Volume 1 – Arco 2
Capítulo 49: Os Desejos do Elfo
Gregórios atravessava o salão vermelho com uma corrida acelerada. Sem se importar, empurrava outros mestres. Parecia fugir. Não sabia para onde. Seu rosto e orelhas queimavam e ele mal poderia respire por tanta fúria. Segurava-se para não fazer um escândalo. Mal prestava atenção no caminho.
De repente, chocou-se contra uma parede e caiu no chão, colocando a mão na cabeça confusa. Sem demorar, não esqueceu da fúria que sentia e tentou exclamar:
— Seu desgraça...! — Assim que ergueu a cabeça para ver no que havia batido, parou de falar. Viu um elfo bem mais velho e o reconheceu.
Era aquele mesmo ancião do emblema dos elfos que apareceu no primeiro dia do leilão.
— Olá, jovem mestre Aristeu — cumprimentou ele. — Parece que hoje não é um bom dia para você.
Ele sorria gentilmente enquanto acariciava a longa barba grisalha.
Apesar dele ter sido sincero, o mais sincero possível, Gregórios ainda tomou aquilo como uma provocação.
— Droga... — Se levantou, limpou as roupas e não olhou nos olhos do ancião. Tentou partir.
— Gregórios, por favor, não me ignore. Você pode ter me renegado, porém eu não o fiz. Para mim, você ainda é aquele jovem pupilo brilhante. Abandone esse seu desejo louco e volte à academia. Eu faço os outros o perdoarem
— Me perdoarem pelo quê?! — esbravejou o elfo. Encarava a face envelhecida do ancião. — Me perdoar por querer o que me é de direito? Eu sou um Elfo Superior! Eu deveria governar sobre todos os elfos.
— Gregórios, muitos outros vieram antes de você e nenhum deles conseguiu. Você tem talento para magia e tem o potencial infinito para isso como um elfo superior. Poderia mandar e desmandar na academia. Torna-se um diretor logo depois de se formar.
— Eu não sou como os outros. A profecia diz que o elfo superior guiará e governará sobre todos os elfos. Levarei todos para o topo de Yggdrasil. E eles não poderiam me ignorar. Quando eu tiver poder, eles que me pedirão perdão. Seja por bem, ou por mal! Entendeu, Mestre Heleno?!
O ancião escutou muito bem. Ele parou um momento apenas para ver o rosto do seu antigo aprendiz. Era como um filho para ele. O rapaz agora estava sujo, arranhado e tinha um ferimento no rosto que ainda pingava sangue. Os olhos expressavam apenas a escuridão de um homem louco.
— Ah. Gregórios...
— Mestre Heleno, assim como você, eu sou um mestre agora e você deve me respeitar. Chame-me pela forma que eu mereço ser chamado.
Heleno sentiu como se fosse estapeado. Respirou profundamente, balançou a cabeça e, sem mais o que fazer, disse:
— Espero que viva bem, mestre Gregórios, meu antigo pupilo. — O gentil homem de idade partiu. Caminhava vagaroso. Sentia-se pesado.
Gregórios ficou parado, vendo o caminhar envelhecido de seu antigo professor. Seu lábio tremeu junto de sua resoluta expressão, mas a mão escura da discórdia ainda tocava seu ombro.
— Esse velhote. Um dia ele verá. Um dia todos verão!
O elfo partiu do salão, correndo para o seu destino.
Quando chegou, suor gelado descia da sua testa enquanto entrava na sala. Fumaça densa encobria um ambiente devasso. Era pouco iluminado. A luz fraca emitia um tom roxo escuro. Via-se apenas vultos dentro do quarto.
Gregórios inalou um pouco da fumaça. Sentiu a mistura de um perfume suave com o odor pesado de corpos libidinosos suados. Seu rosto imediatamente avermelhou-se e sua libido subiu.
— Entre e feche a porta — disse uma voz feminina e familiar.
— Mas...
— Entre e feche a porta logo.
Gregórios ainda tentou evitar, mas acabou cedendo. Enfiou-se por completo na fumaça, logo em seguida fechou a única passagem de saída. Andou mais fundo na sala e notou um objeto no chão.
Era um esfera de metal escuro. Havia buracos de onde saía a fumaça em cima. Abaixo dela, uma chama queimava, evaporando o que havia dentro. O tamanho era como a cabeça de um homem adulto.
Na frente do objeto, não muito longe, havia uma cama gigantesca. Na base dela, sentava-se uma mulher e atrás tinham os corpos nus de outras dúzias amontoados em pilhas.
A mulher também está nua. Enquanto acendia um charuto, cruzava as pernas e os fios púrpuras do seu cabelo caiam sobre o rosto e se espalhavam por ele. Abriu a boca, mostrando as presas e mordeu a ponta do charuto.
— E então, mestre Gregórios, eu não lhe disse que não era para aparecer na minha frente nunca mais? — Acendeu o charuto e deu uma boa baforada, soltando tudo no rosto do elfo.
Ela era a mulher com qual o elfo havia conversado no corredor. Aquela que Kayn escutou por acidente.
Gregórios engoliu seco. Dentro daquela sala era difícil até pensar direito. O objeto no chão servia para espalhar uma mistura de ervas. Dois efeitos principais eram pretendidos: um forte afrodisíaco e um poderoso analgésico. Apesar disso, ele ainda controlou seu corpo e guardou o seu desejo.
— Mestre Amadeus conseguiu obter poções de recuperação soube eu. Soube também que elas afetam os corpos dos mortos-vivos. Se puder me fornecer uma delas, uma única, posso tentar replicar, fortalecer e até poderei...
— Calado — falou ela e então levantou um dedo, apontando de um lado para o outro. — Quero que olhe para os cantos dessa sala.
Gregórios sentir-se confuso, porém ainda seguiu a ordem. Forçou os olhos para enxergar entre a fumaça. Uma tarefa difícil.
Quando um pouco da fumaça se dispersou, conseguiu ver. Havia corpos e mais corpos de mulheres pelo chão. Membros torcidos e revirados para posições impossíveis e seus rostos numa mistura terrível de dor e prazer.
O elfo deu um pulo para trás e caiu no chão e a mulher riu da sua reação miserável.
Ela deu outra tragada e levantou da cama, andando até ele.
— Mestre Gregórios, a sua resistência é invejável. Qualquer outro teria enlouquecido há muito tempo e estaria morto por tentar me atacar. — A mulher pisou levemente nas partes íntimas dele. — Sabe, eu poderia torná-lo um inválido? O que acharia disso?
Mesmo nesta situação indefesa e assustado, Gregórios ainda latiu:
— Que coisa — riu ela, tirando o pé daquele lugar. — Então, me diga, o que é que você quer? Nada é de graça.
— Eu quero poder. Um desgraçado me humilhou e tirou a Noiva de Sangue de mim e eu quero tê-la de volta e eu também quero voltar com nosso acordo. Posso criar mais poções para dar mais tempo a ele e também para que eu possa curá-lo.
— Você conseguiu perder a Natália? O mestre não ficará nem um pouco feliz com isso.
— Ele não precisa saber desse detalhe. Apenas deixe entre nós. Sei eu que você também sofre durante os ataques enlouquecidos de Amadeus.
A mulher escutou bem. Pensou por um instante e voltou a sentar na cama.
— Eu quero apenas o melhor para o meu mestre, Gregórios. Se o meu sofrimento e das minhas irmãs podem tirar um pouco da sua dor, eu não me importo em me ferir. Mas lembre-se, suas ações refletem em mim. Se me decepcionar de novo, não haverá uma terceira chance. Alivie as dores do mestre e terá um exército. Cure-o e terá o mundo inteiro na palma da sua mão.
— Eu prometo. — Gregórios acenou com a cabeça.
A fumaça terminou de encobrir todo o quarto. Um brilho do fogo mostrou a imagem de um Amadeus recostado na cabeceira da cama, dormindo profundamente entre os corpos das mulheres.
❂❂❂
— Mestre Kayn, acho melhor você não enfrentá-lo de novo — disse Una, caminhando ao meu lado.
Andávamos diretamente para a arena. O elfo era quem guiava o caminho.
— Apesar de eu querer ver outra luta sua, mestre Kayn, também não acho uma boa ideia — comentou Rio. — Ele é uma pessoa confusa e pessoas confusas sempre causam confusão.
Ambos estava realmente preocupados comigo. Eu conseguia entendê-los, mas queria acabar logo com isso, senão a cobra um dia poderia tentar me picar outra vez.
Ele tinha segredos? Eu também tinha os meus. Aquele fracassado entenderia isso por bem, ou por mal. Gregórios era uma lição para qualquer outro que tentasse se meter comigo e eu queria ficar essa lição muito bem.
— Eu sei o que estou fazendo. — Continuei sem pestanejar.
Uma grande multidão acabou se reunindo e seguindo para ver o duelo. Era melhor assim. Mostraria para todos que comigo as coisas eram sérias.
Esconder? Manter um perfil baixo? Baboseira. Até agora isso não adiantou de porra nenhuma.
Conseguia sentir o coração bater forte no meu peito. Aquela calma que estava me ajudando antes? Ela se foi do nada e restou apenas um desejo: acabar com a vida daquele desgraçado. Eu estava com raiva.
Finalmente chegamos na arena. A visão daquele verdadeiro coliseu ainda era uma maravilha aos meus olhos. Desta vez, porém, o tempo deixou de me permitir admirá-lo.
— Rio, cuide delas para mim por um instante.
— Claro, mestre Kayn. — O grande Troll concordou com um gesto.
Antes de entrar, despedi-me rapidamente de Natália e me aproximei de Crystal. Dei um pequeno carinho na sua cabeça e ela me respondeu com um único forte.
Peguei a voz do vento, minha lança, e também as poções de cura que me restavam. Caminhei para a arena do meu combate.
A iluminação era forte na arena. Desta vez, havia um público. Não era nada de grandioso, mas conseguia escutar apostas e conversas paralelas, porém havia um silêncio dentro de mim.
Mente Serena está quieta.
Apertei mais firme o cabo de madeira e vi sua ponta brilhar na cor verde. Meu rabo normalmente calmo estava inquieto, balançando de um lado para o outro e até minhas asas que sempre pareceram enfeites se mexiam.
Estou nervoso? Ri de mim mesmo. Era impossível eu estar com medo daquele fracassado. Não é?
Terminando de caminhar pelo corredor que levava ao salão, eu conseguia ver o elfo arrogante com sua cara feia. Andei até mais perto dele.
Desta vez não havia um juiz. Leifr era apenas mais um sentado no meio da arquibancada.
— Vamos começar de uma vez! — exclamei logo de início.
— Você vai se arrepender disso, ser inferior. Vou te fazer pagar por isso.
— Pagar? Eu te venci honestamente. Sem truques e sem trapaças.
— Você não entenderia meu destino. Apenas sua presença na minha frente já é o bastante para você merecer perder um braço e ainda ousa falar comigo. Se... Se fosse outra situação, você teria perdido a língua por falar comigo. Perderia um olho por me olhar. Perderia um perna por andar perto de mim. Ser inferior, você não entenderia os desejos de um elfo superior.
— Eu quero que você e seus desejos se explodam. Eu sou o único que importa.