Volume 1
Epílogo
Prisão perpétua. Você deu sorte de não ter sido condenado à morte. Vai ter um looongo tempo para pensar no que fez, apesar de eu achar que você se arrependeu naquele exato momento. Sim, naquele. Daria um ótimo quadro: duas meninas iguais, sendo acudidas por pais diferentes, uma imagem quase que simétrica.
Já faz um ano, não é? O tempo passou voando. Sabe, depois que inconscientemente me teleportei para outro continente (acredite ou não), eu tentei voltar. O livro tem poderes inimagináveis, eu até entendo um pouco a sua obsessão pelo Medalhão. Assim que cheguei na cidade, fiquei sabendo que o meu marido sobreviveu, mas estava em coma. Eu fui até ele — terrível erro. O despertei temporariamente com aquele símbolo e descobri que ele não se lembrava de nada sobre o nosso plano. Nadinha. Disse que eu não era a esposa dele, que eu nunca faria aquilo, gritou um monte de baboseiras e apenas o deixei dormir. Talvez ele estivesse certo, tive que mudar minha aparência, já que eu era a mais procurada do país (não se preocupe, mantive o cabelo azul-noite).
Se você achou que eu iria te ajudar a escapar, se enganou. Pelo o que fez, você mereceu. Mas você sabe que, além de um assassino, é um exímio investigador e desenhista. O Governo eventualmente vai precisar de você. É sobre isso a minha dúvida: quando necessitarem e te soltarem, você vai fugir? Ou vai agir como um bom cachorrinho? Sei lá. Você mudou. Nós mudamos.
Chega a ser irônico. Todos éramos obcecados por algo, menos ela. Você, o Medalhão. Eu, o Necronomicon. Mármore, por mim. Seu parceiro, a filha. Juliette não tinha nada em mente, apenas estava lá. Logo ela teve que morrer. Você se culpa? O Symon sim. Pelo que procurei, ele sumiu. Não voltou a trabalhar nem nada do tipo. Coitado. A esposa deu a vida para que Juliette nascesse, e ele a perdeu também. Bom… pelo menos ela teve um fim melhor do que ser sacrifício de ritual. Sinto falta dela.
Se eu pudesse, voltaria no tempo. Na época de Tressmol, com o nosso grupinho. Não mudaria nada, apenas reviveria tudo de novo. Eu-
O restante da página era um enorme borrão preto. Valentim sabia: ela deixou cair tinta e teve preguiça de reescrever a carta.