O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 1

Capítulo 198: Aberração Nuclear

Arqueiros disparavam suas flechas, lanceiros jogavam suas lanças, os que não podiam atacar de longe mandavam disparos de energia ou de suas Habilidades Inatas, mas nada era capaz de parar a baleia mutante.

A carne da criatura estourou ao ser atingida por alguns dos ataques, e pedaços caíram nas águas de sangue fervente, ainda mais vermelhas com os ferimentos da criatura, que logo se fecharam.

— O que é aquilo? Uma espécie de boss? — questionava-se um dos membros da Academia de Batalha Ziz, que já estava cansado de tanto sofrer contra aquele monstro.

Os espinhos nas costas da Baleia Mutante brilharam em vermelho, e a criatura submergiu nas águas, anunciando que a ofensiva estava, então, nas mãos dela.

— Todos, afastassem! — orientou um rapaz, quando um jato de radiação vermelha eclodiu do oceano e ameaçou cada um dos duos que sobrevoavam aquelas águas.

A energia escarlate zuniu ondulatória pelos tímpanos dos ouvintes, movendo-se tão rápido de um lado para outro que alguns duos foram pegos no rastro da morte, uns pelo ataque em cheio; outros de raspão, sentenciados pela radiação que se espalhou pelos seus corpos.

Quando o ataque cessou, muitos perderam a voz e arregalaram os olhos; onde estavam Klaus e Eirin, Samantha e Enzo? Quem era o louco que queria que fossem justo eles a dar conta daquela coisa?

Uma regeneração absurda. Um poder ofensivo que poderia condenar a vida de alguém, mesmo que nem acertasse em cheio. Em um portal padrão, aquilo seria, com toda certeza, um boss de Rank S.

Rugindo, a criatura saltou para fora d’água; debatendo-se, até o ar agrediu os duos ao redor; chocando-se de volta no oceano, as águas escaldantes respingaram nos corpos humanos e queimaram as suas carnes.

Aqueles que podiam gritaram; os que tiveram suas bocas e gargantas feridas, mal podiam fazer o mesmo; mais um salto daquela criatura, todos morreriam.

— Recuem para o porto! — orientou alguém. — Deixem essa coisa vir atrás da gente! — Atuariam como iscas vivas. — Vamos levar ela até o Enzo e a Samantha!

Seguindo a orientação, todos recuaram, ao menos os que não foram obrigados a ter que lidar com outros monstros menores pelo caminho; de qualquer forma, o de nível boss mordeu a isca e os perseguiu com afinco e desejo por destruição.

“Estamos chegando! Estamos chegando!”, pensavam, próximos ao porto, quando ouviram um som familiar soar atrás deles, um eco ondulatório, o anúncio do brilho dos espinhos dorsais da criatura, a iminência de um Sopro Nuclear.

À beira da costa, a baleia mutante disparou a rajada da radiação carmesim, arrasando o que encontrou de restos de embarcações em seu trajeto, monstros e duos despercebidos, casas e construções.

Pela primeira vez, os membros da Academia de Batalha Ziz observaram o final do Sopro Nuclear atingir algo sólido, algo diferente das nuvens ou das águas.

Com uma compressão e descompressão, com um cogumelo de destruição que alcançou a altura das nuvens, o ruído estrondoso da morte, o vácuo da vida, aquela baleia mutante bateu o recorde de sangue da cidade de Stormhold.

“Estamos acabados.”

Em glória, a criatura saltou das águas, traçando um arco com o líquido vermelho que arrastou consigo do oceano e chocou-se contra o chão sólido do porto.

O solo tremeu com o impacto das inúmeras toneladas do monstro, e os destroços acabaram de cair, vítimas de um terremoto artificial, porém, ainda, violento.

Sem água para se mover livremente, cercada de poeira, a criatura se debateu e alçou sua voz ao alto, em gemidos de agonia, o que levou os duos que presenciavam a cena a se perguntarem o porquê do monstro ter ido para terra firme.

Um tiro no pé?

Uma ação irracional?

Jamais.

Vendo o que poderia ser uma chance de ouro, munidos de suas armas e Gemas Espectrais, os duos, mesmo os que ainda saíam debaixo dos escombros, avançaram rumo à glória e, com êxito, feriram a criatura, em seu estado mais indefeso.

— Continuem sem parar!

Ferimentos.

Regeneração.

Ferimentos.

Regeneração.

O ciclo se repetia, como se o mais persistente fosse sair vencedor, ou era o que parecia até que a baleia liberou o ar quente do seu corpo e começou a murchar.

A cortina vermelha engoliu os algozes próximos e derreteu a pele deles. Quando todos se deram conta do perigo ao qual estavam sujeitos, já era tarde demais.

Liberando uma grande quantidade de energia radioativa, as barbatanas da criatura começaram a assumir a forma de braços reptilianos com garras deformadas.

Os espinhos dorsais cresceram e se tornaram mais robustos, ao passo que toda a estrutura corporal do monstro se modificava com violência, esticando ossos, músculos e pele, agredindo seus órgãos, crescendo uma cauda e pernas.

Uma colossal explosão envolveu o lugar, engoliu os duos da Academia de Batalha e contaminou as redondezas com uma radiação que, ainda que os monstros fossem erradicados, Stormhold jamais se tornaria habitável de novo.

Às pressas, Enzo se enrolava com a camisa em pleno ar, enquanto a vestia; ao lado dele, Samantha mordia os lábios, com o semblante focado na catástrofe à diante.

Como ninguém conseguia contatar Klaus e Eirin, por estarem no Espaço Dimensional do Luke, e Trevor e Sophie estavam dentro do portal, o duo Top 4 Rank S era o mais qualificado para lidar com a aberração.

“Resistam até a gente chegar”, suplicava a garota. “Por favor”. A luminescência da metamorfose do nível boss alcançou a visão do duo, além de uma onda de destruição que obrigou os dois a se protegerem com escudos de energia.

— O que foi isso agora? — perguntava-se o rapaz enquanto um banco de pedra colidia com o escudo dele, e Samantha ficava com o coração na mão.

— Meu Deus, não… — Ainda um tanto distante, a moça contemplou uma figura colossal se erguer sobre duas patas; sua altura ultrapassava de longe a das construções de Stormhold, mesmo quando ainda estavam de pé. — Mas que tipo de… aberração é aquela?

Dentes afiados, ainda que banguela; uma cabeça em formato de cogumelo nuclear; um corpo deformado — as costelas expostas — e uma cauda reptiliana que gritava de agonia e dor.

Gritava?

Sim, a cauda da aberração gritava.

Já mais próximos do seu alvo, Enzo e Samantha se viram incrédulos ao que castigava sua visão: atraídos para a cauda da criatura durante a metamorfose, os duos não morreram na explosão, por outro lado, se fundiram à Aberração Nuclear.

Com as mãos na boca, Samantha segurou a vontade de vomitar. A cauda da criatura bateu no chão e esmagou alguns dos que estavam presos a ela, pondo um aparente fim ao seu sofrimento, quando, então, eles começaram a se regenerar, afinal faziam parte do corpo da criatura dali pra frente.

A Aberração Nuclear deu o seu primeiro passo em terra firme, e o chão tremeu, o que levou a atenção dos espectadores para criaturas menores lá embaixo: fundidos aos monstros das redondezas, outros duos mantinham suas consciências.

— Sophie… — Enquanto alguns dos seus parceiros os acompanhavam no céu e se chocavam com o que viam, igualmente à garota, Samantha entrou em contato com a usuária de poder temporal o quanto antes. — A gente… precisa da sua ajuda.

A Top 2 Rank S demorou para responder.

— A gente precisa que você volte o tempo de alguns de nós! — Ainda sem resposta, Samantha gritou: — Sophie!

— Desculpa. — Enfim a outra deu sinal de vida, só que com um tom de lástima em sua voz. — Acho que eu não consigo mais manipular o tempo. — Pausou um pouco para desviar de um ataque. — Eu estou com um problema agora.

— Nós é que estamos com um problema aqui! — Quando Samantha estava para gritar ainda mais, Enzo colocou uma mão no ombro dela, cabisbaixo. — Mas…

— Eu sei. — Era duro reconhecer, mas aquele era um risco que todos assumiam ao ingressarem em uma Academia de Batalha. — Me perdoe por ter que tomar essa decisão, Mantha.

— Hã? — Enzo nem terminou de falar, mas ela já podia imaginar o que iria sair da boca dele. — Cê só pode tá brincando…

— Não estou. — Manteve-se cabisbaixo.

— São os nossos amigos! — Apontou para as pessoas fundidas aos monstros, que se arrastavam miseravelmente como zumbis.

Em agonia, gritavam, choravam, lamentavam-se; ansiavam por uma libertação, mesmo que a paz viesse por meio da intenção de Enzo.

— Mantenham distância da área contaminada — orientou o rapaz. — E os arqueiros restantes… — Virou o rosto em direção oposta ao da parceira, que o encarava com dor. — Finalizem a tortura dos que foram fundidos aos monstros.

Descrentes quanto ao que acabaram de ouvir, os duos fitaram o lanceiro, que ergueu sua arma, estralando raios azuis que subiram até às nuvens e chamaram a atenção da Aberração Nuclear.

Os espinhos dorsais brilharam em vermelho e, em oposição ao azul do humano, o monstro inflou seus pulmões, com a radiação queimando no fundo da sua garganta aberta, para o alto.

— Matar essa coisa será o meu pedido de perdão para vocês, meus companheiros. — Os raios de energia, que se espalharam como raízes, se arranjaram em um feixe perfeito e, então… — Esplendor Divino!

Mais veloz, Enzo apontou seu braço e alcançou a cabeça de cogumelo da criatura um pouco antes do Sopro Nuclear ser liberado; o choque de poderes fez o monstro entortar o pescoço para o lado.

O encontro de eletricidade e radiação estourou, fazendo a Aberração Nuclear recuar um passo para trás, enquanto o humano a encarava fixamente e via a sua mandíbula destruída, pingando sangue, se regenerar até a perfeição horrenda.

— Eu irei matá-lo — reforçou o lanceiro, sem tirar seu foco do alvo; um gosto amargo na boca. — Com certeza, irei.


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