Volume 1 – Arco 4
Capítulo 54: Pensando (2)
O primogênito da família Henituse se viu em uma situação um tanto... inacreditável.
— Bob é do reino Whipper. Ele é de uma pequena vila litorânea... De alguma forma, quando saiu para pescar, acabou naufragando.
— Isso mesmo, sou apenas um humilde pescador. — disse Toonka. — Hahahahah! Não sei como acabei assim.
“Humilde pescador? Que piada.”
A herdeira da família Ubarr continuou a falar, sem fazer ideia do que se passava pela mente de Cale.
— Foi por isso que ele embarcou em um navio e nos ajudou a investigar o que aconteceu na noite passada.
Amiru esbanjava alegria para todo lado enquanto olhava para Toonka. No entanto, quando Cale observou as pessoas a sua volta, percebeu que ela era a única que via o morador do reino Whipper com bons olhos.
A forma com que todos o encaravam, deixava claro os seus verdadeiros sentimentos em relação ao bárbaro.
Cale deu uma rápida olhada ao redor antes de fazer contato visual com Toonka. Ele gostaria de não ter que ver aquele rosto sorridente nem tão cedo.
— Ouvi dizer que você usou o seu poder para salvar a todos na capital, jovem mestre. Pedi à jovem dama para me trazer com ela porque ouvi dizer que você é bem forte.
Os olhos de Toonka estavam bem afiados naquele momento. Cale tinha um mau pressentimento sobre isso.
“Isso está ficando perigoso.”
Ele precisava pensar em alguma coisa e rápido.
— É por isso que estou me recuperando no momento.
— Recuperando...?
— Sim. O meu poder não é muito forte... Na verdade, é até bem fraco.
— É verdade. O jovem mestre Cale usou demais seu poder para salvar a todos. — comentou Amiru. — É por isso que ele está descansando em nosso território.
A jovem senhorita da família Ubarr olhava para o Henituse com simpátia, admiração e algumas outras emoções, mas Toonka era diferente.
— Ah... é?
“Sim, muito bem. Esse é o Toonka que eu conheço.”
Se sacrificar pelos outros? Um herói? Toonka não tinha interesse em coisas assim. Tudo que ele queria e se importava era força. O desgraçado até mesmo ignoraria um companheiro de equipe, se ele fosse fraco e, o mataria se fosse necessário.
Aquele cara realmente não batia bem da cabeça. Por isso, as pessoas chamavam ele de tirano.
— Então, devemos ir?
O ruivo assentiu para a pergunta de Amiru. Ele podia ouvir Toonka murmurando ao lado.
— Que estranho... consigo sentir o cheiro de uma pessoa forte por perto.
Cale, então, olhou para cima.
— Eu não sinto nada.
Ele podia ouvir a voz do invisível Dragão Negro em sua cabeça.
Os instintos de Toonka pareciam ser ainda mais fortes do que o dos bestiais. Isso fez com que o ruivo tomasse uma decisão, ele agiria da forma mais patética possível enquanto estivesse perto daquele bárbaro.
— No momento, estamos investigando o porquê dos redemoinhos terem sumido de repente.
Enquanto observava o calmo mar da ilha cental, Cale resolveu entrar no personagem.
— É mesmo? Fico feliz. — comentou. — Seria bom se conseguíssemos descobrir logo o que aconteceu.
— Você é um ótimo mentiroso, humano.
Ele fingiu não ouvir o comentário do Dragão Negro e manteve o seu olhar calmo sobre o oceano... enquanto tentava ignorar o caos a sua volta.
Todos os pescadores do vilarejo estavam aqui, assim como as pessoas que vieram para a construção da base naval. Todos estavam olhando ao redor e discutindo entre si.
O barco estava bastante barulhento, principalmente devido aos redemoinhos ainda ativos. Cale observou as pessoas a sua volta e acrescentou:
— Espero que os outros redemoinhos desapareçam logo.
— Outra mentira. — comentou o dragão. — Você não disse que faria os redemoinhos durarem por mais um ano?
O ruivo, mais uma vez, ignorou os seus comentários.
— Sim. Com certeza iremos descobrir o que aconteceu e iremos nos livrar dos outros redemoinhos também. — Amiru assentiu determinada ao ouvir suas palavras. — Com tal oportunidade bem diante de nossos olhos e tantas pessoas nos ajudando, não podemos deixar essa chance passar.
Ao ouvir isso, Cale se sentiu um pouco culpado e disse:
— Tenho certeza que você e a família Ubarr iram conseguir.
— Obrigada... Me sinto muito melhor depois de ouvir suas palavras, jovem mestre Cale.
Amiru lançou um olhar caloroso ao ruivo. Ele então, com uma expressão séria, disse:
— Estou ficando um pouco tonto com todo esse sol. Tudo bem se eu descansar um pouco na sombra?
Ele podia sentir o olhar de Toonka sobre si vindo de um dos barcos. Aquele bárbaro continuava encarando-o, como se tivesse encontrado a “pessoa poderosa” que estava procurando. No entanto, isso era impossível. Não havia como alguém que não podia sentir mana descobrir que o Dragão Negro estava bem ali.
— Ah, claro. Você ainda está se recuperando. Por favor, não se esforce demais.
— Obrigado.
Amiru observou em silêncio enquanto ele se dirigia calmamente em direção à floresta. Esse Cale, que se esforçava para cumprir os seus deveres mesmo estando ferido, era sem sombra de dúvidas diferente do homem com quem ela tinha interagido no passado. Ele havia mudado.
— Isso me faz admirá-lo ainda mais.
Sendo alguém que sonhava em governar o Território Ubarr no futuro, Amiru sentia que precisava se tornar alguém mais confiável, assim como o jovem mestre Henituse.
Com um olhar determinado, ela deixou de lado esses pensamentos e foi oferecer ajuda aos investigadores.
Enquanto isso, o ruivo seguia para o outro lado da Ilha, um lugar perfeito para passar o tempo, já que ninguém estava lá.
— Você não tem medo dos cadáveres? Você é fraco e um covarde.
Cale mais uma vez ignorou o dragão e seguiu em direção ao outro lado da ilha.
— Hã!?
Então, ele parou, chocado com a visão diante de si.
— Mas o quê…?
— Não fui eu! Eu não fiz isso!
No entanto, desta vez, Cale não estava prestando atenção. Ele correu o mais rápido possível em direção às rochas onde havia encontrado os corpos das sereias no dia anterior. Ao olhar ao redor percebeu que não havia ninguém ali.
"... Passeton fez isso?"
Aquele lugar tinha se tornado um verdadeiro pandemônio. As rochas haviam sido destruídas, tudo que se podia ver eram pedregulhos por todo lado e em meio aos destroços estava os cadáveres das sereias… Ou que havia sobrado deles.
— O que diabos aconteceu aqui?
Quem quer que tenha feito isso possui uma força colossal... Isso com certeza foi trabalho de uma Baleia, uma Baleia bastante irritada.
Splash. Splash. Splash.
De repente, as ondas do mar começaram a se mover de forma irregular. O Dragão Negro falou telepaticamente:
— Algo está vindo do fundo do mar. Está se movendo muito rápido!
Cale virou a cabeça e olhou em direção ao mar. Em seguida, deu um passo para trás.
Splaaaaaaaaaaaash.
Algo enorme subiu à superfície, uma criatura de cor cinza escuro, que estava olhando para ele fixamente.
— …!?
Era uma Baleia… uma Baleia Jubarte.
Esses seres eram conhecidos como guardiões do oceano, famosos por protegerem as formas de vida mais frágeis.
Por gerações, o Rei da Tribo Baleia foi uma Baleia Jubarte.
Tum-Tum. Tu-Tum. Tu-Tum.
O coração do ruivo parecia estar prestes a explodir. O olhar que a Baleia lançava sobre ele estava carregado tanto de intenções assassinas quanto por dúvidas (era como uma luta entre o instinto e a razão).
Era a primeira vez que um ser tão poderoso o encarava dessa maneira, como se sua presença o irritasse de alguma forma.
— Que Baleia estúpida, deve estar fora de si!
A criatura continuava observando-o, examinando atentamente seus movimentos.
A voz furiosa do Dragão Negro ecoou na mente de Cale. Ao mesmo tempo, uma poderosa força começou a criar vibrações no ar. Os olhos da Baleia, que estavam focados no humano até então, voltaram-se para a fonte da vibração; em algum lugar acima do ruivo.
— Como ousa encarar meu humano fraco assim?!
A mana no ar começou a oscilar e a água começou a se agitar. No entanto, a Baleia Jubarte não se moveu. Em vez disso, ela, com seus 15 metros de comprimento, levantou sua cauda e bateu contra a água.
Splaaaaaaaaaaaash.
As ondas do mar começaram a se agitar rapidamente.
Ao ver isso, Cale teve certeza de que o ser à sua frente era um bestial.
Tum-Tum.
Ele tentou acalmar seu corpo, pois sentia que a Vitalidade do Coração havia percebido o perigo e estava começando a ativar o seu poder; o Escudo Indestrutível também estava agindo por conta própria. Os poderes antigos que sempre colocavam a vida do seu portador em primeiro lugar, estavam mais do que prontos para protegê-lo a qualquer momento.
Cale virou sua cabeça para o vazio, o lugar onde a mana estava se reunindo, assim, quando estava prestes a falar, uma outra voz pode ser ouvida.
— Não vim aqui para lutar. — disse uma voz tão bela quanto àquelas que eram descritas para as sereias da mitologia grega.
O ruivo virou sua cabeça para a Baleia que erguia a parte superior de seu corpo sobre a água.
— Uau!
Cale deixou escapar uma exclamação de surpresa. A figura à sua frente era muito grande e assustadora. Ele sentiu que aquele ser enorme poderia matá-lo facilmente com um simples tapa.
— Então porque ela está erguendo a cabeça? Esse não é um sinal de que quer lutar!?
— Haa…
Ao ouvir aquelas palavras, ele deixou escapar um suspiro cansado. Logo em seguida, ergueu a mão em direção a enorme quantidade energia. Ter uma criança de 4 anos zangada ao seu lado também era perigoso.
A mana, que parecia estar prestes a destruir tudo a sua frente, deu espaço para a mão de Cale passar.
— !
A Baleia parecia estar chocada com esse desenvolvimento.
A mão de Cale finalmente alcançou algo redondo e escamoso, a cabeça do dragão. Ele apenas deu alguns tapinhas nela e disse:
— Não fique com raiva. Você vai acabar se machucando.
Após ter dito isso, a enorme quantidade de mana que havia se acumulado, começou a desaparecer rapidamente. Foi então que ouviu uma voz baixa:
— Eu não vou me machucar, sou forte.
— Eu sei, eu sei. Mas você ainda precisa ter cuidado.
Não era nada fácil tentar acalmar uma criança de quatro anos. Mas, o Dragão Negro parecia entender o que o ruivo estava tentando dizer.
— O único que precisa ser cuidadoso aqui é você, humano fraco.
A mana no ar desapareceu completamente.
Cale se virou e olhou para a Baleia — Ela abaixou a cabeça em sua direção no mesmo instante — Ao ver aquele moimento, ele vacilou por um instante, mas conseguiu manter a calma; tudo porque a intenção assassina de antes havia desaparecido.
Assim que a Baleia-jubarte se viu diante daquele pequeno humano, ela começou a falar:
— Eu tenho algo a perguntar...
Naquele momento, uma pequena baleia estava nadando como uma louca do outro lado do horizonte; estava nadando até eles. Parecia ser muito fraco e pequeno em comparação a esta baleia de quinze metros.
— Noona!
Não demorou muito para a pequena Baleia se aproximar deles e começar a gritar.
— Você não pode mordê-lo nem matá-lo!
A Baleia-jubarte na frente do ruivo se virou rapidamente.
Splaaaaaaash!
Uma boa quantidade de água do mar salpicou com o seu movimento. Cale, que não teve tempo para pensar muito bem, apenas fechou os olhos e aceitou ser encharcado.
“Ela realmente deve ser aquela baleia-jubarte…”
A outra pequena baleia que se aproximava era provavelmente Paseton e só havia uma pessoa no mundo a quem ele chamava de “noona”.
A filha do atual Rei das Baleias, a futura sucessora ao trono. Aquela que estará nas linhas de frente com Choi Han na batalha contra as sereias.
— …
Cale observava a cicatriz em forma de “X” em suas costas…
“Witira.”
O rosto da grande baleia começou a se contorcer; era como se ela estivesse franzindo a testa.
O ruivo lentamente começou a recuar, pois não queria se envolver no reencontro dos irmãos.
— Ele é uma pessoa que você não deve matar em hipótese alguma! — gritou a baleia pequena mais uma vez.
O Dragão Negro voltou a falar confusamente na mente de Cale…
— Do aquela Baleia menor está falando? Nós nem estamos brigando.
Ele queria perguntar a mesma coisa.
Na verdade, Cale ficava muito grato por todos os outros estarem muito concentrados na situação do outro lado da ilha para ouvir a voz da pequena baleia. Caso contrário, todos já teriam ido até lá depois de ouvirem seus berros.
Não demorou muito para que as Baleias se reunissem. No entanto, foi o que o dragão casualmente falou naquele momento que deixou o ruivo ansioso…
— A propósito, tem mais alguém vindo.
“O quê?”
Subitamente, ele parou de andar para trás e se virou em direção à floresta.
— Muhahahahahah! Eu consigo sentir! Eu sinto… o cheiro de algo forte!
O maluco cujo cabelo castanho parecia a juba de um leão selvagem apareceu.
“…Toonka.”
Seus olhos pareciam os de louco; ele estava atravessando a floresta correndo enquanto gritava.
— Tem alguém muito forte por aqui!
Kim se agachou atrás da rocha que antes estavam os cadáveres das sereias.
Graças a isso, apenas o Tirano e a baleia-jubarte fizeram contato visual direto um com o outro.