O Pior Herói Brasileira

Volume 2

Capítulo 8: A Despedida

Devia já se passar das dez da manhã. Finalmente havia chegado em meu destino. A cidade que estava se chamava Ur e foi a primeira cidade grande que teria conhecimento, afinal, durante aqueles dias apenas havia estado em uma pequena vila e naquela floresta. Estava um pouco assustado, visto que era tudo um pouco exuberante para mim. 

 

Apesar disso, também estava muito ansioso. Era jovem e destemido, logo, aquilo fazia parecer que minha aventura havia finalmente começado. Não via hora de começar a explorar cada canto daquele lugar imenso. 

 

Porém, eu tinha algo para fazer antes disso. Tinha que agradecer as pessoas que me trouxeram aqui. Estava em frente ao grande portão onde ficava a entrada da cidade. Várias pessoas entravam e saíam por esse portão. Alguns guardas pareciam fazer a vigilância daquela cidade, no entanto, eles pareciam mais interessados em conversar do que realizar o seu trabalho. Pelo menos, essa foi a impressão que eu tive.

 

No entanto, não tinha tempo para reclamar da segurança ruim da cidade. Os caçadores pareciam estar arrumando a carroça para partir mais uma vez. Achei estranho esse comportamento, afinal, acreditava que eles iriam ficar mais um pouco naquela cidade para descansar e para comprar suprimentos. 

 

Enquanto os outros arrumavam a carroça, Gerald e Shannah pareciam estar encarregados de se despedir de mim. 

 

— Então... é isso. Foi um prazer viajar esse tempo com ocê, garoto. — Disse, Gerald. Ele tinha um sorriso em seu rosto que confirmava seus sentimentos. Em seguida, ele virou seu rosto para a pequena garotinha que estava ao seu lado, ela parecia estar escondendo algo em suas pequenas costas. — Shannah quer te dar algo antes de nós partimos... 

 

— [...] — A pequenina, então, devargazinho foi andando em minha direção e revelou o presente que tanto guardava. 

 

— Isso... 

 

Olhando atentamente para suas pequenas mãos notei que ela estava com minha capa. Com tudo que havia acontecido, pensei que ela havia se perdido. Afinal, a luta contra a Aranha e Erich fizeram ela ficar em um estado deplorável. No entanto, lá estava ela; dobrada, bem arrumada e ajeitada. 

 

—...Shannah, você...

 

— Hum, e-eu consertei isso... não ficou muito boa, mas... eu fiz o meu melhor que pude... 

 

Olhando atentamente, era possível notar que havia algumas pequenas marcas em suas mãos que não estavam presentes antes. Provavelmente, causadas pelas agulhas enquanto ela costurava. A roupa também não parecia devidamente costurada, havia o risco dela se partir em algum momento. 

 

Entretanto, Shannah havia feito o melhor que pôde. Isso era evidente. Ela tinha feito de bom grado para mim e considerei injusto se não agradecesse devidamente. 

 

— Não... isso não é verdade... está ótimo! Sim, ficou muito bom, Shannah! — Exclamei esbanjando felicidade. Fiz o melhor para expressar como estava me sentindo naquele momento. — Muito obrigado mesmo. Isso vai me ajudar bastante! 

 

— A..ah... n-num tem de quê! — Disse, Shannah. Ela parecia um tanto encabulada, visto que quase se escondeu atrás das costas de Gerald. 

 

— Hehehe... 

 

A felicidade que esbanjava deu lugar á uma subita razão. Porque sabia que agora estaria por minha conta mais uma vez. Sabia que muito provavelmente sequer os veria mais uma vez. Ainda não tinha noção de quão grande é esse mundo, mas sabia que ainda sim seria muito complicado os encontrar por aí. Isso me fazia entender que tinha que me despedir devidamente, porém, não conseguia entender como fazer isso de fato. Afinal, essa era a primeira vez que estava fazendo isso sem tem quer fugir. 

 

Era uma mistura de felicidade e angústia ao mesmo tempo. Esses sentimentos indecisos enchiam meu peito e fazia meu coração bater de forma dolorida. Como se pequenas agulhas perfurassem cada músculo do meu coração. E como se o meu pulmão não funcionasse direito. 

 

O sol quente batendo em minha cabeça fazia minha testa suar. Não, talvez não seja culpa do sol... afinal, quem estava fora de controle era eu. Tentando acalmar minha voz, tentei formular uma pergunta simples para Gerald. 

 

— Vocês não vão ficar um pouco aqui? Sabe, comprar suprimentos e tal...

 

— Hã? Ah, não. Há uma pequena vila chamada Jhuur há meio dia daqui. O chefe dessa vila é um conhecido meu e nós vamos nos hospedar por lá por alguns dias. — Explicou, Gerald. — Já eramos pra estarmos em Jhuur, mas, como viemos te trazer aqui, estamos um pouco atrasados. Ele já deve estar preoucupado, mas deve entender quando nós explicarmos. 

 

— Oh, eu não sabia... mas, você não pensa em descansar um pouco? Os cavalos devem estar cansados. Meio-dia até chegar lá deve ser desgastante para eles. 

 

— Isso não tem sentido. Nós fizemos várias pausas, ocê não se lembra? — Perguntou, Gerald. — Além disso, ambos são bem fortes e tem total condição de andar mais um pouco. Também não temos negócios aqui, sendo bem sincero. Se demorarmos mais do que isso, nosso amigp de Jhuur ficará preocupado. — Completou, Gerald. 

 

— É... faz sentido...

Naquele momento, eu não entendi o porquê de estar agindo daquela maneira. Mas, hoje vejo que eu apenas não queria me separar deles. Por mais que tenha sido por poucos dias, aqueles momentos foram bonitos e genuínos. Agora que finalmente eles me reconheciam como um deles... naquele momento que eu fazia finalmente parte de algum lugar... eu teria que ir embora. Era um pouco triste. 

 

No entanto, por mais que eu não tenha notado isso naquela época. Gerald pareceu ter notado. 

 

— Iori. Venha aqui rápido. 

 

— Hã? Claro. — Me movi para frente dele e o mesmo pediu para que eu olhasse em direção ao portão da cidade. Eu fiquei de costas tanto para ele quanto para Shannah. — O que foi? 

 

PAF! 

 

— AI! O- o que diabos voc- 

 

— NÃO OLHE PARA CÁ! 

 

Gerald por alguma razão não me permitia olhar para trás. Mesmo depois de me dar um tapão daquele nas minhas costas. Agora, minhas costas estavam ardendo como fogo, mas mesmo assim, conseguia sentir a palma de sua mão. Ele continuava segurando em mim, como se apoiasse em mim. Ele apenas me permitia continuar olhando para frente. 

 

— Iori, eu entendo os seus sentimentos. Não apenas eu, mas como todos que estão ao meu lado e atrás de mim. Não o conhecemos tão bem assim, não sabemos o porquê de ter lhe encontrarmos deitado no meio de toda aquela neve e do porquê de ocê estar andando por aí sozinho — disse, Gerald. Suas mãos agora pareciam fraquejar um pouco. Mesmo não podendo o enxergar, sabia exatamente como Gerald estava agora. Afinal, sua voz forte e característica dava lugar a uma voz trêmula e chorosa. Seu braço parecia lutar para se manter firme. — no entanto, não precisamos saber! Afinal, o que já sabemos é o suficiente. Ocê comeu, viveu e dormiu ao nosso lado. Mesmo que nunca mais nos encontremos... ocê... a-ainda será... um de nós...

 

— Uhm... — Eu nunca gostei de expor sentimentos. Por isso, mesmo que fosse difícil lutava para não demonstrá-los.

 

—...Então, agora... ocê deve olhar para o que está na sua frente. Não se preocupe conosco, nós estaremos bem. Sei que será difícil, afinal se tornar um grande herói não é nada fácil. É um caminho tortuoso e cheio de sacríficios. — Gerald acreditava fielmente que me tornaria um herói. Mesmo que eu mesmo nem acreditasse nisso ainda. — No entanto, nós queremos que ocê se lembre do que conversamos ontem...

 

O choro de Shannah tornava tudo mais arduoso. Porém, as palavras de Gerald me lembravam de seu conselho e de nossa última conversa juntos. Sim, aquelas aquelas palavras que com o tempo se tornaram como uma verdadeira espada para mim. Mais forte e mais resistente que qualquer uma feita de aço. 

 

—...Mesmo que esteja sozinho agora, sei que ocê irá encontrar companheiros. Não os afaste mesmo que seja chato para você e não os evite mesmo que seja arduoso... p-porque... chegará o dia em que esses amigos se tornarão como verdadeiros irmãos para você. E você os amará verdadeiramente, assim como nós o amamos. Então, eles se tornarão a sua espada. Afinal...

 

—...O Amor é a mais Forte Espada... — Disse em lágrimas. 

 

— S-sim... ocê aprendeu... agora vá e continue olhando para sua frente. — Gerald provavelmente sabia que eu queria me despedir dos outros. No entanto, suas palavras me trouxeram de volta a realidade. — Afinal, ocê sabe que estamos sorrindo e torcendo por ti, não é?

 

— [...]

 

— S-sim... e-eu... sei! 

 

Limpando meus olhei corri em direção ao grande portão. Me sentia triste por não ver o rosto de meus companheiros, mas também sentia-me grato por os ter conhecido. Afinal, não tinha mais medo agora. 

 

                                         Ponto de Vista: Gerald. 

 

Gerald se esforçava para continuar olhando para as costas do garoto. Era difícil visto que ele tinha que limpar seus olhos que estavam cheios de lágrimas. No entanto, mesmo que chorasse ele não estava nenhum um pouco triste, mas sim, orgulhoso. 

 

— Vamos, Shannah. Temos que seguir viagem. 

 

— Sim, titio. — Shannah parecia ainda preocupada com Iori, visto que ela tinha desenvolvido um grande afeto por ele. Iori era como um irmão mais velho para ela. 

 

— Ainda está preoucupada? Ele vai ficar bem. 

 

— Como ocê tem tanta certeza, titio? 

 

— Ocê não viu como ele segurava a sua capa? Ele não a soltava por nada! Com certeza, aquela capa que você consertou vai proteger ele. 

 

— Ah! É verdade! 

 

Shannah agora parecia feliz. Então, eles conseguiram voltar para a carroça. Parecia tudo pronto para eles partirem e os seus companheiros esperavam por eles. 

 

— Chefe, está tudo pronto... mas, ocê tem certeza? — Indagou, Kichi. Ele estava visivelmente incomodado com alguma coisa. 

 

— Hã? Certeza do que homi? 

— De se despedir assim. Afinal, talvez podemos nunca o ver denovo. Não acha que podiamos ter feito uma festa ou algo do tipo? 

 

— Você está pensando demais. Enquanto estivermos vivos poderemos nos encontrar. Isso também não é necessário. Isso apenas faria ser mais difícil para ele... além disso... — Murmurou, Gerald. —...Nós vamos fazer uma festa quando Iori salvar o mundo não é? — Perguntou, Gerald. Dando uma piscadela na direção de Kichi. 

 

— [...]

 

— He... ocê está certo. 

 

— É claro que eu estou... agora vamos! Vocês viram o garoto, não é? Não podemos perder em motivação para ele! 

 

— Sim, chefe! — Gritaram todos os caçadores. 

 

Heróis. Caçadores. Companheiros. Humanos...

 

Naquele dia, cada lado seguiu seu próprio destino.

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários