O Pior Herói Brasileira

Autor(a): Nunu


Volume 2

Capítulo 1: Salvo por Caçadores

Tunk

 

Tunk

 

Tunk

 

—...Ughh... 

 

Minha cabeça estava bastante confusa naquele momento. Como quando você acorda de um sono profundo, e apesar de você saber que você está acordado, o seu cérebro parece ainda não saber disso. Ao mesmo tempo que sabia que teria que despertar, meu próprio corpo não parecia querer isso. 

 

Além disso, sentia meu corpo bastante dolorido. Acompanhado também de uma dor de cabeça infernal. Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo me fez tomar a decisão de permanecer deitado por mais algum tempo. 

 

Tunk

 

Tunk

 

Tunk

 

"..."

 

"Está quente..." 

 

O que me atrapalhava de voltar a dormir, era um barulho desconhecido. Além de constante, era também bastante irritante. Fazia bastante tempo que eu não tinha uma noite de sono tranquila, então, ter o meu merecido descanso atrapalhado daquela forma foi bastante estressante. 

 

No entanto, eu permanecia deitado — imóvel — como uma pedra. De uma maneira esquisita aquela situação era, na verdade, muito nostálgica. 

 

Não era incomum meu sono ser atrapalhado por aqueles pequenos fedelhos no meu antigo mundo. Foram incontáveis vezes que me acordaram chutando aquela maldita bola nos muros ou brincando de guerra de espadas. 

 

"He... acho que até estou com saudades daqueles pirralhos..."

 

"..."

 

Assim como naqueles momentos, eu sabia que era inútil tentar voltar a dormir. Era hora de levantar. 

 

—...Ugh.... que dor... — Murmurei com um gemido. As minhas costas e costelas, principalmente, estavam me matando. 

 

—...Ah!!! 

 

—...Hã?

 

Meus olhos estava entreabertos, mas consegui notar uma garotinha olhando pra mim. Ela parecia ter entre 5-6 anos de idade, tinha um cabelo curto e liso castanho claro; que era parcialmente escondido por um lenço de cabelo simples de cor verde. Seus olhos era castanhos assim como seu cabelo. E sua vestimenta também não era muito arranjada. Usando apenas um pequeno vestido marrom-claro simples. Apesar disso, o vestido tinha alguns adornos brancos em suas mangás e gola. Não estava usando sapatos, mas vestia uma meia branca comum. 

 

Assim que me notou, a garotinha fez uma cara de surpresa contagiante. Ela pareceu não acreditar por alguns segundos, mas em seguida, gritou em alto e bom som: 

 

— Ele acordou!! Titio, o menino acordou!! — Gritou a menina de cabelos castanhos. 

 

— Já num era têmpo!! 

 

Hahaha! Pensei que ocê tava era morto garoto! — Gritou outro. 

 

— Já tava era pensano em te jogar da carroça, uai!! — Outro ainda exclamou.

 

"Mas, o que diabos...?!!"

 

Virei meu rosto de um lado para o outro e finalmente percebi minha situação. Eu estava cercado por um bando de marmanjos de meia-idade. Não apenas isso, mas também parecia que estava em alguma espécie de carro ou algo do tipo. 

 

Eles também falavam de uma maneira estranha. Eu conseguia entender, mas ainda sim, tinha certa dificuldade. 

 

— E né que ocê é um muleque de aço memo rapaz?! Êta, cumé bom ser jovem!! 

 

O homem de aparência mais velha continuava a falar e falar sem parar. Já eu não sabia para onde olhar e o que fazer. Estava deitado no chão no meio de vários desconhecidos e sendo levado pra seilá onde. Sequer sabia como tinha chegado naquela situação. 

 

Os seus olhares e seus risos incenssantes faziam-me suar frio e não conseguir parar de tremer. Não queria que eles percebessem isso. Não queria que aquilo acontecesse mais uma vez. Não, não... isso realmente não podia acontecer. 

 

— O quê ocê tá fazeno rapaz?! Tá ficano doido fio da peste?! 

 

Ugh... Ngh...

 

Tentei levantar meu torso de vez. Mas, a dor estava insuportável. Como se meus ossos estivessem perfurando minha carne. Ainda sim, tentava teimosamente me colocar de pé.

 

— Dêxe de forçar seu corpo, muleque desgramado! Cê quer morrer é?! 

 

— Ocê tem é que deitar, maluco! — disse um dos homens de meia-idade. Lembro que ele é era totalmente careca.

 

— E-Eu... estou b-bem... 

 

— Num tá não, vixe... — Murmurou um deles. Esse tinha um cabelo preto bem mal-cuidado. Também era cheio de pé-de-galinhas no canto dos olhos. 

 

Tap Tap

 

BAAAAM!!! 

 

— AI!  

 

De repente, alguém tinha me batido com algo na cabeça. Não doeu muito, mas foi o suficiente para chamar a minha atenção. Virei-me para a direção de onde veio a pancada e percebi que havia sido aquela garotinha. 

 

— P-por que você fez isso? Ficou louca? 

 

— Vá dormir!! Ocê têm que descansar!! 

 

— M-mas... eu...

 

Uhn... Snif...

 

— [...]

 

Foi quando notei algumas pequenas lágrimas no canto dos olhos daquela garotinha. Não sabia que ela era e provavelmente ela também não sabia nada sobre mim. Porém, naquele momento percebi que eu podia relaxar, não estava correndo risco algum. 

 

Mesmo sem me conhecer aquela tenra garota derramou lágrimas de preocupação por mim. Talvez fossem falsas, mas também talvez não fosse. Naquele instante eu resolvi acreditar nas lágrimas gentis daquela menina.

 

—...Tudo bem. Eu deito. 

 

—...Ahh! Aí sim!! — Exclamou a garotinha com um sorriso contagiante.

 

Eu decidi tentar manter a calma. Precisava colocar meus pensamentos em ordem. Tinha quase que 100% de certeza que não estava sofrendo qualquer risco de vida. Se eles fosse me fazer algum mal, eles provavelmente já teriam feito. 

 

Me perguntava do porquê de não ter os notado. Segundo Erich, um dos motivos de eu ter desenvolvido o meu Nill era exatamente por isso. Naquele momento, conseguia ser a energia deles. Mas, até um pouco tempo atrás esse não era o caso. 

 

"Será que é por que eu ainda não estava totalmente desperto? Ou então, devido aos meus machucados? De qualquer forma, eu preciso tirar nota disso..."

 

Estava meditando com meus olhos fechados, mas notava a agitação deles. Eles pareciam tentar murmurar para que eu não escutasse, provavelmente para não interromper o meu descanso. A intenção deles era boa, mas quase qualquer ruído acaba me irritando. E a curiosidade também não me deixava relaxar direito. 

 

—...Cumé... poss...ivel... 

 

—...Mule...que... tava... cobri...do... por... ne...ve...

 

—...Um... mila...gre... de... Yve...

 

Não conseguia entender exatamente sobre o que eles falavam. Claro, tinha uma coisa ou outra que era fácil de compreender, mas, era difícil conectar todas essas informações. Principalmente, com aquela dor de cabeça infernal. 

 

"Vamos voltar um pouco..."

 

Lembro de estar caminhando no meio de toda aquela densa neve. Já estava sem água e cansado da viagem anterior, então, estava sendo infernal pra mim. Mas, por alguma razão, não me lembrava como havia chegado naquele lugar. 

 

De qualquer forma, precisava adquirir informações. Por isso, mesmo não desejando fazer isso, sabia que teria que conversar com aqueles desconhecidos. 

 

O principal problema para mim, era tentar socializar com aqueles estranhos. Já tinha problemas o suficientes para me comunicar com outros e ainda por cima tinha que falar com aquelas pessoas que falavam nada com nada. Também me preocupava o fato deles apenas me ignorarem e me mandar voltar a dormir. 

 

Entretanto, amanhã podia ser tarde demais, então, resolvi tentar falar com a pessoa que para mim, era a mais — normal — daquele grupo. Meu alvo era aquela garotinha. 

 

***

 

Havia se passado algumas horas. Não sabia exatamente que horas eram, mas provavelmente, já era tarde visto que os homens já estavam dormindo. Estranhamente, a garota ainda estava acordada. Ela parecia estar fazendo alguma coisa, mas eu não queria assustá-la ou ser mal educado, por esta razão, decidi apenas não olhar diretamente para ela. 

 

Com o canto do meu olho, notei que ela tinha uma agulha em mãos. Ela também parecia cantarolar baixinho enquanto mexia seus pés para frente e para atrás como uma verdadeira criança. Ela parecia estar de bom-humor. 

 

"Ela está costurando?"

 

De qualquer maneira, eu tinha que chamar a atenção dela de alguma forma. Muito provavelmente, não demoraria para que ela também fosse se deitar, afinal, ela é uma criança. Já achava estranho o bastante ela não ter ido sido a primeira a fazer isso. 

 

Fazer algum barulho pra chamar a sua atenção podia acordar os outros e um fazer gestos poderia ser estranho para ela. Então, optei que uma abordagem direta seria o melhor a ser feito. 

 

—...Ei... 

 

Hã?

 

—...O que... você... está fazendo...? — Murmurei, evitando que os outros pudessem nos escutar. 

 

— Ah! É... nada!! — disse a garota, escondendo seja seilá o quê embaixo dela. — Não estou... fazendo nada...

 

— Entendi....

 

Seja lá o que ela estivesse fazendo ela não queria me contar. Insistir poderia ter um resultado ruim, devido a esse fator, achei que seria melhor mudar de assunto. 

 

—...Meu nome é... Iori. Satoru Iori, e o seu...?

 

— [...]

 

—... Shannah... 

 

—...É um nome... muito bonito... 

 

—...Obrigada... foi meu pai que me deu... esse nome... 

 

— Sério? E onde... ele está...? — Indaguei com curiosidade. Saber qual daqueles homens era o pai dessa garota poderia ser uma informação importante para mim. Eu não tinha visto ela chamar por ele até então. 

 

— [...]

 

— Oh...

 

Depois de pensar um pouco, era óbvio a resposta. E a reação de Shannah confirmou isso. Eu havia sido indelicado com ela. 

 

—...Me desculpa... eu não queria...

 

—...N-não não... está tudo bem sô... eu era muito pequena... 

 

Eu havia cometido um erro, como sempre. Isso sempre acontece quando tento agir como alguém sociável. Sempre acabou da mesma forma: machucando as pessoas. 

 

O meu primeiro pensamento foi o de desistir. Mas, acabei me lembrando de Erich e de todos os desafios que passei naquela floresta. Se eu tivesse desistido a cada erro, a cada tropeço, eu não teria conseguido passar por nada daquilo. Eu teria falhado. 

 

Talvez foram essas memórias que me ajudaram a tentar mais uma vez. 

 

—...Como vocês me encontraram...?

 

— Sobre isso...

 

— Nós te encontramos sô, um pouco depois do riacho congelado que fica em frente á floresta vazia. — Disse, uma voz atrás de mim. Era um dos homens de meia-idade, pelo jeito, nossa conversa havia os acordado. 

 

— Ocê tava era todinho encoberto por neve. Pensamos que você era uma raposa gigante! Hahahaha! 

 

— Nós ia era te dexar ali memo! Achavámos que tu tava era mortin da silva! Mas, Shannah insistiu em te levar conosco! — disse, o homem careca. 

 

Eu havia conseguido várias informações importantes. Olhando dessa forma, chutei que eu havia desmaiado de cansanço e acabei quase que encoberto pela neve, mas por sorte acabei sendo salvo por essas pessoas. 

 

— Por que você estavam passando por ali, por sinal? 

 

— Ora! Nós somos uma família de caçadores meu fio! Nossa vida é essa! — Exclamou, em alta voz. Era até mesmo possível ver seus dentes tortos e amarelados. 

 

— Caçadores? Vocês vivem disso?

 

— Cê tá com cera tampando seus ôuvido?! Indagou, o que parecia ser o tio de Shannah. — É claro que sim, rapaz! Raposas, pássaros, ursos... nossa vida é caçar! Desde míudin! Hahaha!! 

 

— Parece... excitante...

 

Todos pareciam querer participar daquela conversa animada. O que exigia bastante de mim, já que eu não era acostumado a falar com tantas pessoas de vez. 

 

— Cumé que tu foi pará naquele lugar, minino?! Se perdeu, foi?! 

 

—...É... vamos dizer que sim... 

 

— Cê tem que ter cuidado homi! Se não quiser ir duma dessa pá meior! — disse, o homem de cabelos desarrumados.

 

A garotinha parecia ter perdido a voz no meio de toda aquela multidão. Mas, então, ela disse: 

 

— Acho que...

 

Hã?!

 

— Se não fosse por sua capa ocê teria morrido. — exclamou, Shannah. — Ela foi o que te manteu vivo. 

 

— Minha... capa...

 

"..."

 

"Hehehe... você realmente cumpriu sua promessa... não é, velhote...?" 

 

— Ahh!! Que bom!! — Exclamou, Shannah. Com um sorriso deslumbrante.

 

— Hã?! O que foi? — Perguntei. Eles olhavam para mim como um bando de idiotas.

 

— O quê foi, garoto? Lembrô de algo feliz? 

 

— Porquê pergunta?

 

— É que é a primera vez que te vêmo sorrir, Iori! 

 

— [...]

 

— É. Lembrei. 

 

— Bem sô, parece que agora tá tudo bem! Mas, tá na hora da pestana! Daqui a pouco vai madrugar e pôdemo conversar amanhã! 

 

— Sim, titio. Eu já vou dormir.

 

Foi então que sentir o — carro — parar. Foi quando notei o barulho dos cavalos, e percebi que estava numa carroça. Todos seguindo a ordem do homem mais velho se rescotaram e começaram a fechar os olhos para descansar. 

 

— Boa noite! — Disseram, vez após vez, cada homem presente naquela carroça. 

 

Estava deitado, então, não podia ver muita coisa. Também já estava ficando com os olhos pesados. Talvez ainda não estivesse nem perto de estar recuperado e isso estava afetando o meu corpo. Claro, ainda tinha muitas dúvidas e perguntas a fazer. Mas, isso poderia esperar mais um pouco. 

 

— Boa noite.

 

Era hora de descansar um pouco.

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

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