Volume 1
Capítulo 29: O Feroz embate contra a Aranha das Neves
FUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUHHHHHHHHH...
A neve que outrora havia desaparecido voltou pouco a pouco a se mostrar. O vento gelado de inverno parecia fazer queimar minha pele nas partes desprotegidas.
Caminhar no meio daquela floresta branca não era fácil. A neve dificultava muito. Minhas botas não estavam nas melhores condições. Cada vez que pisava meus pés afundavam e ás vezes eu acabava escorregando. Aquelas botas pareciam não ser ideais para aquele clima.
Sem contar os próprios desafios da floresta: como pedaços de troncos e raízes escondidas na neve. Tinha tropeçado em um tronco algumas horas atrás e até agora estava doendo um pouco.
"Será que já estou perto?"
Já estava caminhando há algum tempo em direção ao leste. Praticamente, não tive qualquer pausas para fazer alguma refeição. Estava ansioso para entregar a carta e voltar para casa. Fiquei tão apreensivo que nem notei que já estava anoitecendo.
"Estou na metade..."
Erich me disse uma vez: — um herói de barriga vazia, é um herói fraco! Acho que foi em alguma de nossas muitas refeições...
"Hehehe... bem, não que eu seja um herói, no caso..."
De qualquer forma, decidi tirar algum tempo para comer. Havia guardado alguns pães velhos enrolados num pano, deixei-os guardado na bolsa que carregava.
Procurei algum lugar para sentar e fazer um pequeno lanche. Olhei ao redor e não enxerguei nem tronco por perto, também estava tudo cheio de neve, então, não seria uma boa ideia de qualquer maneira. Como não tinha muitas opções disponíveis, decidi apenas comer em pé com minhas costas encostadas em uma das árvores dali. Não era muito confortável, mas era o que tinha naquele momento. Pelo menos, a capa ajudava a manter o calor em minhas costas.
Depois de abrir a velha bolsa mais uma vez, aquele fedor horrível, mas nostálgico, saiu de novo.
— Blew! Dá nem vontade de comer...
"Ainda bem que os enrolei em um pano..."
Depois de desenrolá-los, me preparei para uma mordida. Eram quatro pequenos pães que pareciam bem velhos. O cheiro deles também não estava muito bom, mas também não estavam mofados. Acho que o pano não tinha feito muito bem o seu trabalho...
"Pensando bem, como o velhote conseguiu esses pães mesmos... como era o nome..."
"Acho que se chamam pães de cem anos... ou algo assim..."
Foi uma das poucas histórias que Erich me contou sobre seu passado heroico. Segundo o mesmo, enquanto ele visitava certa aldeia distante acompanhado de Holly; o chefe dessa aldeia como forma de agradecer seus serviços prestados em prol da comunidade entregou para ele — seis pães de cem anos — uma iguaria daquela região.
Erich e Holly obviamente aceitaram aquele presente generoso sem pensar duas vezes.
*ROOOOOOOOOOOONCCCCCC
Meu estômago pareceu implorar por um daqueles pães. Desesperado, peguei um deles e tentei arrancar um pedaço com meus dentes.
— Ai! Ai! Ai!
Infelizmente, eu não sabia que aqueles pães eram duros como pedra. Aquela mordida desesperada quase arrancou um dos meus caninos. Bem, fazia sentido... vai saber que idade tinha aquelas coisas...
"E agora?"
Já tinha provocado meu estômago, precisava realizar minha refeição. Porém, não havia frutas naquela estação fria. E também não havia trazido mais nada além daquelas pedras em formato de pães.
"Ei... e se...!!!"
Foi quando uma pequena ideia surgiu em minha mente. Quando pequeno — quando só tínhamos pães velhos para comer — minha mãe tostava os pães no fogo do fogão. A casca ficava crocante e tornava o pão bem mais comestível.
Minha primeira ideia seria tentar fazer uma fogueira, mas estava nevando o que impossibilitava isso. Então, sobrou a segunda opção: tentar fazer algum fogo com Nill.
O problema é que eu já havia tentado mais cedo no combate contra Erich e não havia dado certo — o ataque acabou explodindo. Entretanto, tentar mais uma vez não seria má ideia... além de que, acreditava que talvez tivesse algum engano naquilo tudo.
"Talvez eu tenha convertido muito Nill, e assim, o ataque tenha explodido."
Segurei o pão com os dedos da minha mão direita. E com a esquerda, preparei para usar o Nill. Rapidamente, consegui concentrar energia na palma da minha mão e comecei a tentar materializar a chama que imaginei. Notei que estava cada vez mais rápido nisso.
Quando a palma da minha mão formigou, sabia que estava na hora. Dessa vez, tentei colocar o menos de energia possível na conversão do Nill.
*Conse-
BUUUUUUUUM!
Ou era o que eu achava. Naquele dia, eu confirmei que não tinha qualquer aptidão com fogo.
A explosão foi bem menos forte no entanto. Mas, o meu pão de cem anos, infelizmente, não era á prova de explosões; por mais duro que fosse. As cinzas dele agora estavam caídas aos meus pés. Bom, pelo menos, meus dedos e luvas estavam intactas.
— Aff..... que beleza hein...
Agora só tinha três pães para me alimentar. Tive que forçar bastante e comer em pequenos pedaços para conseguir comer aquilo. Por sinal, o gosto deles eram horríveis! Parecia uma mistura de mofo com farinha velha.
—...Hehehe... se Erich estivesse aqui, ele com certeza diria: eu disse que durava cem anos, não que era gostoso...
— [...]
— Acho que é hora de ir...
Depois daquela refeição indigesta e mesmo no inverno rigoroso no meio daquele breu noturno continuei caminhando em passos lentos em direção ao meu destino.
***
"Está cada vez mais forte..."
Estava nevando cada vez mais forte. Se continuasse assim, teria que arrumar algum lugar para me abrigar.
Na verdade, parecia que a neve se tornava mais forte a cada passo que dava.
Não queria fazer isso, porque acreditava que já estava bem próximo do meu destino. Já estava caminhando por algumas horas e sequer tinha dormido. Então, provavelmente só faltava um pouco para sair da floresta.
"Que sono..."
Caminhar no meio de toda aquela neve sem quase nenhum intervalo era um desafio e tanto. Minhas pernas mais pareciam macarrão. O frio antes suportável, estava cada vez pior. Evitava puxar o ar frio, porque machucava meus pulmões.
Ainda sim, caminhava. Sem olhar para trás em nenhum momento, porque se o fizesse sabia que não suportaria e acabaria cedendo. Não conseguiria dar um passo sequer.
Por isso, continuava a mover minhas pernas para frente, mesmo que meu corpo não quisesse obedecer.
Enquanto caminhava coloquei minha mão direita numa árvore. Eu ia dar um pequeno intervalo para minhas pernas antes de seguir em frente. O problema é que quando fiz isso, minha mão não conseguia mais se soltar da árvore.
Tentava puxar com força, mas a minha mão ainda sim não se soltava da maldita árvore.
— Que merda é essa?!
Por curiosidade, olhei para minha mão mais de perto. Foi quando notei que havia algumas coisa estranha naquilo tudo. Junto da árvore havia alguns fios que mais pareciam uma teia de aranha e agora minha mão estava presa ali.
Mas, aquilo não fazia qualquer sentido para mim. Mesmo sendo uma teia de aranha ela não deveria conseguir imobilizar um ser humano. Além do mais eu confiava um pouco mais na minha força naquele momento.
"!!!"
Foi quando percebi que algo estava me observando atentamente. Foi como um reflexo. Assim como quando eu desviei daquelas flechas flamejantes e notei a sombra de tão longe.
Era um intenção assassina.
Quando virei para atrás não enxerguei nada de incomum. Mas, sabia que tinha algo estranho. Um sentimento angustiante de saber que se não agisse logo perderia minha vida. Rapidamente, concentrei meu Nill e fechei meus olhos... foi quando encontrei...
— ALI!
Em questão de segundos, em uma velocidade estrondosa, algo pulou na minha direção. Se não tivesse agido rápido naquele instante minha cabeça teria sido decepada.
BUUUUUUUUUUUUUUUUUUUMMMMMMMMM!
PLUFT! FUUUUUUUW!
— Ai... que dor...
Aquela reação inconsciente da minha parte acabou salvando minha vida. Porém, não tinha saído sem machucados. Devido a explosão, metade da árvore acabou caindo em cima de mim.
Tive que forçar meu corpo para conseguir sair. Era difícil devido ao peso da árvore, os machucados e toda aquela neve. No entanto, depois de algum esforço consegui me arrastar para fora.
—...Ghhh.... Nghh...
Para me safar, acabei causando um grande explosão. Como foi puramente reflexo, não consegui controlar a quantidade exata de Nill para a conversão.
Aquela explosão pareceu ser ainda mais poderosa da qual eu tinha usado contra Erich.
Tinha realizado a explosão com meu braço esquerdo. Além de machucado devido a queda da árvore, também ele estava formigando como louco. Eu sequer conseguia levantá-lo, como se ele estivesse dormente.
"Aquilo era..."
"...uma aranha?"
Não tinha conseguido a enxergar direito, mas, tinha quase certeza que estava correto. Isso explicaria a teia que tinha prendido meu braço. Entretanto, me perguntava se alguma aranha conseguiria sobreviver no meio de toda aquela neve.
Também me perguntava como não tinha percebido ela em lugar algum.
"Talvez, a neve tenha me atrapalhado?"
Realmente, a neve estava cada vez pior. Isso podia ter me atrapalhado em notá-la. Mas... algo ainda não estava certo para mim...
Aquela explosão tinha sido extremamente poderosa. Tão forte a ponto de derrubar uma árvore. Só que... aquela sensação de antes ainda não tinha desaparecido.
Sim, aquela sensação...
Como se uma faca estivesse a todo tempo, apontada para minha garganta.
"Ela... não morreu."
FUUUUUUUUUUUUUUUUUUUHHHHHHHHHHHHHHHHHH...
"..."
Meus olhos, agora atentos, procuravam por algo por toda floresta.
Atrás da árvore. Em um buraco na neve. Do lado daquela rocha...
...Nada.
Por mais que procurasse não encontrava nada. Porém, a — faca — não saía do meu pescoço. Ela estava ali; eu não podia enxergá-la, mas eu sabia que ela podia me enxergar muito bem.
— Aah... arf...
— Merda...
Eu sabia que tinha que pensar em como podia me safar daquela situação. Entretanto, era difícil fazer isso com sua vida em risco á todo momento.
Meu braço esquerdo estava inutilizável e tinha machucados por todo meu corpo. Além de que, tinha gastado muita energia no ataque anterior. Estava em uma situação ainda mais complicado do que na batalha contra Erich.
Eu também não podia tentar fugir, não tinha condições para sair correndo no meio de toda aquela neve. E se fizesse isso...
Eu morreria.
Por isso, não conseguia dar um passo além de onde estava.
"Calma... calma... eu preciso pensar um pouco..."
"Por que até agora ela não me atacou de novo? Se ela está me vendo, ela deve saber que eu sou uma presa fácil agora. Entretanto, parece que ela está apenas esperando uma abertura."
"Talvez, o meu ataque a tenha ferido um pouco? Isso faria total sentido... explicaria o motivo dela não ter me atacado até agora."
"Afinal, aquela explosão foi muito forte e ela levou o impacto diretamente."
Não tinha muito tempo para pensar. Tinha que agir o mais rápido possível. Aquela... coisa só parecia estar tomando um tempo para me atacar mais uma vez. A cada instante a ponta da lamina se aproximava do meu pescoço, tinha que agir.
Concentrei minha energia mais uma vez e procurei por ela...
"...nada."
Ela era uma hábil predadora que apagava os traços de sua energia. Assim, ela conseguia caçar suas vítimas sem que elas notassem sua presença.
Entretanto, eu duvidava que ela estava escondida atrás de uma das árvores. Isso porque...
"Ali..."
Uma das suas patas brancas estava caída no chão. Estava perto do local da explosão. Enxerguei ela porque ainda tinha algum resquício de Nill nela. Se fosse apenas uma, eu não poderia descartar a possibilidade, porém, eu duvidava que ela havia perdido apenas uma de suas pernas.
Era uma aposta. Mas, era a única coisa onde podia me agarrar.
"1..."
"2..."
"3..."
"AGORA!!"
Usando mais uma vez o Nill para conseguir me mover, corri alguns metros na neve. Precisava atrair ela até mim. Corri em direção ao leste — a direção onde já estava indo — isso porquê, sabia que ela não podia estar ali, visto que a explosão deveria a ter jogado para o lado oposto.
Claro, se ela estava escondida embaixo da neve, tinha alguma chance dela conseguir se movimentar por de baixo dela. Se ela conseguisse, estaria morto. Porém, se ficasse parado também morreria. Além disso, decidi acreditar na minha sorte e na minha convicção de que ela estava machucada demais para isso.
KYYYYYYYAAAAAAAAA!!
Não demorou pra que eu escutasse o grito dela. Ela estava furiosa!
Em um salto, mais uma vez, ela se jogou em minha direção. Agora, conseguia sentir o Nill dela perfeitamente.
FIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIWWWWWWWWWWW
A aranha muito perspicaz, tentou imobilizar meu braço direito usando sua teia. Eu sabia que ela faria isso. Ela não repetiria a mesma estratégia duas vezes.
A velocidade da teia dela era assustadora. Ainda sim, com a minha mão direita consegui segurar a teia dela com a palma da minha mão. Para que não grudasse envolvi a mesma com meu Nill.
— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!
Com minha mão direita, puxei o fio junto com a aranha. Todo meu treino de força estava me ajudando naquele momento. Devido as árvores no caminho, o fio se embolou junto com a aranha. Fazendo com que ela se prendesse em uma das árvores.
Eu sabia que era uma questão de tempo até ela se soltar, por isso, usei minhas últimas forças para uma última arrancada na neve.
O fio me conectava com a aranha, agora, só precisava dar o golpe final
— MORRA MALDITA!!!
BUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUMMMMMMMM!!!
***
Parece que eu tinha desmaiado mais uma vez. Tive sorte que foi por pouco tempo, se não, poderia ter congelado.
Todo meu corpo doía muito. Ainda sim, não sei como reunia forças para me colocar de pé.
Na verdade, talvez eu sabia...
"Velhote..."
Os restos da aranha estavam na minha frente. Talvez, eu vomitasse em uma situação normal. Mas, por alguma razão, não sentia nada naquele momento.
Agora, tanto meu braço esquerdo quanto o direito estavam em péssimas condições. Isso era bem ruim, porque dificultaria para mim carregar a minha bolsa.
—...Por sinal, cadê... a bolsa...
Não demorei para encontrá-la. Ela estava perto dos destroços da aranha.
Caminhei até ela e me abaixei para conferir se estava tudo ali.
— [...]
— Falta uma coisa...
Tudo estava ali, tirando o cristal. Ele parecia bem valioso, então, não queria perdê-lo de jeito nenhum.
Foi quando vi algo brilhando no meio do sangue da aranha. Era ele.
— Ufa... que bom...
Com cuidado, peguei o cristal e o levantei para cima. Mesmo depois de estar banhado no sangue daquela coisa, ele ainda se manteve incolor.
— Que negócio estranho...
Para ver o cristal acabei levantando ele acima da minha cabeça. Ele não tinha mudado sua aparência, mas estava escorregadio. Por conta de um deslize, ele acabou escapando da minha mão e caindo na minha boca.
— Ghumm...
—... Cof! Cof! N-Não acredito...
Aquele cristal era tão pequeno que acabei o engolindo, como uma pílula. Na hora, imaginei a quantidade de dinheiro que acabei perdendo por causa daquele erro.
Eu nem podia tentar vomitar, porque já estava fraco demais.
— QUE MERDA!
— [...]
— Tsc... hora de ir...
Demorei para pegar minhas coisas, foi um sacrifício arrumar um jeito de carregar aquela bolsa. Coloquei ela no braço esquerdo que já estava minimamente melhor que o direito.
Com isso, a passos lentos no meio de todo aquele vazio branco, caminhei em direção ao meu destino.
"Espera aí, olha o tamanho daquela coisa. Isso não pode ser normal..."
Claro, já tinha visto diferenças entre esse e meu antigo mundo. Pássaros muito maiores, animais esquisitos com cores diferentes... mas ainda sim, uma pulga se manteve atrás da minha orelha...
"Então, talvez... aquele monstro que vi naquela noite..."
"..."
"Não... deixa pra lá..."
Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários