Volume 1
Capítulo 1
Eu virei um hamster.
Não é à toa que eu tive a impressão de estar ouvindo chiados ontem a noite, acabou que era isso.
Pelagem dourada e reluzente que não perde o brilho nem na escuridão. Quatro patas rosadas adoráveis. Bigodes longos que se contraem a cada movimento das minhas bochechas. Cortinas pretas se movem, permitindo que um feixe de luz penetre pela gaiola de aço, atingindo meus olhos.
Pera aí… uma gaiola… de aço?
Uma gaiola?!
— Eek. (Por quê?)
Eu não só me tornei um Hamster. Eu me tornei um Hamster que está preso em algum lugar.
*
*Thud. Thud. Thud.*
A gaiola onde eu estava sacudia violentamente, fazendo meu corpo rolar de um lado para o outro enquanto balançava.
Quem é?! Quem é o panaca que dirige assim?! Não consegue dirigir em segurança!
*Thump.*
Meu corpo aterrissa no canto novamente e sinto o meu bumbum dolorido de tanto cair. De repente, ouço o relincho de um cavalo, e fico animado com a ideia de cavalgar. No entanto, minha animação durou pouco. Parece que eu estou para conhecer o rei Yeomra¹.
Para onde raios estamos indo? Por que eu me tornei um hamster? E por que diachos não estamos andando de ônibus ou trem, mas a cavalo? Que desgraça, me sinto tão injustiçado. É tão absurdo ter que explicar, é tão óbvio que eu sou um humano e não um hamster!
É verdade, sou humano!
Bae Soohyun. Faço 27 esse ano. Embora minha vida tenha sido um caminho espinhoso, eu era como uma pequena artemísia que nunca desistiu e continuou a crescer. Era uma vida que parecia que eu seguia trabalhando dia, noite, madrugada, de manhãzinha de Segunda para Terça para Quarta para Quinta para Sexta, Sexta e Sexta… Mas eu não tinha dúvidas de que todo aquele esforço valeria a pena. Depois de anos de trabalho duro, parecia que o dia havia finalmente chegado. O dia em que o jogo que eu desenvolvi se tornou um grande sucesso.
Acho que está morto.
Morto… É verdade… eu morri. Depois que a minha confusão inicial de ter virado um hamster passou, minhas memórias começaram a voltar gradualmente. O jogo se tornou um sucesso estrondoso, como se o filho que eu havia criado finalmente tivesse alcançado o sucesso. Havia finalmente recebido o primeiro lote de dinheiro do acordo, fruto do meu esforço, e me apressei de volta para casa, flutuando nas nuvens de tanta felicidade.
*Rattle.*
A gaiola sacudiu violentamente quando o cavalo começou a galopar. Fui lançado para frente e para trás, minha cabeça latejando, parecendo que ia explodir, enquanto meus olhos lentamente perdiam o brilho à medida que eu ficava mais e mais tonto.
Tá de brincadeira?!
Chutei a gaiola algumas vezes, na esperança de cessar a movimentação, e então ouvi uma voz não muito distante.
— Sinto muito. — disse uma voz familiar, profunda mas amigável. — Aguente só mais um pouco.
Mas por que parecia que eu já tinha ouvido essa frase em algum lugar…
— Sinto muito, aguente só mais um pouco. Vou te levar para sua nova casa em breve.
De repente, me veio à cabeça. Enquanto atravessava a faixa no caminho de volta para casa, vi uma criança aparentemente nervosa carregando uma gaiola de hamster. Foi então que um carro me atingiu em cheio. No instante do impacto, senti a morte se aproximar, todos os meus sentidos consumidos pela brutalidade do atropelamento. Minha consciência começou a se esvair, mergulhando-me na escuridão.
*Plim.*
Diante dos meus olhos, algo brilhou intensamente. Espera um pouco, o que é essa coisa azul…
[Hello, World!]
Fiquei atônito ao ver o sistema azul preenchendo o meu campo de visão. Ele exibia uma frase familiar, a mais básica que qualquer pessoa com um mínimo de experiência em programação saberia. Era a primeira frase que você aprendia a programar quando começava nessa área. Em seguida, várias janelas começaram a aparecer, uma atrás da outra.
[Conexão confirmada. Verificando dados.]
[Determinando missão.]
[Calculando Valor Milagroso.]
[Sincronização incompleta. Por favor, aguarde.]
[Sincronização 0% concluída.]
O que isso significa? Dados? Missão? Sincronização?
Desde o momento em que acordei, essa situação ridícula começou e continuou sem trégua, sem sequer me dar a chance de ficar chocado. Enquanto boiava, o cavalo que sacudia a gaiola incessantemente subitamente se aquietou. O dono da voz familiar parecia ter descido do cavalo, e o movimento tumultuoso cessou, fazendo-me estremecer. Foi então que ouvi outra voz distante.
— Vossa Alteza, tem certeza que não quer jogar fora?
Vossa… Alteza?
Primeiro, andei de cavalo; agora, alguém estava se dirigindo a um membro da realeza. Essas são palavras que você não ouviria na Coréia do século XXI. O termo “vossa alteza” era algo que eu só havia escutado na infância, quando assistia aos doramas sageuk².
— É um filhote que foi abandonado pela horda, não acha um pouco lastimável?
— Lastimável, Vossa Alteza? É a cria de uma besta demoníaca; quando crescer, vai aprender a seduzir sua presa.
Eu olhei para o meu corpo pequeno e rechonchudo. Como assim seduzir? Esse corpo sequer seduziria alguma coisa? Para começar, eu nem sou uma besta demoníaca, só um hamster normal, não, quer dizer, humano! Heh, você soa bem convincente com esse tom sério, mas você obviamente está brincando!
O homem com a voz profunda interrompeu meus pensamentos repentinamente.
— Ainda é uma criança.
— A criança de uma besta demoníaca, Vossa Alteza.
— Exatamente, uma criança.
— Vossa Alteza, o ponto é que é uma besta demoníaca!
É… vocês podem parar de se referir a mim como se eu fosse uma criança? É esquisito… Enquanto eu resmungava minhas frustrações, ouvi o homem falar, desta vez com raiva em sua voz.
— Você está questionando a minha decisão? — Ele disse palavras que normalmente poderiam ser consideradas leves. No entanto, a maneira como as enunciou, palavra por palavra, transformou-as em uma ameaça velada, uma declaração que parecia permitir apenas uma resposta correta.
— Não, Vossa Alteza, eu estava apenas momentaneamente confuso já que algo assim nunca aconteceu antes. Como poderia eu questionar a decisão do Grande Príncipe.
— Certo. Então eu tomarei conta dele. Claramente, você não acha que sou mais fraco do que uma besta demoníaca que mal chega a ser do tamanho do meu punho?
Você tá me dizendo que ele não é qualquer membro da realeza, mas o Grande Príncipe?
— Eu já enviei um homem de volta à propriedade para preparar a casa dele, seria legal adicionar pequenos enfeites lá.
— Vossa Alteza, você também poderia criar um hamster de verdade. Devo pedir ao homem para arranjar um?
— Não. E não teste a minha paciência.
— …Sim.
Essa pessoa é bem teimosa, hein.
Logo a gaiola começou a balançar novamente, desta vez ao ritmo dos passos do homem. Ouvi o som metálico de sua armadura e o ressoar de seus passos pesados. À medida que ele subia as escadas com passos firmes, senti o ar ao meu redor esquentar gradualmente.
Deve ser inverno. No entanto, eu morri durante o verão, o que me fez perceber a anormalidade da situação. O homem me levou para um quarto e, ao chegar, removeu o pano que cobria a gaiola.
— Aqui estamos nós. — Agachei-me em um canto e, desesperadamente, fingi estar adormecido. De alguma forma, senti que era a coisa certa a fazer. Não conseguia me comunicar mesmo se quisesse informá-lo da minha situação. E, mesmo se contasse, quem garantiria que ele não me decapitaria por dizer bobagens.
Como que a minha vida virou isso?!
Devolva meu dinheiro! Minhas habilidades! Meu futuro brilhante que estava quase ao meu alcance!
— Tsk. Tsk. — O homem estalou a língua e suspirou profundamente.
Ei! Sou eu quem deveria estar triste nessa situação; por que é você que está estalando a língua! Ah, eu realmente odeio quando as pessoas fazem isso… Ah é, eu estou fingindo dormir… dormir…
— Ele realmente não tem um coração humano? — ele murmurou.
Que coração humano? Do que ele está falando?
— Olhe para esses olhos inocentes. Antes de se tornar uma besta demoníaca, ele realmente não tinha o coração de um humano?
I-inocente? Que olhos que pareciam inocentes? Com certeza não os meus?
— É verdade, para eles não existe algo como compaixão… Será que eu fiquei longe do Norte por muito tempo? Não é diferente de uma geleira, que gelo. Tsk.
De repente, o homem abriu a gaiola, estendeu a mão e me pegou em sua palma.
— Eek!
Estava tão surpreso que esqueci que estava fingindo dormir. Ao abrir os olhos, fiz contato visual com ele.
[50% sincronizado.]
[Kyle Jane Minehardt - o Grão-Duque de Blake]
A janela de sistema azul apareceu pouco abaixo do rosto dele. Pera aí, esse nome… eu já o ouvi em algum lugar. Sem saber o que estava passando na minha cabeça, ele me aproximou de seu rosto. Senti sua mão repleta de cicatrizes e calos deslizar pela minha pelagem macia. E então, ele acariciou a minha bochecha.
C-com licença?!
— Você fez bem em aguentar a viagem para casa, Cajuí³, você deve ter ficado entediado durante todo o trajeto.
Entediado? A viagem foi repleta de choque e terror para mim, ok?! Espera, deixando isso de lado, você pode me colocar no chão primeiro? O que diachos é essa situação, por que você me tirou da gaiola do nada… Espera! Não! Não me dê beijinhos!
— Squeak! Eek! (Me solte!)
— Sim, sim, eu sei como se sente.
Sabe do que… você não entende nada! Ack! Por que ele está me beijando como se estivesse morrendo de amores! Um beijo…
— Squeak! Squeak! Squeak! (Seu desgraçado! Que tipo de cão beija incessantemente assim?!)
— Que bom que está se sentindo melhor.
— Squeak! (Vai se lascar!)
— Você gostou dos beijinhos?
Ai eu não aguento mais isso!
Espera um minuto… Esse rosto… Tomei um tempo para observar cada uma de suas características: sua pele pálida, porém firme; sobrancelhas distintas e bem definidas; cabelo escuro como as penas de um corvo; e olhos que brilhavam em um vermelho intenso. Uma beleza fria e resoluta.
— Eek! (Grão-Duque Blake!)
Eu me lembro. O duque do Norte, Kyle. Um personagem secundário do romance “O Coração de Inverno”, que eu sempre lia nas idas e voltas do trabalho para casa. Ele não era apenas um personagem secundário; era um personagem secundário que morria no meio do livro. Um homem que viveu uma vida miserável do início ao fim, mas que partiu sem arrependimentos. A razão pela qual me lembro dele, e não dos protagonistas, é porque Kyle era o personagem mais azarado do romance. Tão azarado que muitas vezes lamentei seu destino frio e trágico.
Então eu morri e migrei para um romance?
— Cajuí?
Cajuí, meu nome, quer dizer, o nome do hamster cujo corpo estou ocupando. Kyle me encarou; parecia preocupado, como se algo tivesse dado errado. Seu olhar era acolhedor e repleto de gentileza.
Para de me encarar! Esse desgraçado, você vai me perfurar com esse olhar! Eu só estou exausto… Afastei a cabeça de seu olhar e me virei para fitá-lo com uma expressão de revolta. Fiz o meu máximo para parecer o mais maldoso possível.
— Esse olhar…
É assustador, né?! Você está morrendo de medo, não está? Eu pareço um monstro demoníaco, não pareço?! Então me larga!!! Seu beijoqueiro maluco!
[Personalidade fria e rigorosa. Perfil limpo e completo. Frígida e impiedosa.]
— É tão adorável~ me encarando desse jeito.
Não era pra você ser o duque do Norte de sangue-frio?! Me larga! O que você quer dizer com frio e rígido?! Impiedoso como?
— Squeak! (Me solta!)
Todavia, o duque não me largou por um longo tempo e eu tive que suportar os beijos incessantes daquele maluco.
Me ajude, por favor! Salvem esse hamster!
Notas:
1 – O rei do submundo na mitologia coreana. O MC acha que vai morrer de tanto que a jaula dele está chacoalhando.
2 – Um gênero de k-drama que acontece em tempos históricos.
3 – Cashew nut -> Castanha de cajú. Como parece ser o nome que o ML deu para o MC, resolvi deixar Cajuí para ficar mais fofo.
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