Volume 1 – Arco 1
Capítulo 8: Peguei-o (1)
Tarde da noite.
Hans estava em frente ao conde: enquanto relatava os acontecimentos do dia, ele ouvia-o calmamente.
— Por fim, Cale atualmente dorme em seu quarto.
O vice-mordomo finalmente terminou seu relatório e, em seguida, Deruth começou a falar.
— Deixa eu ver se entendi… Você me disse que Cale foi à loja de chá do filho bastardo de Flynn, da Guilda Mercante Flynn? E trouxe um jovem cuja identidade não podemos identificar…? Já em termos de álcool, ele só bebeu um pouco e se manteve sóbrio?
O relatório de Hans foi curto, mas o conde o achou intrigante.
— Devemos colocar alguém para vigiá-lo?
Deruth logo acenou com a mão se opondo à pergunta do vice-mordomo. Ele não queria saber o que seu filho estava fazendo por aí ao ponto de colocar um vigia.
— Não é necessário. Enquanto Cale estiver no meu território, tudo que fizer está sob minha responsabilidade. Sendo assim, apenas continue fazendo o que já tem feito, e sempre me entregue um relatório.
— Entendido.
Hans não disse mais nada enquanto abaixava a cabeça.
O conde Deruth era alguém que não possuía nenhuma habilidade especial e nem status grandiosos. Entretanto, assim como o conde anterior, era capaz de governar o território Henituse sem grandes problemas e aumentar sua riqueza através da venda de mármore e vinho.
Ele era alguém capaz de proteger o que lhe pertencia adequadamente.
"O Cale mudou."
Para Deruth, seu primogênito estava diferente. Claro, não era como se ele, de repente, tivesse ficado mais esperto ou forte, mas sim que suas ações eram claramente desiguais às de antes.
— Ah, Hans.
— Sim, conde-nim?
— Traga-me algumas informações sobre o filho de Flynn, e de sua guilda.
O conde já sabia sobre o filho bastardo: Billos, o dono da loja de chá. Isto porque o maior parceiro comercial do vinho Henituse era a guilda mercante de seu pai, Flynn.
— Farei isso imediatamente.
— Ótimo.
Após ver Hans sair de seu escritório, Deruth começou a ponderar.
Havia muitas coisas para pensar além da repentina mudança no comportamento de seu filho. O clima ao redor do continente também estava mudando.
E apesar do território Henituse estar localizado na extremidade do reino, Deruth podia sentir claramente a atmosfera em mudança. Isto porque, sendo o conde, ele era alguém que sempre recebia uma quantidade infinita de informações; e uma mensagem da corte imperial que recebeu hoje, o tornou mais ciente sobre a atmosfera atual do continente.
Os antigos condes do território Henituse sempre passavam um único conselho para o próximo no poder: "Não há necessidade de marcarem seus nomes na história. Basta viver apenas por sua paz e felicidade."
— Acho que preciso reforçar as muralhas da cidade.
Deruth até pode não ser um bom guerreiro, mas estava sempre pensando em maneiras de se proteger junto à sua família.
Há momentos em que o corpo é mais forte do que a mente.
— Jovem mestre, você parecia estar dormindo tão bem... eu não queria acordá-lo.
Cale tinha dormido mal. E o fato de Ron ter trazido limonada em vez de água fria novamente tornou as coisas piores. Entretanto, ele não podia dizer nada. Mas notou um curativo ao redor do pescoço do velhote.
— Está machucado?
— Preocupado comigo...?
— Não. É apenas um incômodo de se ver.
— Não foi nada demais. Eu só fui arranhado por um gato.
"Com 'gato' está se referindo a uma certa pessoa?"
Kim tinha certeza de que alguém teve uma reunião divertida ontem à noite.
Ele logo evitou o olhar de Ron, que estava sorrindo, e olhou para a janela do quarto.
— Vai sair agora?
— Sim. Eu vou resolver algumas coisas em particular.
— Entendo. Ah, jovem mestre…
Cale que já tinha caminhado em direção a porta, soltou a maçaneta e virou-se. O velhote continuava com um sorriso estranho no rosto.
— O que achou da limonada?
— Ela estava deliciosa...?
A voz de Ron se tornou uma oitava mais baixa.
— É mesmo...?
— Sim.
"Que tipo de pergunta foi essa?"
Como o velhote era alguém que ele não podia simplesmente ignorar, Kim apenas respondeu à pergunta da maneira mais agradável possível enquanto abria a porta.
Slam!
Ele então a fechou rapidamente de volta.
— Ron…
Em seu chamado, o provecto mordomo se aproximou, e em seguida sussurrou: — Surpreso jovem mestre? Seu convidado de ontem está esperando-o lá fora.
Cale tinha se assustado, após ter visto Choi Han olhando para ele assim que abriu a porta.
Ron, que observava-o, logo continuou a falar: — Eu não tive a oportunidade de lhe dizer, pois abriu a porta de imediato. E sim, mandei esperar confortavelmente no quarto, mas ele insistiu que precisava vê-lo e esperou do lado de fora.
"Não teve a chance de me contar o caramba."
Kim até podia dizer algo a este velho desagradável, que definitivamente teve a chance, mas escolheu não falar.
Com um passo, se afastou de Ron e abriu a porta novamente.
— O que houve?
Cale, que fingia não ter batido a porta, começou a conversar com o seu convidado.
Ele também prestou atenção em sua aparência: após tomar um banho, arrumar o cabelo e por roupas novas, uma sensação de pureza emanava de Choi Han.
Entretanto, era difícil pensar isso após ver seus olhos. O protagonista ainda estava num estado "quebrado". Era por isso que visualizar seu olhar fazia Kim sentir-se um pouco assustado.
Choi Han, que também estava olhando de volta para Cale, começou a falar.
— Recompensar…
— Hã?
— Eu vou te recompensar.
O convidado estava falando formalmente, ao contrário de ontem. Mais importante ainda, Cale começou a franzir a sobrancelha para a palavra "Recompensar".
"Me recompensar? Ele tá brincando comigo?"
Quem em seu perfeito juízo usaria tal indivíduo para um trabalho manual?
Kim só queria que ele saísse desta cidade o mais rápido possível.
Era óbvio que Choi Han concordaria em ajudá-lo, se ele dissesse que seria para lhe "recompensar". O protagonista era esse tipo de pessoa. Entretanto, Cale não precisava de nada vindo dele.
— Não há necessidade. Precisa de mim para mais alguma coisa?
Kim rapidamente rejeitou a oferta e lançou uma pergunta.
O convidado começou a observá-lo ainda mais de perto. Esse olhar fez Kim lembrar como o Cale original foi espancado na novel, e assim seus braços começaram a desenvolver arrepios. Choi Han começou a falar nesse ponto: — Pra ser sincero… gostaria de pedir sua ajuda em algo.
Cale fechou os olhos para a palavra: "ajuda". Ele não queria se envolver mais com esse indivíduo. E a "ajuda", sobre a qual falava, não poderia ser nada mais além de algo referente à vila Harris.
— Faça seu pedido ao Hans. Ele cuidará de tudo.
Após abrir os olhos novamente, Kim fez contato visual com o convidado, que estava ali parado como uma estátua.
— Ele é um vice-mordomo habilidoso. Sendo assim, é bem provável que será capaz de ajudá-lo com praticamente qualquer coisa.
Cale então pôs uma mão no ombro de Ron. Ele sentia o velho hesitar, mas já havia decidido tirar ambos de vista.
— Por sinal, o Ron aqui também é muito útil. Ele o ajudará no que for preciso.
Logo depois, Kim tirou a mão daquele ombro. E ouviu Choi Han falar algo.
— Mas você nem ao menos sabe quem eu sou.
Kim podia ver aquela figura ainda observando-o: a aura assustadora que era emitida dele havia desaparecido, e apenas uma pureza inexplicável era sentida.
— Por que eu preciso saber quem você é? Existe alguma razão para ajudar os pobres?
O protagonista parecia desaprovar um pouco as palavras de Cale. Foi muito tênue, mas Kim, que estava observando, definitivamente viu.
"Ele está irritado por eu ter dito 'pobres'?"
Cale continuou rapidamente: — Com base em sua situação, duvido que vá pedir algo difícil. Bem, mas se for algo do tipo, tenho certeza que Hans saberá o limite.
Logo então, ele começou a se afastar daqueles dois.
— Até mais. Eu tenho muitas coisas para fazer.
Kim que rapidamente se dirigia ao escritório de Deruth, planejando receber uma boa mesada, podia ouvir a voz de Ron vindo de suas costas.
— Jovem mestre, farei como ordenou.
"Não me importa se vai fazer ou não."
Superar dificuldades eram coisas para os personagens principais, não para Kim.
Ron olhou para Cale, que estava se afastando, antes de olhar para o copo vazio em suas mãos.
— Interessante…
"O filhotinho arruaceiro não gostava de coisas azedas… Não, ele ainda não gosta. Mas mesmo assim bebeu..."
O velho logo tocou seu pescoço: que pela primeira vez, em muito tempo, havia sido machucado, porém algo mais interessante do que sua lesão continuava a incomodá-lo.
"Está com medo… ele sabe de algo?"
— Ei, me mostre o caminho.
Ron virou seu olhar para a fonte da voz. Ele podia ver Choi Han olhando-o com repugnância.
Depois de sua pequena reunião de ontem a noite, o protagonista parecia ter descoberto que o velho era alguém que já matou.
— Claro.
O convidado, que também emitia um cheiro de sangue semelhante, estava fingindo estar "limpo". Ron achou engraçado ver tal indivíduo agindo dessa maneira.
O Choi Han que enfrentou ontem à noite, emitia a aura violenta, nojenta e assassina vinda da Floresta das Trevas. Era uma aura que Ron e Beacrox podiam distinguir instantaneamente de outras auras.
Claro, essa aura assassina não era originalmente do protagonista: ele havia obtido tal aura dos assassinos que havia matado, e agora que havia tomado banho, ela não estava mais ao seu redor.
Ron que pensava sobre os acontecimentos da noite passada, logo começou a falar com o garoto que parecia ter passado por muita coisa nos últimos dias.
— Siga-me.
Ele começou a andar, seguindo a ordem de seu jovem mestre, e Choi Han o acompanhou logo atrás. Seu olhar momentaneamente foi na mesma direção que Cale tomou, antes de voltar para Ron.