Volume 1
Prólogo
O odor intenso da lama invade meu nariz, enquanto o vento frio arrepia minha pele e meus lábios tremem de frio. A fome consome cada parte do meu corpo. Do lado de fora, a chuva cai, levando consigo os vestígios do sangue da arena misturados ao barro.
Encolhido no canto inalcançável pela chuva, debato-me com o frio que me consome. O som de algo batendo nas grades metálicas chama minha atenção e, ao abrir os olhos, vejo Kalahar caminhando em minha direção, analisando-me minuciosamente dos pés à cabeça.
Está sem camisa, mostrando os músculos voluptuosos e a enorme cicatriz feita de fora a fora no peito. Sua barba é mal feita, com falhas do lado esquerdo. Seu cabelo é raspado e possui várias tatuagens pretas de símbolos estranhos. Veste apenas uma calça de couro de urso e bota de veludo, com dois cintos amarrados entre o peito e as costas, que seguram seus dois machados.
— E então? — Ao mostrar o sorriso entre orelhas, revela os dentes tortos e amarelados. — Ainda vai continuar negando?
— Que palhaçada... — Eu me levanto e o enfrento. — Prefiro morrer!
— Sua teimosia é tão grande quanto tua coragem, criança maldita. — Cospe no chão e enfia o braço pelas grades, segurando a gola do trapo que visto, me prensando contra as barras de metal. — Se quer tanto assim morrer, arranjamos isso pra você, fácil, fácil!
Ele me joga de volta no chão, o baque faz a lama voar no meu rosto e sinto um pequeno formigamento na costela. Ela ainda não se recuperou depois do chute desse desgraçado.
Agora, quando foi que as coisas acabaram assim? Que minha vida caminhou até este momento? Não sei se sobreviverei a isso, mas uma coisa é certa: caso eu consiga escapar desse lugar, este desgraçado será o primeiro a morrer.
Ainda me lembro de quando cheguei aqui. Não, não aqui, nessa imundice de acampamento bárbaro, mas sim quando atravessei aquela luz branca e fui parar em um lugar diferente, em uma situação estranha.
Só de lembrar da criatura que surgiu na minha frente me dá calafrios. Que luz branca, você pergunta? Bem, ela surgiu depois que eu… morri… é difícil de assimilar agora, acredite, eu sei. Por isso irei contar do início, desde que morri, o encontro com aquele ser e o começo dessa nova vida.
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