Volume 1
Capítulo 15: Céu Estrelado
O trio retornou para o palácio após passarem o dia todo conhecendo o reino, com Pagui sempre no ombro de Luna. Estavam se dirigindo na direção do quarto de Quetzal, quando se depararam com Shiina deixando o aposento de Raymond.
— Raymond está aqui? — perguntou Luna, preocupada pelo que viu mais cedo. — Ele está bem?
— Ah, sim. Pode ter certeza de que eu o fiz se sentir muito bem...
— Ainda bem, obrigada por cuidar dele. — Luna esboçou um sorriso puro, sem perceber a malícia por trás da fala de Shiina.
Sariel, Quetzal e Shiina olharam para a princesa com descrença estampados em seus rostos.
— O que foi? — Estranhou aqueles olhares.
— Nada, vamos indo! — urgiu Quetzal ao mesmo tempo que ria um pouco.
— O quê? Qual a graça?
— Nada demais. — Sariel também estava sorrindo. — Vamos aproveitar que o céu está limpo e usar o telescópio.
— Certo...
Os três partiram e logo chegaram ao quarto de Quezal. Durante o caminho, Luna tentou entender o que havia acontecido de tão engraçado que não entendeu, no entanto não conseguiu pensar em nada.
Ao abrir a porta, Quetzal correu para a janela e olhou para o céu.
— Uau... Está ainda melhor do que o normal! Tiramos a sorte grande!
Pagui, que esteve o tempo todo com Luna, voou para a janela e pousou ao lado do instrumento.
— Venha ver! Em homenagem ao seu nome mostrarei a lua primeiro.
Luna se aproximou da janela e olhou com curiosidade para o telescópio.
— O que eu faço?
— Espere um pouco, tenho que deixar na posição certa... — Quetzal se concentrou conforme ajustava o instrumento. — Pronto, pode olhar aqui. — Apontou para a lente menor do objeto.
— Só preciso olhar?
— Sim, fique à vontade.
Luna olhou pelo buraco com desconfiança e foi logo surpreendida com a visão da lua, grande e majestosa.
A superfície podia ser vista nitidamente. Era toda prateada e cheia de crateras nela. Além disso, ela estava tão próxima, que a princesa sentia que poderia tocá-la com suas mãos.
A imagem que vira fora tão impressionante, que ela se assustou e se afastou do telescópio.
— Co-Como? Estava tão perto!
— Haha! Legal né? Fiquei do mesmo jeito na primeira vez que vi. Veja de novo!
A princesa prateada se aproximou novamente e olhou mais uma vez para a lua, no entanto o que viu foi algo completamente diferente.
Um objeto circular e amarelo, do mesmo tamanho da lua, havia substituído aquilo que observara anteriormente. Estranhamente, este objeto era escuro no centro e totalmente desprovido de luz.
Ela observou por um bom tempo aquele objeto, se perguntando se estava vendo coisas, até que este objeto escureceu completamente por um segundo e logo se tornou visível novamente.
— Mas o quê? — Luna se afastou do telescópio, confusa com o que havia visto.
Foi então que ela percebeu Sariel e Quetzal sorrindo e segurando uma risada.
— O que foi?
O viajante apenas apontou para a outra extremidade do telescópio.
Ao olhar novamente, ela viu Pagui com a cabeça encostada à lente do instrumento. A ave se alongava, ficava na ponta das patas e, apesar da difícil tarefa, era capaz de se manter completamente parada.
Ao perceber que Luna não observava mais o telescópio, Pagui se afastou e piscou para ela ao mesmo tempo que balançava suas asas, emitindo um som similar de uma risada.
CROAC!
— Hahaha! — Ambos Quetzal e Sariel falharam em conter suas risadas e gargalharam ao mesmo tempo.
A princesa prateada olhou novamente para Pagui. Após finalmente entender o que havia acontecido, sorriu e fez algo que há muito tempo não fazia.
— Pff... Hahaha!
Luna nem se lembrava de como era este sentimento ou até mesmo do som de sua própria risada, porém, graças a Pagui, se lembrou de como era.
Sua risada era quase como o de uma criança. Pura, doce e suave, exatamente como sua natureza.
Sariel e Quetzal calaram-se no momento que ouviram aquilo. Ambos sabiam sobre as coisas terríveis que ela teve de ouvir sobre si mesma, portanto ouvi-la rindo era uma surpresa feliz.
Enquanto ambos a olhavam com sorrisos nos rostos, Luna continuava rindo e até mesmo lacrimejou um pouco. Ela nem sabia por que ria tanto ou se aquilo realmente era tão engraçado quanto achava, apenas ria continuamente.
— Haha... ah...
Após algum tempo, suas risadas finalmente cessaram, fazendo-a se sentir cansada por rir por tanto tempo.
— Então era você que eu estava vendo — a princesa se aproximou da janela e acariciou Pagui. — Pensei que tinha feito algo errado.
— Ele sempre faz isso quando uso o telescópio, e até mesmo brinca de esconde-esconde.
— Agora que paro para pensar, como vocês se conheceram?
— Ah, um dia eu estava caminhando pela floresta e ouvi um choro de uma ave. Quando cheguei perto, vi Pagui, ainda filhote, e se movendo como se procurasse algo. Creio que se perdeu da mãe, por isso eu o adotei e cuidei dele deste então. Estamos juntos há quase dez anos.
— Ele teve bastante sorte que você o encontrou — comentou o viajante. — Ele teria morrido na floresta sem sua ajuda.
— Sim, por isso somos inseparáveis! — Quetzal também se aproximou e acariciou Pagui.
— Bem, já que você já viu a lua, deixe-me mostrá-la outra coisa interessante. —Sariel se aproximou e começou a ajustar o telescópio. — Onde você está...?
Estava tendo bastante dificuldade para encontrar o que queria, até que finalmente avistou o lugar correto.
— Aqui está! Veja.
A princesa se aproximou e olhou pela lente. Dessa vez, o que viu não foi a lua e nem Pagui, e sim um planeta verde e azul. Havia também duas luas circulando ao redor deste objeto, sendo uma delas visivelmente maior que a outra.
— O que é isso?
— Maon, o mundo dos anjos.
— Sério!? Posso ver? — perguntou Quetzal.
— Ah, claro, o telescópio é seu afinal — disse Luna ao mesmo tempo que se afastava do objeto.
Quetzal se aproximou e olhou pelo telescópio, soltando um audível “uau” ao ver aquele mundo.
— É parecido com nosso...
— Como sabe? — perguntou Luna.
— Ah, os anjos observaram o nosso mundo através do deles, pintaram o que viram e nos mostraram, olhe ali.
Quetzal apontou para um quadro ao lado da janela que possuía uma pintura de Vilon — o mundo humano — que era bem parecida com Maon.
— Então eles também podem nos ver...
— Bem, é claro! Se nós podemos vê-los então o contrário também. Quem sabe não tem alguém lá olhando para nós neste exato momento...
O trio permaneceu em silêncio enquanto observavam o vasto céu estrelado diante deles. A ideia de poderem ver o mundo da raça que quase os exterminou era estranha.
— Ah, você havia dito que eles nos ensinaram astronomia certo? — perguntou Luna. — Pode dizer mais sobre isso?
— Ah sim, veja bem... — começou Sariel.
***
No início, quando os Anjos vieram pelo Astrum Lux, eles ensinaram e ajudaram os humanos. Eles ensinaram agricultura, metalurgia, medicina, alquimia e muito mais, o que impulsionou a humanidade a evoluir séculos em apenas alguns anos, e graças a isso cresceram exponencialmente e ocuparam quase todos os lugares do mundo.
Por isso, Anjos e humanos tornaram-se amigos inseparáveis. Casamentos entre ambas as raças era extremamente comum, e nenhum casal sentia-se triste se tinham filhos humanos ou Anjos.
Entretanto, décadas depois de sua vinda, os Anjos lançaram um súbito ataque surpresa e destruíram centenas de reinos humanos nas primeiras horas de sua ofensiva.
Apesar do desespero que enfrentaram nas primeiras horas, os humanos resistiram e sobreviveram ao impacto inicial. Foi neste momento que Ardos, um Anjo, se revoltou contra a própria raça e se uniu aos humanos, ajudando-os a coordenar as batalhas e a lutar contra eles.
Graças a Ardos, os humanos foram capazes de começar a ganhar territórios em certos lugares, e depois de um século de duras batalhas foram capazes de expulsar os Anjos pelo Astrum Lux. O portal se fechou e permanece assim até hoje.
Depois disso, Ardos fundou o Conselho, um grupo que continha as dez pessoas mais poderosas no mundo de cada elemento, além da Vigília, um exército treinado para lidar com anjos.
***
— Então eles nos ensinaram quase tudo que sabemos?
— Basicamente.
— Então por que tentaram nos exterminar?
— Ninguém sabe. Muitos acreditam que fizeram isso para ganhar nossa confiança e nos pegar desprevenidos, enquanto outros acreditam que eles foram enviados por Kura para nos exterminar, porém acho que ambas as teorias estão erradas — explicou Sariel.
— Por quê?
— Bem, o segundo caso é totalmente improvável pelo fato de Kura ter guiado a humanidade antes mesmo da vinda dos Anjos. Quanto ao primeiro, se a intenção realmente fosse de ganhar confiança, então eles não precisavam nos ensinar, pois isso nos faria mais fortes e tornaria mais difícil a tarefa de nos exterminar.
— Sem contar que se tivessem a intenção de nos exterminar desde o início eles não teriam tido filhos com humanos. Mas eles realmente nos consideravam amigos, tanto que até mesmo durante a guerra ainda havia humanos e Anjos tendo filhos, como é o caso de Sariel.
— Entendo... — Luna permaneceu em silêncio enquanto digeria tudo que ouvira. — Espera, Sariel nunca disse que era descendente de anjos e nem mesmo mostrou seu broche, como sabia antes que ele tem descendência de Anjos?
— Pelo nome dele, é claro! Todo nome terminado em “el” tem origens angelicais, e era bem comum que humanos dessem nomes de anjos aos seus filhos, mesmo que nascessem humanos.
— Isso mesmo, mas acho difícil que algum de meus pais tenha sido anjo, já que eu nasci muito próximo do fim da guerra. É mais provável que eu tenha alguma descendência distante, igual Quetzal.
— Ah, entendo. Mas você não tem nenhuma ideia de quem poderia ser seus pais?
— Bem, creio que...
Bam! Bam! Bam!
— Com licença, Vossa Alteza. — Uma batida na porta e a voz de um serviçal interrompeu Sariel. — Sua Majestade deseja saber se já jantou.
— Ah, na verdade não.
— Gostaria que trouxéssemos vossa refeição?
— Não é necessário, eu irei buscar.
— Certo, Vossa Alteza.
Sons de passos puderam ser ouvidos conforme o serviçal se afastava.
— Bem, está ficando tarde — disse o viajante. — Retornarei ao meu quarto agora, até amanhã!
— Certo, até mais!
Sariel deixou o quarto e se dirigiu ao seu aposento.
— Sabe de uma coisa, você ainda não se banhou, certou? — Quetzal encarou Luna, que respondeu balançando a cabeça negativamente. — Hmm, então você pode usar meu banheiro enquanto vou atrás da nossa janta. — Ela apontou para uma outra porta em seu quarto.
— Tem certeza? Não será um incomodo?
— Claro que não! Se quiser usar uma roupa minha tudo bem — Quetzal sorriu e colocou uma mão no ombro dela. — Já volto!
Com isso, Quetzal deixou o próprio quarto. Pagui, ao perceber que ela estava saindo, voou e pousou no ombro dela.
Luna caminhou na direção da porta e a abriu, deparando-se com uma sala com uma banheira do tamanho de uma piscina no piso do aposento. Água quente fluía constantemente de uma fonte e várias torneiras.
Se aproximou da água e tocou com sua mão para testar a temperatura. Estava acolhedoramente quente.
Sem demorar, despiu suas roupas e entrou na grande banheira.
O calor da água envolveu seu corpo e a fez sentir-se relaxada. Frio não era um problema para ela, portanto banhar-se em águas frias era totalmente viável, contudo, é claro que água quente seria sempre melhor.
Luna mergulhou por alguns segundos e molhou completamente sua cabeça. Quando emergiu, se recostou contra as paredes da banheira e fechou seus olhos.
Sua mente divagou conforme se lembrava do “sonho” que tivera mais cedo. Aquele era definitivamente seu pai, no entanto que lugar era aquele?
Ela continuou a pensar no ocorrido quando se lembrou de um certo nome: Elise, um nome que nunca ouvira antes.
— Elise... Espera! Raymond pode saber algo sobre isso!
É claro que ele saberia. Raymond era a pessoa mais próxima do rei nestes últimos anos.
“Como não pensei nisso antes?”
Toc! Toc!
Duas batidas quase silenciosas soaram pela porta, assustando a princesa.
— Quetzal? Você já voltou?
Houve um silêncio por alguns segundos, até que uma voz grossa disse: — Sou eu, Aegreon.
— Aegreon? O que está fazendo aqui?
— Vim dizer algo.
— O que é?
O Pilar permaneceu calado por alguns segundos.
— Vim me... desculpar...
— Como é?
— Eu menti para Yaxun sobre o motivo de querer ir ao Astrum Lux. Se eu dissesse a verdade, ele não iria nos ajudar.
Um grande alívio tomou conta de Luna ao ouvir aquilo.
— Ah, tudo bem. — Um sorriso surgiu em seu rosto. — Achei que você realmente queria apenas me usar... Peço perdão por duvidar de ti. Acho que Sariel se enganou...
— Sariel não é confiável. Não acredite nas mentiras dele.
— Mas ele me salvou duas vezes já!
Nenhuma resposta.
— Aegreon?
Mais uma vez, nenhuma resposta. O Pilar já havia deixado o aposento.
— Aah... Vocês são tão complicados... — suspirou.
***
Sariel retornou ao seu quarto, banhou-se rapidamente e trocou suas roupas.
Ao terminar, notou que seus pertences haviam sido colocados em uma pequena mesa. Estava tudo lá, ou melhor, quase tudo.
O viajante abriu a porta de seu quarto e procurou por um serviçal. Não havia ninguém, portanto ele se aproximou de um criado mudo que estava ao lado de sua cama, pegou uma pequena pedra marrom de Alteração e a pressionou.
Alguns segundos depois, sons de passos puderam ser ouvidos. Após pararem na porta de seu quarto, uma batida soou.
— Com licença, senhor Sariel. Precisa de algo?
O viajante abriu a porta para conversar com o serviçal.
— Sim, vi que trouxeram meus pertences, mas esqueceram algo.
— Hm, permite-me que me aproximar para conferir?
— Sim, fique à vontade.
O serviçal entrou no quarto e observou com cuidado os pertences do viajante.
— Hmm, está tudo aqui, senhor Sariel. Todos os itens que me foram entregues estão aqui.
Sariel olhou com atenção o serviçal, se aproximou da mesa e olhou novamente seus pertences.
— Ah, tem razão. Peço perdão, acabei deixando passar.
— Certo, fico feliz que esteja tudo nos conformes. Se precisar de ajuda novamente pode me chamar.
— Certo.
O serviçal deixou o quarto e fechou a porta.
O viajante, encarou novamente seus itens com um olhar misterioso. Em seguida, ele se aproximou da janela de seu aposento e observou a bela capital, iluminada apenas por algumas tochas e pela lua.
— Bem que achei que havia algo de suspeito sobre você...
Seu olhar continuou a esquadrinhar as ruas da capital, procurando por algo — ou melhor, alguém — atentamente.
Meu pix para caso queiram me ajudar com uma doação de qualquer valor: 6126634e-9ca5-40e2-8905-95a407f2309a
Servidor do Discord: https://discord.gg/3pU6s4tfT6
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios