O Lixo da Família do Conde Coreana

Tradução: Hiro

Revisão: Goq


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 14: Caindo Fora (1)

— Você não me parece nervoso.

Cale sorriu ao invés de responder à declaração de seu pai, ele estava de bom humor nesses últimos dias. Na verdade, não tinha como não estar.

“Não fui espancado.”

No território Henituse chovia até ontem, se a história seguisse a novel, o Lixo teria sido espancado em um dia de chuva. Entretanto, não foi.

Agora Kim podia dormir em paz também — sentindo o Escudo Indestrutível cercar seu coração — tendo a certeza de que conseguiria sobreviver mesmo que se envolvesse numa briga com alguém perigoso.

— Pai.

Cale olhou para o café da manhã que era mais extravagante do que nunca, e falou: — Parece que o número de criados aumentou novamente. Lembro de pedir para reduzi-los.

Kim havia pedido ao conde para que diminuísse o número de servos que o acompanharão na viagem à capital; até mesmo disse que Hans e Ron eram suficientes.

Bem, o vice-mordomo ficou pálido no início, no entanto, logo começou a fazer as malas após ouvir que os gatinhos também iriam na viagem.

Ah, quanto a isso… — Por alguma razão, Deruth parou sua frase sem terminar.

Naquele momento, a voz de uma outra pessoa se interjeitou na conversa. — Foi minha decisão. — era a da esposa do conde, Violan.

Seu cabelo estava perfeitamente preso num coque, sem um único fio desgarrado, enquanto olhava para seu prato — ela era semelhante ao seu filho, Basen. — Até mesmo na expressão estóica e na maneira de como não fazia contato visual com Cale.

— Não podemos ter alguém da família parecendo "medíocre" só por desejar ir com tão poucos criados — seu tom de voz era extremamente estóico. 

E antes de continuar, a condessa levantou o olhar em direção ao seu enteado. — Não pense que estou dizendo que é indigno...

— Sei disso.

Violan hesitou por um momento após ouvir a resposta de Cale, antes de bebericar seu vinho e continuar a falar: — As pessoas, especialmente os nobres, se importam muito com as aparências.

Kim apenas continuou a observá-la silenciosamente; sabendo do seu passado.

A condessa era a filha mais velha duma família de pobres artistas, ela sonhava em ser a líder de uma Guilda Mercante quando crescesse. Entretanto, logo foi atraída pelos itens de luxo vendidos aos nobres, assim vindo para o território Henituse.

Ao chegar aqui, se interessou pela arte de esculpir. E então, eventualmente conheceu o conde Deruth e se apaixonou. 

Já nos dias de hoje, é a diretora das operações comerciais culturais do território.

Na opinião de Kim Rok-Soo, Violan se orgulhava bastante de si mesma, da sua vida, e principalmente dessa família — e mesmo sabendo que estava sendo observada, continuou sem uma única mudança em sua expressão. — Nem mesmo as artes mais baratas são dignas a aqueles tipos de li... humanos. — Quando o assunto envolvia "artes" e "nobres" ela ficava pouco grosseira, já que trabalhou no ramo por muito tempo.

— De qualquer forma, muitas pessoas acreditam que a aparência diz tudo sobre alguém.

Essa foi a maneira de dizer ao seu enteado para levar muitos criados; o objetivo era que Cale não fosse julgado negativamente só porque levou apenas alguns servos. E claro, o Lixo antigo, provavelmente levaria muitas pessoas com ele.

"Quão agradável e relaxante seria isso?"

Kim atualmente estava começando a achar difícil mudar de roupa sem um único criado agora — tendo estado neste mundo como Cale há cerca de apenas uma semana — já parecia não conseguir largar essa vida fácil.

Entretanto, em alguns dias no futuro, um insano Dragão Negro vai aparecer; caso Cale não consiga salvá-lo antes disso, o número de mortes será inimaginável.

Porém... não era como se ele se importasse com outras pessoas, apenas não queria ver pessoas morrendo em sua frente. Além disso, também não queria assumir a responsabilidade por aqueles que ficariam feridos por conta de tal incidente.

Ser responsável é um fardo, e para alguém como Kim Rok-Soo, que assumiu a responsabilidade por sua própria vida desde moleque, sabia muito bem o quão assustador era. E por isso mesmo começou a falar. — A arte é o espelho da alma.

A condessa tirou o olhar do seu prato e visou Cale. Esta foi a primeira vez, em muito tempo, que os dois fizeram contato visual.

— Então você sabe disso...

— Sim, eu sei.

Kim percorreu todo o território nos últimos quatro dias para adquirir algumas coisas na qual precisaria nesta viagem. E acabou recitando uma frase que viu em uma dessas caminhadas.

— Esculpir não é apenas cortar um pedaço de mármore. É criar um reflexo do que está em seu coração.

Desta vez, foi Cale que olhou para seu prato e continuou a comer enquanto a condessa o observava.

— Eu li isso na estátua da galeria.

A galeria do território Henituse exibia obras de novos escultores, e aquela frase estava escrita numa placa, abaixo de uma estátua. Violan foi quem criou.

— Faça como quiser... Reduzirei o número de criados que vão com você, mas, em troca, o transporte e tudo o que há nele será da mais alta qualidade. É assim que deve ser para nós, os Henituse.

— Por mim tudo bem. Dê-me os mais caros.

— Ótimo. Prepararei uma carruagem que não machucará o seu quadril nem mesmo em estradas esburacadas.

— Certo.

Kim não podia vê-la por está olhando para seu prato, mas havia um leve sorriso no rosto da condessa, porém, logo desapareceu. Deruth, que tinha observado tudo desde o início, soltou uma tosse falsa para esconder sua risada e fez uma pergunta a Cale. — Você verificou as informações que  Hans passou? A respeito das personalidades de todos os nobres que irão para a capital?

O conde tinha usado seus próprios meios para conseguir informações sobre os outros nobres; logo depois as entregou a Hans para dar a Cale.

— Sim, foi muito interessante.

Provavelmente foi difícil conseguir aqueles arquivos. Na verdade, deve ter custado uma fortuna. Embora só tivesse cerca de três ou quatro linhas sobre cada pessoa.

— Há alguns mesquinhos, idiotas, inteligentes e assustadores, até mesmo alguns desesperados por poder. Parece que todos os tipos de pessoas estão indo desta vez.

E claro, também haveria algumas pessoas estupidamente "simpáticas", como vilões e lixos.

— Você realmente leu o arquivo. Ahem. De qualquer forma, faça o que quiser. 

— Porém...

— Sim?

— Ouvi um boato estranho.

Os ombros de Kim ficaram um pouco tensos.

— Aparentemente, a árvore devoradora de homens, aquela coisa sinistra, mudou. 

— Dizem que agora é uma árvore branca com belas folhas verdes. Há até mesmo grama crescendo ao seu redor.

O lugar que mais mudou nos últimos quatro dias não era outro senão o topo da colina na favela. Era um espaço onde somente uma árvore sinistra residia, no entanto, essa mesma muda horripilante ficou branca e com belas folhas verdes, parecendo algo divino.

— Não é um boato interessante?

— De fato. É interessante.

Kim não tinha a intenção de revelar seu poder agora, então apenas fingiu não ter conhecimento sobre o que estava acontecendo.

Era impossível que o conde Deruth não soubesse do fato de que Cale tinha ido à favela. Entretanto, não tinha nenhum conhecimento sobre aquela poder, apenas suspeitava que algo tinha acontecido com o seu primogênito e a árvore devoradora de homens.

— Sim… entretanto, você precisa prestar atenção aos boatos. Não há nada mais assustador do que olhos e bocas humanas. Claro, nada de mal acontecerá aos membros da nossa família enquanto estivermos nesse território.

— Vou ter isso em mente.

Cale sentiu que realmente podia viver em paz, desde que permanecesse em seu território.

Quão bom seria voltar rapidamente da capital e viver uma vida pacífica e tranquila?

O luxuoso café da manhã finalmente chegou ao fim; logo Kim recebeu despedidas do conde e da condessa, pois não poderiam vê-lo já que estavam ocupados, e então fez contato visual com seus irmãos, ambos estavam de pé num canto.

— O que foi?

O irmão mais novo, Basen, apenas balançou a cabeça para a pergunta. Já Lily, a irmã mais nova, aproximou-se, relutante. Ela tinha 7 anos de idade, seu irmão mais velho tinha 11 anos de diferença.

— P-Por favor, tenha uma viagem segura…

— Obrigado. Fique segura também.

Lily acenou vigorosamente com a cabeça. Então olhou para Cale.

Kim apenas perguntou de forma casual, em resposta ao seu olhar. — Posso comprar um presente para você durante a viagem?

— Mesmo?

“Eu sabia. Ela quer um presente.”

Cale acenou com a cabeça enquanto assistia a expressão surpresa e feliz no rosto de Lily.

— Sim. O que você gostaria?

— U-Uma espada.

Hã...?

— Por favor, compre-me uma espada.

“Uma garotinha de 7 anos quer uma espada?”

Ao ver o choque no rosto da figura ruiva, Basen começou a falar. — Hyung-nim, o sonho dela é se tornar uma espadachim.

— Verdade?

Kim olhou sério para Lily — as pessoas desta casa tinham todos braços longos, pernas longos e um bom físico. Mesmo que ela fosse apenas uma criança, já era bem alta comparada com outras da sua idade, podendo se tornar uma ótima espadachim, com algum esforço.

— Bem, acho que combina com você.

Os olhos de Lily começaram a cintilar.

— Eu trarei uma.

Ela começou a sorrir enquanto abaixava a cabeça em vez de responder. Cale não viu isto, já que virou o olhar em direção ao seu irmão mais novo de 15 anos, que estava o encarando.

— Você quer algo também?

— Uma caneta tinteiro.

— Certo.

A expressão de Kim era estranha, estando diante da carruagem que o levaria para a capital.

“O que está havendo?”

Ele continuou com a expressão confusa ao perguntar à pessoa que estava ao seu lado. — Por que o assento deles parece melhor que o meu?

Cale olhava para a almofada cara e macia ao seu lado, assim como os dois felinos sentados sobre ela.

— Jovem mestre, nossos preciosos gatinhos não deveriam viajar em conforto? Eles são tão pequenos e fofos — Hans respondeu ao guardar lanchinhos especiais que ele mesmo preparou para os gatos na carruagem.

Cale e Ron tinham expressões brancas em seus rostos.

“Ele só está dizendo isso porque não faz a menor ideia de que esses gatos podem soltar névoa e veneno por aí.”

Kim tinha chamado On e Hong para um canto vazio do jardim há três dias atrás.

“O que vocês podem fazer?”

Em resposta a sua pergunta, On criou névoa enquanto estava em sua forma de gata, enquanto Hong usou um pouco de seu sangue para espalhar veneno no ar. Claro, On foi capaz de controlar a névoa venenosa para evitar que o Cale morresse. Além disso, o veneno que Hong podia espalhar estava apenas no nível de paralisia no momento.

“Vocês dois são bastante úteis.”

A dupla respondeu orgulhosamente depois de ouvir o elogio.

“Conseguimos fugir por causa da nossa névoa venenosa!”

“Somos bastante úteis!”

A partir daquele dia, os felinos foram capazes de comer comidas deliciosas todos os dias. E claramente, Hans ficou feliz em fornecê-los.

— Jovem mestre, eu estarei sentado com o motorista lá em cima.

— Certo.

Ron foi para o lado do motorista, e Cale estava prestes a embarcar também quando Choi Han se aproximou.

— Cale-nim.

O protagonista disse que não queria chamar Cale de "jovem mestre", em vez disso optou por chamá-lo de forma diferente.

Hm?

— Não deveríamos estar na mesma carruagem para que eu possa protegê-lo?

A expressão de Kim mudou como se tivesse comido um caqui amargo. — Não…?

“Isso é realmente preciso?”

Era o que dizia sua expressão, Choi Han não disse mais nada, ao invés disso, apenas acenou com a cabeça. 

Cale começou a piscar os olhos enquanto observava Choi Han se afastar.

“Isso é estranho.”

Os olhos de Choi Han ainda não estavam muito claros. Sua mente continuava cheia de raiva e de pensamentos de vingança. 

Quando Kim mencionou ontem que haviam enviado pessoas para o vilarejo Harris, pôde ver claramente ódio nos olhos dele. Mas, se sentia um pouco diferente comparado a antes.

O protagonista não estava em completo desespero como na novel, pensando algo como: “O mundo não quer que eu seja feliz! Como podem matar todos os meus entes queridos?” Foi por isso que era estranho.

“Ele se recuperou muito rápido.”

Parecendo estar numa parte da novel onde viajava com Beacrox, Rosalyn e Lock — com uma espada no coração, mas uma expressão serena no rosto.

Cale logo deixou para lá, porém ainda tinha uma sensação estranhamente amarga na boca. E naquele momento.

— Acho que este não é o seu lugar.

O líder enviado, o vice-capitão da brigada de cavaleiros do território, aproximou-se de Choi Han e começou a falar.

Ele olhava para o protagonista da cabeça aos pés antes de soltar um riso zombeteiro.

“Eu sabia que teríamos pelo menos uma pessoa assim.”

Choi Han tinha escondido suas habilidades até um nível médio. O problema era que ele foi a primeira pessoa que o Lixo trouxe para propriedade do conde como convidado.

E o fato de que Deruth o tratou como um convidado importante e, que estava indo como parte dos guardas de Cale, fez com que algumas pessoas começassem a não gostar e se opor.

Eles não o irritavam em público já que ainda era o convidado do jovem mestre do território, mas, havia muitas coisas que estavam fazendo secretamente para irritá-lo.

“Jovem mestre, não creio que Choi Han-nim esteja se dando bem com os cavaleiros que irão conosco para a capital.”

“É mesmo?”

“Sim. Acho que o vice-capitão é o responsável por isso.”

“Entendo. Porém, pare de se preocupar com isso, Hans.”

Kim recordou do relatório vindo do vice-mordomo e se sentiu mal, não por Choi Han, mas pelo vice-capitão.

“Logo ele vai perceber seu erro.”

E ficará tudo bem desde que não faça nada para ser espancado. Cale optou por não tentar resolver problemas alheios.

O vice-capitão não será capaz de dormir direito uma vez que ver as reais habilidades de Choi Han. 

— Jovem mestre, devemos partir agora?

O vice-capitão perguntou, Kim logo fechou a porta da carruagem e respondeu. — Sim, vamos.

15 soldados, 5 cavaleiros, e um guarda especial. O enviado de Cale, que consistia neste esquadrão de proteção e depois alguns outros servos, finalmente começou a ir em direção à capital.

E claro que, como na maioria das viagens do mundo de fantasia, não foi um passeio rotineiro.

Ninguém ousava tocar a carruagem do território Henituse; ela não tinha a bandeira que representava a família, mas, possuía a tartaruga dourada — a representativa do amor da família Henituse pela riqueza e prosperidade — gravado nela. 

No entanto, assim que saíram do território, se depararam com uma situação.

“Já era de se esperar. Eles apareceram mesmo.”

Enquanto corriam apressados por uma cadeia de árvores, dezenas de pessoas apareceram de repente no vale.

— Pague o pedágio se quiser atravessar esta montanha!

— E me dêem tudo o que tiverem! Se encontrarmos algo depois de afirmarem ter tirado tudo, aumentaremos o preço do pedágio!

Sim, são bandidos.

Havia certamente ladrões em uma história de fantasia, mas o fato de haver dezenas deles era surpreendente. Talvez era por isso que tinham confiança para atacar a carruagem, que tinha apenas 5 cavaleiros.

Kim olhou em direção a On, que estava bocejando e perguntou. — Acha que eles não conseguem ver o símbolo na carruagem?

— Sim.

— Idiotas! Iniciantes!

Cale acenou com a cabeça na avaliação de Hong. Ele não tinha medo de bandidos. Bem, por que teria?

Toc! Toc!

O bater veio da pequena janela junto ao assento do motorista, logo ela se abriu, e Ron olhou para dentro.

— Jovem mestre, parece que teremos que fazer uma pequena pausa. Há muitos coelhos por aqui.

"Coelhos", Kim tremeu por um momento. 

Ron antes de sorrir acrescentou: — Ah! — E continuou: — Estes coelhos são diferentes das lebres que eu ia caçar para você, jovem mestre. Claro, e nem serão pegos por mim.

Cale estava sendo protegido por alguém que era mais assustador que os bandidos. E logo após ouvir os gritos dos ladrões vindos de fora da carruagem, começou a calcular o tempo.

“Cerca de um dia e meio.”

Em cerca de um dia e meio, eles chegarão ao redor da área onde o Dragão Negro esta sendo torturado. Era mais cedo do que quando Choi Han chegou na novel. Esta era a razão pela qual Kim os tinha feito apressar sem fazer nenhuma pausa.


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