O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 3 – Arco 1

Capítulo 196: Oceano Invertido

Flutuando sobre as águas de sangue do Oceano Índigo, Klaus e Eirin fitavam o duo Top 2 Rank S da academia traidora, que os encaravam sem indícios de guarda baixa.

— Olha, se vocês se fizerem de sonsos, a gente pode ir embora sem matar ninguém — sugeriu Milene. — Que tal? É bom, né?

— Fora de cogitação. — Apontando a lança em chamas crepitantes para a moça majin, Klaus sabia que tinha um dever a cumprir como membro de uma Academia de Batalha. — Vocês vão matar muito mais, se saírem vivos daqui.

Luke cerrou os dentes e materializou o arco em sua mão direita; apertou com força, já pondo a mira em cima do lanceiro de fogo da Academia de Batalha Ziz.

— É melhor parar de apontar essa arma pra minha irmã. — Com uma flecha de água escura mirando na testa de Klaus, o majin estava para disparar. — Entendeu?

Enquanto o clima esquentava entre os garotos, Milene levou as mãos para as costas e se inclinou para a frente.

— Nossa, nossa, como vocês são ingratos — brincou a menina. — A gente ainda vai matar um montão, só que agora vamos começar por vocês dois, entende?

Klaus soltou o ar dos seus pulmões, devagar, enquanto as chamas amarelas em sua lança começavam a adquirir uma coloração dourada, e a atmosfera ao redor de Eirin esfriava, ameaçando congelar a flecha de água de Luke assim que ela se despedisse do arco negro.

— Veste… — De um momento para outro, Klaus desviou seu foco para a eclosão de uma imensa criatura, semelhante a uma baleia com espinhos saindo da sua coluna vertebral, que saltou das águas e tentou abocanhar os quatro, sem distinção.

Dispersos, os adversários tiveram seus tímpanos afligidos pela voz intensa da criatura de corpo avermelhado, como se não tivesse pele cobrindo a carne viva.

A criatura rodopiou no ar, quase pegando Eirin com a rajada de vento de uma das suas barbatanas, até que voltou a colidir com as águas ferventes do oceano.

— Que bicho era aquele? — questionou-se a Princesa do Gelo. — A gente tá bem alto.

Independente da altura em que os quatro se encontravam, um jato de radiação vermelha avançou contra eles, vindo de onde a baleia mutante havia caído.

— Você era pra tá do nosso lado, poxa! — praguejou Milene, aproximando-se do irmão, enquanto o ataque do monstro fazia um buraco nas nuvens. — Desgraçado.

A majin criou algumas estacas de aço para atacar a criatura aquática, entretanto, o irmão segurou o braço dela; nadando um pouco mais raso, os espinhos nas costas do monstro mostravam que ele estava se afastando, rumo ao porto de Stormhold.

— O nosso desafio está bem aqui. — De olho nas armaduras leves que surgiam nos corpos dos seus adversários, Luke franziu a testa frente à elevação do poder Divino de Klaus e Eirin. — Um desafio daqueles.

Pela experiência adquirida no Campeonato Sojourner, qualquer um ali sabia o quão problemático e forte o outro poderia ser.

Tratando-se de uma luta até a morte, demorar demais para ativar as Vestes Divinas poderia custar muito caro.

— Sacrifício Sangrento! — Fazendo o seu sangue se fundir à sua Energia Demoníaca, Luke não estava disposto a receber hit kill naquela luta. — Eu vou terminar o que aquele inútil do Kaiser deixou pela metade.

— Luke… — Em condições normais, seria sensato guardar o Sacrifício Sangrento para curar ferimentos mortais em um instante, mas aquela estava longe de ser uma condição normal. — Entendo…

Cabisbaixa, Milene lamentou pelos meses de vida que o irmão estava abrindo mão, e por falar em mão, o jovem majin levantou a dele, fazendo as águas escaldantes do Oceano Índigo subirem até os adversários, na forma de espinhos perfurantes.

Por bem ou por mal, os espinhos de água vermelha foram congelados ou evaporados quando Klaus e Eirin reagiram rápido e flanquearam o majin, um de cada lado.

Entre fogo e gelo, Luke optou pelo caminho quente, bloqueando a investida da lança de Klaus com o seu arco, o que abalou o oceano abaixo e, infelizmente, deixou suas costas vulneráveis para Eirin.

— Sai daqui! — Milene se pôs no caminho da algoz do seu irmão, mas, no encontro entre as espadas delas, a majin foi jogada contra as costas do parente. — Argh!

Sem o Sacrifício Sangrento, a diferença de força entre as duas era inevitável, ainda assim, ser arremessada sem oferecer qualquer resistência já era demais.

Ainda não ofensiva, Eirin prosseguiu com uma investida perfurante, quando, mesmo à média distância, apontou a espada com força na direção da majin, e a lâmina da arma se prolongou rapidamente com uma extensão aguda de gelo puro.

— Huh?! — Milene reagiu rápido e criou alguns obstáculos de metal, que o gelo de Eirin foi feliz em perfurar com facilidade. — Nem ferrand…. — Parar um gelo do zero absoluto, e ainda por cima gerado a partir de poder divino, foi ingênuo. — Ah!

Tendo a cintura puxada pelo irmão, a majin saiu ilesa da ameaça, apesar do susto e de um grunhido inusitado de Luke, acompanhado por um chiado e cheiro de carne sendo tostada.

O rapaz se virou logo, ainda com a irmã no braço, e puxou a corda e uma flecha do seu arco, com os dentes, e disparou o projétil para cima do lanceiro, que foi protegido por um escudo de gelo translúcido.

— Tsc! — Aquela garota… O gelo do zero absoluto poderia ser mais do que duro, porém deveria ser frágil e quebradiço, já que perdia as propriedades de deformação elástica, mas aquela garota… — Saco.

Com o poder divino, Eirin cobria a única fraqueza que o gelo em zero absoluto poderia ter, além de manter a capacidade de congelar os inimigos com os seus ataques, então seriam Luke e Milene a terem seus corpos frágeis e quebradiços.

— Nada mal, heim? — O majin ergueu o seu arco para o céu, quando a irmã sentiu a mão dela melada com o sangue das costas dele, a origem daquele cheiro de queimado, mas a garota não teve tempo de comentar algo. — Agora sumam!

Misturando a sua água corrompida com as águas de sangue escaldante do Oceano Índigo, Luke formou uma grande esfera vermelha e negra acima da sua cabeça.

— Sem problemas. — Com apenas um movimento de mão, Eirin envolveu a esfera de água do adversário com ar frio, o qual foi puxado em espiral para o interior da esfera no momento em que ela passou a girar freneticamente. — Hã?!

Como a rotação de uma estrela imponente, a esfera de Luke começou a puxar tudo em sua direção, fosse a água do oceano, os monstros, as pessoas próximas ou até mesmo Eirin, que se abraçou com Klaus.

— O que acha desta vez, cabeleira rosa? — Uma vez em posse do calor das águas de sangue e reforçada com o poder demoníaco, Eirin teria que se esforçar mais para congelar aquela técnica. — Calma, que a gente ainda tá só no começo, heim?

De estrela para metralhadora, a esfera de água disparou gotas perfurantes em alta velocidade, sem alvo certo, já que qualquer coisa dentro da sua área de alcance foi furada de cima a baixo, sem exceções.

— Argh! — Criando escudos de energia para barrar a investida inimiga, Klaus gastou esforço à toa; cada escudo era transpassado como se nem estivesse ali. — Esses majins… sempre dão trabalho!

Pondo sua lança logo à frente, girando como uma hélice, o nefilim teve mais sucesso em bloquear os projéteis do inimigo, embora o seu braço tenha se movido um pouco mais lento que o normal.

— Ur-Urgh! — Eirin se engasgou com o sangue em sua garganta, a qual foi alvo de um dos disparos. “Arde… bastante.” Energia Demoníaca, já havia um tempo que não sentia aquele poder maldito afligindo o seu corpo, por cima das runas.

Os ferimentos da garota começaram a se fechar; apesar de ainda sentir a dor, a regeneração potente das runas continuava a se esforçar para curar os vários furos espalhados pelo corpo dela.

“Se não fosse pela proteção das Vestes Divinas…” A moça interrompeu os pensamentos negativos, eles ainda estavam vivos, era isso o que importava.

— Acho que prolongar essa luta em cima de um oceano é bem ruim — comentou Klaus, enquanto os projéteis zuniam em acompanhamento ao rodopio constante da sua lança e rasgavam o ar à volta. — O que me diz, mademoiselle? Vamos acabar com a festa daquele manipulador de água?

Eirin observou o seu cavalheiro por um instante; captou a intenção maligna por trás do sorriso maroto dele e sorriu de volta; mas, na contramão das expectativas dos dois, os disparos do Luke cessaram.

O espaço ao redor tremulou, e o oceano que se encontrava abaixo estava, então, sobre as suas cabeças, porém sem o aspecto vermelho, assemelhando-se mais a uma poça de podridão demoníaca.

— Espaço Dimensional: — proclamou Luke, enquanto abaixava sua mão; da esfera de água, apenas uma fração minúscula restava após tantos disparos. — Oceano Invertido, Águas Etéreas!

“Droga”, lamentou-se Klaus, mordendo o lábio inferior. “Eu demorei demais, fazendo cena”. Ainda assim, tentou compensar ao arremessar a sua lança à toda velocidade contra a cabeça do dono daquela dimensão de bolso, entretanto…

A lança parou de repente, em pleno ar, a um triz de alcançar o seu objetivo, quando, então, derreteu como cera no sol quente.

— Estão se achando demais pra ficar me atacando com metais. — Abraçada ao irmão, Milene mostrou a língua para Klaus. — Essa é a minha área, dãã!

— Esqueceram de te ensinar bons modos. — Juntando as mãos, para simular um ataque de fogo, o nefilim proclamou: — Espaço Dimen…! — De um instante para outro, Klaus e Eirin foram ao chão com uma dor de cabeça latejante os afligindo.

— Você já deve saber o que o Oceano Invertido faz, não é? — questionou o majin. — Aqui é o seu cemitério.

Um espaço onde Luke poderia controlar a água presente nos corpos dos seus adversários e, para a infelicidade das vítimas, o corpo humano era composto por mais de 70% daquela substância.

— Desidratem-se até a morte. — Apontando um dedo para as cabeças dos adversários que mal raciocinavam, dada a enxaqueca constante, o majin fez o favor de acabar com aquele tormento, extraindo toda a água dos cérebros deles, mais de 90% do órgão. — Eu disse que eu ia concluir a tarefa do maldito do Kaiser.

Caídos sem reação, secos até a pele, murchos como balões vazios, a água extraída do corpo de Klaus e Eirin subiu até o Oceano Invertido e se misturou à podridão obscura das vidas ceifadas antes deles.


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