Volume 1 – Arco 1
Capítulo 25: Sangue Impuro
Hoje o dia seria agitado. Faltava pouco mais que 24 horas para o tal Leilão dos Mestres. Eu não sabia quanto tempo duraria, mas tinha certeza que quando aquele contador chegasse a zero, alguma coisa aconteceria.
Não queria estar despreparado para essa situação, então todos estavam trabalhando dobrado hoje. As duas novas adições ajudaram muito.
A força do ogro contribuiu muito na construção e o cérebro perspicaz do duende tornou a administração mais suave, desafogando o coitado do Gleen.
Agora o Hobgoblin não precisava mais se preocupar com distribuição de recursos e controle populacional, já que o duende cuidaria dessa área. Ele passou a cuidar de outros assuntos, principalmente os que envolviam nosso crescimento geral.
Assim que cheguei ao segundo andar, fui recebido por um grupo de goblins que, juntos, carregavam um grande tronco de madeira. Logo atrás deles vinha o grande ogro carregando um outro tronco sozinho.
Fiquei satisfeito e fui logo falar com Gleen, chegando perto da sua cabana.
— Oh, mestre Kayn! O mestre deseja alguma coisa? — perguntou, enquanto carregava uma pilha de madeira.
— Não, quero saber se você precisa de alguma coisa?
— Eu... — Notei que ele me olhou nos olhos por um momento, mas logo sacudiu a cabeça de um lado para o outro.
— Gleen, diga-me o que quer. É uma ordem.
— Desculpa, mestre! Não quis ofendê-lo. É só que... meu pedido talvez seja demais.
— Se eu disse para fazê-lo, então o faça. Se estiver dentro de minhas capacidades, conseguirei.
O hobgoblin ficou com os olhos brilhantes.
— Eu gostaria de papel, tinta, livros de administração, táticas militares, coordenação de tropas, organização de recursos, agricultura, magia, funcionamento de habilidades, possibilidades de evolução... — Ele não parou.
Os pedidos de Gleen não paravam de chegar, tratando-se de cada área sobre quase todos os assuntos possíveis, mas todos envolvendo desenvolvimento e administração.
Ele realmente quer ser um bom subordinado.
Eu realmente precisava de alguém como meu braço direito. Sabia como aumentar a moral das pessoas, como inspirá-los com minhas palavras e como construir lealdade, ou seja eu era um ator carismático.
Contudo, quando se tratava de política, cultura, táticas militares entre outras coisas, eu era um ignorante. Havia estudado a arte da guerra em minha vida anterior. Sabia analisar situações e conectar opções.
A minha maior capacidade era, de longe, a manipulação de pessoas para seguirem meu comando. Eu era um manipulador nato, algo que acreditava estar na minha genética.
Embora fosse algo extremamente útil, que salvou minha vida inúmeras vezes, ainda não era o bastante. Não era tolo o bastante para achar que conseguiria fazer tudo sozinho. Ter servos; ferramentas confiáveis, ao meu lado era essencial.
— Por agora, tome. — Entreguei para ele um dos livros que estava estudando. Esse eu já tinha terminado. — Chama-se Magia de Fogo para Iniciantes. A linguagem é simples e acredito que você consiga aprender a ler rápido. Mandarei algum goblin entregar o papel e a tinta em breve. Os outros pedidos vão ter que esperar um pouco.
Recebendo o livro em mãos, o goblin fez uma expressão de tamanha alegria que até me deixou sem jeito.
— Muito obrigado, mestre! — Ele pôs-se de joelho outra vez, agradecendo.
Terminado, escapei dele. Gleen poderia ser um pouco insistente demais com seus agradecimentos e louvores. Às vezes, seus olhos tinham um brilho um tanto quanto fanático.
Assim, fiz uma visita geral a todos. Ian estava no campo de treinamento cuidando dos goblins que agiam como soldados. Algumas dezenas deles haviam evoluído para goblins de elite. Aparentemente essa era a evolução mais comum para os pequenos verdinhos.
Kaio saiu com o grupo de caça, então não teria chance de me encontrar com ele.
Procurei por Orates e tive uma surpresa quando vi que ele vivia no primeiro andar, escondido dos demais.
Ele construiu uma cabana isolada e até me senti em um filme de terror vendo sua casa. Algumas carnes estavam penduradas secando e peles verdes estavam pelo chão.
Decidi fingir que não vi nada. Enquanto ele não tentasse devorar nenhum dos goblins do segundo andar, fecharia meus olhos para aquele gosto estranho.
Deve ser por isso que ele vive por aqui.
Escutei alguns sons de passos retornando para a cabana, então fugi imediatamente.
Orates não devoraria seus companheiros, então aquela carne deveria ser dos goblins do primeiro andar ou de algum traidor.
Depois disso continuei a caminhar.
— Mestre — chamou alguém —, a menina acordou.
Era um goblin. Assenti com a cabeça e voltei andando para o segundo andar. Finalmente teria um panorama da situação.
Chegando à cabana, entrei devagar.
A menininha continuava sentada ao lado do irmão. Roupas ainda sujas de sangue, ela sentava-se com ambas as mãos no joelho, balançando a perna de um lado para o outro.
Quando entrei, ela pareceu me notar e me seguiu com os olhos. Vi suas pequenas mãos rosadas segurarem firmemente o tecido da roupa até amarrotá-lo.
Puxei um pequeno tronco de madeira que usei de banco. Sentei de frente para os dois. O garoto estava em uma maca improvisada — talvez eu devesse comprar alguns lençóis.
Passou alguns segundos e um silêncio pairou entre nós.
Eu sou péssimo com crianças...
— Cof... — tossi para quebrar o clima e ela me olhou. — Agora que a situação do seu irmão melhorou, preciso fazer algumas perguntas.
Ouvindo-me, ela acenou com a cabeça.
— De onde vocês vieram?
— De longe.
— Para onde iam?
— Para longe.
— Por que iam?
— Fomos banidos.
— Por que foram?
— Não gostavam da gente.
Ela respondeu todas as minhas perguntas com frases curtas e rápidas, mas consegui criar uma visão geral da situação. Ela estava aguada e pedir mais do que isso poderia ser contra-produtivo.
Pelo meu entendimento, eles foram banidos de um lugar muito distante. Não sabiam como vieram parar nessa floresta e nem onde ficava aquele lugar.
O motivo para o banimento, ela não deixou claro. Contudo eu já tinha algumas suposições. Aquele único chifre na testa dela me dizia muitas coisas.
A história então passou a ser mais recente. Eles foram parar na toca de um ogro solitário, roubaram a comida dele e tiveram que fugir depois.
Soltei um suspiro enquanto ela terminava de falar.
— Garota — falei seriamente —, seu irmão provavelmente não vai mais poder andar. Darei abrigo e comida a vocês, mas não sou alguém tão gentil. Vocês irão me servir daqui para frente e terão que trabalhar bem. Entendeu?
A menininha tremia bastante e eu conseguia escutar um choro baixinho e as pequenas gotas cristalinas caindo no seu vestido ensanguentado.
Eu realmente sou péssimo com crianças.
Me levantei da cadeira, caminhei até perto dela e coloquei a mão na sua cabeça.
— Primeira regra, menina. — Ela me olhou e eu abri um sorriso, quebrando minha pose de mal. — Não chore. Seu irmão cuidava de você, não é? Agora é sua vez de cuidar dele. Você precisa ser forte!
Ela segurou o choro e eu baguncei o seu cabelo.
— O-obrigada... senhor.
— Não me chame de senhor. — Me coloquei na frente da porta. — Eu sou Kayn, o mestre da masmorra. Me chame de mestre. E agora vá visitar as irmãs orcs para te darem um banho. Mais tarde entregarei roupas para você e seu irmão e, não se preocupe, Gleen vai cuidar do seu irmão enquanto estiver fora.
A menininha levantou o rosto, colocou a mão na cabeça, onde a minha estava, e limpou as lágrimas, sorrindo e concordando:
— Sim, mestre.
Ah! Eu sou horrível com crianças!
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Tempo restante: 00:04:56...55...54...
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— Cuide de tudo enquanto eu estiver fora, Gleen.
— Sim, mestre! — gritou quase que com lágrimas caindo dos olhos.
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Tempo restante: 00:03:56...55...54...
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— Estarei de volta em breve, Anna. Cuide da garota e do irmão dela, por favor.
— Sim, mestre Kayn — disse com um sorriso gentil no rosto.
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Tempo restante: 00:02:56...55...54...
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— Kaio e Ian, continuem com o treinamento. Conto com vocês para proteger a masmorra.
— Sim, mestre. Daremos nossas vidas! — exclamaram os dois em uníssono.
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Tempo restante: 00:01:56...55...54...
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— Aaron, soube que tem feito um ótimo trabalho. Continue assim.
— S-sim, m-mestre... — rangeu os ossos.
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Tempo restante: 00:00:56...55...54...
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— Cristal — chamei-a para perto de mim. — Está pronta?
— Woof!
— Então vamos lá.
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Tempo restante: 00:00:03...02...01...
O Leilão dos Mestres Começou!
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