O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 6

Capítulo 59: À Espera do Retorno

— Que tenha ficado bom dessa vez — disse Valentina, enquanto retirava uma pequena fatia do bolo que acabara de preparar.

Sua ansiedade era tamanha que mal esperou o bolo esfriar. Queria provar dele o quanto antes.

A massa quente era recheada com cherimoia, uma frutinha conhecida pelo inigualável sabor adocicado, e ainda estava soltando um pouco de fumaça.

Levou o garfo com o doce alimento à boca e…

Ai! Ai! — Como esperado, lamentou pela língua queimada. — Quente! Quente!

Pegou alguns pedaços menores com o garfo e se esforçou um pouco para comer sem se queimar ainda mais. Pelo menos, o bolo ficou gostoso.

— Ainda não é bom o suficiente. — Já perdera a conta de quantos bolos fizera, mas o objetivo almejado continuava a se mostrar distante.

— Praticando a essa hora da noite? — A voz de Andrew soou desde a entrada da cozinha.

O rapaz que acabara de chegar observava, parado em pé na porta, a busca dela pelo bolo perfeito.

Uhum! — disse, pegando mais um pedaço com o garfo e oferecendo a ele. — Quer um pouco?

— Eu sei que ela vai gostar daquilo que você fizer. — Foi preciso em sua afirmação, ao passo que se aproximava da moça.

A verdade era que Valentina já estava a dias treinando para fazer um bolo digno de celebrar o retorno da sua amiga.

Após um longo ano separadas, ela sentia que tinha que oferecer algo especial.

Andrew a observou por todo esse tempo durante as suas "falhas" e, nesse momento, estava a ponto de provar de mais uma delas.

No entanto, em vez de pegar o garfo que a moça segurava, ele usou a ponta do polegar para limpar o resquício do recheio que estava no canto dos lábios dela.

Ao levar o dedo até a boca e provar o recheio, disse: — É, esse estava melhor do que os outros.

A garota virou o rosto rosado para o lado e respondeu, um tanto sem jeito: — Va-Valeu!

Já o rapaz se preparou para sair e voltar para o seu quarto. "Mestre, isso é mais difícil do que parece". Mais do que a sua própria parceira, esforçava-se para esconder sua própria vergonha.

Atchim! — Espirrou o garoto, que estava sentado no chão e encostado no pé da cama.

— Que isso, Klaus?! — reclamou sua parceira.

— Sei lá — Soltou o joystick preto e limpou o nariz com a camisa. — Acho que alguém falou mal de mim.

À sua frente havia algo incomum para aquele mundo: uma grande TV de LED reproduzindo dois carros que disputavam uma corrida frenética nas ruas de uma cidade exótica.

A ferrari vermelha era controlada pelo joystick de Klaus, enquanto a mercedes rosa estava sob o domínio de Eirin.

A garota estava sentada na cama, logo acima de Klaus, que estava no chão. Como estava num ponto mais alto, as pernas de Eirin desciam pelo peito de Klaus, o que atrapalhava um pouco o garoto na hora de realizar alguns comandos.

Não que ele estivesse incomodado ou algo do tipo, afinal, logo ao lado do seu rosto, estava aquele aconchegante par de coxas.

Nesse momento, o carro de Klaus cruzou a linha de chegada, enquanto o de Eirin afundava num rio perto dali.

Aaah! — praguejou, jogando seu corpo para trás e caindo sobre a cama. — Eu só perco nesse jogo.

— Quando aquele cara voltar, vamos forçar ele a levar a gente pra Terra pra comprar novos jogos.

— Vamos mesmo!

Embora tenham burlado a ausência de energia elétrica para alimentar a TV graças à ajuda de Sophie, que modificou uma Gema de Energia para alimentar os aparelhos, eles só podiam comprar novos jogos na Terra.

Eirin deixou o joystick de lado e se enfiou debaixo das cobertas, cansada após tantas derrotas.

— Eu vou hibernar — disse com a voz abafada pelas cobertas.

— Nesse caso, acho que vou colocar um jogo diferente. — Levantou-se enquanto pensava em algo que poderia jogar sozinho. — Talvez um de terror?

— Não! — negou a garota, colocando a cabeça para o lado de fora. — Eu quero que você durma abraçadinho comigo.

— Só mais uma partidinha, mademoiselle.

— Mais uma que vira duas — contrapôs, então usou seus olhos meigos e voz dengosa para contra-atacar com um: — Veeem… por favooor.

"Sério, essa garota", pensou ao olhar para ela por cima do ombro "é o meu ponto fraco".

Jogo desligado.

Xeque-mate — anunciou Trevor ao capturar o rei de Sophie. — Dessa vez, a vitória é minha.

Após uma longa e árdua disputa que durou horas, tempo suficiente para que anoitecesse e beirasse a madrugada, Trevor finalmente pôde suspirar aliviado.

— Pode-se dizer que você me venceu na base do cansaço — contrapôs Sophie com os olhos carregados de sono. — Eu quero uma revanche.

Oh! Pode vir — disse, apontando o rei capturado para a garota.

— Mas só amanhã. — Sem aceitar a provocação, a garota debruçou-se sobre a mesa à frente.

O cansaço havia lhe tomado de tal forma que ela poderia dormir ali mesmo.

Trevor, por outro lado, ainda parecia cheio de vigor.

Ao menos, se ela dormisse ali, seu parceiro teria que carregá-la nos braços até o quarto.

— Sabe — indagou o garoto — é estranho a Perpetuum ter parado as suas ações repentinamente.

De fato, houve um tempo considerável desde a aparição do último portal irregular. E, ao que parecia, não haveria outro nem tão cedo.

— Você acha que eles já conseguiram o que queriam? — perguntou a moça com uma voz sonolenta.

— Eu acho que é pouco provável. Além disso, a gente nem sabe o que eles queriam com tudo isso.

— Talvez eles tenham ficado sem recursos?

— É uma possibilidade. — Encarava o teto iluminado por um lustre de Gemas de Energia, reflexivo. — Criar tantos portais assim não deve ser algo fácil.

O problema nessa hipótese era que assim como esses portais surgiram e pararam de repente, eles poderiam retornar da mesma forma.

— Além disso, eu ainda não acertei os meus assuntos com aquela garota.

— Fala da Luxúria? — De repente, o peito de Sophie palpitou uma pequena batida de ciúmes.

Seu parceiro continuava pensando naquela garota, e, por alguma razão, isso não a deixava muito feliz. Com o rosto coberto pelos braços, a garota mordeu seus lábios em frustração.

— Eu não consigo perdoar o que ela fez com você.

Logo os olhos cansados de Sophie se abriram ao ouvir aquelas palavras. Quando voltou a fechá-los, um sorriso havia se formado em seus lábios.

Assim, a garota adormeceu, derrotada no xadrez, mas um tanto quanto feliz.

Naquela mesma noite, em uma grande e luxuosa sala da Academia de Batalha Leviatã, quatro pessoas dividiam uma mesa redonda.

No assento situado ao norte, Kriven Stear Nosferatu, o diretor da Academia de Batalha Ziz, aguardava o pronunciamento do anfitrião à sua direita.

— É com grande respeito que venho agradecê-los, ilustres diretores, por aceitarem que a competição seja realizada na minha humilde Academia.

O homem que falava era alto, de cabelos escuros e olhos profundos: Nabuco Donosor, o diretor da Academia de Batalha Leviatã, situada ao leste do continente, assim como o seu assento.

— É justo que aquele que idealizou o Campeonato Soujourner sedie o evento — expôs a mulher sentada ao oeste, Theresia Archevitch, a diretora da Academia de Batalha Behemoth.

— Acredito que ninguém nesta mesa tenha alguma objeção, senhor Donosor — complementou a mulher sentada ao sul, Karmem Astagina, a diretora da Academia de Batalha Absalon.

Assim, Nosferatu foi o único que não se pronunciou sobre o evento que abalaria o continente de Hervrom ao colocar os Top Rank das Quatro Academias de Batalha para lutarem contra si.

O silêncio do homem de cabelos grisalhos incomodou todos os outros. Se manter calado naquele momento era algo de grande desrespeito.

— Até quando pretende se manter em silêncio, senhor Nosferatu?! — indagou a mulher à sua frente, a diretora Karmem Astagina.

— Ao que parece a família Nosferatu nunca muda — ressaltou a diretora Theresia Archevitch.

O homem não se mostrou afetado pelas provocações, então, após mais algum tempo em silêncio, decidiu fazer seu pronunciamento com as seguintes palavras:

— Esse evento é mais do que desnecessário.

De imediato, todos os presentes, com exceção de Nabuco Donosor — que suspirou e cruzou os braços — começaram a reclamar com indignação.

— Tem noção do quão absurda e desrespeitosa é a forma com que está falando, senhor Nosferatu?!

— Porventura, acredita que o resultado já esteja definido?

O comentário da diretora Karmem Astagina carregava um pouco de sentido, afinal a Academia Ziz contava com três nefilins no topo do seu ranking.

A Academia Absalon, por sua vez, contava com os semi-humanos; a Behemoth com os tenjins, humanos agraciados com o poder dos anjos; e a Leviatã possuía os majins, os detentores do poder dos demônios.

— Acredito que tenham me julgado mal, diretores — opôs-se Nosferatu. — Até pouco tempo atrás, todos estávamos lidando com uma crise de portais.

— Compreendo o que quer dizer, senhor Nosferatu — falou o diretor da Leviatã. — Acredita que essa competição seja apenas um meio das Academias inflarem seus egos ao afirmar quem é a mais forte?

— Precisamente.

Se não fosse pelos seus status como diretores, e por saberem o quão forte Nosferatu era, todos já teriam partido para cima dele, apertando-lhe o pescoço.

De qualquer forma, querendo ou não, o Campeonato Soujourner seria realizado, pois a maioria dos votos era a favor.

— Entendo. — Suspirou Nabuco Donosor. — Vejo que essa discussão não nos levará a lugar algum, então me sinto na liberdade de encerrar essa reunião.

— Antes disso — interrompeu Nosferatu. — Eu gostaria de anunciar que o nefilim, Raizel Stiger, estará retornando em breve com a relíquia perdida de Erebus.

Todos, em especial o diretor da Leviatã, arregalaram os olhos, incrédulos. Por mais importante que aquele artefato fosse, ninguém deveria saber a sua atual localização.

Procurá-lo às cegas em meio àquele mar de monstros era loucura, por isso nunca o fizeram antes. Ainda assim, aquele velho ousava dizer que sabia, mas nunca os contou, sobre a localização do Cálice Sagrado?!

Numa área isolada de Noir, a desolada cidade que ficava do outro lado do oceano que separava Hervrom de Erebus, um pequeno portal se abriu.

A passagem era vermelha e se assemelhava a uma porta. O formato incomum se dava pelo fato do portal ser feito por Raizel.

Na mão do rapaz estava o dispositivo que abriu o portal: uma estrela de seis pontas, a qual misturava tons de preto e vermelho.

— Do outro lado deste portal está a Terra? — indagou-se Petra.

Como prometido, Raizel a levaria para conhecer o mundo em que nasceu. Lá, eles também procurariam algumas coisas para darem de presente para os seus amigos. Depois de tudo, o que os dois mais queriam era poder relaxar um pouco.

Essa possibilidade deixou a moça animada, fazendo-a deixar de pensar sobre as coisas estranhas que aconteceram em Erebus. Agora, um novo mundo os aguardava do outro lado daquele pequeno portal.

O rapaz deu as costas para o portal escarlate e caminhou para trás, em direção à passagem, enquanto estendia uma mão para sua parceira.

— Vamos, senhorita — disse com um olhar gentil, enquanto a garota segurava sua mão — conhecer um outro mundo.


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