Volume 1 – Arco 2
Capítulo 24: Retribuindo o Favor (4)
Enquanto observava o dragão incrédulo, Kim pôde ouvir uma voz hesitante atravessar os ventos.
— A-Ah… E-Eu... estava só de passagem...
— Tch.
Ao ouvir o clicar de língua, o Dragão Negro vacilou. Por outro lado, Cale, voltando rapidamente seu rosto para o tornado, parecia não ter tempo para dar atenção ao pequeno penetra.
O momento onde toda aquela ventania começava a ficar mais "calma" começaria agora.
Resumidamente, as rajadas de ar que preenchiam aquele lugar tinham um certo costume; sua força aumentava por 3 horas e, depois, por outras 3, ficava fraca.
Swiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiish.
"Credo..."
Mas claro, não era como se isso mudasse o fato de que ficaria mais difícil a cada passo em direção ao centro. Na verdade, naquele momento, a ventania continuava forte demais para ser chamada de "calma".
O ruivo olhava para o tornado no centro da grande área subterrânea; havia pequenas rochas por lá e uma torre meia empilhada.
"Preciso completá-la."
Empilhar as pedras não seria um problema, a dificuldade estava em chegar perto delas.
Antes de dar um passo à frente, Kim olhou sobre o escudo e as asas ao seu redor.
Tang.
Tang.
O vento forte se chocava contra sua única proteção. E, mesmo que o Escudo Indestrutível fosse transparente, parecia que as rajadas de ar batiam num verdadeiro escudo de metal.
Escutando aqueles barulhos, o Dragão Negro apenas permaneceu em choque.
— V-Você é fraco...
Ele estava a ver o ruivo que, mesmo sendo protegido por um escudo, passava por um momento difícil.
O vento que não podia ser bloqueado estava fazendo suas roupas tremularem; e, de vez em quando, o ar que batia contra o escudo o fazia parar de se mover.
Entretanto, Cale, lentamente, apenas continuava a dar um passo de cada vez.
O dragão estava a ver o humano que não era nada comparado com o forte tornado ou com todos com quem viajava — esboçar um sorriso enquanto enfrentava o vento — e, mesmo desconhecendo completamente aquele poder que o protegia, toda sua atenção estava voltada apenas para a figura sorridente.
Já aquele que era observado, Kim, continuava a se esforçar.
"É possível."
O caminho até seu objetivo era um pouco complicado e lento por causa do vento; mas, felizmente, era possível.
Na verdade, comparado com tudo o que Beacrox passou apenas para aprender esgrima com seu pai, Ron, aquilo parecia mais uma brincadeira de criança.
Foi justamente este fato que fez Cale, mais uma vez, sentir que era melhor ganhar algo sem se esforçar tanto. O fez também ficar grato com o seu poder antigo — o Escudo Indestrutível — pois ele não lhe dava algo como "tensão física" ou "mental" como custo ao ser utilizado. O único incômodo que acabaria por sentir era apenas se ele fosse quebrar; algo que não parecia ser possível na situação atual.
"Ele apenas é empurrado para trás."
Sua proteção, enquanto se chocava contra a forte ventania, acabava o fazendo ser empurrado para trás.
Honestamente, Kim já esperava por isso, assim, de propósito, havia diminuído a força do escudo e o ampliado o máximo possível — ele planejava diminuir lentamente seu tamanho sempre que fosse afastado pelo vento. — Contudo, para sua surpresa, seu poder estava funcionando melhor do que esperava, isso o fez se sentir um pouco relaxado até ter alcançado cerca da metade do caminho para o centro do tornado.
Já, como mencionado no conteúdo da novel, Cale acabaria por ouvir alguém ao se aproximar de seu objetivo; ele também tinha em mente que o tornado ficaria mais forte assim que as lamentações da velha voz fossem ouvidas; aquela era a hora onde tinha que se livrar de todos seus descuidos.
Logo então…
— E-Eu…
Enquanto o vento estava começando a ficar mais forte, falas tristes de um homem velho foram ouvidas.
— Me…
— Arrependo.
"Então eu também consigo ouv—"
— Eu me arrepen— Hic!
— Tch — o ruivo voltou a clicar sua língua enquanto caminhava.
Para Kim, nenhum desses anciãos antigos faziam sentido ou eram normais. E, ele muito menos podia entender o fato de que na novel, Taylor achou essa voz sincera; sua linha de pensamento era completamente estranha.
— E-Ei…
— Hm?
— Você que possui um poder que me é familiar… espero que não cobice este outro.
Subitamente, Cale parou de se mover.
"'Que possui um poder que me é familiar'?"
Tal frase dita pela voz cheia de lamentação chamava sua atenção.
Tang.
Tang.
Tang.
A ventania se chocava ainda mais forte contra sua proteção transparente; fazendo barulhos altos. No entanto, sua expressão de preocupação não foi causada por conta disso.
"Ele está se referindo ao escudo?"
A única coisa que Kim podia deduzir sobre, "Poder que me é familiar", era em relação a sua única proteção contra as rajadas de ar.
Na novel não tinha acontecido nada parecido com isso — o proprietário deste poder antigo conhecia o proprietário do Escudo Indestrutível? — Múltiplos pensamentos corriam pela mente de Cale ao mesmo tempo.
Contudo, o ruivo ainda optou por dar um passo à frente por enquanto.
— E-Eu praticamente traí meus camaradas! Fui uma pessoa terrí— Hic!
Os ventos da caverna que ficavam cada vez mais fortes, impediam Cale de ouvir, algumas vezes, a voz do velho.
— Fui o único a ficar vivo até envelhecer! Quão vergonhoso eu sou!!!
Kim tinha cada vez mais dificuldade de avançar.
— Estive sempre na espera que todos voltassem à vida. Entretanto, meu desejo era algo que não podia ser realizado.
O ruivo não estava mais sendo levado para trás, entretanto…
— Eu só podia lamentar e chorar!!!
Por conta da força do vento, seus passos estavam ficando muito mais lentos.
— Foi por isso que eu não consegui terminar minha torre!
"Que cara chato."
Era o que Cale achava do dono da voz.
Primeiramente, qual era o sentido dos lamentos de alguém que inicialmente buscou a morte e, após ter alcançado-a, se arrependeu? Este era o tipo de pessoa que Kim mais odiava.
— Esse poder de restauração é inútil!
Cale ajustou seu corpo após, ligeiramente, voltar a ser empurrado para trás, e colocou mais força em suas pernas.
— Ele só é capaz de proteger a mim mesmo!!!
A cada passo, uma lamentação era ouvida.
— Não é útil de nenhuma outra forma. Eu sou um lixo!
Kim apenas ignorou os berros atormentantes do velho — o poder que "cobiçava" era o mais importante agora. — Apenas mais cinco passos; o centro do tornado estava bem na sua frente.
Boom!
Boom!
Boom!
O vento que estava se chocando contra o Escudo Indestrutível se tornou ainda mais forte; era como se um humano, com uma grande broca, estivesse tentando o perfurar.
"Tá, isso pode quebrar..."
Cale, que antes tinha presumido que sua proteção poderia aguentar o vento, temia a ideia de que, agora, a ventania fosse forte o suficiente para que seu escudo quebrasse.
Logo, no momento em que o ruivo imaginou o cenário onde seria atingido sem seu escudo, ele percebeu outra coisa...
— Por causa dele não pude nem mesmo morrer quando esse maldito tornado me cortou como uma lâmina afiada!
Todos os antigos donos dos poderes antigos tinham algo em comum; eles eram extremamente tagarelas.
Imediatamente Kim se agachou um pouco e diminuiu o tamanho de sua proteção.
Boom!
Boom!
Seu escudo agora era menor, mas em troca, estava muito mais resistente; ele seria capaz de suportar a força da ventania atual.
Cale estendeu a mão em direção ao Escudo Indestrutível, apertou firmemente o que parecia ser um cabo transparente no interior dele e avançou.
Um passo à frente.
— Esse é um poder amaldiçoado!
Dois passos à frente.
— Meu coração esteve sempre em perigo, mas...
Três passos à frente.
— Nunca conseguia seguir em frente.
Quatro passos à frente.
— Sempre tive medo da dor, porém o medo da morte, o fim dessa dor, era ainda pior!
E, finalmente, o ruivo deu o quinto e último passo.
Shhhhhhhhhhhhhhhhh!
O olho da tempestade — o interior do tornado — era calmo.
A ventania que preenchia toda a caverna do lado de fora não mostrava resquícios algum dentro deste centro.
— Eu me arrepen—
Kim, assim que começou a ouvir outra lamentação e, como se já estivesse cansado de escutar o velho, o interrompeu.
— Quem liga? Já era. Você, para lamentar tanto, tinha que estar vivo para começo de conversa.
Tudo o que aquele velho tinha dito não passava de coisas inúteis para o ruivo.
Logo, Cale, sem perder mais tempo, guardou seu escudo; toda a luz prateada que o cercava desvaneceu.
Ele então se dirigiu para o amontoado incompleto de pedras e se agachou em sua frente.
A torre era normal, semelhante àquelas que estavam em todas as residências de Pursal, a única característica diferente era a cor negra de suas pedras.
"Haaa… tanto faz."
Kim até cogitou torná-la esteticamente arrumada, mas rapidamente mudou de ideia — aquele trabalho seria irritante. — Ele então apenas tirou o par de luvas de seu bolso, as colocou e começou a posicionar as pedras caídas no resto da torre.
Clack.
Clack.
Clack.
Aquela ação não durou muito; até Taylor tinha completado isso facilmente. A única a sofrer foi Cage que estava fora do centro do tornado.
Aquela área central exigia algo — como com todos os poderes antigos. — Apenas uma pessoa podia fazer o último esforço.
— Fácil.
Cale pegou a última pedra e a colocou suavemente no topo da torre. Ao mesmo tempo…
Flash!
As rochas negras lentamente se tornaram brancas.
O ruivo se levantou e olhou em volta; o vento estava enfraquecendo gradualmente.
— Hã!?
Ele ignorou a voz confusa vindo do Dragão Negro que aguardava algo do fundo da caverna e esperou até que todo o vento cessasse.
— E, aquele povo que dizia servir a um deus...
Contudo, assim que cruzou seus braços, voltou a ouvir a voz do velho.
— Eles me davam comidas péssimas!
Tais palavras prenderam a atenção de Kim.
— No fim, tentei até brigar contra eles… no entanto, não sabia que eu era tão fraco...
Ele então recordou do que o antigo proprietário do Escudo Indestrutível havia falado.
"'O povo da Floresta das Trevas afirmavam ser servos de um deus, mas ainda assim só me davam comidas péssimas.'"
Cale sentia um mau pressentimento; ele tinha a estranha sensação de que as coisas que acabou de ouvir eram algo no qual não deveria contar a mais ninguém em toda a sua vida.
— Empilhei as pedras. As empilhei na esperança de poder voltar no tempo e ser feliz…
O ruivo começou a franzir a sobrancelha assim que o velho voltou a lamentar.
— Mas depois a destruí. Odiei meu egoísmo por pensar em minha própria felicidade após trair meus camaradas e fugir.
Aquela voz era algo que só ele conseguia ouvir, fazendo o dragão duvidar de sua sanidade enquanto o observava.
— Haaaaa… — Kim soltou um longo suspiro e, falou em frustração: — É da natureza humana ser egoísta.
Para ele, aquele velho era realmente um pé no saco...
Contudo, felizmente, assim que declarou aquelas palavras, a voz de lamentação desapareceu.
"Acabou?"
Cale começou a sorrir pensando que o velho tinha finalizado seu falatório. No entanto… Bem, com uma voz ainda mais soluçante, o velho voltou a falar; ele parecia chorar.
— Mi-Mi-Minha irmã disse a mesma coisa! Ela-Ela era realmente incrí— Hic...! Minha irmã era mais confiável do que qualquer outra pessoa. E-Ela… Mi-Minha irmã— Hic!
"Eu vou enlouquecer."
Tap.
Tap.
Tap.
O ruivo estava batendo impacientemente seu pé no chão; ele não queria continuar ali parado…
Algum tempo depois, após muito chororô, o velho finalmente se recompôs e voltou a falar normalmente.
— Você, que possui um poder que me é familiar. Essa sua personalidade rude me faz pensar no meu irmão… Tenho inveja de quão rude você é.
"Agora que parou de berrar, ele vai me insultar?"
Contudo, após este pensamento, as palavras que Kim mais havia esperado até agora — as mesmas que o velho acabou falando ao filho mais velho do marquês — foram declaradas.
— Enfim… Basta quebrá-la. Assim vai "superar" suas adversidades.
"Finalmente."
O ruivo começou a sorrir e imediatamente chutou a torre de pedra sem nenhuma hesitação.
Tang.
Boom!
As rochas brancas foram ao chão.
O dragão que assistia essa cena vacilou, ele pensava que Cale tinha ficado louco de vez. Entretanto, o que aconteceu no segundo seguinte o fez hesitar.
— Wow!
Com a torre em pedaços, uma esfera de luz branca flutuou de baixo para cima.
Ooooooooong!
A vibração suave que pulsava por toda a caverna podia ser sentida sob os pés. E, naquele mesmo momento, a esfera reluzente correu em direção ao ruivo que estendeu sua mão para agarrá-la.
Já, assim que pegou-a, a esfera dissipou e suas partículas brancas, como flechas, foram em direção ao seu coração.
— Haaaa… — o ruivo soltou um profundo suspiro.
Ele então baixou a cabeça para olhar debaixo da camisa; a tatuagem extravagante do escudo que estava gravada sob seu coração tinha sido substituída por um coração vermelho.
Kim podia sentir imediatamente uma nova "energia" circular dentro de seu corpo.
Em resumo, aquilo era o vigor fornecido pela Vitalidade do Coração que tornaria o Escudo Indestrutível ainda mais forte; ele também faria seu corpo se recuperar a uma velocidade sobre-humana.
Cale então fez surgir novamente sua proteção.
— Assim como pensei — após murmurar isso, ele esboçou um sorriso.
O escudo padrão havia mudado para um formato de coração, sua cor prateada permaneceu a mesma; algo que era diferente da tatuagem em seu peito pois tinha uma coloração avermelhada.
Kim o guardou, antes de imediatamente começar a andar em direção ao dragão que, olhando para o teto da caverna, fingia que nada estava acontecendo.
— Ei, você.
O pequeno penetra vacilou e o encarou.
— Quer vir comigo?
Cale perguntou estoicamente como se estivesse jogando uma pedra num lago.
— Vo-Você é tão fraco que precisa de proteção… Mas eu odeio os humanos! — Hesitante, o Dragão Negro respondeu antes de começar a ficar invisível.
"Haaa… que criança indecisa."
Kim também parecia indeciso por fazer tal pergunta depois de dizer aos outros para ignorarem a pequena figura — ele não era tão diferente do dragão. — Contudo, o ruivo não podia simplesmente ignorar o ser que antes havia pulado em sua direção numa tentativa de salvá-lo.
Cale olhou ao redor da área, que não tinha mais rajadas de ventos, antes de dar meia-volta… E, sim, ele teve que rastejar para fora novamente.
Após devolver as videiras aos seus respectivos lugares e cobrir corretamente a passagem da caverna.
Com seu olhar dirigido a uma área verde, Kim declarou: — Eu posso vê-lo de pé na grama.
Ele podia ver quatro marcas no terreno tomado por grama; elas representavam uma das quatro patas do dragão.
Repentinamente, as marcas desapareceram — ele provavelmente tinha começado a voar. — Cale balançou sua cabeça e suspirou.
"Acho que o grupo aumentou."
Era óbvio que o Dragão Negro continuaria a segui-lo naquele estado invisível.
Depois de caminhar de volta pela montanha, o ruivo pôde ver uma expressão julgadora.
Choi Han que olhava para Cale, fez uma pergunta: — Você... rolou pela montanha?
"Merda."
Os ventos tinham bagunçado todo seu cabelo, já suas roupas estavam sujas por ter rastejado pela entrada da caverna arenosa duas vezes.
Kim apenas o respondeu calmamente: — Sim, um pouco.
O protagonista continuava a olhá-lo com preocupação; o ruivo apenas evitava seu olhar.
Naquela noite — Cale disse aos gatinhos para entregarem algo. — Uma carta que foi criada com magia; tornando impossível determinar a caligrafia do escritor.
— Certifiquem-se de que não os vejam.
Dentro dela estava a nova esperança do filho mais velho do marquês, Taylor.
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