu rosto e seus pés.

Sua roupa possuía várias letras douradas como Zeta e Épsilon nas mangas, colarinho e na cintura. Tais letras eram usadas apenas pelos pesquisadores, sendo muito encontradas em cálculos e equações.

Calçava sandalhas simples de couro, e não usava nenhum adorno ou joias, exceto por uma tiara de bronze que lembravam asas de coruja.

Possuía uma enorme, respeitosa e bem cuidada barba branca que quase alcançava sua cintura. Seus cabelos — também brancos pela idade — eram longos e precisava ser preso em vários pontos, apesar de seu comprimento ainda não chegar no mesmo nível que sua barba.

Seu tom de pele era moreno, e seu rosto possuía várias rugas, mas o que mais chamava atenção eram seus olhos, totalmente brancos e que há muito não viam a luz.

O Pilar da Alteração, também conhecido como o homem mais sábio do mundo, sentava-se imponentemente e com uma postura ereta, que combinado com sua altura apenas o deixava ainda mais intimidador.

— Vossa Magnificência, é uma honra recebê-lo em meu reino — disse o rei com o máximo de respeito que conseguia demonstrar. — Peço perdão por não o ter recebido pessoalmente.

Ashoka se aproximou de Koeus, uniu ambas as palmas e se curvou profundamente tentando demonstrar seu respeito, se esquecendo completamente sobre os olhos do Pilar da Alteração.

— Isso não é necessário — disse Koeus em uma voz profunda e carregada de sabedoria. — É uma visita inesperada, portanto eu deveria me desculpar por minha aparição súbita.

Ao ouvir isso, o rei finalmente se lembrou sobre os olhos do Pilar da Alteração e sentiu-se culpado por ter se esquecido sobre a cegueira dele.

— Ah, Vo-Vossa Magnificência é muito educado — disse Ashoka, sentindo a vergonha alheia por ter se feito algo tão estúpido. — Krimisha está um caos agora, portanto sua visita é mais do que bem-vinda!

O rei caminhou até o outro sofá — que ficava diretamente de frente para o Pilar da Alteração — e se sentou.

Durante o percurso, percebeu que Koeus acompanhou sua trajetória com os olhos, quase como se pudesse vê-lo realmente.

— Pude perceber... — disse o Pilar da Alteração conforme soltava um leve suspiro. — Sempre avisei Ardos de que seria melhor investigar mais sobre Shiva, mas ele estava muito focado com os anjos...

— Ah sim, sobre isso... Não contei tudo que aconteceu pela carta, pois seria muito, portanto...

— Não será necessário — disse Koeus conforme levantava a mão, sinalizando para que Ashoka se acalmasse. — Será muito mais rápido se eu vasculhar suas memórias... mas antes há algumas pessoas que estou aguardando che...

BLAM!

Antes que pudesse terminar de falar, a porta do palácio se abriu violentamente, e dela entraram 3 pessoas.

Um homem caminhava na frente, alguém que Ashoka já conhecia muito bem.

O rei se levantou inconscientemente de surpresa, e por um momento se esqueceu de como se fala.

Indra, o Pilar do Raio, caminhava rápida e pesadamente.

— Vo-Vossa Excelência Indra, be-bem-vindo de volta — disse Ashoka nervosamente, realizando a mesma reverência que fez com Koeus.

O rei estava tão surpreso que quase não notou algo diferente sobre o Pilar do Raio.

Apesar de usar as mesmas roupas, seu braço direito estava ausente, além de sua espada longa que não podia ser vista com ele.

— Ashoka... — disse Indra em um tom sério e levemente irritado. — Apenas sou bem-vindo quando necessita minha ajuda, huh?

— Nã-Não! Eu sempre fui contra...

— Basta — disse Koeus seria e calmamente. — Não sabemos de tudo, Indra.

O Pilar do Raio, ao ouvir aquilo, bufou e sentou-se ao lado do Pilar da Alteração, sendo seguido pelas outras duas pessoas que se mantiveram de pé atrás dos dois.

Ambas eram mulheres, mas a única característica em comum que possuíam era a cor de seus olhos, verde.

— Deixe-me apresentá-las antes de começarmos. Esta é Erandi — disse Koeus apontando para a mulher mais próxima de Indra.

Erandi vestia uma armadura completa de madeira escura com linhas esverdeadas, mas que de certa forma era bem polida e refletia bem a luz.

Usava também um capacete sem proteção para o rosto, e devido sua armadura não permitia ver muito de sua figura, mas sua face — a parte mais chamativa — estava à vista.

Sua pele era morena escura e bem cuidada. Possuía um longo e liso cabelo escuro, preso em um rabo de cavalo alto. Usava um estilo de maquiagem ritualístico, como batom preto, sombras nos olhos bem escuras, e várias linhas pretas e verdes começavam no rosto e desciam até o pescoço.

Apesar de sua bela figura, possuía um olhar sério e com um leve resquício de raiva, o que tornaria qualquer um cauteloso quando perto dela.

— É um prazer conhecê-la! — disse Ashoka respeitosamente.

— O prazer é meu — respondeu Erandi seriamente.

— Quanto a ela... — disse Koeus apontando para a outra mulher. — Se chama Lily.

Lily vestia apenas um peitoral de madeira branca, e por baixo da armadura usava um sobretudo verde escuro com detalhes em ciano e desenhos de uma flor azul.

No lado direito de seu peitoral, havia um broche circular de um dragão prateado e uma Speculum Iris — uma pedra que assume a cor do elemento predominante do dono — no formato de uma raiz verde no centro.

Seu rosto era belo e delicado, e possuía uma expressão bem mais amigável. Sua pele era branca, e tinha o cabelo de comprimento médio e preso no formato de um coque atrás, e possuía uma cor única e extremamente rara entre os humanos: verde.

Ambas, apesar de possuírem o mesmo elemento — Natureza — eram figuras bem diferentes entre si: uma era como uma rosa selvagem que machucaria quem tentasse tocá-la, enquanto a outra era uma rosa sem espinhos e — aparentemente — inofensiva.

 — É um pra-prazer conhecê-la — disse Ashoka acanhado após a resposta de Erandi.

— O prazer é todo meu, Ashoka — respondeu Lily respeitosamente.

— Com as introduções feitas, vamos direto ao assunto — disse Koeus conforme se levantava e caminhava até Ashoka. — Verificarei suas memórias agora, portanto, se não quiser sentir dor, não resista.

— Ce-Certo... — concordou o rei com apreensão.

O Pilar da Alteração aproximou a mão e tocou o rosto do rei, verificando todas as memórias do que ocorreu naquele reino.

Koeus checou as memórias por vários minutos, afinal, precisava prestar atenção para encontrar qualquer alteração nas memórias por meio de terceiros.

Contudo, apesar de examinar tudo muito bem, não encontrou nenhuma anormalidade.

Depois, o Pilar da Alteração viu tudo o que aconteceu, desde a visita de Aegreon, a luta contra Sharaad, a morte daqueles que acompanhavam o Pilar da Conjuração e sua despedida do reino.

Após ver isso tudo, Koeus afastou-se e olhou Ashoka.

O rei ficou levemente desconfortável pela maneira de como aqueles olhos brancos o encaravam como se de fato o enxergasse.

— Entendo... preciso verificar a memória do seu povo agora, portanto partiremos por algumas horas.

— Ah, certo, Vossa Magnificência — disse Ashoka nervosamente.

— Não se preocupe — disse Koeus. — Estou aqui para auxiliar Krimisha.

— Sei disso, Vossa Magnificência, mas é que me sinto desconfortável com seus olhos me encarando mesmo sem poderem me enxergar.

— Oh? Acha que não enxergo apenas por ser cego? — perguntou o Pilar da Alteração misteriosamente.

— Ah... Hã? — Ashoka ficou extremamente confuso ao ouvir aquela pergunta.

Percebendo a confusão do rei, Koeus riu suavemente, se virou para seus companheiros e disse: — Vamos.

O grupo seguiu para fora do palácio.

No reino, acompanharam o Pilar da Alteração checar a memória de várias pessoas, desde as que estavam nas memórias de Ashoka durante a batalha, até aqueles que queriam o seu fim.

Também checou os guardas e soldados que apoiavam ambos os lados: o de Ashoka e de Sharaad.

Todo esse processo levou horas, o que deixou Erandi um tanto quanto ansiosa.

— Precisamos realmente fazer isso? — perguntou. — Já viu que está tudo certo com as memórias dele, por que olhar tantas pessoas?

— Para ter certeza de que não há nenhuma incongruência – respondeu Koeus.

— Se realmente houvesse algum problema já teria encontrado — disse Erandi.

— Não podemos ser precipitados, Erandi — disse Koeus seriamente. — Lembre-se, uma entre você e Lily será escolhida como o Pilar da Natureza, e um Pilar precisa tomar todos os cuidados possíveis.

Ao ouvir isso, Erandi bufou e não argumentou mais.

— Se não controlar seu temperamento não será capaz de se tornar um Pilar — disse o Pilar da Alteração impiedosamente. — Devo ser franco, mas se não melhorar, e muito, Lily provavelmente será a escolhida.

Isso fez Erandi ranger seus dentes de frustação e quase retrucar Koeus, mas se controlou e permaneceu em silêncio.

Depois disso, Koeus analisou mais algumas pessoas, quando por fim disse: — Precisamos ir para o Vale Recluso.

Seguindo o Pilar da Alteração, todos foram até o local da batalha, onde investigaram cada pedacinho.

Após verificar todo o local onde ficava a Seita, foram até onde a Sharaad fora supostamente morto, encontrando uma enorme cratera.

— Tudo está correto... — disse Koeus.

O Pilar da Alteração se virou para seus companheiros, estendeu sua palma direita para eles e disse: — Mostrarei agora o que aconteceu aqui.

Sem hesitarem, os três tocaram a mão de Koeus e viram tudo o que aconteceu ali.

Apesar de ser muita informação, os três aguentaram bem e assimilaram tudo com facilidade.

— Então foi Aegreon... — disse Indra. — Por que aquele desgraçado não avisou o Conselho? E quem eram aquelas pessoas com ele?

— Sabe como ele age, Indra. Entre 10 coisas que ele faz, apenas descobrimos sobre uma, veja Erandi por exemplo — disse Koeus olhando para Erandi. — Apenas descobrimos que ela conhecia Aegreon porque ela disse, caso contrário jamais saberíamos isso por ele.

— Tenho certeza de que aquelas pessoas são como eu! — disse Erandi. — Pessoas que mestre Aegreon salvou dos anjos e desejam ajudá-lo...

— Sejá quem forem aquelas pessoas... Aegreon costuma queimar os corpos de quem considera um aliado, portanto é inútil buscar alguma informação sobre elas.

— Ardos deveria ser mais duro com ele — reclamou o Pilar do Raio. — É o único que esconde segredos do Conselho.

— O importante é que sabemos que Shiva é um Deus da Escuridão, portanto devemos avisar Feng Ping sobre isso.

Hmpf! Duvido que ele fará alguma coisa — disse Indra. — É mais fácil aquela aprendiz dele lidar com isso. Se bem que ele não a deixaria correr perigo.

Ao ouvir isso, Koeus olhou de maneira surpresa para Indra.

O Pilar do Raio percebeu isso e perguntou: — O que foi?

— Antigamente teria chamado ele de esnobe ou algo semelhante — disse o Pilar da Alteração. — Desde quando sente empatia por ele?

Tsc! Isso não é importante — disse Indra conforme se virava e retornava para Krimisha. — Vamos logo, precisamos convocar uma companhia da Vigília e notificar Ardos.

Koeus, sem dar muita importância para aquilo tudo, seguiu seu companheiro.

Erandi também seguiu seus mestres, deixando apenas Lily, que por algum motivo estava parada no mesmo lugar e com uma expressão pensativa.

“Nungal... Aqui?”, pensou. “O que estava fazendo tão longe de Eribur?”

“Não consigo imaginar ele morrendo para ninguém exceto Ardos... Então enganou a todos desse reino?”

 — Pela maneira que agiu... Está enganando e se escondendo do Conselho... — disse para si mesma. — Seria uma pena se eu estragasse seus planos...


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