O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 12: A Princesa Esmeralda

— Aproxime-se, minha filha. — Yaxun ergueu a mão de uma maneira convidativa.

A mulher caminhou na direção da mesa em que estavam reunidos. Sua pele era morena; o cabelo — escuro e reluzente, como obsidiana — tinha um aspecto selvagem e estava preso em um rabo de cavalo lateral. As írises mais se assemelhavam a duas esmeraldas, verdes e brilhantes, e usava várias joias da mesma cor para realçar a própria beleza, apesar de não serem tão belos quanto os seus olhos.

Caminhava com uma postura ereta, e havia um ar majestoso ao seu redor.

— Esta é Quetzal, minha única filha — explicou o rei. — Quetzal, estes são: Aegreon do Conselho; Shiina, a Raposa Ceifadora; Raymond de Fordurn; Sariel de Eribur e Luna, a princesa de Fordurn.

Quetzal demorou-se alguns segundos para olhar todos os presentes e observou por um bom tempo a princesa. Os olhos dela se estreitaram e as sobrancelhas franziram, o que fez Luna se sentir desconfortável e já se preparando para ouvir os mesmos insultos que o rei disparava descaradamente contra ela.

— Sério!? Você é realmente a Princesa de Prata!? É uma grande honra! — Contudo, sua postura séria se quebrou completamente, dando lugar a uma expressão animada e olhos que pareciam brilhar como estrelas. — Uau! Você é tão linda!

Ela se aproximou da princesa de Fordurn, segurou ambas suas mãos e a chacoalhou repetidas vezes.

Luna permaneceu em silêncio e com uma expressão totalmente surpresa antes de murmurar: — ...Eh?

— Quetzal! — ralhou Yaxun. — É por causa da raça dela que sua mãe está morta!

— Não me venha com essa, velho! Ela não tem culpa dos atos dos antepassados dela!

— Como pode?! E já lhe disse para não usar este maldito broche! Está desrespeitando o seu povo ao usar algo feito pelas mãos dessa maldita raça!

Luna enfim percebeu que Quetzal tinha um broche fixado nas roupas logo abaixo do pescoço, e era bem parecido com o seu. O dragão comendo a própria cauda era idêntico e feito do mesmo material, contudo a pedra central era de cor verde e no formato de uma folha.

— Para você pode ser uma memória do massacre dos anjos, mas para mim é uma memória de minha mãe! Não o usar seria desrespeitoso com ela!

Tsc, que seja — bufou o rei. — Você deverá vigiá-la aonde ela for, e precisará estar acompanhada de Sariel quando estiver em público para alterar a aparência dela com magia. Além disso, certifique-se de devolver os pertences deles.

— Com prazer! — Quetzal respondeu animadamente. — Se quiser, posso mostrar os melhores lugares de nosso reino!

— Ahh... Sim, ficaria grata. — Luna ainda estava atordoada com tamanha simpatia.

— Então já está tudo resolvido, agora irei tratar do assunto que me pediram, retornarei com uma resposta em no máximo dois dias. — Yaxun se levantou. — Minha filha, leve-os até os aposentos para visitas no palácio, e lembre-se de manter isso em segredo. — Em seguida, deixou a sala.

— Não ligue para ele, meu pai não consegue separá-la de seu povo. — Quetzal então se virou ao resto do grupo. — Agora, os levarei para seus quartos, me acompanhem por favor.

Ela então deixou a sala enquanto puxava Luna pelas mãos. Estava tão animada que nem aguardou os outros convidados a seguirem.

— Deixarei para ti o nosso melhor quarto! Há uma cama grande o suficiente para duas pessoas, poderemos passar a noite toda conversando!

— Ah, obrigada. — Luna olhou com curiosidade para o broche de Quetzal.

Ela desejava evitar falar sobre ele, visto que era um assunto delicado para ela e Yaxun, entretanto a curiosidade falou mais alto.

— Este broche era de sua mãe?

— Isso mesmo!

— E por que uma humana teria algo feito por anjos?

— Você não sabe?

Luna balançou sua cabeça negativamente.

— Bem... — começou Quetzal — antigamente era bem comum casamentos entre Anjos e humanos, e eles presenteavam este broche como símbolo da união entre nossas raças. Creio que todo Anjo possuía um, porém apenas humanos casados ou descendentes deles podiam receber um destes.

— Exatamente. — A voz de Sariel, que as alcançou, ressoou por trás. — Contudo agora são vistos por muitos como um símbolo da tirania deles.

O resto do grupo também as seguia enquanto escutava com atenção.

— Neste caso, você é uma descendente de anjos, mas é uma humana?

— Você realmente sabe bem pouco para um Anjo, hein? Em um casamento entre Anjo e humano, a criança poderia ser tanto de uma raça, quanto da outra, e ninguém sabe o porquê.

Luna olhou para o próprio broche e se perguntou sobre seus pais biológicos. Seriam ambos anjos? Ou poderia ser que um deles era um humano? Seu pai adotivo sabia de algo?

As perguntas se repetiam inúmeras vezes, sem nenhuma delas possuir uma resposta.

— Então sua mãe era uma humana? — perguntou Sariel.

— Isso mesmo, minha mãe tinha uma descendência angelical bem distante e manteve esse broche mesmo durante a guerra contra os anjos, por isso eu manterei seu legado.

— Compreendo, é admirável que usa este broche independente de suas origens, posso ver o quanto ama sua mãe. — Uma expressão triste surgiu no rosto de Luna. — E quanto a você, Sa...

— Ah, chegamos.

Luna desviou seu olhar de Quetzal e focou-se no corredor diante de si. A passagem era larga e com várias portas em ambos os lados.

— Estes são seus quartos, deixarei que todos usem um no lado direito, que são os que possuem janelas para observar nosso belo reino! Senhor Aegreon, a primeira porta será sua.

Aegreon entrou em seu quarto sem dizer nada.

Ambos avançaram pelo corredor conforme Quetzal apresentava os quartos de cada um. Shiina ocupou o aposento logo ao lado do Pilar, e Raymond residiria ao lado dela.

— Prefiro que me entreguem um quarto ao lado de Al... Luna — comentou o guarda-costas.

— Não se preocupe com isso, ela ficará em meu quarto! — Quetzal deu um grande abraço em Luna.

— Quê!? — exclamaram Raymond e Luna juntos.

— Qual a surpresa? Eu adoraria passar a noite conversando contigo. — Quetzal esboçou um grande sorriso.

— Ah, bem, se não for nenhum incomodo...

Luna ainda se sentia surpresa com a personalidade da anfitriã. Sua aparência e comportamento eram totalmente diferentes.

— Não será, agora vamos! — Quetzal agarrou a mão de Luna novamente e a guiou em direção de seu quarto, sem dar tempo ao guarda-costas de protestar. — Você também. — Encarou Sariel.

— Eu? Por quê?

— Oras, também é um descendente de Anjos, certo?

— E quanto ao meu quarto?

— Pode ficar com aquele ao lado de Raymond. Ah, você! — chamou um serviçal que passava pelo corredor. — Certifique-se de entregar de volta os itens de nossos visitantes.

— Entendido, Vossa Alte...

— Valeu! 

Mais uma vez, ela partiu sem esperar a resposta do empregado.

Ele observou Quetzal ir embora se distanciar enquanto quase arrastava Luna junto e com Sariel as seguindo logo atrás.

— Animada como sempre... — Suspirou com um pequeno sorriso e seguiu seu caminho, andando um pouco mais rápido após este encontro como se tivesse sido contagiado pela energia da princesa.

 

***

 

— Uau... É ainda maior que o meu quarto... — suspirou Luna.

Diante dela estendia-se um amplo aposento. Inúmeros armários com várias roupas luxuosas preenchia uma mísera porção de todo o espaço da sala, e uma enorme cama, grande o suficiente para quatro pessoas dormirem tranquilamente, localizava-se no lado esquerdo da porta. Além disso, inúmeros moveis com múltiplos objetos de ouro decoravam a sala.

Haha! Fico feliz que é de seu agrado!

— É um quarto digno da famosa “Princesa Esmeralda” — comentou Sariel.

— Oh, não espera que alguém de um reino tão distante quanto você conheceria este título.

— Ora, saber o nome dos reis e príncipes dos principais reinos é algo básico.

Enquanto ambos conversavam descontraidamente, a Luna caminhou em direção a um objeto pouco maior que ela e que chamou sua atenção. Tratava-se de uma larga mesa com uma grande esfera no meio, rodeada por outras esferas menores conectadas por anéis.

— O que é isso? — Tocou com cuidado e curiosidade o objeto.

— Ah, é um modelo de nosso sistema solar.

— Impressionante, é bem raro encontrar alguém interessado em astronomia — comentou Sariel.

— Astronomia? — questionou Luna.

— É uma ciência que visa estudar objetos e fenômenos que ocorrem fora de nosso mundo. Os Anjos foram os pioneiros dessa ciência e foram eles que nos ensinaram o básico dela.

— Nos ensinaram? Por que fariam isso após iniciar uma guerra?

Ao ouvir isso, Sariel e Quetzal encararam Luna com espanto em seus rostos.

— O que foi? — perguntou ela com uma expressão confusa.

— Luna... — começou o viajante pausadamente —, o que você sabe sobre os Anjos e a guerra?

— Apenas que eles vieram de outro mundo e quase exterminaram a humanidade, e apenas sei sobre isso ouvindo de conversas entre guardas, já que meu pai proibiu qualquer material didático sobre os Anjos no palácio.

O viajante e Quetzal se entreolharam com uma expressão que quase dizia “faz sentido”.

— Isso explica muita coisa. Pelo jeito terei de lhe ensinar sobre o que aconteceu no passado.

— Podemos fazer isso de noite enquanto estudamos as estrelas! — Quetzal apontou para sua janela, onde havia um estranho objeto cilíndrico apontado para o céu.

— E como se estuda algo assim?

— Com a mesma coisa que forma os alicerces de nosso mundo, magia — Quetzal se aproximou da janela e chamou Luna: — Venha aqui.

Luna se aproximou e olhou o objeto com curiosidade.

— O que é isso?

— Os Anjos chamam de telescópio. É usado para observar o espaço, contudo, como é dia, não seremos capazes de ver muito... Por isso podemos usá-lo de noite! Te mostrarei as coisas mais interessantes!

— Tudo bem... — Luna manteve o olhar no telescópio antes de se virar para Quetzal: — Mal posso esperar!

Ela tentou esconder sua animação, no entanto o brilho em seus olhos denunciou suas emoções.

Ambas as princesas se olharam com um belo sorriso. Luna tinha um sorriso puro e inocente, como o de uma criança, enquanto o de Quetzal era carinhoso e relaxante, como o de uma irmã mais velha.

CUÁÁÁÁ!

— Ah! — Um piar súbito e alto assustou Luna e quase a fez dar um pulo.

Ao olhar novamente para o telescópio, foi possível ver uma ave de rapina parada na ponta do objeto. Seu bico era laranja, corpo era escuro e com o pescoço branco. Possuía uma crista rebelde e arrepiada, igual ao cabelo de Quetzal.

— Pagui! — Quetzal levantou seu braço direito e a ave voou na direção dela. — Onde esteve? Por que não apareceu para o almoço?

A ave respondeu com um ruido quase inaudível e baixou sua cabeça.

— Oh, você se assustou com o som alto e com a poeira... Coitadinho...

Quetzal acariciou Pagui na barriga, que em resposta emitiu um estranho croac. A ave sorria com os olhos e encostava-se no rosto da princesa.

— Ops... peço perdão por isso....  — Sariel coçou a própria cabeça demonstrando culpa.

— Por que está se desculpando?

— Bem, foi Sariel quem destruiu aquela barreira.

Quetzal encarou o viajante com espanto e, com uma voz beirando o grito, disse: — Hã!? Pensei que quem fez aquilo havia sido Aegreon! — Ela pausou sua fala por alguns segundos antes de prosseguir. — Se bem que isso torna as coisas mais fáceis. É bom que se desculpe por assustá-lo!

— Bem... — Sariel ergueu seu braço e a ave voou em sua direção. — Desculpe amigo, vou te arranjar algo delicioso para comer depois! — prometeu conforme acariciava a ave.

Sua mão fez Pagui se sentir extremamente confortável e feliz, com uma expressão que pareceria prestes a adormecer.

Quetzal observava aquela cena surpresa, já que Pagui raramente pousava até mesmo em pessoas próximas a ela.

— Você também pode falar com eles? — perguntou ela, e o viajante apenas confirmou sua resposta com um aceno. — Entendo... Bem, já que Pagui está aqui então podemos começar nosso tour. Vamos lá fora primeiro!

— Espere, deixe-me cuidar da questão da aparência dela.

Sariel se aproximou de Luna e aproximou a mão do rosto da princesa. Um brilho rosa tocou sua face e desapareceu aos poucos.

— Pronto, agora pode tirar este capuz e mostrar seu belo rosto. — Sorriu gentilmente para ela.

— Tem certeza? — Quetzal encarou Luna de perto. — Ela parece igual para mim.

— Quando se trata de Ilusão, posso escolher quem é afetado ou não pela magia, portanto não se preocupe, ninguém descobrirá nada.

— Ah, então é parecido com Proteção, onde alguém pode deixar um aliado atravessar uma barreira, mas bloquear um inimigo, como uma parede.

— Exatamente.

— Bem, se você diz... — Luna abaixou o capuz lentamente.

Ela mantinha seu olhar baixo, evitando fazer contato visual com o viajante e Quetzal.

— Pronto, agora vamos! — Quetzal pegou sua mão mais uma vez e a levou pelos corredores do palácio.

— Es-espera!

— Não precisa ficar envergonhada, você é ainda mais bonita que eu!

— Ah... Obrigada.  

Luna sentia-se ainda mais tímida. A falta de algo para esconder seu rosto a deixava desconfortável, como se estivesse exposta.

O trio caminhou pelos corredores e logo chegaram na entrada da pirâmide.


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