O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 7: Chama Deturpada

Durante todo o dia o grupo seguiu viagem calado. De alguma maneira, o silêncio era ainda mais intenso do que no dia anterior, sendo apenas interrompido pelos sons da natureza.

Cerca de oito horas da noite, o grupo montou um acampamento mais uma vez fora da estrada principal e jantaram. Em seguida, se prepararam para dormir, porém havia alguém faltando.

— Espere um pouco, onde está aquela assassina? — perguntou Raymond.

— Ela saiu há algum tempo e foi para aquela direção. — Sariel apontou para o meio da vegetação, com nada além de árvores para ser visto.

— Será que ela está bem? — perguntou Luna.

— Sim, estou. — Shiina apareceu do caminho que Sariel havia apontado bem na hora certa.

— O que foi fazer? — perguntou Raymond.

— Fui só dar uma caminhada pela floresta quando acabei me deparando com uma pequena lagoa. Como estamos há alguns dias viajando, decidi tomar um banho nela.

— Sabe me dizer exatamente onde ela está? Também gostaria de me banhar um pouco — disse Luna

— É só seguir reto por onde vim. Tem bastante vegetação, contudo vai encontrar uma trilha que vai direto até ela. Só tome cuidado, a princesinha pode acabar se machucando. — Shiina não pôde resistir de provocá-la.

— Certo, obrigada. — Entretanto Luna confundiu aquilo com preocupação genuina.

— Alte... Luna, não acho uma boa ideia, você pode ser atacada por animais selvagens.

— Ela é um Anjo, animais não são inimigos dela — disse Sariel.

— Mas ainda é perigoso, e se haver algum criminoso escondido na floresta?

— Isso não vai acontecer, estamos próximos da capital de K’ak’, e a floresta já é muito densa. Sem contar que que poucas pessoas são permitidas neste reino, então, consequentemente, poucos vem para cá. Além disso, os guardas de K’ak’ são bem habilidosos, diferente de Fordurn — respondeu Shiina.

— Mas e se...

— Deixe-me resolver este problema — interrompeu Sariel, que se aproximou da princesa e a ofereceu uma pedra de cerca de cinco centímetros que emitia um brilho dourado. — Esta pedra é feita de pura Magia de Proteção. Caso você seja atacada, aperte a pedra e um escudo mágico se formará ao seu redor. Este escudo é poderoso, creio que até alguém como Raymond teria problemas em quebrá-lo.

— Obrigada, mas não posso aceitar, deve ser valioso.

— Não se preocupe, são mais comuns do que acha, pode pegar.

— Neste caso, obrigada. — Luna pegou a Pedra de Proteção com insegurança, como se temesse de segurá-la muito forte.

— Se o escudo for ativado eu perceberei e irei ajudá-la. — Sariel sorriu simpaticamente.

— Certo.

A princesa então adentrou a vegetação. Quando ela já não podia ser vista, o viajante se virou e caminhou na direção contrária que ela foi.

— Aonde está indo? — perguntou Raymond.

— Preciso checar algo. — O viajante sumiu na vegetação sem elaborar mais que isso.

Depois que Sariel deixou o acampamento, Aegreon olhou para Shiina de maneira discreta, que respondeu com um aceno negativo com a cabeça.

 

***

 

Luna havia se despido completamente e já estava dentro da lagoa. Ela mergulhou por alguns segundos para molhar sua cabeça e, quando voltou à superfície, sua imagem só podia ser descrita como divina.

Seus belos e compridos cabelos brancos cobriam suas costas como um véu de noiva e flutuavam na superfície da lagoa, espalhando-se como um leque prateado. Sua pele refletia fracamente o luar por estar molhada, fazendo-a brilhar timidamente como uma fada.

O lugar também era belo, apesar de não chegar nem aos pés da princesa. A vegetação ao redor era bem densa e avançava em direção à água. A copa das árvores impedia a visão do belo céu noturno, com exceção da área da lagoa, que refletia a imensidão do cosmos perfeitamente, o que fazia parecer que Luna se banhava nas estrelas e abraçada pela lua.

"Uma Deusa", era isso o que qualquer um pensaria caso a visse neste momento. Sua beleza a permitiria ter qualquer homem aos seus pés, e as mulheres a invejariam mortalmente.

Luna mergulhou mais uma vez e, quando emergiu, ouviu sons de arbustos e passos atrás dela. Quando olhou na direção da fonte, percebeu uma criatura quadrúpede que se assemelhava a um lobo, porém até um pouco maior que a princesa, e sua pele parecia ser feita de obsidiana e lava.

Suas garras eram escuras, longas e serrilhadas. Sua boca era estranha e posicionada bizarramente na vertical, como se tivesse sido girada 90°, além de imensa. A grama em que pisava queimava conforme andava, e, de sua boca, pingava um líquido alaranjado parecido com lava.

Luna, apesar de nunca ter viajado antes e não ter visto muitos animais, ficou surpresa e espantada pela aparência daquele “animal”, e soube instintivamente que algo não estava correto.

— O que... O que é você? Nunca vi alguém como você antes, tem um nome? — perguntou com curiosidade e um pouco de medo, porém o “animal” simplesmente continuou caminhando com a cabeça virada em sua direção, o que apenas tornava a situação mais sinistra devido à falta de olhos.

A criatura, ao notar a presença da princesa, abriu sua grande boca, revelando suas presas terrivelmente longas e feitas de magma. O líquido que escorria de sua boca agora se tornou claro ser sua saliva que, apesar de ser como lava, tinha um aspecto gosmento e grudento, e pingava de suas presas como uma cobra secreta seu veneno.

Para piorar, possuía várias fileiras de dentes que se estendiam até sua garganta, o que providenciaria uma morte bem desagradável.

Luna ficou paralisada ao ver aquela imagem sinistra e, apesar do perigo em que estava, não era capaz de tirar seus olhos da criatura. Era como se estivesse hipnotizada por aquela quantidade ridícula de presas.

O animal misterioso flexionou suas patas traseiras e preparou um salto na direção da princesa.

— Espere! Não precisa me temer, não sou...

Porém, antes pudesse terminar sua frase, o animal saltou em sua direção com uma velocidade surpreendente considerando seu tamanho. O ataque fora tão repentino, que Luna não teria tempo de ativar a Pedra da Proteção, tornando-a totalmente vulnerável.

A princesa olhou assustada para a criatura cujas presas pareciam se aproximar em câmera lenta. Em seguida, seus instintos de sobrevivência se ativaram e ela se virou, fechou os olhos e se encolheu enquanto esperava sentir a dor de sua carne ser perfurada e queimada.

Entretanto ela não sentiu dor.

Ao abrir os olhos e se virar, viu Sariel de frente para ela, pisando sobre a água e segurando a criatura por trás de seu pescoço. Ele estava calmo, como se a pele da criatura não fosse perigosa ao toque, apesar do calor intenso que emitia.

— Não vai conseguir falar com este monstro, ela não é deste mundo. Está tudo bem? Se feriu?

Luna percebeu que ele mantinha seus olhos fechados enquanto segurava a criatura.

— Es... estou bem.

O viajante congelou a criatura em um instante e, com a força de sua pegada, a esmagou e a explodiu no ar. Ela foi reduzida a pequenas partículas de gelo, como se estivesse nevando suavemente, e nenhuma gota de sangue ou lava tocou as águas da lagoa. O calor dela também sumiu, deixando apenas um frio suave pelo ambiente.

— Está assustada?

— Um pouco... mas estou melhor agora. — A voz da princesa estava levemente trêmula.

— Ótimo.

Sariel se virou e caminhou de volta para a terra. Enquanto andava, a água congelava logo abaixo de seus pés, pouco antes de tocar a superfície da lagoa.

— Você parou aquela... coisa... com os olhos fechados?

— A visão é apenas um dos cinco sentidos.

O viajante saiu de dentro da lagoa, sentou-se de pernas cruzadas no chão — de costas para Luna —, e ainda manteve seus olhos fechados.

— Ficarei em guarda enquanto você termina de se banhar, pode ficar tranquila agora.

— O-Ok... Mas o que quis dizer sobre aquela coisa não ser sobre este mundo?

— Existem vários outros mundos com várias formas de vidas bem diferentes que estamos acostumados. Esta criatura veio de um destes mundos.

— E como ele veio parar aqui?

— O mais provável é que foi conjurada com Magia de Conjuração e depois deve ter matado o próprio conjurador.

— Todas essas criaturas são agressivas quanto aquela?

— Sim, algumas até mais que aquilo.

— Então nosso mundo não está em perigo?

— São poucas as pessoas que fazem essas coisas, nada que a Vigília não consiga lidar.

— E como sabia que eu não conseguiria falar com elas?

— Experiencia própria.

— Entendo... 

Luna permaneceu em silêncio por algum tempo, sem perceber o que a resposta do viajante implicava.

Ainda estava surpresa com o que acontecera, sem contar que saber sobre a existência de outros mundos era algo surreal.

Quando, por fim, percebeu o significado da resposta de Sariel, perguntou: — Espera, o quê?! Você também se comunica com os animais?

— Sim, por que a surpresa?

— Achei que apenas anjos eram capazes disso.

— Nós humanos também podemos, apesar de ser raro.

— E por que algumas pessoas podem enquanto outras não?

— É uma ótima pergunta que os pesquisadores tentam responder, porém sem chegar em uma resposta.

— Ah, entendo. — Luna ficou pensativa por algum tempo depois de aprender tanto. Ela desejava saber mais sobre os mistérios do mundo, e achou que o viajante saberia a resposta deles, entretanto as coisas não eram tão simples assim.

“Ele provavelmente não saberá o significado de meus sonhos...”

A princesa continuou pensando em silêncio enquanto se banhava, até que alguns animais a surgiram e se aproximaram da lagoa e de Sariel. Uma coruja posou no ombro do viajante e esfregou sua cabeça nele, como se estivesse pedindo por um afago, e ele atendeu seu pedido acariciando-a.

Luna observou ambos por um tempo enquanto apreciava a expressão feliz da ave, que mantinha seus olhos fechados enquanto era afagada. Uma raposa também apareceu, se aproximou e pediu por carinho ao viajante, que usou sua outra mão para fazer carinho na parte de baixo de sua mandíbula.

A raposa emitiu um som que a princesa não esperava ouvir de um animal, se assemelhava a uma risada que soava como um “hehehe”. Luna se perguntou se isso era normal, mas ela assumiu que era comum, visto que Sariel não reagiu.

Ela continuou observando a raposa, quando se lembrou de algo.

— Aconteceu algo entre você e Shiina?

— Apenas um pequeno desentendimento.

— Não parecia pela maneira que ela o encarou durante a viagem.

— Você é bem perspicaz.

— Qualquer um perceberia.

— Shiina é uma assassina habilidosa, esconder coisas é o que ela faz de melhor. Tenho certeza de que Raymond não percebeu.

— De qualquer maneira, o que aconteceu entre vocês?

— Ela tentou me matar porque sei que Ardos a contratou para te matar. — Sariel respondeu de maneira contraída, como se aquilo fosse algo que estivesse acostumado a dizer.

Luna ficou em silêncio por um tempo após ouvir aquilo, se perguntando se não havia escutado errado.

— Quê?! — perguntou após perceber que ele não estava brincando. —  Mas Ardos havia dito que enviaria a Vigília, por que mandar assassinos? Essa não é a maneira como o Conselho resolve as coisas.

— A humanidade acabou de sair de uma guerra com uma raça que quase a dizimou, é claro que Ardos quer evitar uma guerra a todo custo, por isso tentará cumprir seu objetivo, mesmo que tenha que recorrer a métodos “desonrosos”.

— Mas eu sou apenas uma pessoa normal! Nem lutar eu sei, se não fosse por você eu estaria morta agora. Além disso, o próprio Aegreon disse que o Conselho tem olhos em todo o mundo, então eles sabem que sou fraca.

— Não é fácil assim prever as ações do Conselho. Eu mesmo só conheço um deles além de Aegreon, e ambos são bem diferentes, imagine agora os outros oito membros.

— Tem razão... Ah, já estou acabando, só preciso me secar agora. — Luna se preparou para sair da lagoa, quando  percebeu o tipo de situação em que se encontrava. — Não olhe, ok?

Ouch! Desse jeito você me fere! De que maneira me vê para sentir a necessidade de dizer isso?

— Desculpe! Eu não deveria ter duvidado de ti. É só que...

— Que...?

— Nada!

A princesa começou a secar seu corpo com uma toalha que havia levado. Ela não tentou ser rápida, na verdade, não estava tão envergonhada como muitas mulheres ficariam, já que ela era um Anjo — além de ter vivido reclusa —, então sua percepção sobre aquela situação não era a mesma de um humano.

O único motivo pelo qual estava levemente envergonhada, era porque seu pai a disse que uma mulher não deveria estar despida perto de um homem, mas ela não entendia bem o motivo.

Depois de algum tempo, Luna secou a maior parte de seu corpo, mas o cabelo ainda estava molhado. Então, ela vestiu suas roupas e, no exato momento que terminou de se vestir, o viajante se virou para ela com os olhos fechados.

— Como sabia?

— Já lhe disse, “A visão é apenas um dos cinco sentidos”. Por acaso duvidou de mim novamente?

— Não! Eu só...

Haha! Relaxe, estou brincando. Mas não vai secar seu cabelo?

— Ele pode secar naturalmente.

— Pode acabar pegando um resfriado.

— O frio não me afeta, eu seria capaz de usar roupas de verão sem nenhum problema mesmo em um dia de nevasca intensa.

— Oh? Ainda assim será um incomodo, deixe-me dar um jeito nisso.

Sariel se aproximou de Luna devagar, e a coruja que estava no ombro do viajante levantou voo e pousou no ombro dela.

— Ora, já se cansou de mim? — reclamou Sariel.

Luna acariciou a ave com um sorriso em seu rosto, esquecendo completamente do ataque de mais cedo.

Sariel aproximou-se da princesa e a observou brincar com a coruja que aproveitava os afagos. Vendo a maneira dengosa que o animal se comportava, tornava bem difícil de não ceder a sua fofura e acariciá-lo.

— São maravilhosos né? — perguntou Sariel.

— São mesmo... — respondeu a princesa enquanto mantinha fixo seu olhar na ave.

— Bom, deixe-me testar algo. — O viajante se colocou atrás dela.

— O que vai fazer?

— Vou secá-lo de maneira rápida, me permite tocá-lo?

— Sim.

Sariel pegou em suas mãos todos os fios do belo cabelo prateado. Em seguida, subitamente, toda a sua cabeleira congelou, e depois o gelo se quebrou em pequenas partículas azul-claro, deixando o cabelo completamente seco.

— Pronto, agora está bom. Sentiu frio?

— Não, e obrigada. — Luna sorriu para Sariel. 

— Interessante...

— O quê?

— Nada. É só que... se isso tivesse falhado, você teria ficado careca, haha!

— Quê?! — Luna quase não pôde acreditar no que acabara de ouvir.

— Bem, vamos voltar, os outros vão ficar preocupados. — O viajante mudou de assunto rapidamente.

— Ah espere, tome aqui sua pedra. — Luna pegou o item mágico que Sariel tinha lhe entregado e ofereceu de volta.

— Pode ficar com isto, será mais útil contigo.

— Certo, obrigada.

Sariel e Luna caminharam juntos de volta e no caminho conversaram sobre vários assuntos triviais. No meio do caminho, a coruja que ainda estava no ombro da princesa levantou voo e sumiu na floresta. Depois de pouco tempo, ambos retornaram ao acampamento.

Raymond percebeu que Sariel e Luna, estavam juntos, ficou em alerta, e se aproximou para questioná-lo.

— Por que você está com ela? — No entanto, Aegreon foi o primeiro a questionar Sariel. Ele sacou sua arma no momento que os percebeu juntos.

— Espera! Uma criatura me atacou e ele me protegeu. E antes que diga algo, ele não viu nada Raymond.

— Ele realmente não fez na...

— Não permito que você fique sozinho com ela! Se fizer isso de novo, eu te mato! — Aegreon interrompeu Raymond e se aproximou de Sariel enquanto sua foice queimava em uma chama roxa furiosa. Sua voz estava carregada de raiva, ou melhor, ódio, e seus olhos pareciam queimar igual sua arma.

Shiina se encolheu de medo ao ver o quão enraivecido o Pilar estava. Já havia presenciado sua fúria antes e sabia que não seria nada bonito.

— Aegreon acalme-se, ele...

— Você me entendeu? — Aegreon interrompeu Luna enquanto mantinha seu olhar furioso em Sariel.

— Qual o problema? Está com ciúmes? — Sariel permaneceu totalmente calmo e provocou o Pilar com um sorriso pretensioso.

— NÃO ESTOU BRINCANDO! — O grito de Aegreon foi tão alto quanto um trovão, e foi tão carregado de raiva que todos ficaram paralisados. Até mesmo a floresta se silenciou completamente, como se até as folhas sentissem medo de produzir qualquer som.

Raymond, que a princípio tinha ficado em alerta, agora até prendia seu ar, temendo que sua respiração atraísse a fúria daquele demônio para si.

Já Shiina, que já havia se afastado um pouco, agora parecia que estava pronta para correr pela sua vida. Ela já tinha visto Aegreon irritado, porém nunca nessa intensidade. 

— Aegreon espere, ele me salvou! Se não fosse por ele eu teria morrido! — Luna também se assustou com a fúria repentina de Aegreon, entretanto tentou pará-lo, temendo que ele ferisse Sariel.

Ela se colocou entre os dois, porém, assim como seu título sugeria, o Pilar era tão alto que era como se tentasse parar um gigante que poderia facilmente arremessá-la longe.

— Ele está te manipulando! Você não deve confiar nele e nem ficar sozinha com este maldito! Entendeu?

— Ora, nem namoram e já quer definir com quem ela pode se encontrar? Vocês do Conselho são de fato bem arrogantes. — Sariel, apesar da situação, contiuava calmo e provocava Aegreon.

— Se soubesse que desejava tanto pela morte eu o teria matado em Fordurn mesmo! Não cometerei o mesmo erro agora... — O Pilar tentou se aproximar do viajante.

— JÁ CHEGA! — Luna gritou o mais alto que pôde tentando evitar a briga, porém soou mais como uma súplica.

— Você não deve confiar nele.

— Mas Aegreon, ele é...

— Não se preocupe Luna, se o que ele não quer é ficarmos sozinhos então tudo bem. — Sariel se afastou da princesa e do Pilar e sentou-se ao lado da fogueira que haviam acendido enquanto estavam fora.— Há outras maneiras de conversarmos a sós.

— O que quer dizer com isso? — O Pilar apontou sua arma ao viajante.

— Não sei... o que acha que eu quis dizer? — Sariel sorriu pretenciosamente para Aegreon.

— Eu lhe dei uma chance... — O Pilar se aproxiou do viajante, pronto pra matar.

— Eu já disse que chega! Não quero nenhum de vocês brigando! — Luna, mais uma vez, se colocou entre os dois.

Aegreon parou imediatamente e olhou para a princesa com uma expressão intrigada.

— Ele está te manipulando! Não percebe como ele está fazendo o possível para dividir o grupo? Esse desgraçado deve ser morto o quanto antes!

— Sabe que eu fui aquele quem mais contribuiu até agora, certo? Já salvei Luna duas vezes, sendo uma delas antes de você chegar em Fordurn, e quanto a você? Só me acusa injustamente tentando se livrar de mim.

— Você pode enganá-los, mas não a mim.

— Você está tão maluco que acredita nas mentiras que você mesmo cria. Tem certeza que é mesmo o Pilar da Conjuração e não um esquizofrênico?

Sariel mantinha um leve tom de deboche, o que irritou o Pilar como nunca. Ele teria quebrado sua arma apenas pela força que a segurava se não fosse resistente.

— Saia da minha frente — disse Aegreon para Luna. — Vou matá-lo agora mesmo!

— Aegreon, chega disso! Se continuar com isso eu te deixarei e seguirei Sariel!

Ele hesitou enquanto olhava para os olhos de Luna com uma expressão pertubada. Ainda havia fúria naqueles olhos, mas havia algo mais ali.

— Você a escutou. — Sariel não pôde se segurar e o provocou novamente.

Após ouvir isso, Aegreon voltou seu olhar ao viajante, e o ódio em seu olhar retornou instantaneamente.

— ... Você vai se arrepender. — O Pilar se virou e caminhou para a floresta.

Um silencio mortal caiu sobre o grupo. Todos estavam tensos com o que havia acabado de acontecer, exceto por Sariel que permanecia calmo como sempre.

Shiina, ao perceber que Aegreon já estava longe, foi a primeira a falar: — Você tem sorte que a princesinha te protegeu, caso contrário teria morrido aqui mesmo.

— Alguém do Conselho não é nenhum problema para mim, exceto Ardos é claro.

— Veremos se continua confiante dessa maneira quando não tiver ninguém para protegê-lo. — A assassina sentou-se perto da fogueira, no lado oposto que Sariel estava.

Raymond olhou rapidamente para todos que estavam presente, tentando compreender melhor os objetivos de cada um.

Até agora, achou que os três estavam juntos, mas isso mudou após essa discussão. Foi intenso demais para ter sido uma atuação, e a fúria de Aegreon não poderia ser falsa.

Até que se lembrou o motivo dessa discussão ter acontecido e perguntou para a princesa: — Alt... Luna, ele realmente te salvou?

— Sim, e acho que você já poderia confiar um pouco nele.

—  Eu só estou sendo cauteloso. Aegreon parece desconfiar bastante dele.

— Ele está apenas sendo cauteloso assim como você, pode confiar nele. Tenho certeza de que nenhum dos dois quer fazer mal, mas eles não confiam um no outro.

Raymond ficou em silêncio por um tempo e então disse: — Eu ainda não confio em você e não sei suas intenções, mas vou tolerar sua presença.

— Bem, é um avanço pelo menos — respondeu Sariel. — Agora, já está tarde, vamos dormir. Ficarei em guarda novamente.

— Dessa vez eu também ficarei — disse Raymond. — Depois do que aconteceu é uma má ideia que apenas você e Aegreon fiquem acordados.

— É melhor você dormir primeiro, ainda não descansou o suficiente. Lhe acordarei quando ele voltar.

— Certo. — Raymond concordou com desconfiança.

O grupo então começou a dormir, com exceção do viajante que permaneceu mais uma vez de vigia.

Aegreon eventualmente retornou ao acampamento após ficar cerca de uma hora fora, e Sariel — como havia dito — acordou Raymond.

Nesta noite foi travada outra batalha de olhares mais intensa que a última. O Pilar não tirou o viajante de seu campo de visão em nenhum segundo, atento aos mínimos movimentos dele, e ignorou completamente Raymond.

Apenas Sariel parecia não se importar com a situação toda e mantinha uma expressão neutra.

Apesar do clima tenso, o dia amanheceu sem nenhum incidente.


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