O Pior Herói Brasileira

Autor(a): Nunu


Volume 1

Capítulo 23: Algumas coisas não precisam ser ditas

Estava tão quente... todo meu corpo estava quente...

Para algumas pessoas, isso poderia ser um tanto desconfortável, mas não pra mim. Estava muito cansado nos últimos dias, então seria justo eu descansar um pouquinho. Pelo menos, tinha essa sensação na época. O calor não era um problema pra mim, na verdade, isso me deixava ainda mais preguiçoso por alguma razão.

Entretanto, por estar tão confortável, estava em dúvida se devia abrir ou não meus olhos. Não sabia que horas eram e seria um problema preocupar Erich. Mas, estava tão agradável e eu me sentia tão bem, que era difícil arrumar coragem pra fazer qualquer coisa. Sempre que estou tão confortável, é difícil arrumar coragem pra sair da — cama — lembro que Hana tinha que se esforçar bastante pra me fazer levantar. E ainda sim, algumas vezes não conseguia.

“Essa não!”

Em um piscar de olhos, me pus de pé. Quase como um susto! Havia me esquecido que estava em um treinamento. Estava tão cansado que acabei adormecendo e não notei isso a tempo. Algumas coisas vieram e minha mente: “Eu consegui?” “Será que passei pelo treinamento”. Era difícil ter certeza, quando a única coisa que fiz foi dormir.

“Mas, e aquela sensação esquisita? O que diabos foi aquilo?”

Aquele sentimento estranho não saía de minha cabeça. Era como se eu conseguisse sentir tudo a minha volta. Aquilo havia durado pouco tempo, mas foi o suficiente, para me fazer duvidar de minha vitória. A única maneira de conseguir afastar aqueles pensamentos seria consultando Erich.

— Velho-

Porém, quando fui chamar por Erich, notei que o mesmo estava deitado com o corpo apoiado em uma árvore. Ele parecia dormir profundamente. Seria um problema acordá-lo... ele tinha se esforçado bastante ontem. Muito provavelmente, mais do que seu corpo podia suportar. Então, decidi apenas esperar Erich acordar.

Me assustei quando percebi que ele estava sem a parte de cima de sua vestimenta. Estava ventando bastante naquela época do ano, isso podia ser preocupante. Ele já não estava tão bem naqueles dias. Eu não sou desse mundo e passei os primeiros meses desde o início naquela floresta. Se ele passasse mal ou coisa do tipo, eu não saberia como levar ele a um médico ou coisa do tipo.

A única forma, talvez, seria levar ele pra vila de Yve. Eu não teria onde botar minha cara, mas se eu implorasse talvez ele ajudassem Erich. Não... eles com certeza ajudariam...

“Ele passou a noite inteira assim?”

Procurei desesperado pela roupa dele e notei que era a mesma que estava onde eu havia descansado. Demorei a acreditar que ele tinha feito aquilo... fiquei um pouco feliz, mas ele devia se preocupar mais com ele naquele momento. Aquele velho era imprevisível.

Sem demorar, peguei a sua roupa e o cobri. Também, tirei a parte de cima da minha vestimenta e coloquei em cima dele. Não queria que o velhote pega-se uma gripe ou resfriado. Ele já estava fraco o suficiente, isso poderia ser bastante problemático.

Quando coloquei minhas vestes em seu corpo, notei que sua respiração era lenta. Mas, ele parecia bem. Estava um pouco preocupado com ele, mas não queria despertá-lo. Para não assustá-lo, apenas optei por esperar o mesmo acordar.

Acho que tinha se passado uma hora quando Erich deu seus primeiros sinais de que iria despertar. Ele se mexeu um pouco e deu um pequenos gemidos antes de abrir seus olhos. Erich parecia um pouco perdido visto que havia acabado de acordar.

— Bom dia, velhote! Dormiu bem?

—...Io...ri...

Sua voz estava bastante rouca. Na época, fiquei um pouco perturbado com aquilo. Mas, vejo hoje, que provavelmente deve ter sido uma consequência dele ter adormecido sem partes da roupa. O vento frio noturno deve ter resultado naquilo. Por isso, eu ficava tão preocupado com ele. Erich, ás vezes, tomava decisões precipitadas. Claro, eu valorizava o seu motivo, mas isso não me fazia me preocupar menos com ele.

— Tá tudo bem com sua garganta, velhote? Você não pegou uma gripe ou coisa do tipo, né?!

— [...]

—...Tudo... mas, deixe isso... pra lá...

Erich me surpreendeu quando tentou ficar de pé. Ele pareceu ter que se esforçar bastante para fazer isso. Seus rosto já velho e cheio de rugas ficou tenso. Seu corpo aparentou se contorcer de dor. Me pus de pé para tentar ajudá-lo, mas aquela cena me fez ficar paralisado. Não conseguia mover um centímetro sequer.

Com esforço, Erich caminhou até mim. As roupas que estavam jogadas em cima de seu corpo como uma — coberta — caíram no chão. Naquele momento, seus passos eram a única coisa que se podia escutar devido ao barulho da grama e das folhas secas de outono. Haviam várias delas no chão.

Quando chegou na minha frente, percebi que sua respiração agora, estava incessante. Talvez, Erich tivesse piorado. Estava bastante nervoso quanto isso. Naquela situação, seria melhor levá-lo pra casa logo.

Havia uma pequena rocha. Erich, então, subiu nela. Como Erich tem pés pequenos ele não pareceu ter problemas. Entretanto, ele começou a cambalear, isso me assustou bastante. Mas, quando fui socorre-lo, ele colocou sua mão em meu peito, como se dissesse que estava tudo bem. Ele queria me dizer alguma coisa.

Erich havia dado tudo de si para se colocar em minha frente. Seria vergonhoso não escutar as palavras que ele tanto queria me dizer. Por mais inseguro que me sentisse, por mais medo que tivesse...

— Iori.

— V-Velhote...

— Você conseguiu, parabéns! — Erich me surpreendeu mais uma vez. Ternamente, com a pouca força que ainda lhe restava, ele abraçou o meu corpo. O mesmo pareceu ficar na ponta dos pés, apenas para isso. Ele parecia tão frágil, que se eu o largasse, ele com certeza cairia. Erich sempre foi um homem de poucas palavras, talvez por que tenha sido influenciado por seu pai a ser assim. Mas, momentos como aquele tornavam isso irrelevantes, porque sabia que aquela era uma forma dele dizer: eu te amo.

— Ve-Velhote... eu co-consegui...

Era difícil pra mim formular mais palavras do que aquelas. O nó na garganta... as lágrimas que não paravam de cair... a dor em meu peito...

Mas, isso era irrelevante. Palavras eram desnecessárias. Porque eu, o abracei ainda mais forte e torci para que aquele momento se tornasse infinito.

Palavras não eram precisas o suficientes. Não, pelo menos, para que Erich soubesse o quanto ele era importante para mim. Para que ele descobrisse o significado daquele abraço...

Eu te amo.

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários



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