Volume 1
Capítulo 72: Um Novo Aliado
Luna, Raymond, Shiina e Aegreon observavam a explosão branca de longe, acreditando que Sariel havia sido derrotado.
— Essa técnica... ele deve ter perdido... — disse o guarda-costas em um tom desiludido.
— Não... Feng Ping pode ter errado! — disse a princesa, tentando manter alguma esperança.
Contudo, nos segundos seguintes, a nevasca perdeu força e nenhuma magia fora lançada.
Parecia que a batalha havia de fato terminado.
Luna uniu ambas as mãos em formato de oração, pedindo para que Sariel, de alguma forma, conseguisse ainda lutar e ganhar.
Mais alguns segundos se passaram, e a princesa começou a perder a esperança.
Quando estava prestes a aceitar que o viajante havia perdido, a nevasca se intensificou novamente.
Mais uma vez se tornou impossível ver a batalha.
Foi então que Luna percebeu o poder do Gelo no ambiente se deslocando e sendo sugado para um ponto específico.
Apesar da densa nevasca, uma luz azul extremamente brilhante surgiu a alguns quilômetros de distância e bem acima do chão.
Alguns segundos se passaram e este brilho apenas se tornou mais poderoso, até que, por fim, descendeu até o chão com uma velocidade impossível de acompanhar.
Em um instante, um brilho intenso iluminou todo o lugar, com uma luz tão poderosa que era como se o sol estivesse diante deles.
Na verdade, tal brilho superava o sol dezenas de vezes.
Todos desviaram o olhar e tentaram tapar os olhos, mas sua luz ainda atravessava as pálpebras deles como se olhassem diretamente para o sol.
Isso tudo aconteceu em apenas um único segundo.
No momento seguinte, uma onda de choque poderosa desequilibrou Luna, Shiina e Raymond, e o som de uma explosão estrondosa reverberou pelos ouvidos de todos.
O único que observava tudo era Aegreon, sem se importar com o som ou o brilho.
O Pilar da Conjuração viu uma grande esfera de energia azul se espalhar em único segundo por 5 quilômetros de distância, aniquilando tudo em seu caminho.
Após o brilho finalmente reduzir, Raymond, Shiina e Luna conseguiram observar a explosão.
O que veio depois, foi o frio e a nevasca causada pela magia.
Os ventos chegaram até o grupo poucos segundos após a explosão, e seu frio era tão intenso que começou a congelar Raymond, Shiina e Aegreon.
O guarda-costas e a assassina perceberam gelo se formando em seus corpos. Ambos tentaram usar suas mãos para remover o gelo, mas estava tão frio que mal conseguiam se mover.
— Shiina! Raymond! — Luna se colocou na frente dos dois para protegê-los e tentou absorver um pouco do gelo que se formava neles.
Graças à princesa, os dois não congelaram completamente, mesmo assim suas peles queimaram e seus pulmões doíam para respirar, como se estivessem inspirando agulhas.
Quanto a Aegreon, ele simplesmente fez chamas roxas cobrirem seu corpo e manter sua temperatura padrão.
A explosão ainda durou vários segundos para finalmente acabar, deixando apenas uma cratera enorme e congelada, uma cratera bem parecida de quando Sariel lutou contra Indra.
— Hmph! No fim Sariel ganhou — disse o Pilar da Conjuração de maneira indiferente.
— ELE CONSEGUIU! — comemorou Luna com alegria transbordando em sua voz. — Ele realmente conseguiu!
— Pu-puta merda, que frio des-desgraçado — reclamou Shiina enquanto todo seu corpo tremia incontrolavelmente.
— Bem, po-podia ser pior — disse Raymond tentando demonstrar não estar tão afetado pelo frio, quando seu próprio corpo decidiu traí-lo: — ATCHIM!
— Ah, sentem-se na fogueira, rápido! — disse Luna enquanto levava ambos para a fogueira, percebendo que a madeira estava completamente congelada. — Droga....
Aegreon se aproximou da fogueira e apontou a mão para a madeira congelada, disparando uma chama roxa que derreteu o gelo e reacendeu o fogo — apesar de ser uma chama de Conjuração e um pouco desagradável.
O guarda-costas e a assassina sentaram-se bem perto da fogueira — quase se jogando no fogo — enquanto Luna tentava absorver o frio ao redor, apesar de não ser tão boa com isso quanto Sariel.
Já na cratera, Feng Ping estava caído no centro dela com uma glaive empalando seu ombro esquerdo, perfurando seu pulmão e fígado, e saindo pela sua cintura.
Apesar do ferimento terrível, não sentia nenhuma dor, pois o frio havia adormecido todo seu corpo.
Estava quase que completamente congelado, e devido à temperatura seu sangue não vazava, evitando uma hemorragia.
— Ahh... está mais frio do que gosto... — reclamou Feng Ping.
Conforme o tempo passava, o Pilar do Vento percebeu um objeto algumas centenas de metros acima descendo devagar.
Como sua visão estava embaçada devido os ferimentos, teve dificuldade em identificar o objeto.
Foi só quando o objeto estava a alguns metros de distância que percebeu que era Sariel levitando em uma pequena plataforma feita de gelo.
O viajante desceu devagar até que pousou ao lado do Pilar do Vento.
— Está vivo ainda? — perguntou Sariel.
— Não por muito tempo — brincou Feng Ping. — Pode tirar isso de mim logo?
— Claro, apenas não se mova — disse o viajante conforme se abaixava ao lado do Pilar do Vento. — E me dê meio minuto para converter minha magia para Proteção.
— Não é como se eu conseguisse me mover mesmo se quisesse...
Sariel se concentrou por algum tempo conforme trocava seus elementos novamente, quando aproximou sua mão direita de Feng Ping e agarrou sua glaive com a outra.
Um brilho dourado surgiu de sua mão direita, com faixas áureas tocando gentilmente cada ferimento do Pilar do Vento e curando-os completamente.
Em seguida, removeu sua glaive lentamente e com cuidado para não ferir muito Feng Ping.
Conforme a arma era removida do corpo do Pilar do Vento, a magia do viajante curava todos os ferimentos internos causadas pela glaive.
Por fim, removeu completamente a arma e terminou de curá-lo.
Feng Ping começou a se levantar devagar. Não sentia mais cansaço, na verdade estava completamente revigorado, apesar do frio ainda ser um pouco demais a ele.
Sariel o ajudou a levantar, e ambos se encararam com respeito.
— Bem, me derrotaste, portanto manterei minha promessa e o acompanharei nesta jornada — disse o Pilar do Vento enquanto estendia sua mão.
O viajante olhou um tanto surpreso com o gesto do Pilar do Vento.
— Qual o problema? — perguntou Feng Ping. — Não é assim que se cumprimentam fora de Shiroi Tate?
— Sim, mas não se sinta obrigado a fazer algo que não esteja confortável.
— Estou totalmente confortável, afinal, és meu amigo — disse o Pilar do Vento com um leve sorriso. — Pode me chamar pelo meu nome, a propósito.
Sariel sorriu de volta e apertou a mão de Feng Ping, selando de vez a amizade de ambos.
— Bem, vamos voltar? — perguntou o viajante.
— Sim, mas tenho algumas perguntas antes — disse o Pilar do Vento. — Como desapareceu daquela maneira?
— Ah... posso explicar enquanto vamos buscar sua lança.
— Certo.
Ambos caminharam juntos devagar até onde a lança de Feng Ping estava, sem pressa, pois ambos desejavam conversar em particular.
— Bem, lembra-se que cortou minha orelha? — perguntou Sariel enquanto apontava para sua orelha, que agora já havia se restaurado.
Feng Ping permaneceu em silêncio, tentando pensar por que aquilo seria relevante.
— Lembro-me sim — respondeu enquanto aguardava a explicação do viajante. — Mas como fez para sumir?
— Por que acha que me afastei o mais rápido que pude quando cortou minha orelha?
O Pilar do Vento permaneceu pensativo por mais um tempo, quando se lembrou de algumas coisas que aprendeu com Koeus, o Pilar da Alteração.
— Você... trocou seu corpo e sua orelha decepada de lugar? — perguntou curioso.
— Exatamente! — confirmou Sariel. — A quantidade de magia necessária para trocar de lugar aumenta de acordo com a distância, portanto como estávamos a apenas algumas centenas de metros de minha orelha fui capaz de me teleportar facilmente.
— Mas... vi seus olhos mudando para a cor rosa — disse Feng Ping. — A cor da Ilusão.
— Ah sim, antes de você cortar minha orelha eu tinha cerca de 40% do elemento Ilusão, 50% de Gelo, 5% de Proteção e 5% Alteração. Meus olhos mudam para a cor do meu elemento predominante, portanto usei isso para te enganar e fazê-lo acreditar que estava trocando meu poder inteiro para Ilusão, pois sabia que usaria sua técnica suprema em mim neste momento.
— Então... não aumentou sua quantidade de Ilusão? — O Pilar do Vento estava extremamente confuso e ainda não entendia o motivo dos olhos do viajante terem mudado para rosa.
— Não, troquei 30% de Gelo para Alteração, o que me deixou com 35% de Alteração e 20% de Gelo.
Ao ouvir isso, Feng Ping finalmente entendeu o que aconteceu.
— Você... ao fazer isso seu elemento principal se tornou Ilusão, mas não por trocar outro elemento para Ilusão, e sim por reduzir a quantidade de seu elemento anteriormente principal! — disse o Pilar do Vento sentindo-se surpreso, enganado e admirado pela sagacidade do viajante.
Sariel acenou positivamente com a cabeça e com um sorriso.
— Seu... Não sei se devo me sentir indignado ou admirado pelo que fez, haha! — disse Feng Ping enquanto deixava escapar uma risada. — Nunca fui enganado de uma maneira tão genial antes!
— Me lisonjeia por isso — agradeceu Sariel.
Durante a conversa, finalmente encontraram a lança e retornaram até onde o grupo aguardava, mas o Pilar do Vento ainda desejava falar sobre a luta.
— Só resta uma coisa que gostaria de saber... como superou seu trauma?
— Ah, eu apenas esqueci — respondeu Sariel casualmente.
— Esqueceu? O que quer dizer?
— Ah, não. Quando digo “esqueci”, digo literalmente.
Feng Ping ainda não entendeu o que aquilo significava, quando uma suposição absurda surgiu em sua mente.
— Não me diga que... apagou sua própria memória? — perguntou incrédulo.
— Legal né? — perguntou Sariel com um leve tom de orgulho na voz.
— Mas... se esqueceu de tudo?
— Não... Apenas a informação que me causava problemas — respondeu o viajante, dessa vez de maneira séria. — Sei que tem algo a ver com meu nome e que é algo muito importante envolvendo Kura, os Anjos e a Humanidade, mas não sei o que.
— Isso é... absurdo... — disse o Pilar do Vento com uma voz quase inaudível.
Entrar no próprio subconsciente no meio de uma luta, apagar uma memória que causava distração enquanto seu oponente o atacava, era algo que jamais havia visto ou ouvido em toda a vida.
Uma medida drástica, mas Feng Ping não podia negar, de fato o que Sariel fez — apesar de absurdo — era genial.
— Mas terá que adquirir essa informação novamente — disse Feng Ping. — E se ficou tão abalado pela primeira vez, temo que acabe se repetindo.
— Bem, agora eu estou preparado e sei que será algo bem importante, então o impacto não será o mesmo.
— Entendo... — disse o Pilar do Vento. — Quando chegarmos em Shiroi Tate posso te contar o que sei, além de precisar discutir algumas coisas importantes contigo.
— É relacionado com a seita de Shiva?
— Mais ou menos — respondeu Feng Ping. — Descobri algumas coisas... Falarei quando chegarmos.
— Certo. Estamos perto de onde acampamos de qualquer maneira.
Os dois passaram a caminhar mais rápido, finalmente se deparando com Luna, Raymond, Aegreon e Shiina esperando por eles.
A princesa, assim que viu os dois chegando, correu ao encontro deles e com um sorriso no rosto.
— Sariel! Você... conseguiu! — disse com uma animação que logo diminuiu ao se lembrar da condição do viajante antes da luta. — Está... tudo bem?
— Sim, estou ótimo — respondeu Sariel com tranquilidade ao mesmo tempo que sorria.
Luna se surpreendeu com a resposta e o comportamento do viajante, perguntando-se se ele estava fingindo ou já havia, de alguma maneira, superado o medo que tinha da profecia.
— Tem certeza? — insistiu com certa preocupação.
— Claro! Esta foi a melhor batalha que já travei em minha vida. Feng Ping lutou bem melhor que você, Aegreon — provocou Sariel enquanto encarava o Pilar da Conjuração.
Aegreon apenas limitou-se a grunhir e ignorar o viajante.
Ao ouvir aquilo, Luna teve certeza de que Sariel havia superado completamente seu problema, apesar de ser um pouco estranho, pois ele parecia ter superado bem até demais.
— Você nos acompanhará então? — perguntou o Pilar da Conjuração para Feng Ping.
— Sim, mas devo deixar algo claro, Shura — disse o Pilar do Vento seriamente. — Estou aqui para acompanhar e ajudar Sariel, portanto se fizer algo que vá contra o que ele quer, serei forçado a lidar com você pessoalmente.
Ao ouvir aquilo, o Pilar da Conjuração grunhiu novamente — dessa vez mais alto.
— Ele já matou um de nós! — insistiu Aegreon. — Indra está morto por causa dele! A humanidade sofreu uma grande perda por isso! Por acaso pretende ajudá-lo a se livrar do resto do Conselho?
— Os aliados de Sariel são os meus aliados — respondeu Feng Ping. — E seus inimigos também são meus inimigos, não importa quem seja!
— Você deveria saber muito bem que ele é perigoso! — disse agressivamente enquanto apontava para o viajante. — Vai mesmo ignorar sobre a pro...
— Sariel deixou bem claro que tem intenções boas desde o momento que me visitou em Shiroi Tate! — interrompeu Feng Ping. — Pode fazer parte do Conselho, mas não confio nem um pouco em você, Aegreon. Além de possuir o elemento Conjuração, mantém em segredo seus verdadeiros objetivos.
O Pilar da Conjuração permaneceu em silêncio tentando encontrar algum argumento, contudo nada parecia derrotar Sariel quando se tratava da manipulação.
— Vamos nos acalmar, por favor — pediu Luna. — Estamos juntos agora, não estamos?
— De fato, por que não deixamos isso de lado e vamos embora logo? — perguntou o viajante. — Temos muito o que andar ainda.
Aegreon bufou e deu às costas, indo até onde suas coisas estavam e preparando-se para partir.
Todos começaram a fazer o mesmo — com exceção de Feng Ping que não havia trazido nada.
Sariel trocou rapidamente de roupas, afinal haviam sido bem danificadas pela batalha. Também ofereceu alguns mantos ou capas para Feng Ping, que acabou aceitando e estava se arrumando em um lugar um pouco afastado.
Enquanto o viajante se organizava, Luna se aproximou dele.
— Sariel — chamou em uma voz baixa.
— Sim? — perguntou o viajante enquanto mantinha sua atenção nas suas coisas.
— Estou feliz que tenha conseguido — disse a princesa com certa apreensão. — Apesar de eu não ter feito nada por você...
Sariel deixou o que estava fazendo e encarou Luna.
— Na verdade, seu conselho me ajudou bastante — disse. — Não teria derrotado Feng Ping se não fosse por você.
— Sério? Mas eu não disse nada demais... — disse a princesa em tom de negação.
— Pelo contrário, você disse tudo o que precisava — respondeu o viajante com um sorriso caloroso. — Obrigado.
Quando ouviu essas palavras e viu aquele sorriso, Luna sentiu um palpitar levemente mais forte em seu peito, e quase se esqueceu de falar.
— Ah, e-eu... não foi na-nada! — respondeu nervosamente.
— Estamos todos prontos — disse Raymond, que havia se aproximado para avisá-los, mas acabou interrompendo a conversa dos dois.
— Ce-Certo, obrigada, Raymond — agradeceu Luna.
Com todos do grupo preparados, todos montaram seus cavalos — com exceção de Feng Ping que, apesar da insistência de todos se recusou a ir de carona — e partiram para a casa do Pilar do Vento.
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